1. As eleições regionais dos Açores, que tiveram lugar no dia 25 de outubro, ditaram o fim da maioria absoluta do PS Açores, ficando ainda marcadas pela entrada na Assembleia dos partidos Chega, Iniciativa Liberal e PAN, que elegeram pela primeira vez um deputado. A situação política dos Açores é motivo pertinente para que aqui se recorde que a forma correta do adjetivo gentílico correspondente é açoriano, com a vogal de ligação -i-, e não a forma *açoreano (cf. aqui). Foi também a partir do topónimo Açores que o escritor Vitorino Nemésio criou a palavra açorianidade, numa tentativa de designar a personalidade característica daquelas ilhas. Muitos outros autores e pessoas comuns tomaram estas ilhas e todas as suas cambiantes como motivo literário e como base de identidade. Este é o ponto de partida da reportagem de autoria da jornalista Fernanda Câncio, intitulada "Açores, Ilhas inventadas", divulgada no Diário de Notícias.
2. As novas decisões que vão sendo tomadas com vista a procurar controlar a evolução da pandemia, como é o caso, em Portugal, da obrigatoriedade do uso de máscara na via pública, associam-se a palavras e expressões que se vão dispondo na ordem do dia, de forma a dizerem a realidade. É o caso de «inimigo comum», internados, «cuidados intensivos» ou «doente crítico», que marcam a área lexical da saúde e que passam a constar como entradas no glossário A covid-19 na língua. Outras novas entradas marcam quer a evolução da situação quer as medidas e atitudes que vão tendo lugar: «a festa acabou», «alerta vermelho», endurecimento, finados, galopante, «grande incógnita», IVAucher, «Não baixar a guarda», obrigatoriedade, ONU e semiconfinamento.
3. Na atualização do consultório ficam cinco novas respostas a perguntas de ordem muito diversa: Qual a origem do termo macarrónico e a sua relação com macaroni, palavra inglesa usada para designar um jovem pretensioso e afetado? É incorreto ou coloquial o uso de você em lugar de vós? Estará o uso de vós em total declínio? Terá a localidade de Santo Tirso tido o nome de Cidenai na Idade Média? No plano da semântica temporal, qual a diferença entre os valores aspetuais habitual e iterativo? Qual a função sintática de «aos troncos» na frase «Amarraram uma rede aos troncos».
4. O valor económico que uma língua pode assumir é o tema da crónica da professora Edleise Mendes, que reflete sobre o crescimento da língua portuguesa e sobre a importância de se delinearem estratégias que promovam a centralidade desta língua (crónica lida no programa Páginas de Português, na Antena 2, do dia 20 de outubro de 2020).
5. O verbo haver sempre ofereceu dificuldades aos falantes, que nem sempre conseguem resolver as dificuldades que este coloca. Um novo problema relacionado com este verbo é agora equacionado pelo cronista Miguel Esteves Cardoso, que denuncia a sua substituição pela locução «estar disponível», na crónica intitulada "Já não há haver" (divulgada no jornal Público e aqui transcrita com a devida vénia).
6. Alguns diminutivos cuja formação tem uma base erudita são o tema do apontamento do professor João Nogueira da Costa, que inclui no levantamento efetuado palavras como óvulo, fórmula, película, entre muitas outras.
7. No universo do jornalismo de âmbito futebolístico é frequente encontrar atropelos à língua portuguesa. Desta feita, porém, não se trata de uma queda, mas de um grande tombo, como se refere neste apontamento de João Alferes Gonçalves no sítio Clube de Jornalistas e que se transcreve, com a devida vénia, no Pelourinho. Com efeito um jornalista muito desatento falhou, duas vezes, na conjugação do verbo rever, ao afirmar «o árbitro reveu o lance e reveu bem». Dada a gravidade do erro, convém aqui recordar que o verbo rever é um derivado de ver, pelo que assume as flexões deste verbo. Assim: ele viu - ele reviu.
Outros tombos de prolação recorrentes no audiovisual português recordados no apontamento assinado pelo jorrnalista João Alferes Gonçalves, que fica transcrito no Pelourinho são o /cólestról/ (em vez de colesterol, com acento só no último o), o melher (em vez de mulher), a /órganização/ (em vez de organização), o /ófcial/ (em vez de oficial) e o, está visto, nunca mais erradicado óvinte ...
8. Entre as notícias de interesse, destaque para a exposição A Propaganda nas Eleições Presidenciais dos EUA, organizada pela Associação Cultural Ephemera, em colaboração com o CEI-Iscte e o CIES-Iscte e com o Núcleo de Estudantes de História Moderna e Contemporânea e o Núcleo de Alunos de Ciência Política, aberta ao público até 20 de novembro, entre as 10h00 e as 18h00.
9. Registo final para a notícia divulgada pela FundéuRAE * sobre a reestruturação do portal da Real Academia Espanhola. com nova imagem, um motor de busca mais rápido de acesso ao seu "Diccionario de la lengua española" e ao seu consultório linguístico. Foi criado ainda um espaço com termos, expressões e neologismos ainda não constantes do dicionário, assim como jogos de linguagem didáticos, integrando ainda um novo campo de testes para o projeto Língua Espanhola e Inteligência Artificial para o uso do espanhol correto em computadores. Sob o lema Una imagen que lleva a mas de 1000 ("Uma imagem vale mais mais do que mil palavras"), o portal da Academia Real Espanhola passou a dar acesso livre ao seu vastíssimo arquivo de mais de 280 000 volumes, ao longo de 300 anos de história.
*Sigla composta pela junção das siglas de Fundação para o Espanhol Urgente e de Real Academia Espanhola.
1. Sempre a crescerem, os números da pandemia levam os países a encontrar formas de conter as cadeias de contágio, voltando a impor-se o recolhimento em casa, como ocorre na Irlanda e na região espanhola de Navarra. Em Portugal, o Governo afasta a possibilidade de tornar a confinar a população em geral, mas a palavra confinamento, adjetivada de curto ou prolongado, novamente se lê e ouve no discurso mediático, razão por que se justifica uma nova entrada em "A covid-19 na língua" (O Nosso Idioma). Outros termos e expressões introduzidos neste glossário: CoronVac, «Médicos pela verdade», #PledgetoPause, sindemia e sindémico.
