Como explica o seu prefaciador, Carlos Ascenso André, esta obra responde ao desafio que o Instituto Politécnico de Macau lançou ao autor no sentido (ambicioso) de dar continuidade à História da Literatura Portuguesa de António José Saraiva e Óscar Lopes. O resultado é um livro extenso, espraiado, de escrita por vezes torrencial e compacta, com o objetivo de cobrir uma matéria gigantesca: as literaturas em língua portuguesa.
Dividido em 20 capítulos, os primeiros 14, que desenvolvem «um percurso lesto, mas não menos rigoroso»1 em pouco mais que 230 páginas, são dedicados a toda a literatura em português, até começos do século XX sobretudo devedora de modelos projetados de Portugal, apesar dos claros sinais de autonomia brasileira ao longo do século XIX. Os outros 16 capítulos constituem, portanto, mais de metade da obra, que se centra, assim, na definição dos diferentes polos literários nacionais que hoje conferem ao português o estatuto de língua literária polifacetada e policêntrica. Esta constatação confirma o que o próprio autor, José Carlos Seabra Pereira, anuncia na Apresentação (p.13):
«Outro aspeto insólito deste estudo reside no facto de contrariar o pendor tradicional para minucioso e dilatado tratamento das épocas mais distantes, em contraste com uma atenção mais sumária, se não apressada, à época contemporânea. No presente ensaio invertem-se as dimensões dos respetivos capítulos, com nítida expansão a partir da viragem para o século XX e decidida progressão pelos terrenos da literatura hodierna.»
O plano da exposição inspira-se, como Seabra Pereira também assinala (p. 14), na ideia de «comunidade interliterária», conforme o teórico literário eslovaco Dionýz Ďurišin (1929-1994) a formulou.
Para o estudante ou o leitor mais desprevenidos, pode tratar-se de um livro surpreendentemente exigente, mas o dicionário onomástico que o remata revela-se um auxiliar precioso para a sua consulta. Faz falta um índice temático, que com certeza terá tempo para figurar numa próxima edição, atendendo a que a motivação da obra foi tornar acessível o conhecimento da criação literária em português não só aos estudantes chineses, mas também, como se lê no prefácio, «a todo um vasto universo de potenciais interessados, em qualquer parte do mundo» (p. 11).
1 Ler a nota de leitura de Guilherme d'Oliveira Martins na página do Centro Nacional de Cultura.
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