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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  A realidade criada pela chegada do novo coronavírus desencadeou uma atividade linguística assinalável. Entre os fenómenos dignos de atenção, alguns dos quais tratados no Ciberdúvidas em diferentes momentos, encontra-se a produção de metáforas, entendidas como um processo cognitivo que procura compreender a realidade associando-a a domínios conceptuais já conhecidos. Já aqui foram abordadas metáforas nas áreas da guerra e dos fenómenos naturais, do caminho que se percorre e das doenças, da casa e das suas portas que abrem e fecham. A consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques fecha agora este ciclo dedicado às metáforas da covid-19 com um apontamento sobre as metáforas do domínio cinematográfico, que recordam que neste filme que todos vivemos há monstros e heróis (que usam não capa mas máscara). 

2. O dinamismo linguístico continua também a trazer novas palavras para A covid-19 na língua. Este glossário vai, assim, dando conta da evolução da situação e das realidades que vão ganhando realce, convocando novas palavras e expressões. Desta feita, destacamos ATL, alergologia, crise económica, dança, depressão, desigualdade, férias, fotografiaobrigadoperdigotos, poesia, respiradores e robotização

3.  Palavras como mouro, bárbaro, judiaria ou chinesice são sinais da linguagem de cariz racista e xenófofo plasmado na língua, como bem o atestam expressões como «trabalhar que nem um mouro» ou «rir que nem um preto», que remetem para fases pretéritas da história e da língua. Esta é a reflexão que partilhou connosco a professora universitária e presidente do Conselho Científico do IILP Margarita Correia na crónica apresentada no programa radiofónico Páginas de Português, da Antena 2 (áudio disponível aqui). De racismo também falou a professora Carla Marques ao refletir sobre as palavras respirar joelho numa breve crónica divulgada no mesmo programa (que se pode ler aqui e ouvir aqui). Sobre o tema, vide, ainda: 10 expressões racistas que deveríamos tirar do nosso vocabulário + A linguagem do racismo, histórias antigas de preconceito e discriminação e o Carnaval contra o assédio sexual no Brasil.

Ilustrativo destas marcas estereotipadas no léxico do português é este divertido video:

4. O registo popular caracteriza-se por adaptar palavras e construções. Nestes processos, a modalidade oral assume uma responsabilidade maior ao contribuir para a alteração ou para a erosão das palavras, o que muitas vezes se fica a dever a uma questão de economia linguística. Foi assim que curiosidade terá evoluído para curgidade, como se explica nesta resposta divulgada na nova atualização do Consultório. Poderão ainda ser consultadas respostas de âmbito lexical («Andar em bando», «Office boy = contínuo e paquete» e «Procedimento cautelar e providência cautelar») e outras do foro sintático («Patente de produtos», «Levar uma surra, levar e ser levado» e «A porta abriu-se» vs. «a loja abriu»).

5. A lei portuguesa é bem clara quanto à obrigatoriedade da apresentação de texto em português em guias, rótulos, livros de instruções e outros elementos que acompanhem produtos vendidos em Portugal. Todavia, continuamos a identificar inúmeras situações em que a língua portuguesa é simplesmente ignorada, como se pode confirmar pelo apontamento de José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas. 

6. A expressão inglesa off the record é frequentemente utilizada, em particular pela comunicação social. Não obstante, a sua substituição por uma palavra portuguesa não só é possível como funciona de forma perfeita, como demonstra a professora Sara Mourato neste apontamento

7. O professor universitário e tradutor Marco Neves continua a partilhar com os seus leitores apontamentos linguísticos relacionados com a atualidade. Desta feita, apresenta uma crónica sobre as línguas oficiais de União Europeia e uma outra sobre como se diz bilão em português, tema também já muito analisado no Ciberdúvidas (aqui, aqui e aqui, por exemplo).

8. Dia 15 de junho é dia de alargamento de algumas das medidas da terceira fase de desconfinamento na região de Lisboa. Abrirão assim centros comerciais, espaços com mais de 400 m2 , lojas do cidadão, entre outros. Passarão a estar abertos também centros de explicação e os ATL*

*Vale a pena lembrar que esta como todas as siglas não levam -s-, ainda que refiram uma entidade plural – ao contrário do recorrente  uso errado no espaço público.. 

9. Alguns setores da sociedade não regressaram, todavia, à normalidade. É o caso do ensino que mantém a maioria dos alunos numa situação de ensino à distância, o que se verifica no ensino obrigatório, mas também, em muitos casos, no ensino superior. Esta situação tem levantado a possibilidade de um sistema de ensino assente em meios tecnológicos, o que tem gerado inúmeras reações oriundas de diferentes setores da sociedade, muitas discordantes, como acontece neste artigo de opinião do jornal Público

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Na data de 8 de junho comemora-se o Dia Mundial dos Oceanos, na mesma semana em que pouco depois, em 10 de junho, se festeja o Dia de de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. É curioso notar como o mar é tema comum às duas comemorações. Com efeito, em Portugal, o feriado evoca o contributo decisivo de um poeta renascentista para a elaboração de uma língua que se expandiu por via marítima, acompanhando a conquista de territórios além-mar, para explorar recursos humanos e materiais, num movimento agressivo que hoje começa a avaliar-se de forma bastante crítica. No Dia Mundial dos Oceanos a tónica é a sustentabilidade de tal exploração, porque o horizonte se define agora pela preocupante degradação ambiental do planeta provocada pela frenética e imparável atividade humana. À volta dos nomes dados a mares e oceanos (talassónimos), leiam-se, por exemplo,  "A etimologia das palavras atlântico, jónico, mar, mediterrâneo e oceano", "Mediterrâneo" e "Oceano, praia e respetivos holónimos"; e sobre a grafia destas formas, consulte-se "Maiúsculas e minúsculas com nomes de regiões e acidentes geográficos". Vide, ainda, "Portugal em sétimo lugar na qualidade das águas balneares europeias".