2. Como se abreviam as formas de tratamento Vossa Excelência e Sua Excelência? No Consultório, relembram-se as abreviaturas consolidadas no padrão de uso há, pelo menos, oito décadas, além de terem resposta cinco outras questões: como classificar a palavra salvo numa oração como «salvo quando não houver solução»? Que função sintática atribuir a «em caleche» na frase «fomos transportados em caleche»? Um cacófato detetado hoje num verso de Camões já o era no século XVI? Que sentido tem a expressão «cesto com ovos»? E, afinal, qual o verdadeiro significado de conterrâneo?
3. Nestes tempos vertiginosos de combate à covid-19, todo o cuidado é pouco com a criação dos nomes e expressões associados a linhas de ação governamental. No Pelourinho, disponibiliza-se a transcrição da crítica que Vital Moreira, professor universitário e especialista em Direito, dirige a uma abstrusa amálgama da sigla portuguesa (IVA) e do anglicismo desnecessário (voucher): IVAucher (!).
4. Ainda na rubrica O Nosso Idioma, transcreve-se um artigo sobre a discriminação pela cor da pele, que a autora, Layane Moises Coelho, refere usando uma criação neológica – colorismo .
5. Entre notícias sobre a língua portuguesa – como matéria da criação literária, da investigação ou do ensino –, salientam-se:
– Em Penafiel, o festival literário Escritaria, cuja 13.ª edição decorre até 25 de outubro p. f., tendo por figura homenageada o jornalista e escritor Mário Zambujal;
– A realização do XXXVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística (ENAPL), este ano, à semelhança de muitos outros eventos, em linha, de 28 a 30 de outubro p.f.;
– O memorando assinado entre Portugal e o estado norte-americano do Utah, para dinamizar o ensino de Português neste território dos EUA;
– O prazo, até 9 de novembro p. f., para a apresentação de candidaturas ao PROCULTURA, programa financiado pela União Europeia e destinado aos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) e a Timor-Leste com o objetivo de apoiar projetos culturais em várias áreas (convocatória e informações para a apresentação dos projetos aqui).
6. Apesar de reveses e boicotes, a Organização das Nações Unidas (ONU)* completa 75 anos compensados por um balanço largamente positivo em defesa da paz e da solidariedade entre as nações, em prol do desenvolvimento social do mundo. Assinalando o aniversário, ONU lançou em 20 de outubro O Mundo que Queremos (#The WorlWeWant), uma coleção virtual com 75 fotos que teve a participação de mais de 130 países (ler também aqui).
* Nunca é de mais lembrar: a sigla ONU pronuncia-se como palavra aguda (cf. aqui, aqui e aqui).
Cf. Mensagem do secretário-geral no 75.º aniversário das Nações Unidas + ONU marca 75 anos realçando relevância ímpar em tempo de pandemia
7. Registo também com atualidade é o do regresso do Campeonato Mundial de Fórmula 1 a Portugal, cujo Grande Prémio se realiza em 25 de outubro, no Autódromo Internacional do Algarve. A respeito ou à volta desta competição automobilística: "A palavra campeonato", "A tradução de pole position", "Bólide, nome comum de dois géneros", "Sobre o uso dos sufixos -douro, -tório e -dromo", "Uso de sufixos -ismo e -ivo (a)", "Barras de protecção", "Moderem o pretensês".
Cf. Glossário da Fórmula 1: Veja os principais termos utilizados + Pequeno Dicionário de Gírias e Expressões Automobilísticas
8. Outro registo: a realização neste dia do debate final das eleições presidenciais norte-americanas. É um combate renhido, o que se trava entre a truculência do republicano Donald Trump, em fim de mandato, e Joe Biden, o candidato democrata. Além dos debates (na verdade, o primeiro, realizado em 30/09/2020, foi mais um despique ou uma zaragata), a campanha é também pontuada de entrevistas ou debates abertos à participação dos espetadores, às quais, em inglês, se chama town hall meetings, town hall forums, ou, de modo mais conciso, town halls. Em português, não parece haver um termo diferenciador deste tipo de eventos, pelo que se fala genericamente de entrevista ou debate, podendo juntar-se adjetivos para concretizar: «entrevista eleitoral aberta», «debate eleitoral aberto».
Para confronto com o espanhol, consulte-se a Fundación para el Español Urgente (Fundéu), que recomenda tertulia electoral («debate eleitoral») como expressão vernácula adequada à substituição de town hall, recorrente nos media de Espanha. Note-se, porém, que, em Portugal, o termo inglês não terá granjeado grande popularidade, optando-se geralmente por formulações em português.
9. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, têm destaque:
– a recente apresentação do programa da Rede de Ensino do Português no Estrangeiro para o ano letivo 2020/2021, numa entrevista com o presidente do Camões, I. P., Luís Faro Ramos, incluída no Língua de Todos, (RDP África, sexta-feira, 23 de outubro, pelas 13h20**);
– o apoio de Portugal à promoção do português e à formação de professores nos países africanos de expressão portuguesa, em conversa com Luís Faro Ramos, que passa também no Páginas de Português, (Antena 2, domingo, 25 de outubro, pelas 12h30**), programa que conta ainda com uma crónica da professora universitária Edleise Mendes sobre as línguas e o seu valor económico.
** O programa Língua de Todos é repetido em 24/10/2020, sábado, depois do noticiário das 09h00. O Páginas de Português tem repetição em 31 de outubro, sábado, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui, respetivamente.
1. A segunda vaga de covid-19 está a ser marcada pelo crescimento acelerado do número de infeções, o que provoca no cidadão comum e nos líderes políticos manifestações de consternação visíveis nas atitudes, decisões e também na linguagem. A metáfora, um processo retórico-linguístico que tem andado muito ligado à pandemia, voltou a ser usada neste contexto, desta feita pelo ministro da Saúde da Bélgica, que se referiu a um «tsunami de infeções». Esta é uma das cinco novas entradas no A covid-19 na língua, a par de adenovírus humano, corrupção, vacinar e vírico. No contexto do avanço dos estudos relacionados com o vírus SARS-CoV-2, voltamos a encontrar, na comunicação social, as expressões «evidência clínica» ou «evidência científica», que já aqui se desaconselharam, sendo preferível o recurso a expressões como «prova científica / clínica».
