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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Embora Malawi pareça ter sido em tempos a forma mais corrente para, em Portugal, designar o país africano assim chamado, existe hoje o aportuguesamento Maláui, que já se documenta oficialmente. Este é um dos tópicos abordados na nova atualização do Consultório, entre os quais também se conta a regência do adjetivo propício, a sintaxe do verbo ceder no sentido de «não resistir», a locução prepositiva «até a» e o plural de leite (que não denota uma simples multiplicação).

2. As formulações da linguagem inclusiva para combater o sexismo continuam a gerar polémica por todo o mundo, como é o caso, no México, das declarações da linguista Concepción Company Company à revista Zeta. Num trabalho intitulado "La gramática no tiene sexo, no es incluyente ni excluyente" – isto é, «a gramática não tem sexo, não é inclusiva nem exclusiva» – a referida especialista faz várias considerações sobre o alegado sexismo de certas construções, entre elas, o masculino plural, empregado em espanhol para referir ambos os géneros, tal como acontece em português. Acerca deste ponto, citamos (tradução livre): «A gramática é uma série de convenções seculares, até milenárias, sedimentadas sob a forma de regras, hábitos e rotinas, de muito lenta transformação, e devemos perceber, como é sabido, que o masculino não reflete sexo, reflete uma convenção indiferente ao género. Se eu perguntar «quantos filhos tem?», suponho que [quem me ouve] pensa em filhos e filhas, em todos; mas, se lhe perguntar «quantas filhas tem», ficam excluídos [os filhos]; esta é a prova de o masculino ser indiferente.»

Acerca deste tema, ver, no Ciberdúvidas, "Machista e heteropatriarcal, a língua portuguesa?", do linguista João Veloso. Consultem-se ainda os seguintes artigos: "Calem-se!",  "Elas são eles e eles são elas?", "Os cidadãos e a gramática", "O sexo das palavras",  "Quem fala assim não é gago nem gaga", "Gramática ainda não tem sexo", "Car@s leitorxs e utentas", "@ entre acentos, géneros e beijos", "A que propósito aparece a crónica de RAP no Ciberdúvidas?", "Sobre índices temáticos e género gramatical", "O uso de @ para marcar o género de palavras" e  "'Amigas e amigos' e 'amigos e amigas'.

3. Sabemos que o árabe tem nomes para os dias da semana que são homólogos dos portugueses na estrutura e no sentido. Basta mencionar  (yawm) al-ithnayn, que significa «segundo dia», para imediatamente encontrar semelhança com segunda-feira. Estaremos, então, perante mais um exemplo do impacto do idioma arábico sobre a nossa língua? Nada disso, como bem explica o escritor e tradutor português Marco Neves em "Por que razão não chamamos 'primeira-feira' ao domingo", um apontamento publicado em 31/03/2019 no blogue Certas Palavras.

Do mesmo autor, a respeito da comparação do português com outras línguas, recorde-se um outro texto, de 6/12/2014, intitulado "Cinco palavras espanholas que enganam os portugueses". Do passado  e do presente das palavras, bem como dos seus problemas de análise, fala também o linguista Aldo Bizzocchi, no apontamento vídeo "Como criar palavras e – desmontá-las" no canal Planeta Língua (Youtube, 29/03/2019).

Na imagem, lápide datada de 618 d.C., que se encontra na Igreja de São Vicente (Braga). A terceira linha do texto epigrafado atesta a expressão latina secunda feria, que está na origem de segunda-feira (foto de Joseolgon, disponível no artigo "Dias da semana" da Wikipédia).

4. «Será que quanto mais se puser a tónica na expressão, menor é a comunicação?» – pergunta o tradutor Vítor Santos Lindegaard no blogue Travessa do Fala-Só, desenvolvendo uma breve reflexão à volta das necessidades nem sempre compatíveis de expressão e comunicação no uso das línguas. Um texto que aborda outra dualidade, a existente entre convenção e criação artísticas, ilustrada por um poema de Alexandre O'Neill (1924-1986), em jeito de evocação do seu génio irreverente.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os acontecimentos mediáticos convocam muito frequentemente termos específicos através dos quais se procura descrever a realidade em questão. As situações menos frequentes ou mesmo inusitadas podem exigir a criação de novos vocábulos, o recurso à extensão semântica ou a recuperação de palavras que não integram o léxico ativo dos falantes. Todavia, a utilização de palavras com as quais se contacta menos frequentemente pode gerar uma opacidade semântica que dificulta a interpretação ou pode levar à dúvida no momento da seleção do vocábulo. Esta última realidade parece justificar a hesitação que se tem verificado na utilização das palavras endogamianepotismo como forma de descrever a existência de relações familiares entre membros do Governo português, a polémica que caracteriza a atual situação política em Portugal. A consultora Carla Marques deixa a sua sugestão relativamente ao termo mais adequado, num apontamento disponível em O Nosso Idioma