Na primeira imagem, Mar (Nazaré), de Adriano Sousa Lopes (1879-1944), Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa (fonte: MatrizNet).

2. A presente atualização coincide com o começo de uma semana recheada de datas festivas especialmente em Portugal, onde o 10 de Junho neste ano de 2020 será apenas assinalado simbolicamente, de modo a respeitar as medidas de combate contra a pandemia de covid-19 (ler nota de 01/06/2020 da Presidência da República Portuguesa). O mesmo acontecerá à celebração do feriado religioso do Corpo de Deus em 11 de junho. Finalmente, em 13 de junho, o Dia de Santo António, começa o ciclo dos Santos Populares, que neste ano de 2020 também se pautarão pelo modo virtual, sem as multitudinárias festas tradicionais, por causa das referidas medidas cautelares. Com tópicos relacionáveis com estas duas últimas datas, sugere-se a leitura das seguintes respostas: "As palavras Deus, Anjo e Alma", "Razão do uso de Deus sem artigoFrase sobre Santo António de Lisboa", "Sobre o Sermão de Santo António aos Peixes", "Interpretação de excerto de Sermão de Santo António aos Peixes", "O significado de um excerto do Sermão de Santo António aos Peixes, "Festa Junina", "Nos santos populares (en)cante com poesia popular".  Entretanto, devido a todos estes feriados, a nova atualização do Ciberdúvidas fica marcada para segunda-feira,15 de junho.

Entre os eventos comemorativos do Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, destaca-se Os Lusíadas como nunca os ouviu, uma maratona de leitura (integral) do poema épico de Camões pelo ator António Fonseca, transmitida do Teatro Nacional D. Maria II no próprio dia feriado.

3. Em O nosso idioma, o glossário "A covid-19 na língua" prossegue o registo de novas entradas e das suas definições: o substantivo ajuntamento; o adjetivo brutal com a expressão choque económico, recorrentes no comentário ao impacto económico negativo da pandemia; a locução capitalismo digital, para designar o avatar tecnológico do capitalismo; o verbo contagiar; o vocábulo  manifestação, que figura nas notícias sobre as manifestações contra o racismo que se realizaram mundialmente em protesto pela morte do afro-americano George Floyd e que não cumprem as imposições de distanciamento por causa das pandemia; "TV Funerária", apodo criado pelo Presidente do Brasil para criticar a TV Globo pelo destaque dado ao boletim epidemiológico; e o termo vulnerabilidade.

4. No Consultório, salienta-se o valor intensivo do artigo indefinido em frases exclamativas; comenta-se a grafia da expressão «não sei quê»; identifica-se o adjunto adverbial (modificador do grupo verbal) da frase «tudo era alegria para ela»; e analisa-se o comportamento sintático e semântico do conector pois.

5. Moçambique dispõe de um Vocabulário Ortográfico Nacional, que está alojado na plataforma do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa desde 2014. Mas também é verdade que este país ainda não ratificou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Para fazer um ponto da situação a respeito do que se passa em Moçambique em matéria ortográfica, a rubrica Acordo Ortográfico transcreve com a devida vénia a entrevista que a linguista Marta Sitoe concedeu  ao jornal Preto e Branco (06/06/2020).

6. Além das variedades nacionais, que vão elaborando a sua própria norma, há também a considerar a variação regional de cada país. Em Portugal, como se sabe, subsistem formas regionais com maior ou menor vitalidade, como é o caso da expressão «ter avondo», que se mantém no sueste alentejano e na metade oriental do Algarve. Em O nosso idioma, transcreve-se, da edição de 03/06/20202 do jornal Público, um apontamento do escritor português Miguel Esteves Cardoso, a propósito do referido regionalismo português.

7. Hashtag é um anglicismo muito corrente na atualidade, em formas como #nãoaoracismo (ver Instagram). O termo é formado por hash (de hash mark, «sinal de cardinal», ou seja, #) e tag, «etiqueta» (ver dicionário Merriam Webster); e a associação do sinal # com uma palavra ou expressão é empregada em blogues e outras páginas eletrónicas para facilitar a identificação ou a pesquisa de temas (cf. Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, consultado em 08/06/2020). Mas não haverá termo vernáculo com o mesmo significado? Virando novamente a atenção para o que fazem outras línguas românicas como o português, registe-se que, para o espanhol, a Fundéu recomenda a substituição do anglicismo por etiqueta. Sem veleidades castelhanistas, reconheça-se que o exemplo da Fundéu se transpõe sem problema para o português como etiqueta. Tendo em conta que tag já é equivalente a etiqueta, porque não permitir, então, o alargamento semântico da palavra portuguesa?

8. Um último registo para a história de um mestrado em veterinária numa universidade pública portuguesa e de uma aluna, cuja dissertação nunca foi admitida a provas porque a candidata, brasileira, não usou a norma ortográfica de 1945 nem a sintaxe própria do português do Brasil – contada pela professora  Margarita Correia, em artigo  publicado originalmente no Diário de Notícias do dia 9 de julho de 2020.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A conceptualização das realidades associadas à covid-19 e às várias etapas da pandemia tem sido terreno fértil para a criação metafórica. Este processamento cognitivo gera expressões linguísticas que desvendam as interpretações do mundo e a forma como os seres humanos as associam a outras realidades que conhecem. A professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, tem desenvolvido um conjunto de reflexões que se orientam no sentido de delimitar alguns domínios conceptuais que estruturam a produção de metáforas na situação que se vive atualmente. Desta feita, apresenta um apontamento onde aborda o conceito de caminho / corrida, que tem enquadrado construções como «a corrida contra o vírus» ou «isto é uma maratona», e o conceito de doença, que tem permitido falar de áreas afetadas da sociedade, o que tem ficado patente em expressões como a «neurose coletiva» ou a «anemia da sociedade». 

