A tergiversação é uma atitude tão frequente em diferentes camadas da nossa sociedade e em diferentes ângulos políticos que até parece estranho que poucos reconheçam o seu significado quando a palavra se faz mostrar. Esta até parece uma daquelas situações em que se finge não conhecer algo ou alguém porque poderia ser incómodo revelar alguma familiaridade.
O que não deixa de ser verdade, porém, é que por todo o lado muito se tergiversa: um político não gostou da pergunta que lhe foi colocada, então tergiversa; um treinador sente-se incomodado com determinada situação, logo tergiversa; dizem-nos que sabem o que fizemos no verão passado e nós… tergiversamos.
A sonoridade do nome tergiversação é rubicunda como a palavra, obriga-nos a dar voltas para encontrar o ponto certo de articulação. É uma palavra que foge a ser dita, o que não espanta porque bate certo com o seu sentido: tergiversar é «arranjar desculpas», «andar com rodeios», para fugir a algum assunto incómodo ou para não revelar um segredo. Por isso, tergiversar pode também significar «virar costas», «esquivar-se». Se o assunto não nos interessa, tergiversar é sempre uma solução.
Tão densa é a significação do verbo que pode inclusive designar um crime que tem lugar quando um advogado defende, em simultâneo, o réu e o autor. Mas, até neste campo de significação percebemos que nos tribunais como na vida há quem opte por tergiversar, que é como quem diz jogar nos dois campos.
Uma coisa é certa: um falaz será sempre um tergiversador. Por isso, o melhor é rechaçá-lo para bem longe.