A presença de metáforas no discurso em torno da pandemia foi já objeto de reflexão em diversos textos divulgados no Ciberdúvidas. Por exemplo: «Das linhas de trincheira ao olho do furacão», «A nossa casa e as portas que se fecham e se abrem» ou «Dos caminhos da pandemia às doenças da sociedade».
2. A mais recente publicação do professor universitário e tradutor Marco Neves intitula-se Pontuação em Português – Guia prático para escrever melhor (Edições Guerra e Paz). Esta é uma obra que «condensa as regras básicas da pontuação em português», agora apresentada na Montra de Livros. Também nesta rubrica se divulga a tese de doutoramento do professor universitário brasileiro José António Pires de Oliveira Filho, sobre o escritor goês Júlio Gonçalves (1846-1896).
3. No Consultório, analisa-se, numa nova resposta, a etimologia da forma tomara e procura-se uma explicação para a origem do topónimo Morçoas (Alhos Vedros, Portugal). No campo da sintaxe e da significação, determina-se o sentido do verbo alcançar, usado numa frase de O Alienista, de Machado de Assis, e a diferença entre «fazer tudo» e «fazer de tudo». Por fim, apresenta-se a análise sintática de uma frase complexa.
4. O recente encontro futebolístico entre as seleções fde França e de Portugal propiciou um curioso "desentendimento" linguístico. Foi quando, no lançamento prévio do jogo, o selecionador gaulês empregou o termo revanche – traduzido livremente como vingança. Mal traduzido, pois o sentido certo do termo em desporto é desforra, como bem lembrou Didier Deschamps, Estas são as palavras que motivaram a crónica da professora Carla Marques, emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, do dia 18 de outubro de 2020, que pode ser lida aqui.
5. Portugal e a Noruega estão a desenvolver um projeto conjunto de criação de um dicionário europeu sobre mamíferos marinhos. Este léxico marinho pretende incorporar «nomes comuns de mamíferos marinhos (cetáceos, focas e leões marinhos e sirénios) e também de elementos representados no início da época moderna (monstros marinhos, seres híbridos e elementos de folclore)», pode ler-se na apresentação do projeto.
6. A história partilhada pelas aldeias fronteiriças de Portugal e de Espanha é feita de muitos episódios de natureza política, social e até individual. A língua e os dialetos não são indiferentes à localização geográfica dos povos que as falam, mas não conhecem fronteiras ou alteração dos factos políticos. É o tempo que burila as línguas e que as aperfeiçoa ou as condena ao desaparecimento. O português oliventino, dialeto tradicional de Olivença e de Talega, é disso um bom exemplo. Este é um património imaterial que, com a passagem de Olivença para as mãos de Espanha, se foi gradualmente perdendo, devido a diversos fatores que o autor Rubén Baéz analisa no artigo «Olivença: a capitulação incumprida», que transcrevemos, com a devida vénia, em Diversidades.
7. Ente as notícias relacionadas com a língua e a lusofonia, destacamos:
— A nomeação da cabo-verdiana Cristina Duarte para conselheira especial para África da ONU;
— A 2.ª edição do projeto Estudo em Casa, que teve início em 19 de outubro de 2020, com particular incidência no ensino básico; a transmissão das aulas continuar a ter lugar na RTP Memória, das 09h00 às 16h30;
— A manutenção da Direção-Geral para a Promoção da Língua Portuguesa na Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura;
— A mesa-redonda «O tradutor e a retradução: a ansiedade da influência», com lugar pelas 15h00 do dia 27 de outubro de 2020, na Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa.
8. Uma nota final para referir o falecimento da escritora e jornalista Helena Marques, aos 85 anos. Deixa seis obras editadas e um percurso de 36 anos de jornalismo, tendo passado por vários jornais portugueses. Recebeu diversos prémios, entre eles o mais recente, o Prémio Gazeta de Mérito, atribuído em 2013.
1. O agravamento da pandemia de covid-19 em Portugal levou o Governo a declarar o estado de calamidade a partir das 00h00 do dia 15 de outubro de 2020, de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros 88-A/2020. Entre várias medidas restritivas, recomenda-se o uso de máscara na via pública e da aplicação móvel StayAway COVID, recomendação que, embora vise reforçar o rastreio e a contenção da pandemia, prevenindo o contacto com pessoas infetadas, encontra a hostilidade de alguns setores da opinião pública portuguesa (ler aqui). Na ordem do dia está, portanto, o verbo rastrear, cuja entrada em "A covid-19 na língua" (O Nosso Idioma) se soma a outras dez, a saber: audição, casamentos, CLIE-2020, isolamento "fiduciário", olfato e paladar, platô, repique, sanitarista, taxa de positividade e vida (não) saudável.
2. Ainda a respeito da situação sanitária em Portugal e no mundo, a professora e linguista Carla Marques observa em O Nosso Idioma que se trata «de um regresso a uma situação, mas não a repetição de uma situação», num apontamento que explora ainda a pertinência do termo calamidade nos tempos que vivemos. Igualmente na mesma rubrica, em registo bem diferente, transcreve-se com a devida vénia um artigo elaborado pela redação do jornal digital brasileiro Primeira Página (11/04/2014), a respeito da história de palavras e expressões que envolvem abreviações como «lé com lé, cré com cré» e «com todos os ff e rr».
3. O ecocídio vai ser debatido neste dia no parlamento português, isto é, na Assembleia da República, por iniciativa do (Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN). Os deputados vão discutir uma proposta no sentido de o Governo português pedir às Nações Unidas que as práticas maciças de destruição da Natureza passem a ser reconhecidas pelo Tribunal Penal Internacional. O termo ecocídio*, que se aplica à destruição propositada de um ecossistema ou de uma comunidade, é palavra relativamente recente, mas não constitui novidade: a 1.ª edição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa já a registava em 2001, situando a primeira atestação à volta de 1985, sem, no entanto, indicar fonte. Atualmente é palavra que consta de dicionários eletrónicos e vocabulários ortográficos, como o dicionário da Infopédia, o da Priberam, o Michaelis, o Aulete Digital e os vocabulários ortográficos da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa.