Primeira imagem: Fotografia de Jennifer B. Hudson 

2.  Para além das metáforas, também palavras e expressões têm sido convocadas para dizer a heterogeneidade do universo pandémico, que se tem complexificado e ramificado em inúmeros domínios. Exemplo disso é a recente descoberta que traz o nome da alpaca, mamífero da América do Sul, para A covid-19 na língua, o que acontece porque este animal tem anticorpos raros que poderão vir a ser usados nos tratamentos da covid-19. Nesta atualização, o glossário acolhe ainda os termos limpeza, hemorragia, luto e a expressão «comprar tempo». No Dia Mundial do Ambiente, que se celebra a 5 de junho, recorde-se também que a pandemia trouxe consigo efeitos positivos para o ambiente (na melhoria da qualidade do ar, por exemplo), mas também maior poluição devido aos descartáveis que se usam (luvas ou máscaras, entre outros) e um recuo nas práticas de reciclagem (ver notícia). 

Esta é uma oportunidade também para recordar algumas respostas do Ciberdúvidas relacionadas com o ambiente: «Etimologia do meio ambiente», «Ambiência ambiental», «Novamente, impacto impacte» e «Sobre a formação dos substantivos compostos». E, a propósito da abertura em Portugal da época balnear sob rigorosas medidas restritivas de ocupação do areal e  do distanciamento por causa da pandemia, fica também a sugestão de alguns esclarecimento no aquivo do Ciberdúvidas sobre a praia: O campo lexical de praiaO campo semântico de praia + «Arenosa praia...» + Oceano, praia e respectivos holónimos.

3. A complexidade das estruturas sintáticas permite o encaixe de orações no interior de outras e ainda que uma oração desempenhe uma função sintática no plano da frase. Estas possibilidades tornam, por vezes, labiríntica a análise da frase. É o que acontece no verso de Florbela Espanca «Morder como quem beija!». Outras questões chegam ao Consultório do Ciberdúvidas: entre elas, assinalamos a dúvida quanto à forma correta de pronunciar a palavra dorminhocos, motivada pelas oscilações de pronúncia entre o singular e o plural de algumas palavras, e a determinação da grafia correta da palavra Troino (antigo bairro de Setúbal). Do Brasil, chega uma questão relativa ao género do nome babá e outra que indaga a classe de menos na locução «em menos de uma hora». 

4. O gramático e académico  Evanildo Bechara é uma das figuras que tem contribuído de forma destacada para o estudo da língua portuguesa. Com um currículo riquíssimo em diferentes áreas da linguística, tem já um lugar na história, como bem o comprova a longa biografia e a diversificada bibliografia compiladas pelo professor galego José Paz Rodrigues. Nesta resenha, é ainda possível recordar diferentes vídeos de entrevistas, conferências e aulas de Evanildo Bechara (uma biografia divulgada no Portal Galego da Línguaaqui reproduzida com a devida vénia). 

5.  Os nomes que damos às letras e as letras que usamos para grafar determinados sons são o tema do apontamento do professor João Nogueira da Costa, que, num registo dialogal, desfaz alguns equívocos conhecidos. 

6. Entre as notícias de relevo, destaque para a decisão de promover a formação de professores de português como língua estrangeira à distância (curso organizado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua). Ainda uma nota relacionada com a época balnear em Portugal, que, devido à pandemia, este ano terá um calendário específico para as diferentes zonas do país, entre inícios de junho e finais de setembro (notícia). 
 
7.  Os programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa tratam esta semana o balanço da experiência do ensino à distância do Português Língua não Materna (PLNM) no contexto do surto epidemiológico e um curso sobre Análise Textual. Destaque também para mais um apontamento da professora Carla Marques, que aborda os verbos da economia na cobertura mediática. 
 
O programa Língua de Todos vai para  o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 6 de junho, pelas 13h20* (é repetido no sábado, dia 7 de junho, depois do noticiário das 09h00).  O Páginas de Português é transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 8 de junho, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 13 de junho, às 15h30).

*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Enquanto Portugal entra na terceira fase do plano de desconfinamento – excetua-se a região de Lisboa, que continua com medidas mais restritivas  –, um termo circula mediaticamente: paraministro. Emprega-se este para referir o cargo de uma nova figura do governo, o gestor António Costa Silva, que, não sendo ministro, foi nomeado para gerir governamentalmente uma estratégia de recuperação económica nacional, contando com a chegada (incerta) de subvenções da União Europeia. Na comunicação social portuguesa, torna-se agora recorrente o uso da palavra paraministro como designação dessa singular função ministerial paralela (ver o registo humorístico de Ricardo Araújo Pereira em 31/05/2020 no programa Isto É Gozar com Quem Trabalha, transmitido pela SIC; mais notícias e comentários aqui e aqui). A rubrica O nosso idioma também não deixa escapar este recém-chegado ao discurso noticioso, integrando-o em mais uma atualização do glossário A covid-19 na língua,com outras novas entradas: Arte covid, descumprimento, serologia, seroprevalência, carga viral e zerar.

2. Com a terceira fase de desconfinamento em Portugal, um regresso muito aguardado: na quinta-feira, 4 de junho, retoma-se o  campeonato da I Liga  para 10 jornadas finais ... sem público. É o reativar de toda a máquina gigantesca de clubes, seguidos à distância por miríades de adeptos e comentadores. A respeito do "futebolês" motivado pelo chamado desporto-rei e espetáculo de multidões, são muitas as respostas e os artigos em arquivo no Ciberdúvidas, como revela a seguinte seleção: "Viva o 'futebolês'!", "A intensificação na linguagem do futebol", "O futebol falado diferentemente no Brasil e em Portugal", "A ciência do esférico", "Comentador demasiado criativo", "Péssimo futebol falado"; "Uma questão de terminologia", "Um chuto no 'crachar'", "Já sabe o que é um 'zagueiro'?", "O 'dialeto luso' em futebolês".

