1. Atingindo a credibilidade da vida política e da informação mediática, além do Brasil, também circulam em Portugal as fake news (notícias falsas) – um anglicismo difundido à escala planetária. O Diário de Notícias de 21/10/2018 dá pormenores aqui e junta um texto de reflexão intitulado "Não há fake news. Chamam-se mentiras", da autoria da jornalista Catarina Carvalho, que desmonta o sentido do anglicismo e lança um alerta: «"Fake news", em inglês. "Fake" tanto quer dizer falsas como falsificadas – o que é algo mais correto, mas não chega. Também não há notícias falsificadas. Ou há notícias ou falsificações. Se começássemos por aqui, a falar claro, talvez fosse mais fácil encarar o fenómeno de frente e não de cernelha. E combatê-lo. Ou, pelo menos, evitar a suavização de algo tão perigoso porque ataca o discernimento para escolher que é a base da democracia.»
Ao termo inglês fake news – lembra neste seu artigo o professor universitário angolano Jonuel Gonçalves –, os franceses optaram pelo termo infox (amálgama de informação e intoxicação). «A versão francesa é mais útil pois permite ir além da noticia falsa, inclui o bullying político-cultural, o evento propagandístico disfarçado em colóquio, o uso de pretextos para deformar e difamar, etc. Não é exatamente componente novo, pois sempre existiu sob o nome de propaganda e ação psicológica para desqualificar adversários. Mas há, de facto, maior alcance nesses dois sentidos. É a mesma guerra de narrativas acompanhada de novos recursos técnicos na guerra de imagens. Sem imagens nada existe hoje. Tal como a velha propaganda, a primeira fase é de lançar dúvidas e tumultuar mentes; depois, até sob disfarce de movimentos sociais, apresentação de mensagens salvadoras ou condenatórias, assédio moral e exclusão das vozes discordantes.»
2. Na rubrica O nosso idioma, comentam-se outras palavras, igualmente capazes de gerar reações, como é o caso:
– do uso pejorativo dos zoónimos (nomes de animais), num apontamento da professora e linguista Carla Marques;
– dos nomes próprios tabu, num texto que o jornalista Alexandre Martins assina no Público 21/10/2018 (transcrição disponível na rubrica em referência);
– do verbo dragar, que, no estuário do rio Sado, à beira do qual se encontra a cidade de Setúbal (Portugal), pode significar ameaçar a existência dos golfinho, conforme refere a jornalista Rita Pimenta no Público de 21/10/2018 (artigo com o título original "Dragar", disponível também na rubrica em referência).
3. No Pelourinho, um erro de concordância do verbo faltar leva Sara Mourato a lembrar a falta que fazem a uma notícia a gramática e uma boa revisão.
4. O consultório recebe novas perguntas, em que a sintaxe é o tema predominante: qual é o sujeito da frase «ganharam os jovens a taça»? E o sujeito da frase «os responsáveis somos nós»? E estará a frase «o Brasil foi um espaço dominado pelos homens» na voz passiva? Completam a atualização duas perguntas sobre léxico, uma sobre câmera, sinónimo de «máquina fotográfica», e outra sobre o significado de tripulante.
5. Do que se publica de diferentes formas, na Internet ou fora, a respeito da língua portuguesa, salienta-se:
– da professora e consultora linguística Sara de Almeida Leite, um novo livro intitulado Para Acabar de Vez com o Mau Português, cujo lançamento está marcado para 26/10/2018, em Lisboa;
– mais um apontamento do blogue Certas Palavras, do tradutor e divulgador Marco Neves, que a propósito dos erros inventados, resultantes do desconhecimento da língua, foca, desta vez, a expressão «um beijinho grande», um paradoxo que, além de ter todo o sentido, não falta ao bom uso da língua (também disponível em O nosso idioma).