Pergunta:
Na letra da canção popular «Ó rama, que linda rama», há versos que dizem: «Se houvera quem me ensinara/ quem aprendia era eu.»
Qual é o motivo da utilização do mais-que-perfeito do Indicativo (houvera, ensinara), e não do imperfeito do conjuntivo (houvesse, ensinasse)?
Muito obrigado.
Resposta:
Em sincronia, o pretérito mais-que-perfeito simples é um tempo pouco usado, surgindo sobretudo em textos escritos. No seu lugar, os falantes usam o pretérito mais-que-perfeito composto de forma a localizar uma dada situação no passado. Assim, enquanto a frase (1) praticamente não é adotada, a frase (2) tem plena vitalidade:
(1) «Ele fora meu amigo.»
(2) «Ele tinha sido meu amigo.»
Todavia, em frase pretéritas da língua a situação era distinta. Com efeito, diversos autores deixam registo de situações de uso nas quais, na atualidade, não se recorre ao pretérito mais-que-perfeito do indicativo. Tal ocorre, por exemplo, na frase (3), de Alexandre Herculano, escritor do séc. XIX:
(3) «que fora a vida se nela não houvera lágrimas?»
Nesta frase, hoje usar-se-ia o condicional simples e o pretérito imperfeito do conjuntivo:
(4) «que seria a vida se nela não houvesse lágrimas?»
Situação idêntica parece estar registada nos versos da canção em apreço.
Disponha sempre!
1. Exemplo apontado por Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 525.