3. A denominação dos meses é feita por nomes comuns ou por nomes próprios? A minúscula inicial sugeriria a primeira hipótese, mas as propriedades semântico-referenciais destes nomes tornam-nos um caso muito especial, conforme se revela no Consultório. Nesta mesma atualização, esclarecem-se dúvidas sobre a adequação do uso do plural de religião, a boa formação do adjetivo incomprovável, um caso de adjunto adverbial de assunto (conforme a terminologia gramatical brasileira) e a análise do complexo verbal «fui comer».

 4. Nos países onde é falado, o português coexiste frequentemente com línguas locais, tanto em Angola e Moçambique, como em Timor-Leste, como ainda no Brasil, que conserva vários dialetos das famílias linguísticas ameríndias. Portugal está longe de ser a exceção monolingue, porque, além da sua própria língua gestual e de uma língua regional (o mirandês), conta ainda com as várias línguas faladas por diferentes comunidades estrangeiras; e este multilinguismo constitui uma realidade que o Ministério da Educação português de algum modo reconhece no seu Portal de Matrículas. Contudo, mais atenção e rigor são devidos, conforme assinala a linguista Margarita Correia em crónica publicada no Diário de Notícias em 2 de junho de 2020 e aqui transcrita com a devida vénia.

5. A propósito da onda de protestos e violência nos Estados Unidos da América, por causa da morte de George Floyd em 25/05/2020, fala-se da cidade onde tudo começou infelizmente por acontecer, Minneapolis – ou, em português, Mineápolis, forma que se regista, pelo menos, desde 1941. Acrescente-se que esta cidade se localiza no estado do Minnesota, que também tem equivalente vernáculo: Minesota.

A forma Mineápolis regista-se em Topónimos e Gentílicos, que I. Xavuer Fernandes publicou em 1941; e assim se mantém no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, e no Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa (1999) da Academia Brasileira de Letras. Consta igualmente destas últimas fontes a forma Minesota, a qual substituiu outra mais antiga, Minessota, com dois ss, conforme o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de 1940, da Academia das Ciências de Lisboa.

6.  A pandemia tem afetado o funcionamento dos sistemas de ensino em vários países da União Europeia. É  pois de referir a medida tomada pelo governo português, de abrir aos alunos lusodescendentes que, em França, não consigam concluir este ano o ensino secundário (o chamado baccalauréat ou bac, por truncação), a possibilidade de beneficiarem de medidas excecionais no concurso de acesso às instituições de ensino superior portuguesas para o próximo ano letivo (ler notícia de 03/06/2020 do Lusojornal).

7. O balanço da experiência do ensino à distância do Português Língua não Materna (PLNM) no contexto do surto epidemeológico e um curso sobre Análise Textual são os temas em foco nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa. É também dado realce aos verbos mais usados na cobertura mediática da pandemia da covid-19 com um apontamento da professora Carla Marques. Mais informação nas Notícias.

O programa Língua de Todos vai para  o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 6 de junho, pelas 13h20* (é repetido no sábado, dia 7 de junho, depois do noticiário das 09h00).  O Páginas de Português é transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 8 dejunho, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 13 de junho, às 15h30).

*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Dia 1 de junho é o Dia Mundial da Criança (em Portugal, Angola e Moçambique), data assinalada pela primeira vez em 1950 por iniciativa das Nações Unidas, ainda no rescaldo da II Grande Guerra Mundial, com o intuito de sensibilizar a comunidade internacional para os problemas vividos por milhões de crianças um pouco por todo o mundo. Passados 70 anos, muitas crianças ainda não veem respeitados os seus direitos consagrados pela Declaração Universal dos Direitos da Criança. A UNICEF estima que, nos países subdesenvolvidos, inúmeras crianças vivem em dificuldades extremas. Este ano, em particular, a data será celebrada de forma diferente por crianças e suas famílias, mas os motivos que estiveram na sua origem devem continuar bem presentes no espírito de cada um. Este dia é também motivo para recordar algumas respostas disponíveis no Consultório, relacionadas com a palavra criança: «Criança: etimologia», «Nome coletivo de criança», «Enquanto crianças» e «em crianças», «Criança-soldado e crianças-soldado». Sobre o tema, vide ainda o texto «Qual a origem da palavra «criança»?», da autoria  do professor universitário e tradutor Marco Neves.

Primeira imagem: desenho de criança. 

2.  O dia 1 de junho coincide também, em Portugal, com o início da terceira fase do plano de desconfinamento, que determina o fim do "dever cívico de recolhimento" e prevê a abertura de jardins de infância, centros comerciais, cinema e salas de espetáculo, ginásios, entre outros espaços. A área metropolitana de Lisboa estará, porém, sujeita a condições particulares, dado o aumento do número de infeções registado, que determinam o adiamento da abertura de centros comerciais e de lojas com mais de 400 metros quadrados. A reabertura gradual tem ainda motivado a implementação de medidas excecionais na prática dos cultos religiosos e das atividades desportivas. Por seu turno, o setor da aviação pode contar já com o fim das restrições de passageiros. Os diferentes momentos da pandemia continuam a trazer também novas palavras e expressões que vão integrando o glossário A covid-19 na língua. Desta feita, poderão ser consultadas «bolha... de ódio», «pré-covid» e «live». 

3. A formação de palavras com base num processo de aportuguesamento nem sempre produz resultados aceitáveis do ponto de vista da norma ou até da sensibilidade linguística dos falantes. Estes são os problemas que as palavras "hacktivismo" e empoderamento acusam e que motivam respostas divulgadas na nova atualização do Consultório. A identificação de funções sintáticas, nomeadamente do complemento oblíquo e da sua distinção do modificador do grupo verbal, também motivam dúvidas quando se processa a análise de grupos verbais como «prolongar-se por várias cenas» ou «morar em casa com a mãe». 

4.  Na rubrica Pelourinho assinala-se um "erro da pandemia": a "distançia"...  apanhada pelo «maldito vírus»...

5. As crianças são também motivo de preocupação pela situação de ensino à distância, que marca a sua aprendizagem no momento atual. O afastamento da escola pode, todavia, encobrir situações de violência ou de negligência, pelo que é importante que educadores e professores se mantenham atentos a alguns sinais, como os que enumera Rute Agulhas, especialista em psicologia clínica e familiar, no seu artigo publicado no Diário de Notícias (aqui transcrito com a devida vénia).

