1. Das Américas de língua espanhola chegam frequentemente dúvidas sobre a língua portuguesa. Desta vez, um consulente mexicano pergunta como se diz «um conjunto de três». A resposta faz parte da presente atualização do consultório, onde também se comenta o emprego de artigo definido com os geónimos Taiwan e Formosa. Como se anda em terras do Oriente, não é descabido evocar o grande Camões na análise estilística de uma sequência de versos da sua obra de exaltação imperial: «Ó gente ousada, mais que quantas/ No mundo cometeram grandes cousas» (Os Lusíadas, capítulo V, estrofe 41). A propósito de apuro literário, igualmente se justifica falar da palavra perfecionista e da sua associação com muito e pouco; e, talvez em referência à sedução das palavras, ocorre dizer que ficamos fascinados – «por elas» ou «com elas»? Por último, viaja-se até ao reino da sintaxe: que função terá «do fidalgo» na frase «o rei fez-se acompanhar do fidalgo»?
2. A propósito de Camões, refira-se a polémica que envolve outro poeta português, o profeta do super-Camões, ou seja, Fernando Pessoa. Na sequência da escolha deste autor como patrono de um programa de intercâmbio académico no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), levantaram-se vozes críticas para lembrar os textos em que Pessoa se revela como «um escravocrata racista» (expressão da jornalista Luzia Moniz num artigo publicado no Jornal de Angola, em 10/02/2019). Teresa Rita Lopes, escritora, professora universitária jubilada e uma das maiores especialistas na obra pessoana, refuta energicamente tal acusação num artigo intitulado "Fernando Pessoa desentendido e caluniado. 'Branqueá-lo?' Não! Entendê-lo!", que o jornal Diário de Notícias publicou em 17/02/2019.*
* Ainda sobre esta querela, publicados igualmente no Diário de Notícias, leiam-se ainda os textos "Fernando Pessoa. 'É desonesto dizer que ele era racista e esclavagista'", "Racista e esclavagista? Especialistas contestam acusações a Pessoa" , "Depois é o Pessoa que bebe..." e Mais uma polémica alimentada pela ignorância
Cf.: Fernando Pessoa: 10 das melhores frases do génio
3. Em Portugal, com a campanha partidária para as eleições europeias em marcha – em 16/02/2018 foram anunciados os candidatos do PS e do BE, além da conferência realizada pelo PSD –, os oradores fazem múltiplas referências a perder e ganhar no dia 26 de maio p. f. Nota-se que quase todos vão preferindo – para não dizer tropeçando nela – a forma popular "perca", em alternativa à mais formal perda, que é tradicionalmente o nome comum correspondente ao verbo perder. Sobre o uso de "perca", de discutível correção, leiam-se, do arquivo do Ciberdúvidas, os textos "Ora bogas com a perca", "É uma 'perca' de tempo" e "A etimologia da palavra perda"
4. Registo, ainda, da mudança oficial de nome de um país europeu, situado na península dos Balcãs. Falamos da antiga república jugoslava da Macedónia, que, tendo chegado finalmente a acordo com a Grécia, passou a chamar-se República da Macedónia do Norte. Sobre este caso, leia-se o interessante apontamento que o professor e tradutor Marco Neves escreveu no seu blogue Certas Palavras. Observe-se que os cidadãos deste país continuarão a ser conhecidos como «os Macedónios», cuja língua principal mantém o nome por que sempre foi conhecida em português: macedónio.
1. A construção dos sentidos das palavras está em constante frenesim. De tal forma que os falantes hesitam: «amargura do café» ou «amargo do café»? E ainda «avião desviado» ou «avião divergido»? A propósito, qual a diferença entre estore e persiana? Também acontece não se saber como verbalizar a realidade: palote ou paloxe são palavras? A passagem das palavras isoladas às suas possibilidades de combinação também gera dúvidas: «nomeado para» ou «nomeado a»? A transferência da modalidade oral para a escrita traz uma indecisão quanto à classificação de uma oração que corresponde ao relato do discurso direto. Por fim, as palavras claro e claramente colocam dificuldades no que respeita à sua integração numa dada subclasse de advérbios. São estas as questões que se encontram na presente atualização do Consultório do Ciberdúvidas,.
