A proposta de interpretação dos valores semântico-pragmáticos revelam sensibilidade na análise das construções envolvidas. Pode, no entanto, ser aperfeiçoada com base em análises já existentes em torno da clivagem em português1.
As construções apresentadas pelo consulente são exemplos de processos de clivagem distintos, como
(i) Clivada canónica:
(1) «É a pratica da leitura que gera conhecimento.»
(ii) Clivada é que:
(2) «A sombra das montanhas de Minas é que conduz à reflexão.»
(iii) Pseudoclivada invertida:
(3) «Na praia de Copacabana é onde transitam belas mulheres.»
Em termos semântico-pragmáticos, as construções clivadas é que (frase (2)) são tipicamente usadas para assinalar o contraste. Em (2), a intenção do locutor será a de indicar que é a sombra e não outro elemento que conduz à reflexão.
Por seu turno, as clivadas canónicas (1) e as pseudoclivadas (3) estão ao serviço da focalização de um constituinte da frase, que, em termos informacionais, ganha relevo com a construção. Não obstante, é também possível que estas construções marquem um foco contrastivo. Relativamente às frases (1) e (3), só a análise do contexto permitirá aferir com maior rigor a intenção que se associa à construção clivada.
Disponha sempre!
1. Para maior aprofundamento sobre este tema, cf. Martins e Lobo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2640-2663.