* Ecocídio. Uma nova palavra que está a mobilizar cientistas e ambientalistas
4. No Consultório, também se comentam alguns vocábulos, do ponto de vista da sua datação e história: quando foi introduzido o nome lusíada na língua portuguesa? E a forma quinhentista Taquexima ainda tem atualidade suficiente para substituir o topónimo japonês Takeshima? Completam esta atualização três perguntas de sintaxe, com o seu quê de repercussão semântica: diz-se «convir em que...» ou «convir que...»? É mais correto «certifique-se de que os dados são lidos» do que «certifique-se de que os dados sejam lidos»? E aceita-se uma locução verbal formada por vários verbos como acontece em «poderias ter sido escolhida»?
5. Da atualidade em língua portuguesa, releve-se:
— a nomeação da cabo-verdiana Cristina Duarte para o cargo de conselheira especial para África da ONU;
— o anúncio feito pelo Camões –Instituto da Cooperação e da Língua de no presente ano letivo serem 170 000 os alunos que em 74 países aprendem a língua portuguesa;
— a assinatura em 15/10/2020, em Sevilha, de um Memorando de Entendimento entre Portugal e a Junta de Andaluzia para a inclusão do português como segunda língua estrangeira no sistema educativo da Comunidade Autónoma da Andaluzia;
– e a realização, a partir de 22 de outubro p. f., do evento virtual Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, organizado pelo secretariado permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau).
6. Temas centrais dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa na rádio pública portuguesa: no programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 16 de outubro, pelas 13h20*, o livro Pontuação em Português – Guia Prático para Escrever Melhor, do professor universitário e tradutor Marco Neves; o ensino de Português em França, em entrevista à sua coordenadora, a professora Adelaide Cristóvão, e as palavras revanche e desforra, num apontamento da linguista Carla Marques sobre o jogo entre as seleções de futebol da França e de Portugal – no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 18 de outubro, pelas 12h30**
* * O Língua de Todos é repetido no dia seguinte, 17/10/2020 (depois do noticiário das 09h00), e o Páginas de Português tem repetição no sábado seguinte, 24/10/2020, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando os referidos programas posteriormente disponíveis aqui e aqui.
7. Dada a necessidade de compatibilizar os projetos dinamizados pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa com os escassos recursos humanos presentemente ao seu alcance, impõe-se alterar a frequência com que se renovam semanalmente os conteúdos destas páginas. Assim, a partir de 20 de outubro p.f., o sítio eletrónico Ciberdúvidas da Língua Portuguesa passa a ter duas atualizações semanais, às terças-feiras e às sextas-feiras[1]. Mantêm-se ativos, como sempre, o Consultório e todas as demais rubricas, com perguntas, apontamentos e notícias à volta das regras e dos usos do português, na sua diversidade. O Ciberdúvidas não deixará, portanto, de prosseguir na tarefa de ir ao encontro de quantos, em diferentes partes do mundo, o procuram para falar, escrever e conhecer melhor esta língua que é de todos.
[1 N.E. (27/10/2020) – Por conveniência da gestão deste serviço, o dia da segunda atualização semanal foi alterado de quinta-feira para sexta-feira.]
1. Portugal volta ao estado de calamidade neste dia, por resolução do Governo, com um conjunto de medidas que se anunciam drásticas (mas sem obrigar ao confinamento), em consequência do aumento avassalador de infeções, hospitalizações e mortes à escala mundial. No meio do flagelo, não falta quem se declare invencível, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, recuperado da covid-19, já proclama a imunidade e grita a vitória da sua candidatura às eleições com a frase «sinto-me poderoso»*, que dá entrada em "A covid-19 na língua" (O nosso idioma). Completam a atualização do glossário outros três novos termos: ACTIV-3, CE e mapa único.
* Faz parte das seguintes declarações do presidente norte-americano: «I feel so powerful. I’ll walk in there, I’ll kiss everyone in that audience. I’ll kiss the guys and the beautiful women, just give you a big fat kiss» (tradução livre: «Sinto-me tão cheio de força, que chego lá e beijo toda a gente no público. Hei de beijar a rapaziada e as mulheres bonitas e dou-vos um grandessíssimo beijo.»).
2. No Consultório, alguém pergunta se existe o adjetivo abísmico, e a resposta é afirmativa, apesar da escassez de atestações. E se «abrir mão (de alguma coisa)» é uma expressão idiomática, que sentido terá fazer-lhe uma análise sintática interna? Pode dizer-se «quão mais» em vez de «quanto mais»? Além disso, se moço tem o fechado, será que remoço do verbo remoçar também tem? Por último, regista-se um erro, o de «partiu os copos "tudo"», em lugar da forma correta «partiu os copos todos».
3. Na Galiza, o reintegracionismo, ainda pouco conhecido em Portugal, luta pela convergência do galego com o português no plano da ortografia e de vários aspetos morfológicos e sintáticos, tanto por razões históricas como para garantir o seu futuro. Sobre esta posição transcreve-se, com a devida vénia, em Diversidades, a entrevista que Eduardo Maragoto, presidente da Associação Galega da Língua. concedeu ao jornal eletrónico Esquerda.net (11/10/2020).
4. A pandemia veio contribuir para o reforço dos canais digitais para as mais diversas atividades. As compras pela Internet ilustram esta situação, mas reforçam a continuada permissividade com os anglicismos que se apoderam da linguagem comercial. No entanto, a alternativa em português está disponível e é sempre preferível, como atesta o Glossário da Sociedade da Informação, da APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação, no qual se traduz e-commerce e m-commerce por comércio eletrónico e comércio móvel.Olhando novamente para o que se faz em Espanha, refira-se o conjunto de recomendações da Fundación para el Español Urgente (Fundéu) com vista a substituir os anglicismos desnecessários pelo vernáculo. Algumas soluções coincidem com o português: em vez de e-commerce, «comercio eletrónico», ou seja, «comércio eletrónico»; em lugar de m-commerce, comercio móvil, o mesmo que «comércio móvel». Acresce o caso de delivery, substituível por reparto ou entrega a domicilio, que pode transpor-se como «entrega ao domicílio/em casa/à porta»**.
