1. Embora Malawi pareça ter sido em tempos a forma mais corrente para, em Portugal, designar o país africano assim chamado, existe hoje o aportuguesamento Maláui, que já se documenta oficialmente. Este é um dos tópicos abordados na nova atualização do Consultório, entre os quais também se conta a regência do adjetivo propício, a sintaxe do verbo ceder no sentido de «não resistir», a locução prepositiva «até a» e o plural de leite (que não denota uma simples multiplicação).
2. As formulações da linguagem inclusiva para combater o sexismo continuam a gerar polémica por todo o mundo, como é o caso, no México, das declarações da linguista Concepción Company Company à revista Zeta. Num trabalho intitulado "La gramática no tiene sexo, no es incluyente ni excluyente" – isto é, «a gramática não tem sexo, não é inclusiva nem exclusiva» – a referida especialista faz várias considerações sobre o alegado sexismo de certas construções, entre elas, o masculino plural, empregado em espanhol para referir ambos os géneros, tal como acontece em português. Acerca deste ponto, citamos (tradução livre): «A gramática é uma série de convenções seculares, até milenárias, sedimentadas sob a forma de regras, hábitos e rotinas, de muito lenta transformação, e devemos perceber, como é sabido, que o masculino não reflete sexo, reflete uma convenção indiferente ao género. Se eu perguntar «quantos filhos tem?», suponho que [quem me ouve] pensa em filhos e filhas, em todos; mas, se lhe perguntar «quantas filhas tem», ficam excluídos [os filhos]; esta é a prova de o masculino ser indiferente.»
Acerca deste tema, ver, no Ciberdúvidas, "Machista e heteropatriarcal, a língua portuguesa?", do linguista João Veloso. Consultem-se ainda os seguintes artigos: "Calem-se!", "Elas são eles e eles são elas?", "Os cidadãos e a gramática", "O sexo das palavras", "Quem fala assim não é gago nem gaga", "Gramática ainda não tem sexo", "Car@s leitorxs e utentas", "@ entre acentos, géneros e beijos", "A que propósito aparece a crónica de RAP no Ciberdúvidas?", "Sobre índices temáticos e género gramatical", "O uso de @ para marcar o género de palavras" e "'Amigas e amigos' e 'amigos e amigas'.
3. Sabemos que o árabe tem nomes para os dias da semana que são homólogos dos portugueses na estrutura e no sentido. Basta mencionar (yawm) al-ithnayn, que significa «segundo dia», para imediatamente encontrar semelhança com segunda-feira. Estaremos, então, perante mais um exemplo do impacto do idioma arábico sobre a nossa língua? Nada disso, como bem explica o escritor e tradutor português Marco Neves em "Por que razão não chamamos 'primeira-feira' ao domingo", um apontamento publicado em 31/03/2019 no blogue Certas Palavras.
Do mesmo autor, a respeito da comparação do português com outras línguas, recorde-se um outro texto, de 6/12/2014, intitulado "Cinco palavras espanholas que enganam os portugueses". Do passado e do presente das palavras, bem como dos seus problemas de análise, fala também o linguista Aldo Bizzocchi, no apontamento vídeo "Como criar palavras e – desmontá-las" no canal Planeta Língua (Youtube, 29/03/2019).
Na imagem, lápide datada de 618 d.C., que se encontra na Igreja de São Vicente (Braga). A terceira linha do texto epigrafado atesta a expressão latina secunda feria, que está na origem de segunda-feira (foto de Joseolgon, disponível no artigo "Dias da semana" da Wikipédia).
4. «Será que quanto mais se puser a tónica na expressão, menor é a comunicação?» – pergunta o tradutor Vítor Santos Lindegaard no blogue Travessa do Fala-Só, desenvolvendo uma breve reflexão à volta das necessidades nem sempre compatíveis de expressão e comunicação no uso das línguas. Um texto que aborda outra dualidade, a existente entre convenção e criação artísticas, ilustrada por um poema de Alexandre O'Neill (1924-1986), em jeito de evocação do seu génio irreverente.