DÚVIDAS

«Amigas e amigos» e «amigos e amigas»

A necessidade de introduzir na escrita a igualdade de género, exige a meu ver, que terminemos com o masculino "universal". A propósito de um texto que escrevi e publiquei e que agora estou a rever, surge-me a seguinte dúvida:

Escrevi no texto da 1.ª edição «amigas e amigos, senhoras e senhores», repetindo-se ao longo do conto, por mais duas vezes a referência «amigas e amigos» e «Companheiras e companheiros». Coloquei em primeiro lugar a palavra no feminino, optando por colocar em 2.º lugar o masculino. Deveria ter procedido de forma inversa (primeiro o masculino e depois o feminino), ou alternar (umas vezes em primeiro a palavra no feminino e outras no masculino)?

Gostaria de conhecer o vosso parecer.

Resposta

Numa perspetiva estritamente normativa, as gramáticas consagram o uso do masculino plural como uma forma que se pode referir ao género masculino e ao género feminino em simultâneo (o que não tem lugar com o feminino plural). Assim, enunciados que incluam nomes como amigos, senhores, companheiros poderão referir os dois géneros.

Sabemos, porém, que, socialmente, tem sido contestada uma certa “masculinização” da língua, o que tem levado à defesa de que a língua deve também promover a igualdade de géneros. Esta não é, à partida, uma questão gramatical, mas sim uma questão política e social que não tem, aliás, sido pacífica (recorde-se, a propósito, a controvérsia que teve lugar também aqui).

Assim sendo, embora gramaticalmente expressões como «amigas e amigos» sejam redundantes, estas podem ser utilizadas numa perspetiva de convocar valores que se pretende projetar socialmente. O mesmo se dirá da colocação do nome do género feminino à cabeça da expressão. Esta opção reivindica um destaque que se pretende atribuir ao género feminino (o que pode acontecer até por razões de cortesia linguística).

Assim sendo, cabe à consulente optar pela forma que pretende utilizar, sendo certo que a opção tomada poderá ir além da norma, marcando uma posição pessoal de natureza social e ética.

Cf. Governo substitui “direitos do Homem” por “direitos humanos”

A linguagem inclusiva, esse "perigo público" + La gramática no tiene sexo, no es incluyente ni excluyente

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