DÚVIDAS

O uso de si como 2.ª p. do singular

Pensava eu que só em Portugal se dizia «Para/a si, de si, por si, consigo» fora do valor reflexivo, mas leio Nelson Rodrigues e tenho uma surpresa com a reprodução dum diálogo:

«Dr. Alceu, reze menos por mim. Se quiser, não reze nada. Mas seja meu amigo. Apenas isso: — meu amigo. E, se insiste em rezar, vamos fazer uma permuta: o senhor reza por mim e eu rezo POR SI.»

A crônica foi escrita em dezembro de 1967, mas o facto deve ter ocorrido uns dez anos antes, pelo que conheço do coleguismo de Alceu Amoroso e Nelson Rodrigues.

A primeira pergunta é: o autor estava imitando um procedimento típico de Portugal ou já existia no Rio à época? Fico um tanto dúbio porque até a primeira metade do século XX lá ainda se usava a segunda pessoa do singular corretamente. Quando surgiu este valor do pronome si em Portugal? Isto é, quando deixou de ter só valor reflexivo?

Resposta

Agradecemos a informação.

No Corpus do Português, não encontramos ocorrências de si com valor de 2.ª pessoa do singular anteriores ao século XIX, que, como se espera, se detetam em textos de autores portugueses oitocentistas (Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis).

Não obstante, também se pode identificar este uso em cartas de Machado de Assis, o que pode sugerir que, pelo menos, na cidade ou na região do Rio de Janeiro, não era desconhecido.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa