Na frase apresentada, a palavra tua pode ser considerado um determinante possessivo, se adotarmos uma visão mais escolar da gramática. Não obstante, se seguirmos uma interpretação menos tradicional poderemos considerá-la um pronome possessivo.
Os vocábulos meu/minha pertencem à série do pronome eu, porque se referem à primeira pessoa do singular, teu/tua pertencem à série do pronome tu, porque se referem à segunda pessoa do singular, e assim sucessivamente.
Não obstante, numa visão tradicional meu/teu (etc.) serão determinantes ou pronomes possessivos em função do seu comportamento na frase:
(1) «Gosto do teu carro, mas prefiro o meu.»
(2) «Ele andou nos carros dos amigos, mas prefere o teu.»
(3) «A minha chegada foi muito comentada.»
(4) «O João anda à tua procura.»
Assim, meu e teu são pronomes possessivos nas frases (1) e (2) porque não acompanham um nome no seu sintagma. Já nas frases (3) e (4), minha e tua são determinantes possessivos porque expressam uma relação semântica de posse e acompanham o nome como complemento e modificador (respetivamente), concordando com ele em género e número. Esta será a abordagem escolar do fenómeno, que poderá ser encontrada por exemplo na gramática Domínios, de Nascimento e Lopes (Plátano Editora, pp. 159 e 165).
Uma visão distinta do fenómeno pode ser encontrada, por exemplo Gramática do Português, de Raposo et al. (Fundação Calouste Gulbenkian). Nesta publicação, os autores consideram que os possessivos são o caso genitivo dos pronomes pessoais, sendo normalmente equivalente ao grupo preposicional «preposição de + pronome». Tal proposta leva a que se considere que não existem determinantes possessivos, mas apenas pronomes pessoais possessivos que podem acompanhar ou não nomes1.
Refira-se que é a equivalência do possessivo com o grupo preposicional que permite ao consulente aproximar a frase (4) de (5):
(5) «O João anda à procura de ti.»
Todavia, esta equivalência normalmente gera frases agramaticais, como se vê pela relação entre (3) e (6):
(6) «*A chegada de mim foi muito comentada.»
Em síntese, perante o que ficou exposto, cabe ao consulente adotar uma visão mais escolar na análise do fenómeno (que será a ensinada em contexto escolar não superior, por exemplo), considerando tua um determinante possessivo, ou optar por uma visão distinta, considerando tua um pronome pessoal possessivo.
Sempre ao dispor!
* Assinala a agramaticalidade da frase.
1. Para um maior desenvolvimento das razões que sustentam esta posição, cf. pp. 730-731.