2. Na rubrica O Nosso Idioma, encontramos a história da evolução de algumas palavras, trazida pelo jornalista Aurélio Moreira, numa crónica que transcrevemos, com a devida vénia, do suplemento P3 do jornal Público. Nela, o cronista conta-nos que atazanar tem origem no verbo atenazar e catrafada é uma corruptela de catrefada. Acrescentamos, porém, que, contrariamente ao que defende o autor, é muito discutível que dezasseis, dezassete e dezanove resultem da alteração fonética de dezesseis, dezessete e dezenove, supostamente mais antigas.
3. Também Marcos Neves, professor universitário e tradutor português, nos leva numa viagem pela história das palavras coração, amor e desejo, numa crónica publicada originalmente no seu blogue Certas Palavras e que transcrevemos na secção O Nosso Idioma. Desde o latim a proveniências mais obscuras que nem sempre é possível deslindar, assim é feita a viagem de muitas palavras que usamos no nosso quotidiano.
4. A exploração do sentido das palavras e a poesia que daí nasce leva-nos à nova publicação de José Carlos Fonseca, presidente da República de Cabo Verde e poeta. Um livro intitulado A sedutora tinta das minhas noutes, que reúne poemas selecionados pelo também poeta Arménio Vieira, vencedor do Prémio Camões 2009.
5. As palavras que transmitem saber e pensamentos motivam mais um encontro no "Camões dá que falar", que convida António Sampaio da Nóvoa, professor universitário português, para falar sobre os 500 anos da viagem de Magalhães e os 50 anos da ida à Lua. No Auditório Camões, em Lisboa, no dia 18 de fevereiro pelas 18H00.
6. No âmbito dos programas de rádio, recordamos que A Língua de Todos* (emitido pela RDP África) passará uma entrevista com a professora Cristina Vieira da Silva, da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, do Porto, que abordará a questão da formação de professores de português do 1.º e 2.º ciclos do Básico e a necessidade de os dotar de profundos conhecimentos de gramática. Por sua vez, o programa Páginas de Português* (na Antena 2) estará à conversa com Mariana Oliveira Pinto, professora na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, abordando o tema da relação entre a compreensão do funcionamento da língua e o desenvolvimento de competências de escrita.
* A Língua de Todos, RDP África, sexta-feira, 15 de fevereiro, 13h15, com repetição no sábado, dia 16 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00 + Páginas de Português, Antena 2, 17 de fevereiro, 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 22 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.
7. Um registo final, de pesar, pelo falecimento do jornalista português José Queirós (1952-2019). Com um largo percurso profissional, foi um dos fundadores do jornal Público e seu primeiro Provedor do Leitor – função exercida com uma especial preocupação para com o mau uso da língua na imprensa. Recordem-se, a propósito, as crónicas Erros ortográficos, pontapés na gramática, excesso de estrangeirismos...; Os erros de escrita não são inevitáveis; O recurso desnecessário aos estrangeirismos e o tremendismo verbo «arrasar»; e Estrangeirismos, neologismos, tecnicismos e vulgarismos na linguagem do jornal.
1. De «ser senhor/senhora do seu nariz» a «meter o nariz em tudo» vai a distância da assertividade à intromissão. Denotando esse elemento essencial de qualquer silhueta, a palavra nariz perfila-se também nas muitas expressões idiomáticas a que dá pitoresco. Em O nosso idioma, a linguista Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, textualizando criativamente os seus usos, faz o inventário de tais expressões.
2. No consultório, três perguntas centram-se em problemas de sintaxe, sempre muito presentes entre a população escolar, como sejam a identificação de orações que são complementos de nomes, adjetivos e verbos, a análise de frases em que ocorram locuções conjuncionais descontínuas e a descrição de regências verbais. Comenta-se também a pontuação a empregar com um marcador discursivo. E porque na língua se inscreve a história social, sonda-se a origem e a etimologia de um topónimo do norte de Portugal.