2.Acordo Ortográfico de 1990 determinou algumas alterações no campo da acentuação de que são exemplo a forma verbal para ou os nomes pelo ou pera. A professora Lúcia Vaz Pedro traz-nos uma síntese que recorda algumas das mudanças que tiveram lugar e algumas grafias que se mantêm. 

3.  Quando uma marca registada é assumida como designação do próprio produto, podem colocar-se problemas relacionados com a grafia e com a pronúncia do vocábulo. É esta a questão levantada pela generalização da marca comercial X-ACTO® enquanto nome comum de um objeto. Um problema cujos contornos são analisados no Consultório. Entre as respostas que integram a nova atualização, encontramos ainda a divisão das orações de duas frases («Amanheceu chovendo» e «É difícil ver ou prever que todos veem menos programas generalistas») e a identificação das primeiras referências escritas à expressão «ser burro de Vicente».

 

4. Entre os acontecimentos relacionados com a língua, registe-se a análise de publicações de tradução em França no ano de 2018, divulgada pela revista Livres Hebdo, que refere que a língua portuguesa apresentou um aumento de 47% no número de traduções em França.

5. Os programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa trazem à antena o professor universitário Tjerk Hagemeijer  (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa ), para falar sobre a situação linguística em São Tomé e Príncipe (no programa Língua de Todos, emitido na RDP África, na sexta-feira, dia 29/03, depois do noticiário das 13h00*, com repetição no dia seguinte, pelas 9h15), e Paulo Feytor Pinto, professor do Ensino Secundário, acompanhado de Sílvia Melo-Pfeifer, professora da Universidade de Hamburgo, que vêm apresentar a obra que coordenaram,  Políticas Linguísticas em Português (LIDEL), uma publicação que visa dar a conhecer as políticas linguísticas dos países africanos de língua oficial portuguesa, assim como as de Portugal, do Brasil e da cidade de Macau (no programa Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, dia 31/03, às 12h30 *, com repetição no sábado seguinte, dia 6 de abril, às 15h30*).  

 * Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.

 

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1. Contrariando um mito linguístico, sabemos hoje, talvez com desapontamento, que o japonês arigato não vem do português obrigado. Mas uma volta ao mundo depressa nos compensará com a descoberta das numerosas palavras de origem portuguesa que andam dispersas por diferentes línguas. É o caso da denominação da laranja, que se diz burtuqāla, em árabe, portakal, em turco, ou portocală, em romeno, vocábulos que remontam ao nome próprio Portugal. A viagem também nos levará a reconhecer os empréstimos que entraram no português ou a desvendar o parentesco longínquo da nossa língua com o russo, o persa ou o hindi. Tudo isto e muito mais nos revela o tradutor e escritor português Marco Neves num novo livro intitulado Palavras que o Português Deu ao Mundo – Viagens por Sete Mares e 80 Línguas, obra que se apresenta na rubrica Montra de Livros, num apontamento da linguista Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas.

2. No Consultório, além de se comentarem o regionalismo catacus, o uso da locução «ao vivo» e a construção «outro que não...», identificam-se a forma correta de um verso camoniano, a regência do adjetivo faminto e a figura de estilo associada à frase «o temporal rugia lá fora».

3. Comemora-se o Dia Mundial do Teatro, que se assinala em Portugal com várias estreias. Entre os espetáculos, saliente-se o da Companhia de Teatro de Braga no Theatro Circo, uma apresentação noturna cuja receita reverte para apoiar as vítimas do ciclone Idai, que atingiu Moçambique.

A propósito desta data, leiam-se os seguintes conteúdos em arquivo: "Os conceitos de hiperonímia e de hiponímia em arte, cinema, teatro, pintura e escultura", "Aderecista, caracterizador e maquilhador, profissionais da máscara (teatro)",  "O significado de estásimo e de párodo (teatro)", "Fosso (de orquestra)", "A origem da palavra coxia", "Forrobodó, farrobodó e farrabadó", "A Geringonça, mas a da 'Esopaida' de António José da Silva" , Diga?, "Teatro".