6.  A Antena 1 estreia nesta data o programa Serviço Público — Bloco de Notas, destinado  ao apoio dos alunos dos 11.º e 12.º anos na preparação para os exames nacionais em Portugal, nas disciplinas de Português, Matemática, História, Biologia e Geologia, entre outras (ver notícia). 

 7. O universo infantil adapta-se de forma extraordinária às mensagens que a música traz consigo, e as aprendizagens podem também ser veiculadas de forma muito eficaz através de recursos musicais. Por essas razões e porque o dia é especial para as crianças, deixamos aqui a sugestão de algumas músicas que poderão dar outra cor ao Dia Mundial da Criança. Tratam temas relacionados como os professores, os alunos e até aulas sobre gramática: «Um bom professor, um bom começo», «O nome dela é crase», de Prof. Noslen, «Estudo errado», de Gabriel o Pensador, «Anjos da guarda», de Leci Brandão, «Ao mestre com carinho», de Eliana, «Professor e professora»,  de Jair Oliveira, «Patati Patatá – Homenagem à professoras». Existem estudos e apontamentos diversificados que apontam para a  importância da música na construção das aprendizagens, tanto da língua materna como da língua estrangeira. Entre eles, destacamos «Canção: letra e música no ensino de português como língua adicional» , «O uso da Canção no ensino do Português como língua estrangeira», «Música no ensino de gramática», «A MPB e sua contribuição para a língua portuguesa», «Música como ferramenta pedagógica no ensino de língua à luz da gramática analítica reflexiva». Para terminar, uma sugestão a recordar a importância do livro físico e das sensações na aprendizagem: «O cheiro dos livros», do grupo musical Cabeças no Ar:

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Fala-se de «janelas para o mundo», e evocam-se imagens de libertação. Depois, diz-se «portas trancadas», e o temor assalta o espírito. Em O nosso idioma, a  professora Carla Marques, consultora  permanente do Ciberdúvidas, vira mais uma vez a sua atenção para as metáforas motivadas pelas vivências da presente crise sanitária, com um novo texto. Desta vez, a autora revela como o campo lexical do vocábulo casa é fonte de um discurso onde se inscreve o sempre difícil equilíbrio entre as liberdades e a necessidade de proteção.

Na imagem, Casas (1957), de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa (fonte: MatrizNet).

2. Em Portugal, fazendo frente à propagação do SARS-CoV-2 – também chamado «(novo) coronavírus» –, o Governo renova a situação de calamidade, anunciando a passagem à terceira fase do desconfinamento, ainda com restrições sobre a utilização e desfrute dos lugares públicos (ver notícia do jornal Público em 29/05/2020 e infromações sobre a covid-19 na RTP Notícias). E, apesar das temperaturas estivais no país, a gerarem a ânsia por mar e praia, a opção mais segura continua a ser o recolhimento doméstico. Prossegue, portanto, na rubrica O nosso idioma a atualização de "A covid-19 na língua", glossário que dando testemunho da evolução desta crise e da sua verbalização sobretudo mediática, se apresenta agora repartido por uma página principal e 25 páginas organizadas por ordem alfabética (cf. abertura de 27/05/2020). Neste dia, têm entradas poluição, pré-pandemia, propileno, robusto e «momento Delors», uma expressão criada pelo presidente da República Portuguesa ao referir-se à proposta  da Comissão Europeia para um fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros destinado à minimização dos efeitos económicos e sociais da pandemia. Uma referência também para desconfinamento máscara, a cujos registos se juntou nova informação.

3. O combate ao coronavírus é igualmente mote para uma nova questão em linha no Consultório: com «perímetro de segurança», que verbo é mais adequado – criar, montar ou estabelecer? E, a propósito da investigação sobre a covid-19, o que é melhor: «evidências científicas», ou «provas científicas»? A sintaxe volta a marcar presença: será que o pretérito imperfeito e o pretérito perfeito do indicativo podem combinar-se na mesma frase – por exemplo, «quando vivia em Luanda, a Mariana visitou Benguela»? Finalmente, uma pergunta sobre pontuação: têm vírgula as orações subordinadas substantivas que ocorrem em «quem vai ao mar perde o lugar» e «que a praia está cheia já se sabe»?

4. De França, chegam notícias preocupantes sobre as condições de aprendizagem da língua portuguesa entre crianças lusodescendentes. Numa entrevista à agência Lusa (27/05/2020), Carla Dugault, copresidente da Federação dos Conselhos de Pais e Alunos (FCPE), alerta para a redução da oferta na rede de escolas públicas francesas, assinalando que «o inglês [é] para toda a gente e o português acaba por ficar um pouco para o ensino à distância»; e acrescenta: «O ensino do português depende das mairies [câmaras municipais], portanto não sei se o governo português fez esse trabalho para que a língua se aprenda nas escolas. Não me parece que se tenham batido muito por isso» (ver também publicação digital Lusojornal).

4. As épocas de crise económica e social favorecem o choque de interesses e mal-entendidos, bem como a exploração destes por mentes vocacionadas para o conflito. Os tempos que atravessamos justificam, portanto, o registo da comemoração, na presente data, do Dia Internacional das Forças de Manutenção da Paz pela Organização das Nações Unidas. Apesar de um passado não isento de críticas, os chamados capacetes-azuis mantêm-se como pilares fundamentais para impedir o regresso da guerra, em todo o mundo. E a propósito do acrónimo ONU, relembre-se o já relembrado inúmeras vezes: a pronúncia correta é "onú", e não "ónu", visto o u final e a falta de acento gráfico indicarem que a palavra é aguda – ou oxítona –, tal como bambu, Peru ou tabu.

