1. No domingo, dia 1 de junho, a comunicação social fez saber que a Ucrânia usou um «cavalo de Troia» para atacar a Rússia. Numa operação militar ousada, planeada ao longo de um ano e meio, as tropas ucranianas fizeram entrar em território russo drones carregados com explosivos. Estes foram escondidos em contentores transportados por camiões e levados para regiões a mais de 4000 km da frente de guerra. Os drones danificaram aviões e provocaram incêndios em bases aéreas situadas na região de Irkutsk e em cidades do norte da Rússia. O uso da expressão «cavalo de Troia» para descrever esta ação militar convoca o episódio brevemente contado por Homero na Ilíada e na Odisseia e ampliado por Virgílio na Eneida. Aí se relata que, no decurso da guerra de Troia, os gregos conseguiram entrar na cidade muralhada usando um cavalo gigante, dentro do qual se esconderam, e que deixaram às portas da cidade. Uma estratégia militar que lhes permitiu ganhar a guerra. Assim, embora não seja certo que o cavalo tenha mesmo existido, a mistura da realidade com a fantasia dos autores trouxe a expressão até à contemporaneidade, onde readquiriu vigor no âmbito informático. Aí um «cavalo de Troia» é um software malicioso (malware, em inglês) que se introduz nos computadores dos utilizadores enganando-os quanto à sua verdadeira intenção. Recentemente, vimos a expressão voltar a ser usada em contexto militar no conflito entre a Ucrânia e a Rússia, no âmbito do qual o cavalo passou a ter a estrutura de um camião e os gregos foram substituídos por drones armados. O método foi o mesmo: o da ilusão ao serviço da estratégia de ataque.
Imagem na página principal: cena do filme Troia; imagem no corpo do texto: foto dos drones ucranianos escondidos em contentores.
2. No Consultório, apresentamos um novo conjunto de respostas às questões que continuam a chegar ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Entre elas, encontra-se a dúvida relativa ao neologismo foodie. Terá este uma tradução em português? Aqui fica a nossa resposta, à qual se juntam outras três que abordam questões de âmbito lexical e semântico: «Qual a expressão preferível para designar o recipiente do gás – garrafa ou botija?»; «Poderemos dizer que um roupão de banho é um tipo de indumentária?» e «Qual o valor aspetual do complexo verbal «começou a fazer»?»
3. O falecimento do linguista e escritor Fernando Venâncio tem motivado um conjunto de reações muito diversificadas, associadas quer a obituários de cariz biobibliográfico quer a registos em tom memorialístico. O consultor do Ciberdúvidas Paulo J. S. Barata partilha com os leitores, neste pequeno apontamento, algumas memórias pessoais de momentos vividos com Fernando Venâncio. Pode ler-se também o obituário de Fernando Venâncio, disponível na secção Notícias.
4. O significado do provérbio «Quem com porcos anda, farelo come» dá matéria ao desafio semanal. A professora Carla Marques explica o seu significado neste apontamento divulgado no programa de rádio Páginas de Português (Antena 2) e disponível na rubrica O nosso idioma.
5. Entre as notícias de relevo para a língua, damos destaque às seguintes:
– Projeto desenvolvido pela Universidade de Évora com o objetivo de preservar o espólio do Laboratório de Fonética Experimental da Universidade de Coimbra (mais informação aqui);
– A propósito do Dia Mundial da Criança, dia 1 de junho, o apontamento de Marco Neves sobre a origem da palavra criança.