4. Retomando a questão dos mitos sobre a língua, façamos referência a mais outro contributo de Marco Neves para a divulgação de temas da linguística como seja o da definição de erros e incorreções do uso. Trata-se de "'Os dois pais' é erro de português?", um texto assinado por este autor no blogue Certas Palavras.

5. Justifica-se também como registo de  atualidade o Festival da Língua Portuguesa (FELPO), que se realiza em Salvador da Bahia de 28 a 30 de março. Este evento reúne figuras das artes e das letras do Brasil, de Angola e de Portugal (mais informação aqui).

6. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:

– no Língua de Todos, emitido na RDP África, na sexta-feira, dia 29/03, depois do noticiário das 13h00* (com repetição no dia seguinte, pelas 9h15), destaque para uma conversa com o professor universitário Tjerk Hagemeijer  (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa ), que fala sobre a situação linguística em São Tomé e Príncipe;

– no Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, dia 31/03, às 12h30 * (com repetição no sábado seguinte, dia 6 de abril, às 15h30*),  Paulo Feytor Pinto, professor do Ensino Secundário, e Sílvia Melo-Pfeifer, professora da Universidade de Hamburgo, falam de  Políticas Linguísticas em Português (LIDEL), obra que coordenaram para dar a conhecer as políticas linguísticas dos países africanos de língua oficial portuguesa, assim como as de Portugal, do Brasil e da cidade de Macau.

* Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.

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1. A criatividade linguística pode levar os falantes a dificuldades de interpretação, que têm tendência a agravar-se se os falantes são estrangeiros. É o que se verifica na questão sobre o significado da expressão «emagrecer abaixo do tutano» (de Mia Couto) ou sobre a correção de «boca do metro». São estas duas das quatro novas respostas disponíveis na atualização do Consultório, onde se regista ainda uma dúvida sobre a função sintática de pública em «opinião pública» e uma outra sobre a colocação do pronome com o advérbio já

(Primeira imagem: Retirantes, de Candido Portinari, 1944)

2. O ciclo da vida está presente na língua, que não é alheia às suas diferentes fases. Veja-se o caso da morte, que oferece terreno fértil para a criatividade lexical, dando origem a inúmeras expressões tanto disfémicas, como «abotoar o sobretudo de madeira», como polvilhadas de algum humor (negro), como «foi estudar botânica por baixo», ou eufemísticas, como «abandonar esta vida». Uma viagem pelas formas de dizer morte, proposta pelo sociólogos e escritor João Pedro George, numa crónica publicada originalmente na revista Sábado que transcrevemos, com a devida vénia, na rubrica O Nosso Idioma.

     O vocábulo morte tem desencadeado algumas dúvidas que aqui recordamos: «morrer de morte», «morrer de/por/com» e «morrer no presente do indicativo?» E ainda, no Pelourinho: «Arrisca-se a vida... não a morte».

3. O ciclo da natureza, assinalado no Dia da Meteorologia, deu azo a um artigo da jornalista Marta Leite Ferreira, publicado no diário digital Observador, abordando os provérbios populares relacionados com o tempo. Como os avaliam, a seis dos mais conhecidos, os especialistas, desde enólogos a climatologistas? Será verdade que em «Tarde vermelha e manhã cinzenta, não esperes chuva nem tormenta» ou que «De Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos»? 

    O provérbios relacionados com o tempo têm passado pelo Ciberdúvidas em diversas ocasiões. Por exemplo: «Provérbios do mês de outubro», «Sol e chuva, casamento de viúva» e «Outono, ou seca as fontes, ou salta as pontes».  

4. Um registo final para a comemoração dos 150 anos de Calouste Gulbenkian – o filantropo arménio que tanto marcou Portugal, criando, por testamento, a Fundação Calouste Gulbenkian, que mantém até hoje uma importante atividade no domínio da cultura, da ciência, do ensino e da beneficência no país. Uma efeméride assinalada em «Calouste: uma vida, não uma exposição».

    A este propósito, recorde-se que a pronúncia correta é /Gulbenkiã/ e não "Gulbênkian" (ver aqui)

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1. Em português, as palavras distinguem-se não só pelo timbre dos sons constituintes, mas também por outra dimensão sonora, a do acento tónico, que dá proeminência ou maior intensidade a uma sílaba entre as demais. Falamos, por isso, de sílaba tónica, que no caso de anel corresponde à última sílaba (é uma palavra aguda ou oxítona),  no de casa à penúltima (é uma palavra grave ou paroxítona) e no de mágico à antepenúltima (é uma palavra esdrúxula ou proparoxítona). Como se representam na escrita estes três tipos de palavra? Em O nosso idioma, um apontamento professora Lúcia Vaz Pedro, revela como é importante saber distinguir acento tónico de acento gráfico.