3. Que terá que ver o conceito associado ao termo lusofonia com a palavra portugalidade, tão mitificada no Portugal do Estado Novo e das últimas décadas do seu império colonial? Nos dias de hoje, numa perspetiva intercultural, pós-colonial, deseja-se que nada, como se assinala na Montra de Livros, na recensão que José Manuel Matias faz de Da Portugalidade à Lusofonia, de Vítor Sousa, uma obra que lança pistas de reflexão e aponta caminhos para a convivência entre os países em que o português tem estatuto oficial.
4. Entre atividades que levam a aprofundar, promovendo, o conhecimento da língua quer no presente, quer na diversidade do seu património, salientem-se:
– No âmbito da formação ao longo da vida, a sessão que a Universidade Sénior de Almada organizou na suas instalações em 11/02/2019, tendo por convidado o professor universitário e tradutor Marco Neves, que falou do seu mais recente livro, Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português (ver Montra de livros e Notícias).
– Em Espanha, o destaque dado pelo programa Una Casa Portuguesa, do canal Radio 5 da RTVE, ao projeto académico Frontespo, que estuda questões da vida tradicional, etnográfica e linguística da fronteira luso-espanhola – a chamada Raia. Saliente-se que o Casa Portuguesa consiste num breve apontamento sobre a cultura de Portugal, geralmente pondo os ouvintes espanhóis em contacto com muito do que se canta em português.
5. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, refira-se que o A Língua de Todos* (emitido pela RDP África) se centra numa entrevista com a professora Cristina Vieira da Silva, da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, do Porto, sobre a formação de professores de português do 1.º e 2.º ciclos do Básico e a necessidade de os dotar de profundos conhecimentos de gramática. No Páginas de Português* (na Antena 2), propõe-se uma conversa com a professora Mariana Oliveira Pinto da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal sobre a relação entre a compreensão do funcionamento da língua e o desenvolvimento de competências de escrita.
* A Língua de Todos, RDP África, sexta-feira, 15 de fevereiro, 13h15, com repetição no sábado, dia 16 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00. Páginas de Português, Antena 2, 17 de fevereiro, 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 23 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.
6. Um registo final para o Dia Mundial da Rádio**, comemorado em 13 de fevereiro, data que foi escolhida porque, em 1946, a Rádio das Nações Unidas (United Nations Radio) emitiu pela primeira vez um programa para um grupo de seis países (mais informação aqui). Sobre este tópico, leiam-se os seguintes artigos e respostas: "A rádio e o rádio", "O português na rádio e na TV", "Falar mal na rádio e na TV", "Radiouvinte", "Pela língua portuguesa, na rádio e na televisão".
** No Brasil, rádio é um substantivo masculino – tanto no sentido de «aparelho emissor ou receptor de telegrafia e de telefonia sem fios», como «estação radiodifusora que transmite programas de entretenimento, educação e informação pelo sistema de ondas hertzianas» (= emissora, rádio emissora). Etim. red. de radiofonia .
1. A (desgraçada) atualidade dos assassínios resultantes de violência doméstica trouxe à ribalta a palavra feminicídio (aqui e aqui), que, seis anos depois da nossa última resposta, tem finalmente registo dicionarístico nos dicionários em linha Houaiss e Priberam... averbando uma terrível realidade que, em Portugal, se associa a números monstruosos: nove mulheres mortas desde o início do ano, 503 entre 2004 e final de 2018 (notícias e comentários aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo).
O dicionário Priberam prevê ainda a palavra femicídio como variante de feminicídio. Há também quem proponha o termo generocídio (cd. Wikipédia) que, todavia, é considerado mais ambíguo.
Ricardo Araújo Pereira, conhecido humorista português, citou o esclarecimento do Ciberdúvidas a propósito da legitimidade da palavra feminicídio, no programa Governo Sombra (de 8/02) em que participa como comentador. Na resposta citada, Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, atestava o processo de formação da palavra, que é similar ao de outros compostos morfológicos (como filicídio ou homicídio).
2. Na nova atualização do consultório continuam a surgir questões relacionadas com palavras ainda por dicionarizar. É o caso do verbo redenominar. Também nesta linha, uma questão sobre a licitude da expressão «dicotomia de estatutos». Os usos da língua motivam ainda questões relacionadas com as classes de pertença de palavras como a na frase «A minha casa é bonita, mas a tua é mais» e deles em «O livro é deles.». Por fim, uma questão sobre a concordância do verbo ser em «Aprender inglês não são fake news.»
