O constituinte «um para o outro» desempenha a função de complemento relativo1 (complemento oblíquo, segundo o Dicionário Terminológico).
No verso do poema de Adélia Prado está presente uma construção recíproca. Esta construção tem lugar quando «As entidades que entram na relação descrita pelo predicador pertencem todas ao conjunto representado pelo antecedente, mas nenhuma delas está associada simultaneamente a dois papéis distintos num só subevento da situação geral descrita pela construção.» (Lobo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 2212)
Assim, na frase em apreço, existe um antecedente subentendido (equivalente a “as pessoas”) para o qual os pronomes «um…outro» remetem, indicando que cada pessoa realiza a ação de olhar para o outro (que se ama).
Em termos sintáticos, «um para o outro» corresponde a um grupo preposicional complexo que desempenha a função de complemento relativo (complemento oblíquo). A mesma função sintática estará presente se a frase for construída com um grupo preposicional simples, como em (1):
(1) «O João olhou para ele.» (para ele = complemento relativo / complemento oblíquo)
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1. Classificação usada, por exemplo, por Bechara in Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Lucerna, p. 347.