2. No Consultório, são quatro as novas questões em linha:

– Com a expressão «dois terços da população», um  verbo concorda no singular («votou») ou no plural («votaram»)?

– Uma locução como «à medida que» tem de se adaptar ao funcionamento das outras palavras do contexto? Poderá dizer-se «à medida a que nos movemos»?

– Se capitã é palavra legítima, então por que razão Captain Marvel, título de um filme e nome da protagonista, se traduz por Capitão Marvel em Portugal?

– Como se chama um natural ou residente da Sertã, vila do distrito de Castelo Branco, no centro de Portugal?

3. Ainda a propósito da tragédia ocorrida no centro de Moçambique, causada pelo ciclone Idai*, o amplo noticiário sobre o envolvimento solidário de Portugal e dos portugueses no socorro humanitário às populações afetadas no país irmão do Índico não se livra da incorreções já assinaladas na Abertura de 20/03/201. São os casos da pronúncia dos nomes Sofala e Rovuma: soam "Sufala" e "Ruvuma", e não "sòfala", nem "ròvuma"; do topónimo Beira, que se usa com artigo definido (donde ser «cidade da Beira», e não «cidade "de" Beira»; do adjetivo humanitário, que é incompatível com palavras como crise, catástrofe, desastredrama, tragédia (explicamos porquê aqui); e do emprego do verbo evacuar, que significa «esvaziar» espaços ou recipientes, não se aplicando a pessoas (pelo que urge falar em «regiões evacuadas» e evitar a velha pecha das «populações “evacuadas"»).

* Sobre a dimensão anormal do ciclone Idai, ver o trabalho que a jornalista Marta Leite Ferreira assina no jornal digital Observador em 21/03/2019.

4. Registamos a entrevista concedida em 21/03/2019 ao jornal português Diário de Notícias por  Frederico Lourenço, classicista e professor da Universidade de Coimbra, defendendo a iniciação ao estudo do latim a partir dos 10 anos. Numa época em que parece difusa a consciência das origens latinas do português, as declarações deste especialista, que acaba de publicar a Nova Gramática do Latim (Lisboa, Quetzal, 2019), podem surpreender, não deixando de ser um alerta para recuperar um património linguístico que é também nosso, como ele próprio faz questão de sublinhar: «O latim trazido pelos romanos continua vivo, visto que o português, o espanhol, o italiano e o francês (para dar só estes quatro exemplos) constituem, na realidade, formas de latim faladas hoje por quase mil milhões de pessoas. Não falamos, atualmente, o latim do tempo de Cícero, mas sim o resultado da evolução dessa língua. Uma das intenções da minha Gramática é chamar a atenção para o elo inquebrantável entre o latim e o português.» (Notícia aqui + Frederico Lourenço: «Acho que o grego tornou-se uma espécie de droga para mim».)

5. Entre os diversos cursos e encontros que têm por tema a nossa língua comum, realce para:

– a ação de formação Correção Linguística, organizada pela Associação Sindical de Professores Licenciados e ministrada por Lúcia Vaz Pedro, especialista na língua portuguesa e colaboradora do Ciberdúvidas – em Lisboa, nos dias 25 de maio, 1 e 8 de junho (ver aqui);

– a realização do III Congresso de Estudos Internacionais – Galiza e a lusofonia perante os desafios globais, no campus da Universidade de Vigo em Pontevedra (Galiza), 27 e 28 de março.

6.Em destaque nos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para rádio pública portuguesa: no Língua de Todos, da RDP África, difundido na sexta-feira, dia 22 de março, às 13h15** (com repetição no sábado seguinte, após o noticiário das 09h15**), um projeto de investigação da Universidade Eduardo Mondlane  sobre as produções escritas dos alunos universitários moçambicanos; e no  Páginas de Português, transmitido pela Antena 2 no domingo, 24 de março, às 12h30** (com repetição a 30 de março, às 15h30**), a publicação em português da obra História das Línguas, de Tore Janson.