3. Na atualidade de interesse para a língua, destacamos:
— A divulgação da palavra do ano 2018 em Angola, que este ano é esperança, palavra que dá voz ao sentimento que o povo angolano deposita nas melhorias de condições do país. A palavra selecionada, numa iniciativa da Plural Editores, foi escolhida entre autarquias, câmbio, cidadania, investimento, justiça, melhorar, mudança, repatriamento e resgate – vindo na sequência do que, no âmbito de igual iniciativa, já fora apurado para Portugal e para Moçambique;
— A notícia do reforço da coordenação do ensino da língua portuguesa em França e nos Estados Unidos, uma medida importante para a continuação da promoção do ensino da nossa língua no estrangeiro, divulgada pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
4. Uma nota final para lembrarmos que o serviço prestado pelo Ciberdúvidas a todos quantos, por esse mundo fora, querem saber mais sobre a língua portuguesa – gracioso, de acesso universal e sem fins comerciais, como é próprio de qualquer serviço público – não dispensa a devida atribuição da autoria e da proveniência dos seus conteúdos, sempre que eles sejam compartilhados de qualquer forma. São preceitos éticos e legais* que cumprimos igualmente na transcrição de qualquer texto não original do Ciberdúvidas – sejam eles meras notícias ou a reprodução de artigos alheios de justificada atualidade. Infelizmente, este é um procedimento não acautelado por todos, especialmente por via de alguns sítios eletrónicos e plataformas na Internet. Trata-se, pura e simplesmente, de uma condenável prática do plágio – de que mais recentemente foi vítima a nossa consultora Sandra Duarte Tavares, com material apropriado de um artigo seu publicado na edição digital da revista Visão, do dia 27/07/2017, intitulado 10 erros linguísticos que mancham a sua imagem, sem que tenha havido lugar à devida atribuição da autora e da publicação original.
* Todos os conteúdos do Ciberdúvidas estão licenciados pela Creative Commons – com os direitos e deveres correspondentes de partilha ou publicação em registo impresso ou digital que se encontram aí rigorosamente especificados.
1. Em referência a tudo o que tem impacto, matraqueia-se cada vez mais o adjetivo impactante, de intenção superlativa, mas com o seu quê de cacofónico. Em O nosso idioma, uma crónica de Carla Marques, linguista e consultora permanente do Ciberdúvidas, dá conta da evolução semântica desta palavra que está na moda para prejuízo dos nossos ouvidos.
Na imagem, ilustração do artigo "Hipótese do grande impacto", na Wikipédia (consulta em 8/02/2019).
2. No Consultório, enquanto se pondera a criação de formas portuguesas para os nomes próprios dos viquingues das sagas escandinavas, remonta-se às origens do nome Gonçalo, por entre as brumas das memórias góticas. Outras questões viram-se para a contemporaneidade da língua e da sua análise: a palavras ambos pode ser um pronome indefinido? Como se usa o verbo configurar numa frase? Que tipo de oração pode constituir uma sequência como «minimamente que seja»? Finalmente, buscando um intemporal refúgio bucólico, depressa o desidealizamos com a expressão «pensar as vacas».
3. Na Montra de Livros, evoca-se a memória do humorista, cartunista e pintor português José Vilhena (1927-2015)* na apresentação de um dos seus livros de maior sucesso, o Dicionário Cómico, que, publicado em 1963, tem nova edição em Portugal.
*Sobre a obra de Vilhena, ler também aqui.
