Numa reportagem do Diário de Notícias (DN), com o título "O dinheiro já não é tudo. O que procuram os millennials?", destacam-se duas jovens portuguesas que tiveram o mérito de se despedir de vários empregos. Segundo a reportagem, a geração dos e das que nasceram nos anos 80 e 90 é muito diferente da dos yuppies, que só pensavam em dinheiro. Os millennials, de acordo com o DN, valorizam a vida social, o bom ambiente no emprego, onde esperam que aconteçam coisas novas e estimulantes. E tudo isto é muito mais importante do que o dinheiro.
Toda a linha argumentativa da reportagem é conduzida neste sentido, o de que mais altos valores se levantam do que o vil metal. Esta ordem de pensamento parece ser cada vez mais típica e ter reflexos na língua que falamos. Comparemos o português com o inglês.
Fui contar as colocações que se constituem da palavra dinheiro modificada por um adjetivo, no inglês, por um lado, e no português, por outro. No dicionário Macmillan contei 20; no português, contei 4, apenas, a saber: «dinheiro vivo», «dinheiro corrente», «dinheiro trocado», «dinheiro sujo». Em sintagmas deste tipo, no inglês usa-se recorrentemente a palavra money, mas em português opta-se por uma palavra ou expressão totalmente nova, de modo a eliminar a palavra dinheiro. Assim, «hush money» é suborno, «glove money» é gorjeta, «mad money» é pé de meia, etc. Em registo formal, a palavra dinheiro é também evitada. Opta-se, em substituição, por palavras como valor, montante, soma, verba, quantia.
Não posso afirmá-lo com rigor estatístico, mas não hei de errar muito se disser que em português a palavra dinheiro é usada com muita parcimónia e parece que até com pudor. Aliás, é curioso notar como em português a palavra negócio ou lucro adquire muito facilmente um sentido pejorativo.
E não deixa de ser paradoxal que isto se dê num dos países mais pobres da Europa.