**  Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.

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1. A 20 de março, tem início, no hemisfério norte, a primavera, uma estação que se prolonga até 21 de junho e à qual se dão hoje as boas-vindas (evocando a dúvida frequente: «dá-se ou dão-se as boas-vindas?»). A palavra primavera, que se passou a grafar com minúscula após o Acordo Ortográfico de 1990, teve origem na expressão do latim tardio prima vera (ver José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa), que se referia ao início da estação («a primeira estação») que antigamente se designava verão (recorde-se a etimologia dos nomes das estações aqui e aqui). 

[Primeira imagem: A primavera (fresco), Museu Nacional Arqueológico de Nápoles]

2. Algumas datas motivam textos e eventos: 

— O Dia do Pai, comemorado a 19 de março em Portugal, foi celebrado por Marco Neves, professor e tradutor, com um artigo que leva o leitor numa viagem à origem da palavra pai (crónica publicada originalmente no blogue Certas palavras);

     (A propósito, recordamos aqui algumas respostas do Consultório: "Pai, merónimo de família", "Padre", "O aumentativo e o diminutivo de pai" e "Maiúscula inicial em mãe e pai".

— Nesta data, 20 de março, assinala-se o Dia Internacional da Francofonia. As relações de proximidade entre a língua francesa  e a língua portuguesa têm já uma longa história, motivada por variadíssimas razões de ordem política, social ou cultural, que contribuíram inequivocamente para o enriquecimento lexical do português (como bem se recordou neste apontamento). Por esta razão, são inúmeros os galicismos na língua portuguesa que foram de tal modo absorvidos que os falantes deixaram de os considerar estrangeirismos. Desta realidade temos dado conta em diversas respostas que trataram vocábulos como comprometer, detalhe, abajur, nombrilismo, etapa ou guepardo. De igual modo, temos abordado vocábulos que foram introduzidos no português para os quais não é difícil encontrar um equivalente: recordamos os casos de réchampir ou démarche. Algumas propostas de tradução têm passado também pelo consultório: «Maudit soit qui mal y pense» ou «Parti pris». E ainda os casos particulares de naïf, déjà-vu e fétiche

3. No Consultório, ficam em linha seis novas respostas que se centram na diferença entre prossecução e persecução, na inexistência do vocábulo "chinfrineira" e no uso de «pagar-se de». Respostas ainda abordando o valor modal de uma frase iniciada pelo advérbio talvez, a colocação do advérbio  na frase e a correção da expressão «fazer mais mal a alguém». 

4. Na crónica intitulada "Erros de português e outras guerras", o tradutor e professor universitário Marco Neves aborda duas questões: as línguas ficcionais, inventadas por exemplo pelo escritor J.R.R. Tolkien ou pelo linguista David J. Peterson, e os erros que o não são, como as construções «ter pagado» ou «dever de» (texto publicado originalmente na plataforma digital SAPO 24 e no blogue Certas palavras)

    (A questão da correção da expressão «dever de» foi já também abordada nesta resposta disponível no arquivo do Ciberdúvidas.)

5. Sobre a atualidade internacional::

— Deixamos aqui registado o nosso profundo pesar face à terrível tragédia que se abateu sobre Moçambique e, em particular, devido à sua gravidade, sobre a cidade da Beira. Este acontecimento trouxe de novo para primeiro plano do discurso mediático o uso incorreto do adjetivo humanitário, que, como já se recordou em diversas ocasiões, significa «conducente ao geral da humanidade; bondoso; benfazejo; filantrópico» (cf. Dicionário Priberam), tendo, portanto, um significado positivo que não se coaduna com a descrição de realidades como crise, catástrofe, desastre ou tragédia (vide a explicação mais detalhada da diferença entre humanitário e humano aquiaqui e também aqui).

– Ainda a propósito dos terríveis efeitos do ciclone Idai na região centro de Moçambique, importa recordar que Sofala (nome de uma das  províncias mais afetadas) se deve pronunciar /Sufala/ – e não "Sófala", com o o aberto, como frequentemente se continua a ouvir nos noticiários em Portugal. E é «cidade da Beira»,  e não «cidade "de" Beira» (pelas razões invocadas nesta explicação);

 —  O anglicismo fakenews continua na ordem do dia e a ele associa-se um outro: deepfake. Ambos designam novas realidades que obrigam a muitas reflexões. Uma delas ocorre no plano linguístico e prende-se com a sua tradução para outras línguas. Para fakenews a tradução mais óbvia é «notícias falsas». Quanto ao segundo termo, deepfake*, a Fundéu BBVA propõe para o espanhol  a palavra ultrafalso – expressão perfeitamente adequada também para o português.