4. Já aqui se falou de viquingues, mas o Pelourinho conta outra saga: a dos erros de vária ordem detetados nas emissões televisivas da RTP, que parece atravessar mais uma fase aguda de disparates linguísticos. É uma constatação do próprio Provedor do Telespetador da televisão pública portuguesa, que no seu último programa, Voz do Cidadão – emitido no dia 2 de fevereiro de 2019, com a participação da professora Sandra Duarte Tavares –, adiantou três propostas específicas para diminuição dos «múltiplos e demasiado frequentes» erros no uso do idioma nacional nos diversos canais da RTP
5. O conceito de lusofonia suscita a polémica, mas importa igualmente compreender a sua génese e refletir sobre o que tem sido e pode ser (ou não) o seu alcance prático. Convergindo com as preocupações de História Sociopolítica da Língua Portuguesa (2016), conhecida obra do linguista brasileiro Carlos Alberto Faraco, justifica-se realçar aqui uma outra, da autoria do investigador português Vítor de Sousa, especialista em Teoria da Cultura: trata-se Da "Portugalidade" à Lusofonia, livro publicado em 2017, que constitui a refundição da tese que o autor defendeu em 2015, na Universidade do Minho.
6. Sobre os programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, lembramos, no Língua de Todos, (RDP África**), a conversa com Afonso Miguel, linguista angolano, que defendeu recentemente a tese de doutoramento Integração morfológica e fonológica de empréstimos lexicais bantos no Português Oral de Luanda, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. No Páginas de Português (Antena 2**), o entrevistado é José Carlos Adão, adjunto da coordenação do Instituto Camões em Nova Iorque, que fala a respeito da introdução do ensino do português na Escola Internacional da ONU, em Nova Iorque.
** Língua de Todos, RDP África, sexta-feira, 8 de fevereiro, 13h15, com repetição no sábado, dia 9 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00 + Páginas de Português, Antena 2, 10 de fevereiro, 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 16 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.
1. Aprender português como falante de língua materna envolve uma contínua exploração do sentido das palavras e das possibilidades de combinação de constituintes ou a criação de novos lexemas para designar realidades ainda não nomeadas. São estes mecanismos que levam a questionar o sentido e origem de uma expressão como «mais que as mães», a verificar os limites de combinação de palavras negativas ou a questionar a possibilidade de criação de uma palavra como excitadiço. A aprendizagem formal da língua dá azo também a dúvidas sobre a pertença de uma palavra a uma dada classe ou a hesitações na identificação de funções sintáticas, como os modificadores, ou na classificação de orações subordinadas, como as conformativas. Aprender português é também conhecer as razões de algumas particularidades ortográficas como o uso da maiúscula na abreviatura de litro. São estas as aprendizagens que o consultório disponibiliza na sua nova atualização.
2. As atualidades relacionadas com a língua situam-se também no âmbito da aprendizagem do português, desta feita enquanto língua estrangeira. Neste domínio, destacamos as seguintes notícias:
— O curso de português em linha, dinamizado pela Faculdade de Letras de Lisboa, o qual se destina sobretudo a alunos da China, Rússia e mundo árabe (com divulgação aqui);
— A criação da aplicação Speak, que tem como objetivo auxiliar migrantes na aprendizagem do português, ajudando a ultrapassar a barreira da língua e a conquistar a integração social (notícia aqui).
[Pena é que uma plataforma dedicada ao ensino do português tenha designação em língua inglesa. O nome Falar não seria mais adequado aos objetivos visados e uma designação apropriada à língua cuja aprendizagem se quer promover?
Ao longo dos tempos, o Ciberdúvidas tem uma série de registos críticos pela opção por expressões inglesas em detrimento das portuguesas (aqui) e dos problemas associados a traduções "apressadas" do inglês (aqui). ]
3. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, destacamos no Língua de Todos, emitido na RDP África*, a conversa com Afonso Miguel, linguista angolano, que defendeu recentemente a tese de doutoramento Integração morfológica e fonológica de empréstimos lexicais bantos no Português Oral de Luanda, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Por sua vez, no programa Páginas de Português, difundido na Antena 2*, entrevista-se José Carlos Adão, adjunto da coordenação do Instituto Camões em Nova Iorque, sobre o Português começar a ser ensinado na Escola Internacional da ONU, em Nova Iorque, um estabelecimento onde estuda a generalidade dos filhos dos funcionários da ONU.
* Língua de Todos, RDP África, sexta-feira, 8 de fevereiro, 13h15, com repetição no sábado, dia 9 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00 + Páginas de Português, Antena 2, 10 de fevereiro, 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 16 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.
