1. Em Portugal, registam-se com certa frequência atitudes e reações pouco ou nada favoráveis ao português do Brasil, criando tensões num momento em que as variedades brasileiras da língua estão hoje mais presentes do que nunca na sociedade portuguesa. No ensino, por exemplo, há manifestações de perplexidade quanto à avaliação dos alunos brasileiros; e há quem defenda a imposição da norma europeia, sem atender a que o português brasileiro tem codificação própria, com gramáticas e dicionários em muitos pontos convergentes com a norma-padrão lusitana e, noutros aspetos, com soluções mais diferenciadas, como seja a da colocação do pronome ou as formas de tratamento. Foram estas esquematicamente as questões abordadas numa ação de formação promovida pela Associação de Professores de Português em 12/05/2025 e dinamizada pelo gramático brasileiro Fernando Pestana. Em O Nosso Idioma, uma das oradoras nessa sessão, Ana Albuquerque, dá conta da sua opinião numa síntese crítica da discussão aí mantida, e defende que «[a] Escola deve continuar a mostrar as diferenças entre as variedades do português, que confirmam a riqueza do nosso património linguístico, mas tem a obrigação de promover a capacitação do uso da língua portuguesa formal, cuidada.» Acrescente-se que, no tocante a esta e outras discussões, importa aqui deixar uma clarificação: nos conteúdos disponíveis nas rubricas O Nosso Idioma, Ensino ou Controvérsias, os pontos de vista são os dos autores dos textos e não devem confundir-se com posições do Ciberdúvidas*, a não ser que fique expresso que esta ou aquela visão é também assumida pela coordenação editorial do portal. A publicação de tais opiniões, quantas vezes divergentes, decorre de um dos princípios da ação do Ciberdúvidas, a de manter um espaço onde se acolhe e aceita a pluralidade dos pontos de vista, em diálogo ou simples coexistência, em condições de civilidade e respeito mútuo, que assegurem a boa comunicação – sempre em língua portuguesa, onde quer que ela se fale e escreva.
* Um caso de confusão será, a este respeito, o artigo "Enfiar a língua e a cultura portuguesa num kit?", da psicóloga e investigadora Sandra Figueiredo (Sapo.pt, 20/05/2020), que dirige críticas ao professor português José Manuel Diogo pelas considerações que este fez sobre as relações entre o português europeu e o português brasileiro, numa entrevista concedida ao DN Brasil, em 05/05/2025 (Dia Mundial da Língua Portuguesa) e só posteriormente, em 09/05/2025, disponibilizada pelo Ciberdúvidas (aqui). Na imagem, Vista de Pernambuco (c. 1637-1644), quadro do pintor neerlandês Frans Post (1612-1680) que se encontra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
2. Em O Nosso Idioma, um apontamento da consultora Inês Gama esclarece a diferença entre os usos corretos de profícuo e prolífico, a propósito de uma dúvida surgida num programa de rádio.
3. Uma notícia deu conta da Câmara Municipal do Porto ter reagido a «uma tentativa de [lhe] quartar o espaço e a liberdade de ação», e, no Pelourinho, o consultor Carlos Rocha explica porque quartar é erro nesse contexto e coartar (ou coarctar) é a opção certa.
4. Qualquer nome permite a formação de um aumentativo? Por exemplo, de pão, é correto formar "pãozão"? A dúvida faz parte das cinco questões que atualizam o Consultório e incluem também tópicos de sintaxe: a regência de arribar e contribuir, um caso de enumeração e a análise de «ouviram-se os jovens».
5. No 30.º episódio de O Ciberdúvidas Vai às Escolas, identificam-se as situações em que se escreve à, com acento grave, enquanto em Ciberdúvidas Responde, o 35.º episódio centra-se no plural e no feminino do nome espião.
6. Outros registos:
– o debate sobre a normativização do crioulo guineense que decorreu no âmbito da Bienal de Arte e Cultura da Guiné-Bissau, realizada em 09/05/2025, e que é relatado num trabalho da jornalista Karyna Gomes (Mensagem de Lisboa, 14/05/2025);
– o artigo de opinião da atual comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, sobre leituras obrigatórias e leitura extensiva nos ensinos básico e secundário (Público, 20/05/2025);
– o artigo de opinião que o jornalista Nuno Pacheco assinou no jornal Público (22/05/2025), dando conta dos entraves jurídicos que, segundo ele, estão a ser criados ao grupo que exige a revogação do acordo ortográfico em vigor;
– a celebração, em 22/05/2025, do Dia do Autor Português, a qual coincidiu com a dos 100 anos da Sociedade Portuguesa de Autores.
7. Em dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, se centram na língua portuguesa, são temas de relevo:
– Em Língua de Todos, na RDP África, transmitido na sexta-feira, 23/05/2025, pelas 13h20* (repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*), Carla Marques, professora e consultora permanente do Ciberdúvidas, discute neologismos. O programa conta ainda com a participação do escritor moçambicano Mia Couto.
– O empobrecimento geral do ensino, o facilitismo, a incúria e a ausência de pensamento crítico são os temas em debate na entrevista ao crítico literário António Carlos Cortez no programa Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, 25/05/2025, pelas 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 31/05/2025, às 15h30*). O programa conta ainda com um apontamento gramatical da professora Carla Marques, que esta semana esclarece a relação entre glossário e dicionário.
8. Uma nota de pesar pelo falecimento em 22/05/2025, no Rio de Janeiro, do gramático brasileiro Evanildo Bechara, grande figura dos estudos da gramática portuguesa. Nas Notícias, assinala-se o seu percurso académico e destaca-se o contributo que deu à gramaticografia não só brasileira mas também à dos outros países de língua portuguesa, incluindo Portugal.
* Hora oficial de Portugal continental.