1. No Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portugueses, comemorado em 10 de junho, teve importante impacto o discurso da escritora Lídia Jorge nas cerimónias oficiais realizadas na cidade algarvia de Lagos. Aludindo ao atual clima político-social, em que parecem tornar-se frequentes atitudes e comportamentos ostensivamente racistas contra imigrantes, a escritora não se furtou a tomar posição de forma bem explícita: «Consta que em pleno século XVII, 10% da população portuguesa teria origem africana. Essa população não nos tinha invadido. Os portugueses os tinham trazido arrastados até aqui. E nos miscigenámos. O que significa que por aqui ninguém tem sangue puro» (texto integral partilhado na rubrica Lusofonias). Observe-se que a ideia de pureza também se associa frequentemente à imagem de uma língua, podendo manifestar-se em atitudes preconceituosas e ações discriminatórias. É o que revela a jornalista Alda Rocha em "'Eu falo português, você fala brasileiro': uma língua com múltiplas variedades, falada por milhões, ainda motiva discriminação" (Expresso, 10/06/2025), trabalho que destaca os dilemas da avaliação dos alunos falantes da variedade brasileira nas escolas de Portugal. Entre os entrevistados, conta-se o gramático brasileiro Fernando Pestana, que, recorde-se, em 12/05/2025, dinamizou a sessão "O português do Brasil em sala de aula" no âmbito da oferta formativa da Associação de Professores de Português. Declarou este especialista à jornalista: «Não se deve corrigir em todas as situações de fala, mas na escrita, sim, o aluno deve aprender a norma culta. E é aí que surge a necessidade de conhecer também a norma culta brasileira para o professor poder filtrar quando deve ou não corrigir.»
Sobre a integração linguística dos alunos brasileiros em Portugal, refira-se Renata Rodrigues Carone et al."'Eu falo português, você fala brasileiro': processos de categorização operados pelos professores a partir da perspetiva dos alunos de origem brasileira em Portugal", Sociologia, problemas e práticas, n.º 107, 2025, pp. 103-128.
2. Para falar da independência dos países africanos de língua oficial, ocorrida maioritariamente há 50 anos, usam-se as palavras descolonizar e descolonização. Recentemente, em publicações do Brasil e de Portugal, deteta-se também o emprego de decolonizar, a par do adjetivo decolonial. Não deveriam estas formas exibir um s, visto que o prefixo é des-? No Consultório, dá-se resposta a esta e a outras perguntas, num total de cinco: mental significa «relativo a ter mentalidade»? Pretérito pode ocorrer como nome comum? Que figuras de estilo podem ser identificadas em «ouvia-se o vento uivar»? Quando faltam 15 minutos para qualquer hora certa, que expressões são correntes?
3. Em Montra de Livros, apresenta-se um guia de usos linguísticos para jovens: 100 Maneiras de Melhorares o teu Português, um lançamento da Manuscrito, chancela da Editorial Presença. Os autores Sara de Almeida Leite, docente do Instituto Superior de Educação e Ciências (ISEC), em Lisboa, e Paulo Freixinho, ilustrador e cruciverbalista do jornal Público.
4. Temas dos novos episódios dos projetos em vídeo do Ciberdúvidas: as abreviaturas em O Ciberdúvidas Vai às Escolas (33.ª episódio, com a participação do Instituto Politécnico de Lisboa) e as orações subordinadas substantivas em Ciberdúvidas Responde (38.º episódio).
5. O mês de junho em Portugal e noutros países de língua portuguesa é marcado por vários dias festivos dedicados geralmente a uma tríade de santos: Santo António, celebrado a 13 de junho, São João, a 24, e São Pedro, no fim do mês, a 29. Acerca deste tema, sugere-se a leitura de "Nos santos populares (en)cante com poesia popular", "Assadas ou grelhadas?", "O forró e as festas juninas brasileiras", "Santo António...", "Um São João imemorável...", "Festas populares é no largo da Madragoa".
Crédito da imagem: Mistérius.
6. Quanto a dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, tratam de temas da língua portuguesa, registe-se que, em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 13/06/2025, 13h20), a professora Sandra Duarte Tavares dá exemplos de pleonasmos e da sua função num texto. Em Páginas de Português, (Antena 2, domingo, 15/06/2025,12h30), entrevista-se a professora Clara Keating (Universidade de Coimbra) a respeito dos conceitos de pluricentralidade e translinguagem, além de se contar com a participação de Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, com um apontamento sobre a diferença entre renitente ou reticente.