A decisão da Ordem dos Advogados portugueses na não aplicação da norma ortográfica oficialmente em vigor no país desde 2015 é «uma inadmissível provocação» por parte de uma entidade pública, criada pelo Estado e encarregada do desempenho de tarefas públicas de regulação e disciplina da profissão de advogado — considera o constitucionalista Vital Moreira, em texto publicado no blogue Causa Nossa, com a data de 23 de junho de 2022.
«Graças ao AO90 e às suas trapalhadas de duplas grafias e facultatividades, temos nestas legislativas secções de voto, mas também “sessões” (como já se viu na RTP ou em câmaras como a do Barreiro) ou “seções”, grafia usada no Brasil, mas que em Portugal é considerada inexistente pela Academia das Ciências de Lisboa e pelo próprio IILP.»
Artigo de opinião do jornalista Nuno Pacheco, oponente do Acordo Ortográfico de 1990, sobre o lugar que este ocupou nas discussões políticas da campanha para as eleições legislativas antecipadas, realizadas em Portugal em 30 de janeiro de 2022. Texto incluído na edição de 27 de janeiro de 2022 do jornal Público, escrito segundo a norma ortográfica de 1945, adotada no texto original.
É tempo de o português do Brasil se tornar a língua brasileira? O jornalista e escritor brasileiro Sérgio Rodrigues diz que sim, em crónica publicada na Folha de S.Paulo (12 de maio de 2021), mas o historiador e político português Rui Tavares acha que não (Público, 14 de maio de 202).
Duas posições que, podendo ser antagónicas, concordam como indícios de que algo não corre bem no seio da chamada lusofonia.
Incluiu-se também o que, a propósito desta troca de argumentos, escreveu o jornalista Nuno Pacheco no jornal Público, de 20 de maio de 2021, assim como, sobre esta mesma querela, o texto Afinal, existe 'língua brasileira'?, da autoria do professor Sérgio Nogueira.
«Uma decisão intempestiva de autonomizar oficialmente parte da língua portuguesa teria também de ter origem num governo nacional (por ação, no caso do Brasil; por omissão, no caso de Portugal) [...] não mudaria em nada a intercompreensão entre as centenas de milhões de falantes da língua mas [...] teria um impacto desastroso para o português do ponto de vista da sua estratégia internacional.» A observação é do historiador e político português Rui Tavares, como reação à crónica do jornalista e escritor brasileiro Sérgio Rodrigues, que, na Folha de S. Paulo (12 de maio 2021), defendeu a proclamação, como língua independente, do português falado e escrito no Brasil (ler aqui).
Crónica do jornal Público em 14 de maio de 2021.
«Historicamente, desde a independência do Brasil, em 1822, a língua adquiriu um caráter bicêntrico, ou seja, passou a ter não um centro difusor da norma linguística, como até então fora Lisboa, mas dois centros, Lisboa e o Rio de Janeiro. Com as independências dos demais países de língua portuguesa, o que se espera é que venham a nascer novos centro difusores de norma, ou seja, que também estes jovens países venham a assumir a variedade do português neles falado como um traço fundamental da sua identidade, tornando o português uma língua efetivamente pluricêntrica.»
Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 21 de junho de 2020.
Em Moçambique, em 2012 a ratificação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AO) parecia encaminhada, por decisão do conselho de ministros do governo deste país. Contudo, o "período de derrogação" que nesse ano também fora criado para preparar o país para a aplicação da nova norma ainda hoje espera o seu termo. Entretanto, o Vocabulário Ortográfico Moçambicano da Língua Portuguesa está disponível desde 2017 na plataforma do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), mas o certo é que o AO continua por ratificar em Moçambique. Para uma noção do que há alguns anos era o debate desta questão, transcreve-se com a devida vénia a entrevista que a linguista Marta Sitoe deu em 22 de agosto de 2016 ao jornal moçambicano O Povo e que o jornal Preto e Branco republicou em 6 de junho de 2020 (manteve-se a ortografia original).
N. E. (11/06/2020) – Texto introdutório alterado na sequência de um esclarecimento (comunicação pessoal) proveniente da organização do VOC. Na verdade, a entrevista feita a Marta Sitoe é da autoria de Crescêncio Manhique e saiu originalmente em 22 de agosto de 2016 no jornal moçambicano O Povo, que terá deixado de se publicar – pelo menos, à data de redação desta nota, não foi possível aceder a este jornal em pesquisas pela Internet. O texto que no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa se transcreveu inicialmente era o da republicação em 6 de junho de 2020 pelo Preto e Branco. Contudo, pareceu de justiça reproduzir a entrevista tal como apareceu em O Povo, com a devida identificação do entrevistador, Crescência Manhique (CM). Fica também disponível aqui a referida edição (edição 29, ano 1) de O Povo em 22 de agosto de 2020.
Embora constitua um domínio técnico, a língua é fonte de afetos e a relação do homem com a sua língua pode ser entendida à luz desta realidade, como nos explicava Carla Marques num artigo de opinião publicado no Correio da Educação, revista digital das Edições ASA, de 25 de novembro de 2011.
O sexto vídeo da série O Tamanho da Língua da TV Folha de S. Paulo aborda a história dos acordos ortográficos. Jornalistas da Folha de S. Paulo percorreram Portugal e Moçambique, além de diversas regiões do Brasil, para mostrar a história e a riqueza da língua portuguesa, a sétima mais falada do mundo.
Os restantes vídeos estão disponíveis aqui.
Um texto * que passa em perspetiva vários séculos de evolução da língua portuguesa e defende a importância da preservação de todo o património nela contido, incluindo o ortográfico – que, na perspetiva da sua autora, deve respeitar a norma anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.
*in jornal Público, de 5/05/2020, escrito segundo a norma ortográfica de 1945.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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