O constituinte «ao sentimento» desempenha a função sintática de complemento oblíquo.
Na frase em questão
(1) «Camilo cedeu ao sentimento.»
a dúvida na identificação da função sintática desempenhada pelo constituinte residirá no facto de este ser introduzido pela preposição a, o que é típico do complemento indireto. Não obstante, é importante ter em consideração outros aspetos para proceder a uma correta identificação da função sintática:
(i) há constituintes introduzidos pela preposição a que não desempenham a função sintática de complemento indireto: «Eu vou a casa do Rui.» — neste caso, estamos perante uma preposição regida pelo verbo: ir a;
(ii) a possibilidade de substituição pelo pronome pessoal clítico dativo lhe permite identificar o complemento indireto: «Eu dou uma prenda ao Rui. / Eu dou-lhe uma prenda» vs. «Eu vou a casa do Rui. / *Eu vou-lhe.»
Assim, voltando à frase em apreço, registe-se, por um lado, que nela o verbo ceder tem uma utilização transitiva indireta e está a reger a preposição a (tal como acontece acima com «ir a»), situação em que significa “dar-se por vencido; não resistir” (Dicionário Houaiss). Por outro lado, não parece muito aceitável a substituição do constituinte «ao sentimento» pelo pronome lhe1:
(2) «? Camilo cedeu-lhe.»
Parece mais natural a sua substituição por um pronome neutro tónico:
(3) «Camilo cedeu a isto.»
Pelas razões apresentadas, consideramos que o constituinte em questão desempenha a função de complemento oblíquo.
Disponha sempre.
*Assinala a agramaticalidade da frase.
? Assinala a dúvida quanto à aceitabilidade da frase
1. Note-se, no entanto, que, caso se considere aceitável a substituição do constituinte por lhe, isso não impedirá que se trate de um complemento oblíquo (ver aqui).