Não é possível dar conta das circunstâncias históricas na origem deste uso idiomático de dançar, que parece exclusivo do Brasil, mas é legítimo que tenha origem metafórica.
O Dicionário Houaiss define dançar em várias aceções negativas (disfóricas), todas elas assinaladas como típicas do Brasil e relacionadas com situações informais de comunicação ou com meios socialmente marginais (definições e exemplos da fonte consultada):
– «sair-se mal (em algum evento ou empreendimento)»; ex.: «dançou na compra do carro usado»;
– «ser detido, preso ou autuado» (linguagem de delinqüentes); ex.: «foi apanhado furtando e dançou»;
– «ser morto» (linguagem de delinqüentes);
– «perder a oportunidade de fazer algo desejado; deixar de receber algum benefício»; ex.: «perdeu o convite para a festa, dançou»; «se não pegar o banco aberto, você vai dançar»;
– «fazer esforço para conseguir algo; empenhar-se demasiadamente; suar»; ex.: «dançou para passar de ano»;
– «ser posto de lado; ser alijado, ser despedido»; ex.: «começou a faltar demais, dançou»;
– «não acontecer, ger. por motivos imperiosos»; ex.: «nossa ida à praia dançou»;
– «não dar certo; gorar, acabar»; ex.: «aquele namoro já dançou há muito tempo».
Em Portugal, este emprego de dançar pode ser compreendido, mas não se verifica.
É legítimo supor que todos estes usos têm origem metafórica, como extensão semântica de dançar com os significados de «ir de um lado para o outro desordenadamente; oscilar, balançar» e «caber com folga (e não servir)» (idem). A noção de instabilidade ou de desadequação parece ser, portanto, o ponto de partida para as aceções alusivas à incerteza ou ao fracasso associados a uma situação.
[N. E. (29/04/2019) – A edição do Dicionário Houaiss em referência é a de 2001, anterior, portanto, à entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990; daí que na citação se escreva delinqüente em vez da atual forma normativa, delinquente.]