** No Brasil, usa-se «entrega a domicílio» ou «entrega em domicílio».
5. Ainda à volta da covid-19 e do discurso que motiva, assinala-se a realização em linha do CLIE 2020 (Conference on Linguistic and Intercultural Education = Encontro sobre Linguística e Educação Intercultural) subordinado ao tema "Metáforas em Tempo de Coronavírus" nos dias 16 e 17 de outubro, p.f. É uma iniciativa de várias universidades, entre elas, a que é sede da organização, a Universidade de Alba Iulia, e a Universidade da Madeira. Informações e inscrições aqui.
6. Registos de notícias relativas à promoção da língua portuguesa e das culturas que encontram nela expressão:
– a criação da Cátedra de Investigação Lindley Cintra na Universidade Marie Curie Sklodowska, na Polónia;
– a inauguração da Rádio Portuguesa UK online em Londres, dirigida às comunidades portugueses residentes no Reino Unido;
– o apoio da Embaixada de Portugal em Pequim à tradução, no triénio de 2020-2022, de 50 autores de língua portuguesa para mandarim.
7. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa na rádio pública portuguesa realçamos os seguintes tópicos:
– No programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 16 de outubro, pelas 13h20*** (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*), o professor universitário e tradutor Marco Neves fala sobre a sua mais recente publicação, Pontuação em Português – Guia Prático para Escrever Melhor, que, como o nome antecipa, é sobre pontuação, que pode ser complicada, criativa, mas que implica regras próprias.
– No programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 18 de outubro, pelas 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 24/10, às 15h30***), emite-se uma entrevista com a professora Adelaide Cristóvão, coordenadora do ensino do português, em Paris, a propósito da importância de pais com origem em Portugal e de outras nacionalidades inscreverem os filhos na aprendizagem da língua portuguesa. Apresenta-se, também, a crónica da professora Carla Marques sobre as palavras révanche e desforra, relevantes no âmbito da competição futebolística entre as seleções de França e Portugal.
*** Hora oficial de Portugal continental, ficando os programas Língua de Todos e Páginas de Português posteriormente disponíveis aqui e aqui.
1. A pandemia em Portugal não dá sinais de abrandamento, como acontece, aliás um pouco por toda a Europa. Em apenas oito dias, o número de pessoas infetadas ultrapassou os 7000. A evolução dos acontecimentos obriga a repensar medidas e a ponderar a adoção de disposições mais restritivas. Nesta linha, Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República português, referiu que, se fosse necessário «Repensar o Natal em família», isso teria de ser feito. É esta também uma das sete novas expressões introduzidas no A covid-19 na língua, um glossário que procura deixar registadas as palavras e expressões mais marcantes destes tempos conturbados. Poderão ainda ser consultadas as expressões «Bora Testar», «Confinamento suave», «Confraternizações familiares», «Cuidados de proximidade», «Funcionários postais» e «Taxa de infeção».
Primeira imagem: Infografia do jornal Público relativa à situação da pandemia em Portugal a 11/10/2020
2. Estará a origem do nome tartaruga associada a Tártaro, designação que os gregos atribuíam ao inferno? A relação entre o nome deste animal e o conceito que dele tinham alguns povos da antiguidade pode trazer alguma luz sobre a designação que lhe foi dada, tal como se clarifica numa das novas respostas da atualização do Consultório, onde também se inclui a explicação dos regionalismos algarvios alfoque e mujerona e se comenta a inexistência de contração da preposição a com o artigo definido a antes do topónimo Canaã. No campo da sintaxe, analisa-se a função sintática do constituinte «embora descontente», usado numa frase simples e esclarecem-se as diferenças de plano de análise entre a classificação de constituintes e a sua função sintática.
3. Na rubrica Montra de Livros, dá-se a conhecer a nova publicação da linguista Sandra Duarte Tavares: Fala Sem Erros (edição da Porto Editora). Uma obra que procura dar resposta a dúvidas frequentes da língua portuguesa, que se poderá ficar a conhecer melhor a partir da entrevista concedida pela autora ao programa Páginas de Português, da Antena 2, emitido no dia 11 de outubro de 2020 (aqui).
4. A palavra muleta, para além dos conhecidos sentidos relacionados com a haste a que se apoia uma pessoa e o próprio suporte que fornece, pode ser usada, num contexto pouco formal, para designar o objeto que o carteirista usa para disfarçar a sua atividade. É o que nos é explicado no blogue Travessa do Fala-Só num apontamento aqui transcrito com a devida vénia.
5. Entre as notícias da atualidae, destacamos as seguintes:
— A Antena 1, o principal canal da rádio púbica portuguesa, passa a emitir uma nova série do programa Serviço Público – Bloco de Notas, da autoria da jornalista Maria Flor Pedroso. Orientado para os alunos de 11.º e 12.º anos com exames no ano letivo de 2020/21, o pós-5 de outubro é o primeiro tema, com a participação de historiadora Maria Fernanda Rollo. O programa será emitido no novo horário das 22h20 (hora oficial de Portugal continental) – ficando todos os episódios, de segunda a sexta-feira, disponíveis posteriormente na RTP Play;
— A abertura de dois concursos a Bolsa de Investigação para Doutoramento, na área de Linguística Aplicada, e um na área de Linguística do Português, pelo Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA-ILTEC) (mais informações aqui);
— As II Jornadas de Educação e Desenvolvimento, que terão como tema aglutinante Educação para o Desenvolvimento e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. As jornadas são promovidas pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua em colaboração com outras entidades e terão lugar dia 17 de outubro de 2020, via Zoom.
1. O número de infetados com covid-19 dispara de tal maneira que, em Espanha, o governo central decretou estado de alarme na própria capital, Madrid. O agravamento da pandemia satura, portanto, a agenda mediática, fazendo circular torrentes de novos termos e expressões, uns a marcar apreensão e angústia, outros a alimentar a esperança de uma cura e do regresso à verdadeira normalidade. Refletindo, pois, este contraste, o glossário "A covid-19 na língua" (in O nosso idioma) acolhe seis novas entradas: #aovivooumorto, IoT, intubação orotraqueal (IOT), onda, «O que aí vem» e politicagem.
