DÚVIDAS

A sintaxe do verbo lembrar: «lembra-lhes para regarem as flores»

Gostaria de saber qual das seguintes frases está correta:

«Lembra-lhes para regarem as flores.»

«Lembra-os para regarem as flores.»

«Lembra aos teus amigos para regarem as flores.»

«Lembra os teus amigos para regarem as flores.»

Muito obrigada pelo vosso trabalho.

Resposta

A primeira e a terceira frases estão corretas, estando as restantes incorretas.

O verbo lembrar pode assumir várias naturezas:

(i) verbo transitivo direto:

    (1) «Lembrei os tempos de infância.»

(ii) verbo transitivo direto e indireto, tendo como argumentos um complemento direito e um indireto:

    (2) «Lembrei a verdade ao João.»

(iii) verbo transitivo direto e indireto, tendo como argumentos um complemento direto e um oblíquo:

    (3) «Lembrei o João da verdade.»

Lembrar pode selecionar uma oração completiva com a função de complemento direto:

(4) «Lembra ao João que regue as flores.»

Não obstante, uma vez que o verbo rege a preposição de (como se observou em (3)), pode também selecionar uma oração completiva (finita ou não finita) com função de complemento oblíquo:

(5) «Lembrei o João de que regaria as flores.»

(6) «Lembra o João de regar as flores.»

Enquanto verbo diretivo, lembrar pode também ocorrer com para. Neste contexto, importa determinar qual a natureza de para, de modo a identificar a função sintática desempenhada pela oração completiva.

Uma regra básica para distinguir se para é uma preposição ou se é uma conjunção assenta na possibilidade de supressão. Veja-se o exemplo:

(7) «Ela lembrou para lhe regares as flores.»

Neste caso, não é possível substituir a oração introduzida por para por um pronome regido por esta preposição:

(8) «*Ela lembrou para isso.»

A pronominalização abarca toda a oração, incluindo para:

(9) «Ela lembrou isso.»

Este facto sugere que para não é uma preposição regida pelo verbo pedir, mas uma conjunção que introduz uma oração completiva. Por esta razão, a oração introduzida por para não tem a função de complemento oblíquo, mas a de complemento direto.

Nesta linha de pensamento, as frases (10) e (11) estão incorretas, uma vez que se a oração completiva desempenha a função de complemento direto (como se viu em (9)), o verbo não aceita outro constituinte com a mesma função1:

(10) «*Lembra os teus amigos para regarem as flores.»

(11) «*Lembra-os para regarem as flores.»

As frases corretas serão as que se transcrevem em (12) e (13):

(12) «Lembra aos teus amigos para regarem as flores.»

(13) «Lembra-lhes para regarem as flores.»

Se se optar pela construção com a preposição de, já o constituinte «os amigos» desempenhará a função sintática de complemento direto, pelo que as frases seguintes estão corretas:

(14) «Lembra os teus amigos de regar as flores.»

(15) «Lembra-os de regar as flores.»

Disponha sempre!

 

*assinala a agramaticalidade da frase.

1. Relativamente à construção com completiva, veja-se ainda as situações em que se aconselha o uso com para ou o uso com que neste apontamento.

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