Para as gerações mais velhas, a língua que os jovens usam atualmente na Internet pode parecer mau uso e um atropelo à norma instituída. É comum encontrar em vários grupos que se comunicam no digital uma espécie de código linguístico que, muitas vezes, só eles entendem. Contudo, alguns dos termos e expressões que os jovens usam no seu discurso diário, muito provavelmente, para escândalo dos mais conservadores, podem ter vindo para ficar.
A grande tendência da língua usada na web está no recurso a abreviaturas, siglas e acrónimos que vêm do inglês, língua que, devido à sua forte expressão mundial, tem um grande impacto nos discursos produzidos por falantes de outras línguas, não sendo o português exceção. São exemplos construções como BFF (best friends forever), para designar uma amizade que se adivinha forte e duradoura; OMG (oh my God), para exprimir espanto ou supressa e que equivale à expressão portuguesa «ó meu deus»; BRB (be right back), para indicar que se volta rapidamente; LMAO (laughing my ass off), para afirmar que se está a rir bastante ou ainda o famoso YOLO (you only live once), que serve para manifestar a ideia de que só se vive uma vez e, por isso, o melhor é aproveitar cada momento. Esta última é, no fundo, uma atualização da antiga expressão latina carpe diem.
Contudo, não é só de expressões inglesas que o discurso digital dos jovens é feito. Frequentemente, verificamos o recurso ao processo de truncação, isto é, à redução de uma palavra através da eliminação de uma parte da sua estrutura, sem que haja uma alteração do seu significado ou categoria gramatical. Exemplo disso é o conhecido “tás”, resultado da diminuição da forma estás, segunda pessoa do singular do verbo estar no presente do indicativo1. Para além disso, é possível também identificar o excesso de pontuação expressiva, como, por exemplo, em situações em que se pretende exprimir surpresa recorrentemente se utiliza vários pontos de exclamação seguidos (!!!!).
Em suma, todos estes processos são a ilustração do uso de uma linguagem simplificada e que se desenvolve, sobretudo, no meio digital. Embora para alguns isto seja a indicação de que os processos cognitivos relacionados com a língua estejam a ficar mais simples, o que na realidade muitos jovens estão a fazer, quando importam expressões de outra língua ou cortam pela metade palavras, é adaptar o modo de usar a linguagem aos novos tempos e às novas formas de comunicar, algo que sempre aconteceu ao longo da história da humanidade.
1. Existe o hábito de descrever o processo de formação de "tás" apenas do ponto de vista fonológico. No entanto, como assinala a professora Clotilde Almeida (Universidade de Lisboa), nesta notícia no jornal Observador, «é muito comum os jovens recorrerem a processos como truncamentos (redução de uma palavra, como por exemplo, “‘tá”)».