* Deepfake, no original inglês, refere-se a uma técnica de síntese de imagem e de voz humana com recurso a sistemas informáticos que permitem desenvolver vídeos manipulados extremamente realistas e convincentes.

6. A competência de produção escrita dos estudantes universitários dá o mote para a conversa com Emília Marrengula, professora da universidade moçambicana Eduardo Mondlane, durante a qual apresenta algumas propostas metodológicas que se encontra a investigar com vista à melhoria da produção de géneros textuais específicos. Uma conversa que poderá ser acompanhada no programa Língua de Todos, da RDP África, difundido na sexta-feira, dia 22 de março, com repetição no sábado seguinte, após o noticiário das 09h15*. O linguista João Veloso, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, estará no  programa Páginas de Português, na Antena 2, para falar sobre a obra de Tore Janson, História das Línguas – Uma introdução, para cuja tradução portuguesa (com divulgação, já, na rubrica Montra de Livros) escreveu o prefácio. Trata-se de uma obra de grande êxito na Suécia e nos países anglo-saxónicos que aborda a origem das línguas naturais, a qual se poderá conhecer melhor no domingo, dia 24 de março, às 12h30* (com repetição a 30 de março, às 15h30).

* Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível, posteriormente, aqui e aqui.  

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1. No Consultório, retoma-se o tema da pontuação do discurso direto e das frases intercaladas associadas, bem como o emprego de terno na aceção de «indumentária de três peças» (aquilo a que se chama fato em Portugal). Três perguntas completam a atualização, uma sobre a identificação dos valores aspetuais de uma frase, outra a respeito do aportuguesamento de um latinismo e outra, ainda, acerca dos significados de predisposição, suscetibilidade e vulnerabilidade na área da saúde.

2. A região do Alentejo é conhecida pelos seus apelidos, muitos com origem em alcunhas, como é o caso de Cavalão, nome de família que pode ter origem na alusão ao feitio irrequieto de um antepassado. A propósito deste tema, a Montra de livros apresenta o Tratado das Alcunhas Alentejanas, da autoria de Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva (Edições Colibri, 4.ª edição, 2013), que reúne perto de 13 mil alcunhas alentejanas, precisando a sua origem e distribuição nesta região do sul de Portugal.

Em Portugal, apelido e alcunha são, respetivamente, sobrenome e apelido no Brasil.

3. Na rubrica O Nosso Idioma fica em linha um apontamento da linguista Ana Sousa Martins sobre o uso do pronome pessoal nós no discurso público referente ao problema da violência doméstica em Portugal (texto originalmente lido na rubrica "Cronigramas", do programa de rádio Páginas de Português, do dia  17/03/2019).

4. Capitão tem o feminino capitã, segundo os dicionários gerais, mas o título do filme norte-americano Captain Marvel, em exibição, levanta problemas à tradução. No Brasil, diz-se e escreve-se Capitã Marvel, mas, em Portugal, a obra é anunciada como Capitão Marvel, porque, conforme declarações prestadas à revista Visão pelo gabinete de Relações Públicas da Forças Armadas Portuguesa, «não existe capitã nem aqui, nem em nenhum ramo das Forças Armadas». Por outras palavras, em Portugal, falando de hierarquia militar, os postos são denotados pelos nomes masculinos, que assim se tornam nomes comuns de dois géneros, como já assinalámos na resposta "Ainda o feminino de capitão" (19/03/2013). 

5. Dois registos finais para eventos organizados com o objetivo de conhecer melhor e promover a nossa língua comum:

– a experiência estimulante que foi trazer a companhia de teatro Furabolos, da Galiza a Lisboa, para descobrir que, afinal, portugueses e galegos ainda se entendem (pelo menos, linguisticamente), conforme relata Fausta Cardoso Pereira, no texto "Galego-português – da teoria à prática", publicado na revista digital galega Palavra Comum em 15/03/2019;

– o anúncio da realização do XXXI Colóquio da Lusofonia, marcado para  os dias 12 e 15 de abril de 2019, em  Belmonte (Castelo Branco), em Portugal – em destaque os 20 anos do referendo que conduziu à independência de Timor-Leste.

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1. Os erros devem ser evitados e corrigidos. Não é novidade. Novidade será eventualmente pensarmos que há erros que persistem e que se expandem a tantos falantes que parece que passaram a ser moda. No Nosso Idioma, a linguista Carla Marques traz-nos um apontamento sobre cinco erros de ortoépia que ouvimos frequentemente.