1. Embora ao longo da vida reavaliemos constantemente o que sabemos, a verdade paradoxal é que a aprendizagem requer certo grau de estabilidade e coerência na transmissão e apreensão de conhecimentos, como sublinha uma resposta a uma pergunta feita no Consultório: no estudo dos textos e da sua diversidade, em contexto escolar, deve falar-se de tipos de texto, de modos literários ou géneros discursivos? Outra questão diz respeito ao ensino da gramática: que critério distingue uma oração subordinada adverbial causal de uma oração coordenada explicativa? A presente atualização traz ainda dúvidas sobre morfologia, variação e etimologia.
2. O protagonismo crescente de um jovem futebolista português, o benfiquista João Félix – bem eloquente no encontro de domingo, 3 de janeiro p.p., com o Sporting – trouxe de novo à ribalta mediática a errónea pronúncia do apelido Félix. Foi assim que na rádio e na televisão raros disseram bem "Félis", e não com o encontro consonântico [ks]. Recorde-se que, por razões históricas, o x final quer deste nome próprio quer do nome comum fénix soa como o -s de lápis* .
Sobre este tópico, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "/Félis/, tal como quer e diz, sempre, Bagão Félix", "Feliz com Félix", "Félix".
3. Quem imagina que a língua inglesa tem palavras com origem no português? Basta recordar que marmalade, o conhecido doce de laranja de tradição britânica, é a anglicização do nosso marmelada. O Nosso Idioma transcreve com a devida vénia a crónica que o professor universitário e tradutor Marco Neves escreveu, a propósito dos lusismos do inglês, para o portal Sapo 24 e o blogue Certas Palavras em 3/02/2019.
4. Nelson Rodrigues (1912–1980) foi dos mais talentosos e criativos escritores em língua portuguesa. Jornalista, romancista, folhetinista, com uma vastíssima obra como teatrólogo – ainda hoje considerado o mais influente dramaturgo do Brasil –, foi como cronista de costumes e do futebol brasileiro que mais se notabilizou no seu tempo. Nesta faceta, da sua torrencial produção (escrevia três crónicas por dia, todos os dias), ficou para sempre toda uma galeria de imagens e expressões saborosíssimas, como conta o jornalista e escritor Ruy Castro, no Diário de Notícias de 2 de fevereiro de 2019. «O óbvio ululante» foi uma das que passou para a história do bem escrever em português, assim contado pelo autor de O Anjo Pornográfico – A Vida de Nelson Rodrigues (ed. Tinta da China):
«Nelson dizia que "só os profetas enxergam o óbvio". E exemplificava com a história de seu amigo Otto Lara Resende, que, durante anos, passou de carro todos os dias em frente ao Pão de Açúcar e nunca o vira. Um dia, casualmente, Otto olhou pela janela e viu a monumental pedra na baía de Guanabara. Freou de repente na pista de alta velocidade, saiu alucinado do carro e, tendo palpitações, apontava para o Pão de Açúcar e exclamava: "De onde saiu? De onde saiu? Ontem não estava aqui!" As pessoas que pararam atrás dele tiveram de abaná-lo. E Nelson concluía: "Era o encontro triunfal do Otto com o óbvio. O óbvio ululante!".»
5. Finalmente, uma chamada de atenção para as palestras que o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi regista em vídeo no seu canal Planeta Língua, no Youtube. Realce, desta vez, para a discussão que Bizzochi desenvolve ao encontro do que muitos de nós já perguntaram com alguma irritação: porque não falamos todos a mesma língua, da mesma maneira?
1. A presente atualização do Consultório traz-nos uma resposta que aborda a razão pela qual a palavra subir não viu o b intervocálico ser substituído por um v, na sua evolução desde o latim. Noutra resposta, comprova-se que o complemento do nome pode ser introduzido por outras preposições que não o de. As preposições de e a que regem o verbo esquivar-se dão matéria a outra explicação. Ainda a coocorrência da forma acusativa do pronome pessoal com o verbo ir, numa sequência de auxiliares, permite realçar a diferença entre a correção e os usos. Por fim, demonstra-se que efetivamente, realmente e decerto poderão não ser advérbios de afirmação e esclarece-se que depois de reticências tanto se poderá usar maiúscula como minúscula.