Ainda quanto ao impacto da covid-19 na vida pessoal e coletiva: Ensino à distância impôs aos pais mais tempo para apoio aos filhos
2. Comemora-se em 10 de outubro o Dia Mundial da Saúde Mental, assinalado este ano com acrescida pertinência, dado o aumento de patologias psíquicas potenciadas pela crise pandémica nos contextos privado e profissional. O tema ativa e enriquece o respetivo campo lexical, tornando mais frequentes vocábulos ou perífrases como «pessoa com doença mental» ou «pessoa com deficiência mental», como se lê, por exemplo, num artigo da página Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental. É assunto que pede rigor terminológico e sensibilidade na comunicação, equilíbrio que, noutras línguas irmãs do português, é bem ilustrado pela intervenção da Fundación para el Español Urgente (Fundéu), na sua recomendação, entre outras indicações, do uso da perífrase «persona con problemas de salud mental», ou seja, «pessoa com problemas de saúde mental».
Sobre este tema, vide: Saúde mental + Mental coach: que equivalentes em português? + Palavras que matam e palavras que salvam + Autismo e autista + Sobre a palavra esquizofrénico + A diferença entre personalidade e carácter + Sobre o vocábulo depressão. E, ainda: OMS divulga guia com cuidados para saúde mental durante pandemia
3. Por vezes, considera-se apressadamente que os regionalismos são formas incorretas do português e, portanto, o melhor é condená-las ao esquecimento. É uma visão empobrecedora da língua, rebatida à saciedade pelo livro Palabras co Bento no Leba, que o estudioso de temas regionais Domingos Freire Cardoso dedica à fala popular de Ílhavo (Aveiro) e que a linguista Carla Marques apresenta na rubrica Montra de Livros.
4. Uma velha comédia portuguesa, o Pai Tirano, filme realizado em 1941 por António Lopes Ribeiro, surpreende um consulente brasileiro, porque aí se ouve dizer cê em lugar de você. Será que esta redução se encontra comummente em Portugal, como no Brasil? A resposta é dada no Consultório, onde estão em linha outras quatro perguntas: porque se escreve pan-ótico com hífen? Malgrado é preposição ou conjunção? Em que regiões se emprega a expressão «fazer festas»? Na frase «ele vai comer ao restaurante», o verbo ir é mesmo auxiliar?
5. Em O nosso idioma, transcreve-se, com a devida vénia, o artigo que o professor universitário e tradutor Marco Neves publicou em 4 de outubro de 2020 no blogue Certas Palavras e no Sapo 24, à volta da origem do advérbio e quantificador bué, que se enraizou no português coloquial de Portugal.
Sobre este angolanismo, lembramos os esclarecimentos A etimologia de bué, novamente + Do angolanismo bué aos crioulos asiáticos de base lexical portuguesa + Bué de…
6. Das notícias sobre escrita literária, ensaística e científica em português, dois registos:
♦ A atribuição ex-aequo do prémio Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho ao linguista Fernando Venâncio, pelo livro Assim Nasceu Uma Língua (ver Montra de Livros), e ao poeta Nuno Júdice, pela obra Camões por cantos nunca dantes navegados.
♦ E o anúncio da apresentação, em 14 de outubro p.f., de O Cânone, volume coordenado por Miguel Tamen, António Feijó e João Figueiredo (professores da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) e apoiado pela Fundação Cupertino de Miranda, que, em associação ao referido livro, inaugura dias depois, em 18 de outubro, uma “torre literária”, espaço que ficará instalado na sede da instituição, em Famalicão.
8. Nos dois programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, são temas centrais:
♦ Uma conversa com a linguista são-tomense Abigail Tiny Cosme, à volta do português de São Tomé e Príncipe – no programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 9 de outubro, pelas 13h20* (com repetição no sábado, 10 de outubro, depois do noticiário das 09h00*).
♦ O novo livro da linguista portuguesa Sandra Duarte Tavares, Fala sem Erros, e um apontamento da professora brasileira Edleise Mendes, sobre a relação língua-identidade – no programa Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, dia 11 de outubro, pelas 12h30* (repetido no sábado, 17 de outubro, às 15h30*).
* Hora oficial de Portugal continental, ficando os programas disponível posteriormente aqui. e aqui.
9. Último registo: a atribuição do prémio Nobel da Literatura 2020 à poetisa** norte-americana Louise Glück, autora ainda sem livros traduzidos em Portugal.
Nos fins do outono uma rapariga deitou fogo
a um trigal. O outono
fora muito seco; o campo
ardeu como palha.
Depois não sobrou nada.
Se o atravessávamos, não víamos nada. (...)
in Observador, 09/10/2020; tradução originalmente publicada em Telhados de Vidro, n.º 12, Editora Averno.
** A despeito do uso cada vez mais difundido de poeta como nome comum de dois (como «o/a artista»), a forma feminina poetisa é a recomendada – tal como se deve dizer /Nobél/ e não /Nóbel/.
1. A notícia de que o presidente dos Estados Unidos Donald Trump está infetado com covid-19 trouxe para a ribalta mediática termos relacionados quer com os tratamentos que estão a ser aplicados ao doente, quer com o seu estatuto de doente especial e também com as suas atitudes. Esta evolução das situações relacionadas com a pandemia motiva, deste modo, a introdução de seis novas expressões em A covid-19 na língua: cocktail de anticorpos, doente diferenciado e «Não tenham medo (da covid-19)». Para além destas, poderão ainda ser consultadas as entradas espectadores, FMPM e Regra dos três cês.
Créditos de Image: Reuters
2. A Academia Real das Ciências da Suécia começou a divulgar os vencedores do Prémio Nobel 2020 nas diferentes áreas. Este é um assunto amplamente acompanhado e comentado nos meios de comunicação social e, em particular, no audiovisual português. Quase invariavelmente, com a prolação errada da palavra Nobel – que deve dizer-se /nobél/ e não /nóbel/. Voltamos a recordar, por isso, o recomendado em diversas ocasiões: «Outra vez a pronúncia de Nobel», «Nobel, palavra oxítona (aguda): /Nobél/». Não esqueçamos ainda que, se se quiser referir o conjunto dos prémios, a expressão correta será «Prémios Nobel», sem lugar a pluralização da palavra Nobel. Todavia, se esta for usada como nome comum, referindo as pessoas premiadas, a sua forma plural será nobéis (cf. «O plural de Nobel e a sua pronúncia»).