 2. O ensino da língua pode ser perspetivado de inúmeras formas. A professora Lúcia Vaz Pedro desenvolve uma reflexão sobre a importância da literatura no processo de ensino-aprendizagem do Português. Um percurso estruturante que não descura a fruição. 

3. Também sobre ensino, agora da escrita, reflete a professora Rosa Maria Oliveira, que divulga no jornal digital Observador um artigo (aqui transcrito com a devida vénia) sobre a possibilidade de motivar os alunos para o desenvolvimento desta competência através de processos criativos e significativos. 

4. Não obstante a persistência de muitos erros, os falantes revelam preocupação com a correção linguística, como o comprova a questão relacionada com a correção das construções «estar a caminho», «pôr-se a caminho» ou «ir a caminho». Por vezes, são as combinações de palavras que intrigam os utilizadores da língua: há diferença entre «estar para vir» ou «estar por vir»? A evolução das palavras e das expressões é também um assunto que cativa os falantes: como se processou a evolução fonológica de dous para dois? E qual a expressão que surgiu em primeiro lugar: «siga para Vigo» ou «siga para bingo»? Ainda uma hesitação na classificação de um ato ilocutório: diretivo ou expressivo? Estas são as respostas disponíveis na nova atualização do Consultório.

5. Entre os eventos relacionados com a língua, destacamos o projeto Café com Letras – Encontro com a Literatura, que vai promover uma conversa aberta com Fátima Fernandes, professora da Universidade de Cabo Verde e membro da cátedra Eugénio Tavares de Língua Portuguesa. Acontecerá no dia 15 de março, na cidade da Praia, em Cabo Verde. 

6. De língua e de política de língua fala Edleise Mendes, professora da Universidade Federal da Bahia, no programa Língua de Todos, transmitido na RDP África, na sexta-feira, dia 15/03, às 13h15* (com repetição  no dia seguinte, depois do noticiário das 09H15*), abordando a questão do papel do Brasil na promoção do português no mundo e particularmente em África, no âmbito do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e a sua articulação com Portugal. No programa Páginas de Português, na Antena 2, Paulo Dias, reitor da Universidade Aberta de Lisboa, detalha as  novas ofertas de ensino a distância em língua portuguesa (no domingo, dia 17/03, às 12h30 **, com repetição no sábado seguinte, dia 23/03, às 15h30**)

* Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível, posteriormente, aqui e aqui.  

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A diferença de significado entre as formas verbais vivo e vivi não se resume a uma questão de valores temporais pelo contraste entre presente e pretérito, porque há que considerar também os chamados valores aspetuais, como evidencia uma pergunta dirigida ao Consultório, onde também se aborda outro tema da semântica, a modalidade. Outras perguntas desta atualização: diz-se «grato a alguém», ou «grato por alguma coisa»?  Aluno e estudante são sinónimos? Qual a origem do nome próprio Gertrudes?  Por último, um retorno à questão de saber se, a par de «cancro do estômago», com artigo definido, se pode empregar «cancro de estômago», sem artigo definido depois da preposição.

2. Sabemos como, em Portugal e noutros países, a variação linguística regional está a passar por grandes transformações, mas há regiões que vão mantendo uma forte personalidade dialetal, como parte do seu património – é o caso do Alentejo.  Na Montra de Livros, apresenta-se Dialeto Alentejano, publicado pela primeira vez em 2011 e da autoria da Manuela Florêncio, que o escreveu como trabalho académico, visando sistematizar os estudos do grande filólogo português Leite de Vasconcelos (1858-1941) sobre os dialetos alentejanos. Na mesma rubrica, a reedição do Dicionário de Insultos, da autoria de Sérgio Luís Carvalho e agora com colaboração do jornalista Fernando Alvim, é motivo para uma nota de atualização na apresentação que, em 2014, o Ciberdúvidas dedicou a este livro.

3. Mandado ou mandato? Descriminar ou discriminar? Adesão ou aderência? São todas palavras corretas, mas umas são parónimas, outras são da mesma família e quase sinónimas, pelo que é fácil confundi-las e a questão está em saber usá-las. Da edição eletrónica da revista Visão (10/03/2019), a rubrica O nosso idioma transcreve com a devida vénia um texto da professora e consultora linguística Sandra Duarte Tavares, no qual se retoma o tema de Pares Difíceis da Língua Portuguesa (2015) e Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa (2017), obras escritas com Sara de Almeida Leite.

