Cem Papas na Língua, da autoria professora Lurdes Breda e ilustrado por Tânia Clímaco, assenta precisamente numa centena das nossas mais conhecidas expressões idiomáticas * – "desdobradas" tematicamente em outros tantos contos cheios de humor, nonsense, sátira pura, duplos sentidos, regionalismos, situações e personagens caricaturadas nos cenários mais picarescos.
São os casos, entre outros, de Adérito Escacha-Pessegueiro, Adriano e Clarisse Bivalve, Apolinário Boa-Praça, Asdrúbal Peixe-Morto e Hermília Lampreia, Baronesa Hortênsia Buonasera, Belmira Papo-Seco, Benjamim Papa-Santos, Dona Alzira Sineira, Dona Preciosa da Purificação, Dom Cornélio Procópio, Godofredo Boa-vai-ela, Frei Saul Pia-Fino, Asdrúbal Peixe-Morto, Gertrudes Maçaroca, Genoveva Farturinha, Godofredo Boa-vai-ela, Ifigénia Bichaneiro, Irineu Scabecha, Doutor Pi de Menta, Juca Calda Bordalesa, Júlia Flanela, Mané Padeiro, Natália Bê-á-bá, Nicolau Pica-Miolos, Padre Anselmo Credo-Bataredo, Príncipe das Lentilhas Anglo-Saxónicas, Rita Beijo-de-Moça, Zacarias Papa-Moscas, Zé Concho “Taberneiro” ou de Zezito Papa-Léguas.
Como bem assinala no prefácio o escritor Afonso Reis Cabral, da torrencial inventiva da professora Lurdes Breda resultou um delicioso livro «para miúdos» – editado, por isso mesmo, pela Escola Portuguesa de Moçambique –, mas para ser lido, também, por «adultos [que] sejam miúdos vestidos de adulto.»
* As 100 expressões idiomáticas que funcionam como título-mote de cada cada um dos delirantes contos escritos por Lurdes Breda (e correspondentemente ilustrados por Tânia Clímaco ) incluem uma explicação sumária no índice remissivo do livro. Por exemplo, estas, de A a Z: «Andar com a cabeça na lua – Distraído, desatento, com o pensamento noutras coisas», «Andar a toque de caixa – Quando alguém tem de fazer qualquer coisa depressa, com tempo limitado e, simultaneamente a mando de alguém», «Arrastar a asa – Insinuar-se de forma romântica, cortejar», «Bater o dente – Estar com muito frio – ou com muito medo», «Bicho de sete cabeças – Estar diante de uma dificuldade que é quase impossível de se solucionar, algo muito complicado», «Cabeça de alho choco – Pessoa distraída, esquecida, com falta se senso», «Cantar de galo – Ter vantagem sobre algo ou alguém», «Chegar a roupa ao pelo – Bater», «Cor de burro quando foge – Cor que não existe», «Dar com os burros na água – Não conseguir levar avante um projeto, ser malsucedido», «De mão beijada – Receber algo gratuitamente, sem precisar de retribuir e sem encargos», «Enfiar o barrete – Assumir uma crítica ou alusão dirigida a outra pessoa, sofrer uma deceção, ser enganado ou pregar um partida, enganar, mentir»», «Engolir sapos – Suportar situação desagradável, aguentar contrariedade», «Esticar o pernil – Morrer», «Farinha do mesmo saco – Diz-se de pessoa que têm em comum as mesmas características, sobretudo pessoas de má índole ou comportamento», «Fazer vista grossa – Fingir que não vê, ou não perceber algo, ignorar», «Favas contadas – Contar que uma situação decorra conforma planeado, sucesso garantido», «Guardar a sete chaves – Algo que está muito bem protegido, um segredo muto bem guardado», «Ir pentear macacos – Parar de chatear, mandar embora», «Lágrimas de crocodilo – Fingir choro, sentimento de tristeza», «Lavar roupa suja – Falar a vida de uns e de outros», «Língua de trapos – Pessoa incapaz de guardar um segredo, faladeira, sobretudo da vida alheia, trapalhona no falar», «Meter o carro à frente dos bois – Inverter uma situação, querer o resultado de uma situação sem completar todas as etapas», «Meter o nariz onde não é chamado – Intrometer-se nalguma coisa que não lhe diz respeito», «Não chegar aos calcanhares – Ser muito inferior», «Não entender patavina – Não entender nada», «Nem chus, nem bus – Sem uma única palavra», «O gato comeu a língua – Uma pessoa muito calada ou que não responde», «Onde Judas perdeu as botas – Lugar muito distante, difícil de alcançar ou inacessível, «Pôr as barbas de molho – Desilusão por não conseguir algo», «Pôr-se a pau – Ficar alerta, atento, acautelar-se», «Sangria desatada – Que é urgente, não pode esperar», «Sem pés nem cabeça – Sem lógica ou fundamento», «Ter dois dedos de testa – Ter inteligência», «Ter lata – Ter descaramento, desembaraço, à-vontade, desfaçatez, cinismo», «Ter um parafuso a menos – Ser amalucado, não ter juízo, desequilibrado mentalmente», «Vira-casacas – Pessoa que muda frequentemente de opinião segundo os seus interesses».
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