1) O adjetivo nicolino tem como base de derivação a forma nicol-, que integra o nome próprio Nicolau.
2) O culto a São Nicolau parece limitar-se à cidade de Guimarães, no que se configura como uma tradição urbana, ao que parece pouco ligada às tradições rurais das outras freguesias do respetivo concelho. Com efeito, lê-se em As Festas Nicolinas, em Guimarães: tempo, solenidade e riso (coord. Jean-Yves Durand, Município de Guimarães, 2018, p. 7):
«[...] [A] notoriedade das celebrações que Guimarães dedica todos os anos a São Nicolau é muito reduzida fora do concelho e, até a uma época recente, nas freguesias rurais mais afastadas da cidade, evocar as «Nicolinas» nem sempre suscitava grandes reações. Antes da sua popularização a partir do início do século XX, as Festas Nicolinas parecem ter sido conhecidas sobretudo como «Festas de São Nicolau» ou «Festejos Escolásticos a São Nicolau». A designação hoje corrente foi adotada a partir do uso da expressão «a festa nicolina» no Pregão de 1904, escrito por João de Meira, uma figura intelectual da cidade no início do século XX, e ofusca agora por inteiro as outras denominações, as quais podem ainda surgir ocasionalmente em contextos formais ou eruditos, como é o caso de «Festejos a São Nicolau».»
Segundo a mesma fonte (p. 41 e ss.) o culto será relativamente tardio, por comparação com outros da região:
«[...] [O] culto deste bispo oriental só se consolidou no Ocidente após a transferência das suas relíquias para Bari, em 1087. Prova disto constitui o Censual de D. Pedro, bispo de Braga, que não regista qualquer mosteiro ou igreja consagrada a São Nicolau, o que evidencia o desconhecimento deste santo no noroeste peninsular. Segundo Francisco Carvalho Correia, só a partir do século XII é que assistimos ao esboçar de uma devoção, ainda que incipiente (...).
«A par dos circuitos religiosos, as rotas mercantis exerciam igualmente influência sobre Guimarães, com maior incidência a partir do século XV. Este aspeto prenuncia outra possível via de entrada do culto nicolino na vila, uma vez que mercadores e homens do mar tinham São Nicolau como seu patrono [...].Uns e outros podiam ser encontrados a percorrer a Guimarães quinhentista, após terem feito escalas nos portos de França e da Flandres, regiões onde o culto a São Nicolau se encontrava enraizado [...].»
O culto a São Nicolau dever-se-á, então, aos contactos com os Países Baixos, no contexto da intensificação das relações comerciais de Portugal com os portos do Mar do Norte na Baixa Idade Média.
N. E. (17/02/2021) – Consulte-se a página Velhos Nicolinos.