5. Maria Velho da Costa (Lisboa, 1938-2020) , recentemente falecida, é a figura em destaque nos dois programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa. No Língua de Todostransmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 29 de maio, pelas 13h20*, o professor António Cabrita, da Universidade Eduardo Mondlane, sobre a vida e obra desta escritora portuguesa; o tema é também abordado no programa Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 31 de maio, pelas 12h30*, com entrevistas às professores universitárias Ana Luísa Amaral (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e Helena Buescu (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Dar-se-á igualmente destaque  ao tão atual verbo «confinar» – com um apontamento a cargo da professora Carla Marques.

Na imagem à direita, as "Três Marias" – da esquerda para a direita, Maria Velho da CostaMaria Teresa HortaMaria Isabel Barreno – na época do célebre processo judicial que contra elas foi movido por causa da publicação de Novas Cartas Portuguesas (1972).

O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 30 de maio, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 6 de junho, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Alguns nomes zoológicos ou botânicos, como baleia-de-bryde, adotam na sua formação o nome de quem descobriu a espécie ou a estudou. Este processo suscita, no entanto, uma dúvida: este mesmo nome próprio, normalmente um apelido, deverá continuar a ser grafado em maiúscula no interior da nova palavra? No Consultório, pode ainda consultar respostas no âmbito da sintaxe: as preposições "atípicas", como menos, obrigam à forma oblíqua do pronome? E em «estar mal da cabeça», qual a função do sintagma preposicional? Por fim, uma resposta relacionada com a forma da interjeição ó (ou ô) e com a necessidade de vírgula quando colocado à cabeça de um vocativo.

2. A covid-19 na língua, um projeto desenvolvido pelo Ciberdúvidas desde o início da crise sanitária, cresceu em consonância com o dinamismo lexical que a língua tem acusado e que tem marcado este período das nossas vidas. Por essa razão, para facilitar o acesso ao seu conteúdo, o glossário encontra-se agora organizado por entradas alfabéticas, que correspondem a ficheiros independentes. Para efetuar uma consulta, basta clicar, no documento principal, na letra que inicia cada palavra ou expressão. Para além do já longo repertório que se guarda para memória futura, o documento inclui as seguintes novas entradas: «Abraços (e beijos) virtuais», «à porta fechada», calamidade, confinante, «economia virtual», «economia zombie», «etiqueta respiratória», «geração da pandemia», metáforas«momento Hamilton», nanovacina, «nova vida», paliar, precariado, reconfinamento, retoma e  «síndrome da cabana», supercontagiadores e «trabalhadores itinerantes».

3. O dinamismo lexical motivado pela covid-19 é também tema do apontamento «A criatividade lexical de uma pandemia», da professora universitária Luísa Ribeiro Ferreira, publicado originalmente na plataforma 7 margens. Um texto que explora novos significados e expressões, como «equipamento de proteção» ou «higienização das mãos», que dizem a nova realidade que vivemos. 

4. À volta da língua e da sua diversidade motivada pela variação temporal, geográfica e contextual encontra-se a crónica da professora Margarita Correia, que, congratulando-se com a riqueza desta nossa língua, não deixa de lembrar que é urgente saber como integrar esta visão de uma língua internacional e pluricêntica no ensino e, no âmbito político, Recorda que é fundamental passar a tratar estas questões «com abertura, clareza, conhecimento e honestidade e que medidas venham a ser tomadas com fundamentação e inteligência» (texto publicado no Diário de Notícias, aqui transcrito com a devida vénia).

5. Os maus-tratos infligidos ao português motivam um apontamento da professora Arlinda Mártires, divulgado na rubrica Pelourinho, onde analisa algumas "pérolas" oferecidas por programas televisivos aos seus espetadores. É o caso da expressão «ouvidos de "marcador"» ou da conjugação do verbo manter no pretérito perfeito do indicativo, com a forma "manteu".  

6. A origem da palavra água é o tema da crónica divulgada pelo professor e tradutor Marco Neves, que identifica o termo em várias línguas europeias, indo, de seguida, até ao latim e daí até à forma proto-itálica e, mais distante ainda, à forma proto-indo-europeia.Um percurso que, no entanto, dificilmente se poderá continuar em busca de palavras mais antigas, o que leva o autor a concluir que será uma «quimera tentar descobrir as primeiras palavras humanas» (texto divulgado originalmente no blogue do autor Certas Palavras). 

7. A probabilidade de o ensino à distância se manter durante o próximo ano letivo como medida complementar é, segundo a investigadora e historiadora Raquel Varela, uma catástrofe anunciada. Na sua ótica, o que se promove é a automação da educação, que vem resolver o problema da falta de professores, mas terá sérias consequências pessoais para todos os envolvidos no processo, para além de promover uma aprendizagem deficiente (apontamento divulgado no blogue da autora).

8.  Na literatura mundial, o tema da pandemia com as suas consequências devastadoras é tratado por diferentes autores com abordagens muito distintas. Numa altura em que a pandemia passou da ficção à realidade, obras desta natureza tornam-se muito apetecíveis. Neste contexto, a professora universitária Lilia Schwarcz recorda um conjunto de obras fundamentais, como O Alienista, de Machado de AssisA Peste, de Albert Camus, Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago ou O Amor nos Tempos de Cólera, de Gabriel García Márquez (artigo divulgado no jornal Nexo).

9. De Bragança, chega-nos a notícia de que a construção do Museu da Língua Portuguesa terá início no próximo mês de novembro, com uma conclusão estimada para 2022 (notícia). 

10. Os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa tratam esta semana uma mesma personalidade: a escritora, recentemente falecida, Maria Velho da Costa, recordada num depoimento do professor António Cabrita*, da Universidade Eduardo Mondlane e das professoras universitárias Ana Luísa Amaral (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e Helena Buescu** (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) (notícia aqui).

 

* No programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 29 de maio, pelas 13h20*, com repetição no sábado, dia 30 de maio, depois do noticiário das 09h00. 

