O adjetivo propício, que tem o significado geral de «que tem as características adequadas e necessárias para; bom, favorável» (Dicionário Houaiss), constrói regência com ambas as preposições, a e para.
O uso destas preposições parece ter distribuição complementar: a ocorre antes de nomes ou expressões nominais, e para introduz orações reduzidas de infinitivo – se considerarmos o exame das abonações recolhidos por Francisco Fernandes, para o seu Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos (São Paulo, Globo, 1995; sublinhado nosso):
(1) «Em matéria lexicográfica, de índole tão delicada e sobretudo tão propícia a controvérsias, errar é facílimo.» (Mário Barreto, Através do Dicionário e da Gramática)
(2) «Rui era o orador,e a oportunidade foi propícia para iniciar o ataque contra Saraiva.» (Luiz Viana Filho, A Vida de Rui Barbosa)
Nota-se, contudo, que a preposição para ocorre também antes de expressão nominal, associação que não parece incorreta, atendendo a não ser incompatível com a regras gramaticais, nem, tanto quanto sabemos, ter tradição de censura prescritiva. Talvez se trate de uso mais recente, porque é de assinalar que «propício para (alguém/alguma coisa)» se documenta em escritores portugueses do século XX (ver Corpus do Português de Mark Davies):
(3) «Estava-se na pausa que antecede o jantar, como diz a linguagem dos cronistas, e, como igualmente observa a mesma, altura pouco propícia para conversações demoradas e porventura controversas.« (José Cardoso Pires, A República dos Corvos: contos, 1999)
Em suma, antes de nome ou expressão nominal, a regência incontestavelmente correta do adjetivo propício é com preposição a. Neste mesmo contexto, a preposição para, apesar de menos frequente, é igualmente aceitável.