O nome comum infodemia tem como significado «excesso de informação sobre determinado tema, por vezes incorreta e produzida por fontes não verificadas ou pouco fiáveis, que se propaga velozmente» (Dicionário Priberam). No dicionário enciclopédico Infopédia, define-se o termo como «fluxo excessivo de informações sobre determinado assunto (sobretudo se veiculada por fontes não fidedignas, tornando o esclarecimento mais difícil)». No Dicionário inFormal, é definido como «universo de informação falsas, muitas fake news». E, a Real Academia Galega define-o como «propagación rápida e abundante de información falsa entre as persoas e os medios informativos». No wiktionary, encontramos a seguinte definição «an excessive amount of information concerning a problem such that the solution is made more difficult».
A todas estas definições, oriundas de dicionários diferentes e de diferentes países é comum o traço semântico de «excesso de informação». Alguns associam à palavra também o traço «informações falsas». Ora, se adotarmos esta perspetiva que relaciona os dois traços semânticos à palavra infodemia, a sua combinação com desinformação estabelece uma relação de certa redundância que permite conceber a expressão «infodemia de desinformação» como pleonástica, pois o significado de desinformação, «ato ou efeito de desinformar, de suprimir uma informação, de minimizar a sua importância ou de modificar o seu sentido” ou «informação contrária à verdade, capaz de confundir ou de induzir em erro» (Priberam), estará, pelo menos em parte, incluído na palavra infodemia.
Não obstante, não podemos esquecer que infodemia é uma palavra recente, pelo que os seus significados estão ainda a estabilizar. Neste processo de definição da referência da palavra, encontramos outros usos que associam o significado da palavra apenas ao traço «excesso de informação», o que, aliás, corresponde à definição apresentada no Wiktionary e na Infopédia. Uma breve pesquisa permite detetar este uso na imprensa:
(1) « aquela ‘infodemia’, que é a epidemia de fake news (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
(2) «Infodemia que é nada mais nada menos que o verdadeiro bombardeio de informações» (jornal Sentinela do Oeste)
(3) «o chanceler italiano Luigi Di Maio alertou que uma “infodemia” (uma epidemia de “informações falsas no exterior”)» (revista Fórum)
Ora, sendo esta a significação que se associa à palavra, a sua combinação com «de desinformação» ganha outra dimensão. Antes de mais, sublinhe-se que o sintagma nominal «infodemia de desinformação» é composto por um nome nuclear, infodemia, modificado por um grupo preposicional, «de desinformação», que tem aqui a função de classificador. Em termos semânticos, um grupo preposicional classificador, introduzido pela preposição de, pode identificar um tipo específico da realidade designada pelo nome nuclear. Assim, em (4), o grupo preposicional «de desporto» identifica um subtipo de sapatilhas, estabelecendo uma relação semântica de classe-elemento:
(4) «sapatilhas de desporto»
De igual modo, a expressão «infodemia de desinformação» pode referir um tipo de infodemia, concebendo a expressão como «um tipo de excesso de informação que visa a desinformação».
Esta mesma interpretação pode justificar o uso identificado em (5):
(5) «infodemia de notícias falsas» (Correio do Minho)
Aqui a expressão é usada como equivalente a «um tipo de excesso de informação composta de notícias falsas».
Disponha sempre!
Cf. Fake news: o Brasil é crédulo e educação midiática é saída