Pergunta:
Tenho uma questão quanto à qual a gramática tradicional é um tanto quanto esquiva, então gostaria de seus pareceres.
Se trata de campo semântico de adjetivos em sintagmas nominais com mais de um substantivo.
Considerando-se que a GT [gramática tradicional] diz que um único adjetivo caracteriza mais de um substantivo (pelo menos enquanto o sentido do adjetivo os cobrir) e que isso ocorre conforme a disposição de termos no sintagma — inclusive em todos os casos de concordância atrativa — (o que é minha maior dúvida se de fato o é), me interesso em saber como contornar interpretações equívocas nestes casos, mormente casos em que a concordância atrativa é obrigatória, por ex., quando adjetivo(s) anteposto(s) (funcionando de adjunto adnominal) aos nomes:
«Comprei manuais e gramáticas velhos/velhas.»
(penso que caracterize ambos independentemente da ausência de determinantes e da concordância estabelecida, tanto é que se objetivasse a caracterização de somente um nome contornaria assim:
«Comprei manuais velhos e gramáticas.» / «Comprei gramáticas velhas e manuais.»
Nestes casos, a concordância se faz obrigatoriamente com o mais próximo, pois logicamente só há o mais próximo para concordar. Por conseguinte, quanto a isso também gostaria de saber que acham.)
«Comprei velhos manuais e gramáticas.»
(nota-se que o sentido do enunciado, provocado pelo deslocamento do adjetivo, mudou.
Aqui começa a complicar em meu entender, pois o adjetivo pode, conforme sua carga semântica, caracterizar ambos. E fico em dúvida se efetivamente ocorre, a ausência de determinantes teria alguma implicação diferente na interpretação? Suponho que não...
«Comprei os manuais e as velhas gramáticas.»
(Por mais que a concordância seja atrativa, não por intuição possibilidade de caracterização semântica de ambos.)
Para não ir à exaustão com exemplos, para com casos de adjuntos adnominais, paro por aqui.
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Resposta:
A presença do adjetivo associada a estruturas nominais coordenadas constitui, com frequência, uma situação geradora de ambiguidade. Tem esta natureza o exemplo de Bechara1, recuperado em (1), que desencadeia nos falantes hesitação entre a interpretação na qual o adjetivo só modifica um nome ou modifica os dois:
(1) «o amor e a amizade verdadeira»
Em termos gerais2, de acordo com o que prevê a gramática, um adjetivo, em posição pré-nominal, que modifica dois substantivos coordenados, concorda com o substantivo que está mais próximo:
(2) «As belas casas e jardins»
(3) «As velhas gramáticas e manuais»
(4) «Os velhos manuais e gramáticas»
Se a interpretação pretendida é a de que o adjetivo só modifica o primeiro nome, terá o locutor de se assegurar que a frase não se presta a interpretações ambíguas, usando estratégias como por exemplo:
(2a) «As belas casas e também os jardins»
(3a) «As velhas gramáticas e estes manuais»
O recurso à pontuação também poderá, em certas condições, ajudar a desambiguar a ação do adjetivo:
(2b) «As belas casas, os jardins»
(3b) «As velhas gramáticas, os manuais»
Quando o adjetivo surge em posição pós-nominal, existem várias possibilidades:
(i) o adjetivo concorda em género e número com o substantivo mais próximo
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