Pintura de René Magritte, A arte da conversação, 1950
2. Ana Martins, consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa, centra-se no tema da didática da gramática para discutir, partindo dos resultados de uma investigação que realizou, a perspetiva que assume que os métodos tradicionais de ensino-aprendizagem não são eficazes ao serviço da melhoria das competências comunicativas, num apontamento disponível na rubrica Ensino.
3. A propósito ainda das questões que envolvem a didática da gramática, destaque para a reação da professora brasileira Magda Soares, especialista em alfabetização, que veio contrapor a proposta de um ensino baseado no método fónico, que, na sua opinião, não é a abordagem correta para a aprendizagem da escrita por parte das crianças (notícia aqui). Ainda no Brasil, realce para a controvérsia relacionada com afirmações proferidas pelos membros do novo governo, nomeadamente a ideia de que o ensino universitário deve ser limitado a uma elite intelectual.
4. No Pelourinho, Edno Pimentel, professor e jornalista em Luanda, esclarece o processo de flexão do verbo deter, alertando para uma incorreção presente no português falado em Angola. Por exemplo, em expressões como ««Os polícias deteram pessoas» ou «A polícia deteu pessoas», descritas numa crónica que se transcreve, com a devida vénia, do semanário angolano Nova Gazeta.
5. Num artigo intitulado «Qual é a língua mais antiga do mundo?», divulgado no sítio ncultura, Marcos Neves, tradutor e docente universitário português, esclarece que as línguas «não têm idade» – sobretudo se pensarmos na língua que se fala, que os falantes vão moldando, adaptando e transformando, indiferentes às normas ou à fixação escrita.
6. Da atualidade relacionada com a língua, registe-se o protocolo celebrado entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros português e o Ministério da Cultura brasileiro que prevê a digitalização do acervo literário de cerca de 140 mil volumes, distribuído por três Gabinetes Portugueses de Leitura fundados no Brasil. Entre estes documentos encontram-se manuscritos de grande valor, como é o caso de um capítulo de A cidade e as serras, obra de Eça de Queirós.
7. O programa Língua de Todos, da RDP África, apresenta uma entrevista com a formadora Laura Mateus Fonseca, responsável, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, por cursos livres na área editorial e de escrita criativa (sexta-feira, 1 de fevereiro às 13h15, com repetição no sábado, dia 2 de fevereiro, depois do noticiário das 09h00*). O programa Páginas de Português, difundido na Antena 2, entrevista o novo secretário executivo da CPLP, o embaixador português Francisco Ribeiro Telles (domingo, 3 de fevereiro, às 12h30**, com repetição no sábado seguinte, dia 9 de fevereiro, pelas 15h30*).
* Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.
1. Foco, focalizar, enfoque são hoje palavras recorrentes, fazendo eco da compulsão para tudo promover como prioritário, numa corrida de estímulos mediáticos. Em O nosso idioma, a professora Carla Marques comenta o modismo «manter (ou ter) o foco», cujo uso redunda na perda de recursos lexicais – e, ironicamente, na falta de concentração no que é importante. O remédio para este mal é sugerido na mesma rubrica, com uma lista de 20 expressões idiomáticas, para dar cor ao discurso e revitalizá-lo.
2. No consultório, não faltam recursos lexicais e gramaticais diversificados: revela-se, por exemplo, que «totalmente impossível» é expressão enfática, mas correta; que «por via postal» vem a ser o mesmo que «via correio»; e que o verbo conduzir pode ter associada a preposição para, pelo que não erra quem disser uma frase como «ele conduziram-no para um alto destino». Outras questões ainda: é legítima a expressão «mais da metade»? E empregar a preposição entre com um nome comum no singular («entre o casal»)? E estará certo coordenar o possessivo meu com um grupo preposicional («um antigo professor meu e da Amanda»)? Finalmente, uma pergunta sobre ortografia: escreve-se septuagésimo – com p?
