Comecemos por recorrer à Nova Gramática do Português Contemporâneo¹ que, na página 4, esclarece:
«As formas características que a língua assume regionalmente denominam-se dialectos.
Alguns linguistas, porém, distinguem, entre as variedades diatópicas² o falar do dialecto.
Dialecto seria 'um sistema de sinais desgarrado de uma língua comum, viva ou desaparecida; normalmente, com uma concreta delimitação geográfica, mas sem uma forte diferenciação diante dos outros da mesma origem'. De modo secundário, poder-se-iam também chamar dialectos 'as estruturas linguísticas, simultâneas de outra, que não alcançam a categoria de língua'.
Falar seria a peculiaridade expressiva própria e uma região e que não apresenta o grau de coerência alcançado pelo dialecto. Caracterizar-se-ia, do ponto de vista diacrónico, segundo Manuel Alvar, por ser um dialecto empobrecido, que, tendo abandonado a língua escrita, convive apenas com as manifestações orais. [...]»³
No que respeita aos dialetos brasileiros, há uma insuficiência de informação rigorosa sobre as diferenças das variedades regionais que tem a ver com o extensíssimo território do país. Para Cunha e Cintra, os atlas dos Estados da Bahia e de Minas Gerais [e o Atlas Linguístico de Sergipe, coordenado pelo professor Nelson Rossi], são contributos importantes para o estudo do assunto. O projeto do Atlas Lingüístico do Brasil, que recentemente publicou os dois primeiros volumes, é mais um passo para o conhecimento das variedades regionais existentes no país.
De acordo com Antenor Nascentes, é possível dividir o Brasil em duas grandes regiões dialetais – norte e sul.
«Em cada grupo, distingue Antenor Nascentes diversas variedades a que chama subfalares. E enumera dois no grupo Norte: a) o amazónico, b) o nordestino. E quatro no grupo Sul: a) o baiano, b) o fluminense, c) o mineiro, d) o sulista.»¹
A proposta de Nascentes desta grande divisão linguística no Brasil toma como base «a cadência da fala: fala 'cantada' no Norte, fala 'descansada' no Sul» e a existência de vogais pretónicas nos dialectos do Norte em vocábulos que não sejam diminutivos nem advérbios em -mente: pègar por pegar»¹. Afirma que “Basta uma singela frase ou uma simples palavra para caracterizar as pessoas pertencentes a cada um destes grupos” (in O linguajar carioca, p. 25).
Para alargamento do assunto, aconselhamos a consulta das seguintes obras:
O linguajar carioca, Antenor Nascentes, Rio de Janeiro, Organização Simões, 1953; O dialeto brasileiro, Ciro T. de Pádua, editora Guaíra Limitada, Curitiba, S. Paulo, 1942; Dicionário da Terra e da Gente do Brasil, Bernardino José de Sousa, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1961; Tesouro da Fraseologia Brasileira, Antenor Nascentes, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1986; Bases para a elaboração do atlas lingüístico do Brasil, Antenor Nascentes, Rio de Janeiro: MEC, 1961; Atlas Linguístico de Sergipe, coordenado por Nelson Rossi.
Recomenda-se ainda a indispensável consulta do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (Projeto ALiB)
N.E. – Nas citações da Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, manteve-se a grafia de antes do AO90
¹ in Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, p. 4, edições Sá da Costa, Lisboa, 1ª ed., 1984
² as variações diatópicas são as diferenças no espaço geográfico (falares locais, variantes regionais e, até, intercontinentais)
³ Manuel Alvar, Hacia los conceptos de lengua, dialecto y hablas, Nueva Revista de Filología Hispánica, 15: 57, 1961