** No programa Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 31 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 6 de junho, às 15h30.

 Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. Morreu Maria Velho da Costa (Lisboa, 26/06/1938- 23/05/2020), figura maior da renovação da ficção portuguesa das últimas décadas. Tendo-se consagrado como romancista em 1969 com Maina Mendes, escreveu pouco depois, com Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Teresa Horta (1938), as Novas Cartas Portuguesas (1972), cuja denúncia da condição da mulher em Portugal e da sua menorização pela linguagem colocou as autoras no centro do chamado "processo das Três Marias", um dos confrontos mais marcantes do final do regime político anterior ao 25 de Abril de 1974. Nos anos seguintes, assina títulos como Casas Pardas (1977), Lucialima (1983), Missa in Albis (1988), Dores (1994), Irene ou o Contrato Social (2000) ou Myra (2008). É igualmente de realçar a sua escrita de argumento cinematográfico, área em que deu importante contributo, contando colaboração com os realizadores portugueses João César Monteiro (1939-2003), Alberto Seixas Santos (1936-2016) e Margarida Gil. Foi autora muito premiada, sendo de destacar, em 2002, o Prémio Camões (2002) e, em 2013, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Por ocasião da cerimónia de entrega deste último, a escritora, retomando o tema da natureza da palavra literária, sublinhou: «Os regimes totalitários sabem que a palavra e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo. Por isso queimam, ignoram e analfabetizam, o que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza» (fonte: RTP Notícias, 24/05/2020). Sobre o alcance da criação estético-literária e da ação cívica desta escritora portuguesa, sugere-se a leitura do artigo "Maria Velho da Costa: a palavra literária em estado de apoteose", artigo que o professor universitário, ensaísta e jornalista António Guerreiro lhe dedicou no jornal Público em 24/05/2020.

2. A propósito dos problemas que afetam atualmente o funcionamento dos media, tornam-se recorrentes os termos infodemia e desinformação. São eles sinónimos? Ou haverá entre eles um vincado contraste semântico? E uma expressão como «infodemia da desinformação», será ela redundante ou contraditória? Na presente atualização do Consultório, dá-se um parecer sobre o tópico de todas estas interrogações e acolhem-se respostas a outras questões: as locuções «como que» e «como se» empregam-se da mesma maneira? Qual é a origem do topónimo Creiro (Setúbal)? E que alternativa existe ao anglicismo upcycling?

3. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia um trabalho do jornalista André Manuel Correia (Expresso, 23/05/2020) sobre o poliglotismo em Portugal, país onde ao mesmo tempo se descobre hoje um cenário de multilinguismo que há décadas se desconhecia ou ignorava.

4. A violência pela palavra tem a forma do insulto. Que histórias de sujeição do corpo e da sexualidade encerram os vocábulos ofensivos? Sobre o tema da homossexualidade, João Nota explora uma série de tabuísmos num artigo publicado originalmente em 23/12/2016 no blogue esQrever, dedicado a temas LGTBI, e agora também consultável em O nosso idioma.

5. Se hipopótamo é, etimologicamente, um composto de origem grega em que hipo- significa literalmente «cavalo», então uma pessoa com hipotensão tem «tensão de cavalo»? Muito longe disso, explica João Nogueira da Costa num apontamento igualmente disponível em O nosso idioma, à volta das palavras, das suas relações semânticas e das suas origens.

6. Na perspetiva da renovação do léxico e das unidades que caem em desuso, registo também para o episódio que a série O Tamanho da Língua, produzida em 2018 pela Folha de S. Paulo, dedica a este respeito:

 

 

7. Explorando o filão da criatividade linguística, tem ainda registo um texto saído no jornal Público em 24/05/2020 e da autoria do escritor Miguel Esteves Cardoso, que aí propõe que o termo inglês entitlement, «direito, prerrogativa», seja traduzido, com pitoresco, pela expressão «carapausismo de corrida» – um neologismo derivado da expressão «carapau de corrida».

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1. A forma como se perceciona a realidade resulta de um processo cognitivo que a língua filtra. Este mecanismo, que está na base da criação do campo conceptual onde as metáforas de desenham, tem sido particularmente produtivo no contexto da crise pandémica que se atravessa. Analisando estes movimentos linguísticos, a professora Carla Marques propõe no seu apontamento «Das linhas de trincheira ao olho do furacão» uma viagem pelas metáforas que perspetivam a situação da covid-19 convocando a realidade da guerra ou a das catástrofes naturais. Noutros domínios da língua, a ação do novo coronavírus continua a contribuir para o alargamento do campo lexical que se constrói em seu torno. Desta realidade damos conta dos novos termos e expressões introduzidos no glossário do A covid-19 na língua: «Abraços (e beijos) virtuais», «economia zombie», «geração da pandemia», nanovacina,  «momento Hamilton», «nova vida», paliar, reconfinamento e  «síndrome da cabana». 

2. Será lícito aportuguesar nomes de autores de obras literárias? Esta é uma das questões que nos chegaram e a que respondemos na atualização do Consultório, onde analisamos ainda perguntas como «Qual a grafia de claviarpa?», «A que classe pertence conforme?», «Padre é nome biforme ou uniforme?». Por fim, identificam-se os atos de fala configurados num conjunto de enunciados. 

3. Em Portugal, «dá-se a alguém», no Brasil, «dá-se para alguém» com frequência. Esta é uma das muitas diferenças entre as variantes europeia e brasileira. Dando conta desta realidade, o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi explica, no artigo «Ah, que saudade do a!», que este afastamento resulta de uma evolução do português brasileiro, que foi abandonando gradualmente a preposição a, pedida por verbo dicendi ou dativa, para a substituir por para

4. Podemos ter saudades de uma pessoa, de um local e também de uma construção linguística porque a língua é espaço de afetos. Isso mesmo recorda a colaboradora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques, ao associar, num artigo divulgado em 2011, as reações ao acordo ortográfico aos sentimentos que a língua estimula nos falantes, ao mesmo tempo que recorda que a ortografia sempre foi convencional e um produto humano. 