3. Do Brasil, chegam as sempre estimulantes reflexões do linguista Aldo Bizzocchi, da Universidade de São Paulo, sobre língua e linguagem. Por isso, na rubrica Lusofonias, transcreve-se com a devida vénia um texto deste autor, que o publicou no seu blogue Diário de um Linguista, em 22/01/2019, a respeito dos desafios da análise do verbo estar no quadro da nomenclatura gramatical brasileira. Por seu lado, as Controvérsias apresentam o vídeo da discussão que Bizzocchi desenvolve no seu canal Planeta Língua, acerca de certos equívocos do discurso político brasileiro na apropriação do termo ideologia.
4. Entre a atualidade que se publica sobre a língua e a situação linguística dos territórios onde ela tem implantação, selecionamos:
– a comemoração dos 20 anos da consagração do mirandês como segunda língua oficial em Portugal, graças à aprovação da Lei n.º 7/99 pela Assembleia da República;
– na Índia, em Nova Deli, o discurso que Constantino Xavier, académico de origem goesa, fez (também) em português, ao receber o prémio do Conselho Indiano para as Relações Culturais.
5. O programa Língua de Todos − transmitido na RDP África* – entrevista a formadora Laura Mateus Fonseca, responsável, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, por cursos livres na área editorial e de escrita criativa. O programa Páginas de Português, emitido na Antena 2*, dá espaço de honra a uma entrevista com o novo secretário executivo da CPLP, o embaixador português Francisco Ribeiro Telles.
* Língua de Todos, RDP África, sexta-feira, 1 de fevereiro às 13h15, com repetição no sábado, dia 2 de fevereiro. Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível posteriormente, aqui. Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 3 de fevereiro, às 12h30**, com repetição no sábado seguinte, dia 9 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível posteriormente, aqui.
1. Na Montra de Livros, Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, apresenta a obra História das Línguas, do linguista sueco Tore Janson, com chancela da Através Editora. Uma obra que aborda a evolução da linguagem humana, desde os seus primórdios, e que se revelou um sucesso editorial nos países anglo-saxónicos.
2. A presente atualização do consultório parte da inovação linguística. A realidade é um dos fatores que motiva a criação lexical ou o alargamento dos sentidos de uma palavra, como bem ilustra a possibilidade de usar o verbo salgar num contexto de remoção de neve. A possibilidade de aproximação de sentidos entre palavras leva, por sua vez, à análise dos usos das preposições durante e por num contexto temporal. Outro plano da língua centra-se na compatibilidade entre palavras, o que conduz à reflexão sobre a possibilidade de coocorrência do pronome interrogativo quem com um topónimo. Para terminar, ainda uma questão sobre funções sintáticas associadas a um verbo transitivo-predicativo e uma outra sobre a classe da palavra branco na expressão «vestir de branco».
3. Na rubrica Diversidades, Miguel Faria de Bastos, especialista em interlinguística, apresenta um artigo sobre o esperanto, que em 20 pontos condensa a história e as características de uma língua artificial que reúne as condições para ser língua de comunicação entre os seres humanos.
4. Na rubrica O nosso idioma, Ana Martins, consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa, apresenta uma análise do processo de nominalização e dos seus efeitos na comunicação, nomeadamente ao nível da supressão dos agentes que praticam a ação subjacente ao nome. Uma estratégia de desresponsabilização linguística?
5. Uma referência à crónica publicada por Marcos Neves, tradutor e docente universitário, no blogue Certas Palavras, onde conta a experiência em torno de uma viagem a Bilbau, a capital do País Basco, para um encontro com alunos que estudam português. Uma oportunidade para avaliar as razões para aprender a língua portuguesa, sem esquecer as dificuldades que a tarefa implica.
6. No âmbito também da promoção da língua portuguesa pelo mundo, destacamos a reunião dos Estados Gerais da Lusodescendência, que teve lugar em França. Estudantes, professores e empresários definiram aí estratégias para a promoção da língua portuguesa, com o objetivo de que o português deixe de ser visto como língua de emigração para ganhar o estatuto de segunda ou terceira língua a ser aprendida pelas crianças em França.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
Se pretende receber notificações de cada vez que um conteúdo do Ciberdúvidas é atualizado, subscreva as notificações clicando no botão Subscrever notificações