3. As palavras quisto e querido terão, pelo menos até ao século XVI, coexistido como particípios do verbo querer. É o que se explica na nova atualização do Consultório. Uma viagem pela história da língua é o que exige uma questão relacionada com a existência do adjetivo perfunctório na língua portuguesa. Também no âmbito da lexicografia se encontra a identificação do gentílico de Ribeira Seca (Açores). Por fim, na área da sintaxe, esclarecem-se as possibilidades de colocação do pronome átono em oração infinitiva e classifica-se uma oração que integra uma frase copulativa.
4. A pandemia continua a não dar sinais de abrandamento, contribuindo para o aumento dos números de pessoas infetadas. Este é o mote para a crónica da professora Carla Marques, que aborda as palavras doença e cura (crónica divulgada no programa Páginas de Português da Antena 2, no dia 4 de outubro de 2020).
5. O processo de cooficialização das línguas no contexto de um país ou de uma região multilíngue é o objeto da crónica da professora e autora Edleise Mendes, que aqui transcrevemos (divulgada originalmente no programa programa Páginas de Português da Antena 2, no dia 22 de setembro de 2020).
6. O tradutor é considerado classicamente um traidor. «Traduttore, traditore», afirma o provérbio italiano, que, na verdade, acaba por dar conta da profunda dificuldade que preside ao ato de encontrar a palavra, a expressão ou a frase certa, que verta noutra língua os sentidos da língua original. É esta problemática que o artigo «Minha pátria é minha língua», da jornalista Mariana Payno, aborda (originalmente divulgado na revista Gama e aqui transcrito com a devida vénia).
7. No dia 5 de outubro, para além da Implantação da República Portuguesa, assinalou-se também o Dia do Professor. A UNESCO celebrou esta data destacando o importante papel dos professores no contexto da pandemia, que foram um agente essencial na defesa do direito à educação e na criação de soluções para a definição de um novo cenário de aprendizagem em contexto de isolamento (notícia).
8. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, recordamos aqui o Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, que será difundido no domingo, dia 11 de outubro, pelas 12h30*, com repetição no sábado, 17 de outubro, às 15h30*. e o programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 9 de outubro, pelas 13h20* (com repetição no sábado, 10 de outubro, depois do noticiário das 09h00*.
9. Registo final, e bem triste: o encerramento da centenária Coimbra Editora – especialmente afamada em Portugal pelas obras publicadas de natureza jurídica e de medicina, mas também de livros de português, nomeadamente o primeiro Vocabulário de Língua Portuguesa, o de F. Rebelo Gonçalves, em 1966, hoje uma raridade bibliográfica.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Com o aumento mundial de casos de covid-19, sucedem-se notícias a respeito de fármacos, de precauções a tomar, do grau de vulnerabilidade ao SARS-CoV-2 e de formas de enfrentar a crise económica e social decorrente. Em "A covid-19 na língua" (O nosso idioma), entram, portanto, doze novos termos, repartidos por diversas áreas lexicais. Assim, entre os medicamentos, contam-se, por um lado, antibióticos que a Organização Mundial de Saúde já declarou ineficazes, como sejam a azitromicina e a amoxicilina, e, por outro, os corticoides,o ibuprofeno, o paracetamol, que atenuam ou suprimem sintomas como febre e dores musculares. Quanto à bioquímica do novo coronavírus, registam-se massa molecular, material genético e partícula viral. Referindo a prevenção e o tratamento da doença, ocorrem as expressões sistema imunitário (ou sistema imunológico, ou, ainda, sistema imune) e espectrometria de massa. Acerca do risco de mortalidade, fala-se do fator idade. À volta do impacto negativo da pandemia, insiste-se na locução retoma progressiva.
2. Ao Consultório, chegam sete dúvidas: donde vem a forma dialetal "devolvero", equivalente a devolveram? Para falar dos naturais de Matosinhos, é correto empregar o termo matosinheiro? Como deve dizer-se: «modelagem» ou «moldagem de balões»? As reticências podem ser seguidas de ponto? A preposição para tem sílaba tónica? Que sentido se dá à locução «estar para ali»? Por último, uma pergunta de sintaxe e semântica: o verbo concorda no singular ou no plural com «um total de 35 médicos»?
3. Quem foi, afinal, Machado de Assis (1839-1908)? Qual o seu segredo? Como conseguiu ele contornar o classismo e o racismo da sociedade brasileira de finais do séc. XIX e alcançar o reconhecimento institucional do seu mérito literário? Em O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia, do jornal digital Tornado, uma breve biografia deste escritor brasileiro, «um homem «tão recatado, tão cioso da sua intimidade, [que] só teve um descuido, só deixou uma porta aberta: os seus livros». Um trabalho do jornalista brasileiro José Carlos Ruy, que recolhe também algumas observações da crítica literária e ensaísta Lucia Miguel Pereira (1901-1959).
4. Conforme aqui se anunciou, 30 de setembro p. p., em Lisboa, fez-se a divulgação pública dos resultados do estudo Práticas de Leitura dos Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário, coordenado pelo Plano Nacional de Leitura 2017-2027 e pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. A grande conclusão é preocupante – há um decréscimo nos hábitos de leitura (ler também aqui) – e aponta para a necessidade de redefinir estratégias para incentivar no seio das próprias famílias o interesse e a vontade de participação na cultura escrita. O registo vídeo deste evento encontra-se aqui.
5. O feriado de 5 de Outubro em Portugal assinala o fim da monarquia e a implantação da República em 1910. Um século e uma década depois, novamente se comemora a data, em ano marcado pelas restrições do combate à covid-19; mas nem por isso se deixa de evocar a efeméride, celebração a que o Ciberdúvidas também se associa, relembrando conteúdos à volta do tema e da sua repercussão na norma linguística: "'Viva a República' e 'Vivà República'", "As palavras república e monarquia", "100 anos de reformas ortográficas","'As mudanças na orthographia da lingua portugueza» há 100 anos", "A palavra verdade, vocábulos das eleições portuguesas e a 1.ª reunião do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa", "A ortografia antes de 1911", "Quando o s passou a escrever-se z", "Reforma de 1911 em Portugal. Acordod ortográficos"
Na imagem, uma página da Ilustração Portuguesa, 2.ª série, n.º 250, 5 de Dezembro de 1910, na qual se vê o famoso busto da República do escultor Simões d'Almeida Sobrinho (1880-1950) . Sobre esta escultura, que hoje se encontra.no Museu da Presidência da República, em Lisboa, lê-se na Wikipédia: «Escultura de Simões de Almeida, tendo como modelo Hilda Puga. Hilda tinha 16 anos, e trabalhava numa camisaria na R. Augusta, na Baixa de Lisboa. Estava a fazer uma entrega quando se cruzou com o escultor, que lhe achou graça e a convidou para ser sua modelo.»