4. As notícias publicadas em Portugal continuam a dar conta das negociações do Brexit, isto é, da saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Uma palavra sobressai, nem sempre traduzida pela comunicação mediática portuguesa – falamos de backstop,  termo inglês que se distingue pela polissemia. Geralmente evoca a ideia do que se põe atrás de alguma coisa, como barreira, vedação ou apoio (cf. Oxford English Dictionary). Assim se compreende que, na terminologia do beisebol (ou basebol), se conte como designação da rede de segurança por trás do recetor para proteger o público das bolas (mal) arremessadas. No contexto do Brexit, o anglicismo aplica-se à situação da fronteira entre o Reino Unido e a República da Irlanda, para a qual a UE propõe uma solução de recurso, de modo a garantir o livre trânsito entre as duas Irlandas num período de transição. Em português mediático, já ocorreram expressões como «solução de recurso» e «rede de segurança» (ver artigo da jornalista Sara Antunes de Oliveira, "Brexit. 5 pontos para compreender o impasse de uma fronteira", no jornal Observador, 18/10/2019); mas, olhando para o lado, lendo o que se faz em espanhol, registe-se que a Fundéu-BBVA recomenda solución de salvaguardia (ou de salvaguarda), solución de último recurso ou simplesmente salvaguardia (ou salvaguarda), traduções que encontram formas semelhantes ou até iguais em português. Em resumo, o caprichoso termo inglês equivale, entre outras opções, a salvaguarda, a «solução de recurso», ou, ainda, evitando seguidismo do português relativamente ao castelhano, garantia – quando o tema é o Brexit, cujo nome, recorde-se, se pronuncia "brécsit" ou "brégzit".

5. Entre notícias à volta da dinâmica das línguas e da sua interação em diferentes pontos do globo, mencione-se um texto publicado no jornal Público (12/03/2019), a respeito de como a hegemonia do inglês à escala mundial parece dar agora espaço à concorrência de outros idiomas – o espanhol, por exemplo. E registe-se ainda um artigo em inglês sobre a comunidade dos burghers portugueses do Sri Lanka, uma comunidade que conserva um crioulo de base portuguesa, em risco de desaparecimento.

6. Qual o papel do Brasil na promoção do português no mundo e particularmente em África, no âmbito do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e a sua articulação com Portugal? Este é o tema principal do programa Língua de Todos, na RDP África, de sexta-feira, dia 15/03, às 13h15* (com repetição  no dia seguinte, depois do noticiário das 09H15*), em conversa com Edleise Mendes, professora da Universidade Federal da Bahia. O programa Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, dia 17/03, às 12h30 ** (com repetição no sábado seguinte, dia 23/03, às 15h30**), centra-se numa entrevista a Paulo Dias, reitor da Universidade Aberta de Lisboa, sobre as novas ofertas de ensino a distância em língua portuguesa.

* Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível, posteriormente, aqui e aqui. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A nova atualização do Consultório mostra-nos as múltiplas abordagens que as palavras permitem: a sua pronúncia e história (nome xibolete), o seu significado metafórico (verbo girar), a sua função sintática (advérbio quase) e as suas relações semânticas (pai família).  

2.  No âmbito das notícias relacionadas com a língua, destaque para:

— As eleições legislativas na Guiné-Bissaurealizadas no domingo, dia 10 de março (para mais detalhes, consultar artigo do jornal Observador), que marcam um momento importante na história recente do país que aqui assinalamos recordando um conjunto de itens que foram publicados no Ciberdúvidas:

Algumas questões linguísticas relacionadas com a Guiné-Bissau disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas: A língua e os nomes na Guiné-BissauCom 310 mil palavras de cinco países, VOC é um monumento da  lusofonia + a notícia da eleição de Icanha Itunga para diretor-executivo do IILP e algumas respostas relacionadas com a grafia e gentílicos (aqui, aqui e aqui). Também alguns programas de rádio, da responsabilidade do Ciberdúvidas na RDP África e na Antena 2, com assuntos deste âmbito foram tratados aqui, aqui e aqui). E, ainda, os artigos de Odete Semedo, escritora e investigadora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas da Guiné-Bissau;

— O lançamento de dois cursos em língua portuguesa, no próximo ano letivo, na Universidade da Califórnia, relacionados com a literatura portuguesa, brasileira e cultura açoriana (mais detalhes na notícia);

— O alargamento do programa de ensino complementar do português à Suiça, um projeto que já deu os primeiros passos no Luxemburgo e na África do Sul (notícia IILP).