5. O professor universitário e tradutor Marco Neves divulgou no seu blogue Certas Palavras um excerto da obra ABC da Tradução – um apanhado de palavras, de A a Z, que descrevem a atividade da tradução – e um outro seu livro, Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português«Volta à França» é erro de português? 

6. Os estudiosos da língua têm ao seu dispor o sítio Fontes Linguísticas do Português, um espaço da responsabilidade do professor e lexicógrafo João Paulo Silvestre, que organizou uma vasta bibliografia, relacionada com o percurso da gramática portuguesa, num período compreendido entre os séculos XVI e inícios do XX. Organizada em três secções, Gramática, norma e ensino, Dicionários Reflexões metalínguísticas, esta será uma fonte de consulta privilegiada para quem procura conhecer não só a história da língua portuguesa como também a da linguística portuguesa. 

 7. Num momento em que, em Portugal, se anuncia que no próximo ano letivo o ensino terá uma componente em casa, é tempo de refletir sobre o modelo de ensino à distância criado em resposta à necessidade de confinamento. Há quem defenda que o verdadeiro ensino não pode acontecer à distância (artigo do jornal Público). Noutra perspetiva, os professores da "nova telescola" contam como foi difícil o processo de preparação do projeto #EstudoEmCasa (aqui). Noutro sentido, o ministro da educação Tiago Brandão Rodrigues anunciou que o ministério está atento às possíveis inflações das classificações dos alunos e que os exames nacionais serão ajustados à situação excecional que se vive (aqui). 

8. Embora o desconfinamento vá abrindo portas e convide os portugueses a sair de casa, ainda não é possível, por exemplo, ir ao cinema. Por essa razão, a Medeia Filmes continua a disponbilizar, na sua Quarentena Cinéfila, filmes que poderão ser vistos em casa (cf. os filmes em exibição). 

9. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, destacamos o tema do ensino do português no Instituto Politécnico de Macau e na China em geral, que se repercute nos países africanos de língua oficial portuguesa (no Língua de Todosemitido pela RDP África*)  e o projeto Património léxico da Gallaecia (no Páginas de Português, da Antena 2**) 

* Na sexta-feira, dia 22 de maio, pelas 13h20, com repetição no sábado, dia 23 de maio, depois do noticiário das 09h00.

** No domingo, dia 24 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 30 de maio, às 15h30

10. A última série do magazine televisivo Cuidado com a Língua! continua a ser repetida na RTP2. No sábado (23/05) e no domingo (24/05), será possível rever os programas dedicados ao veterinário e ao ourives. Mais pormenores aqui.

Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormentaqui e aqui

 

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1. É palavra pequenina, mas com grande capacidade para abranger muitos valores semânticos. Trata-se da conjunção e, cuja polissemia é o tópico de uma das respostas da presente atualização do Consultório. Outra questão diz igualmente respeito ao funcionamento da língua, a do uso do verbo ficar no modo imperativo. Somam-se ainda duas perguntas sobre a variação da língua em Portugal: primeiro, revela-se que a interjeição , característica dos falantes de Trás-o-Montes,  também se pronuncia e escreve como ; depois, fala-se da ilha das Flores, ao abordar um topónimo de grafia instável, que se encontra na freguesia da Fajã Grande: é "Quada", "Cuada" ou "Coada"?

2. A proliferação de conteúdos informativos, quantas vezes produzidos sem critério, motivou a criação da palavra infodemia, – já aqui comentada em 03/02/2020 –, para denotar essa avalanche de notícias e comentários desencontrados que confundem as mentes. A cobertura mediática da pandemia causada pelo novo coronavírus não fugiu a este problema, e, portanto, regista-se a entrada deste termo em A covid-19 na língua, que acolhe ainda outra palavra, hostel, também objeto de outros comentário feitos anteriormente (aquiaqui e aqui).

3. Acerca do combate à desinformação, na rubrica Notícias, dá-se conta da criação, pela equipa do centro de investigação de sociologia MediaLab CIES  do  ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), da plataforma CovidCheck.pt, que visa  o esclarecimento das principais questões sobre a pandemia do novo coronavírus, à volta da qual também se gerou um autêntico surto de infodemia, frequentemente pelas redes sociais.

4. Na rubrica Ensino, transcreve-se com a devida vénia o artigo que a linguista Margarita Correia assinou no Diário de Notícias de 20/05/2020, a propósito do multilinguismo nas escolas portuguesas.

5. Em O nosso idioma, disponibiliza-se o acesso a um minicurso sobre a norma culta brasileira concebido e ministrado pelo linguista brasileiro Carlos Alberto Faraco. São cinco aulas com base no livro Norma Culta Brasileira — Desatando Alguns Nós (editora Parábola), publicado em 2008 por este autor, que, em 2016 também lançou outro título muito importante: História Sociopolítica da Língua Portuguesa.

6. Outro trabalho notável vindo do Brasil: a série de vídeos intitulada O Tamanho da Língua que a Folha de São Paulo produziu sobre a língua portuguesa, a sua história e o seu uso diversificado, com a participação de vários especialistas. Na rubrica O nosso idioma igualmente se dá acesso a estes registos, que conseguem divulgar as muitas faces da língua em tom descontraído sem faltar ao devido rigor documental e científico.

7Temas realçados nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa:

no Língua de Todos , que vai para  o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 22 de maio, pelas 13h20* (é repetido no sábado, dia 23 de abril, depois do noticiário das 09h00),  o ensino do português no Instituto Politécnico de Macau e na China em geral, que se repercute nos países africanos de língua oficial portuguesa;

no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 24 de maio, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 30 de maio, às 15h30), apresenta-se o projeto Património léxico da Gallaecia, coordenado pelo Instituto da Lingua Galega e com a participação de uma equipa do Centro de Linguística da Universidade do Porto e outra do Centro de Estudos em Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui