Além de sulano, o vocábulo são-pedrense é outra forma legítima do gentílico correspondente a São Pedro do Sul. O mesmo não se pode dizer da grafia "sampedrense", que, apesar de enraizada no uso, deveria ser substituída por sã-pedrense, mais coerente com os princípios das normas ortográficas dos últimos cem anos.
A respeito de gentílicos derivados de topónimos que incluem nomes de santos (hagiotopónimos), o Tratado da Ortografia da Língua Portuguesa (1947, págs. 130-131), do filólogo português Rebelo Gonçalves (1907-1982)1, atribuía a São Brás (de Alportel) o gentílico são-brasense, e à variante toponímica Sã Brás, a forma mais popular sã-braseiro, cuja grafia se devia preferir a "sambraseiro". Tomando este caso por modelo, infere-se que a grafia "sampedrense" também não se recomenda e que sã-pedrense constitui a grafia mais adequada ao gentílico derivado de Sã Pedro, esta, por sua vez, variante de São Pedro, donde provém a forma são-pedrense. Este raciocínio encontra apoio no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), também de Rebelo Gonçalves, que regista sã-pedrense como variante de são-pedrense, deixando entender que estas duas palavras são os gentílicos relativos aos topónimos complexos que incluam o nome de santo (hagiónimo) São Pedro, como acontece com São Pedro do Sul.
Acrescente-se que sã e são são reduções de santo. Como se observava no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de 1940 (pág. LXXVII-LXXIX), eram estas as grafias legítimas, não se aceitando "sam" nem "san", que não se enquadravam nos princípios da ortografia portuguesa tal como ela se definira a partir da Reforma Ortográfica de 1911. Quer dizer, portanto, que, pressupondo as formas São Pedro e Sã Pedro, os respetivos gentílicos devem escrever-se são-pedrense e sã-pedrense, ambos com hífen, como acontece com os gentílicos derivados de topónimos complexos, isto é, formados por duas ou mais palavras gráficas (cf. Cabo Verde → cabo-verdiano).
Mesmo assim, acerca de "sampedrense", convém assinalar o gentílico de São Tomé, o qual anda registado nos dicionários atuais com algumas oscilações, escrevendo-se, a par de são-tomense, a forma "santomense". Este caso poderá, portanto, retirar alguma força à rejeição de "sampedrense".
Em suma, os gentílicos derivados do hagiotopónimo São Pedro têm são-pedrense como forma incontestavelmente correta. Alternativa também correta é sã-pedrense, aceitando uma variante popular que deve grafar-se Sã Pedro, e não "Sam Pedro", nem "San Pedro". Por último, conta-se a forma "sampedrense", dificilmente aceitável, por lhe faltar clara fundamentação ortográfica.
1 Dá-se destaque aos textos prescritivos de Rebelo Gonçalves, dado tratar-se de uma figura influente na preparação e formulação do Acordo Ortográfico de 1945. Não se menciona o Acordo Ortográfico 1990, por este ser omisso sobre esta matéria.