Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Tenho duas questões sobre a utilização do apóstrofo em palavras compostas.

Segundo a alínea d) do ponto 1 da Base XVIII do AO90, «Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão do e da preposição de, em combinação com substantivos: borda-d'água, cobra­-d'água, copo-d'água, estrela-d'alva, galinha-d'água, mãe-d'água, pau-d'água, pau-d'alho, pau-d'arco, pau-d'óleo

Ora, as minhas questões são as seguintes. Primeira, o uso nestas palavras é obrigatório, ou facultativo? Isto é, ambas as formas "mãe-d'água" e "mãe-de-água" são válidas? Segunda, só se usa nas palavras que os dicionários preveem como tal, ou em qualquer composto nas mesmas condições? Por exemplo, apenas encontro, nos dicionários que consultei, a forma botão-de-ouro para designar a espécie botânica. Poderei escrever também "botão-d'ouro"?

Desde já, muito obrigado pela vossa atenção.

Resposta:

Tudo depende do registo nos acordos ortográficos e da tradição do registo dicionarístico. 

Assim, as palavras em questão têm sempre apóstrofo nos dicionários consultados e são assim grafadas, pelo menos, desde os anos 40 do século passado, e, portanto, não se deve escrever "mãe de água". Estas formas apostrofadas são as corretas e, portanto, obrigatórias. 

Note-se que, ao abrigo do Acordo de 90, a forma "mãe-de-água", sem apóstrofo, está incorreta, pois não se hifenizam os compostos que incluam elementos de ligação, a não que se trate de nomes botânicos e zoológicos (morugem-de-água, rato-de-água). 

Quanto a botão-de-ouro não se escreve com apóstrofo, porque a ortografia da palavra não se fixou assim.  

Convém também explicar que o que determina a alínea d) do n.º 1 da Base XVIII do Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90) não se afasta muito do que estipulava a Base XXXVII do Acordo Ortográfico de 1945 (AO 45) logo no seu começo:  

AO 90 – «d) Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão do e da preposição de, em combinação com substantivos: borda-d'água, cobra­-d'água, copo-d'água, estrela-d'alva, galinha-d'água, mãe-d'água, pau-d'água, pau-d'alho, pau-d'arco, pau-d'óleo. »

AO 45 – «Sempre que, no interior de uma palavra composta, se dá invariavelmente, tanto em Portugal como no Brasil, a elisão do e da preposição de, emprega-se o apóstrofo: cobra-d'água, copo-d'água (planta, etc. ), galinha-d'água, mãe-d'água, pau-d'água, pau-d'alho, pau-d'arco. Dando-se, porém, o caso de essa elisão ser estranha à pronúncia brasileira e só se v...

Pergunta:

Qual o termo definido para designar um natural de Barbados?

Na mesma senda, colocaria idêntica questão relativamente a outros Estados caribenhos, designadamente, St. Kitts and Nevis (São Cristóvão e Nevis), St. Vincent and the Grenadines (São Vicente e as Grenadinas), St. Lucia (Santa Lúcia), Anguila, Montserrat, Aruba e as Ilhas Virgens Britânicas e Americanas.

Antecipadamente grato.

Resposta:

Não havendo regra, o que atualmente se disponibiliza para a identificação dos gentílicos, pelo menos, no contexto do português de Portugal, é o que se encontra registado no Código de Redação Interinstitucional (União Europeia), Anexo A5. Com base nesta fonte, verifica-se que há países e territórios que têm gentílico derivado em-ense, -ano ou outros sufixos:  

Barbados – barbadense

St. Lucia (em português, Santa Lúcia) – santa-luciense (ou, no Dicionário Houaiss, santa-lucense

Anguila – anguilano 

Monserrat (em português Monserrate) – monserratense

Aruba – arubano  

Contudo, existem outros territórios cujo gentílico pode também ser uma expressão do tipo «o(s) [habitantes, naturais, cidadãos] de...», sobretudo se o gentílico é igual ao de outro país ou território:  

St. Kitts and Nevis (São Cristóvão e Neves) – «de São Cristóvão e Neves» ou são-cristovense

St. Vincent and the Grenadines (São Vicente e Granadinas) – «de São Vicente e Granadinas» ou são-cristovense

Ilhas Virgens Americanas – «das Ilhas Virgens Americanas» ou virginense

Ilhas Virgens Britânicas – «das Ilhas Virgens Britânicas» ou virginense  

Sobre este assunto, deve também consultar-se também o Dicionário de Gentílicos e Topónimos (Port...

Pergunta:

Gostava de questionar a origem da expressão «dar raia», usada da seguinte forma.

Parece-me que alteração de raio não chega.

Alguma ligação ao mar/pesca?

«dar raia • [Informal] Desenrolar-se com problemas; correr mal (ex.: o concurso público deu raia). Origem etimológica: alteração de raio. "dar raia"» (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/dar%20raia.)

Obrigado pela atenção :)

Resposta:

Não parece haver resposta segura acerca da expressão.

Raia pode figurar em dicionários de calão como sinónimo de «erro, asneira». Ora, raia pode dever talvez essa aceção a um certo erro que se comete no bilhar, quando se dá uma «tacada com que se atinge a bola do parceiro em vez da própria» (Dicionário Houaiss). Acresce que no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa se regista «dar raia», no sentido de «fazer uma asneira», mas também «dar uma raia», com o significado de «tocar a bola do parceiro de bilhar com a tacada que se dá na própria bola; falhar a tacada».

Não se encontrou aqui informação que confirme o que acima se sugere, mas arrisca-se a hipótese de «dar raia» resultar da evolução semântica de «dar uma raia».

«Estar escrito» e <i>melhora</i>
Confusões vocabulares até ao céu

«Estar escrito nas pedras» ou «nas estrelas»? E do (mau) tempo atmosférico, pode esperar-se uma "melhora" ou uma "melhoria"? Eis os motes para um apontamento do consultor Carlos Rocha.

Pergunta:

No Douro Vinhateiro (Alto Douro) há um termo muito usado, "deboeira" ou "debueira" (desconheço a grafia) quando se trata de delimitação das estremas de prédios rústicos e que consiste, basicamente, numa pedra que se destaca do solo, na qual é cavada na sua parte superior uma curvatura (sensivelmente um semicírculo) através do qual (semicírculo) se faz o alinhamento com outra marcação.

Agradeço a pesquisa, nos diversos dicionários, sobre este regionalismo, que como referi é muito comum no Alto Douro.

 

Resposta:

Agradecemos a informação, mas a verdade é que nas fontes aqui disponíveis não foi possível achar registos nem em dicionários gerais nem
dicionários de regionalismos.

Fica, portanto, o registo conforme o consulente gentilmente entendeu aqui partilhar, à espera de eventuais contributos que permitam caracterizar esta palavra mais aprofundadamente.