6. Destaques dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, dia 2 de outubro, pelas 13h20*; com repetição no sábado, dia 3 de outubro, depois do noticiário das 09h00*), além da intervenção da professora Sandra Duarte Tavares, que apresenta o seu livro Fala sem Erros, a crónica da linguista Edleise Mendes, sobre a cooficialização de línguas no Brasil; no Páginas de Português, (Antena 2, domingo, dia 3 de outubro, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 10 de outubro, às 15h30*), uma entrevista a Carlos Reis, a propósito da sua Última Lição, proferida em 28 de setembro p. p. (vídeo da aula completa aqui), bem como a crónica da professora e linguista Carla Marques sobre as palavras doença e cura.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
7. Devido ao feriado de 5 de Outubro, em Portugal, a próxima atualização do Ciberdúvidas fica marcada para quarta-feira, 7 de outubro de 2020.
1. O mundo atingiu no dia 29 de setembro o marco de um milhão de mortos por covid-19, o que significa que, a cada 16 segundos, há uma pessoa vitimada por esta doença. Este número motiva a introdução no A covid-19 na língua do termo Milhão, ao qual se juntam as expressões «Boatos.org», designação de uma plataforma brasileira cujo objetivo é desmontar notícias falsas que circulam na internet, e «Transportes públicos». Este número de óbitos, que foi comentado um pouco por todo o planeta, justifica que se recorde que em algarismos um milhão se regista com o número 1 seguido de seis zeros, que devem ser agrupados em três algarismos com um espaço em branco entre eles (1 000 000). Isto significa que não se deve recorrer ao uso de pontos para separar estes grupos de algarismos (como aconteceu nesta notícia).
A propósito deste tema, recordem-se algumas respostas divulgadas no Ciberdúvidas: «2500, 2 500 ou 2.500?», «Vírgulas e pontos em números cardinais», «Milhão de milhões», «Biliões, triliões, etc.», «Um bilião, outra vez».
2. Em Portugal, continuamos a assistir à opção de atribuir designações inglesas a produtos portugueses, uma situação infelizmente cada vez mais recorrente. Desta feita, aconteceu com o projeto "HomeSafe", que integra a plataforma "BeyondCovid". Trata-se de um protótipo cuja função é monitorizar alguns sintomas de covid-19 entre a população idosa. A defesa do português deve passar também pela sua elevação à condição de língua de ciência, o que poderá passar pelo recurso a designações em língua portuguesa. Vejamos como seria simples encontrar equivalentes para os nomes dos referidos projetos: «Protegido em casa» ou «Além da Covid». Esta mesma atitude deveria ter estado presente no momento de opção por designações como o selo "Clean & Safe" ou "Covid Safe" ou ainda a aplicação "StayAwayCovid", que denunciam uma infeliz submissão ao peso da anglofonia.
3. As formas troube e troubeste são, entre outras, variantes regionais do verbo trazer, cuja formação por analogia se explica no Consultório, onde também se incluem duas respostas de âmbito ortográfico: a acentuação das palavras paroxítonas terminadas em -n (como próton) e a abreviatura da fórmula antiga «atentos e veneradores», que era usada na correspondência formal. A atualização do Consultório contempla também uma questão que procura saber se o termo "jactobol" se encontra averbado no dicionário e uma outra que se centra nas diferenças entre cotexto e contexto. Por fim, analisa-se a função sintática de constituintes da frase «A Antonieta, uma rapariga que conheci no parque, é simpática».
4. O recurso à construção passiva motiva reações muito distintas, desde a total rejeição à sua aceitação em condições específicas. O que é certo é que pragmaticamente, este é um recurso linguístico que permite atenuar o peso que se colocaria sob o autor de uma dada ação ou colocar o foco sobre outro elemento da frase, como nos explica Chico Viana, especialista em Teoria Literária e colunista, no artigo «Notas sobre a voz passiva» (divulgado originalmente na página do Facebook Língua e Tradição).
5. Entre as notícias relacionadas com a língua, destaque para:
— A diretiva do Ministério da Defesa português que apela ao uso de linguagem inclusiva em assuntos que envolvam questões de género (aqui e aqui);
— A divulgação dos resultados do estudo Práticas de Leitura dos Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário, no dia 30 de setembro, um estudo coordenado pelo Plano Nacional de Leitura 2017-2027 e pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.
6. Comemora-se, no dia 1 de outubro, o Dia Mundial da Música, com eventos muito diversificados, que procuram responder a diferentes gostos e sensibilidades.
O tema da música tem estado presente na ótica da língua em várias respostas do Ciberdúvidas: «Música», «Músico/a», «Letra de música», «As subclasses dos nomes frio e música», «A música e o seu vasto campo lexical».
7. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, o Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, entrevista o professor universitário da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Carlos Reis, a propósito da sua jubilação, que motivou a sua «Última Lição», proferida no dia 28 de setembro, subordinada ao tema «Releitura Intermediática da Ficção Queirosiana» (a aula completa pode ser vista aqui). Neste programa ainda, uma crónica da professora e linguista Carla Marques sobre as palavras doença e cura (domingo, dia 3 de outubro, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 10 de outubro, às 15h30*). O programa programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, convida a professora e linguista Sandra Duarte Tavares, que virá apresentar o seu livro “Fala sem Erros”, onde se abordam erros típicos da língua portuguesa. Ainda a crónica da professora Edleise Mendes, sobre a cooficialização de línguas no Brasil: Português, línguas indígenas e línguas de imigração (sexta-feira, dia 2 de outubro, pelas 13h20* (com repetição no sábado, dia 3 de outubro, depois do noticiário das 09h00*).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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