« (...) O nome formou-se como acrónimo de «doença do coronavírus 2019», mas poucas horas depois da notícia, as pessoas encurtaram-no ainda mais para simplesmente covid. (..)»
Em dezembro de 2020, fez trinta anos que a American Dialect Society (ADS) criou a tradição de selecionar anualmente uma Palavra do Ano. O que começou como um exercício excêntrico, baseado no modelo de Personalidade do Ano da Time, foi ganhando força à medida que editores de dicionários e outros grupos seguiram o exemplo.
Há uma década que supervisiono a seleção da Palavra do Ano da ADS como presidente da Comissão de Novas Palavras. Para este ano, mais de 300 concorrentes participaram num evento virtual [em 17/12/2020], gerando um debate animado sobre as nomeações para uma grande variedade de categorias.
Não faltaram termos inovadores, incluindo alguns apresentados anteriormente nesta coluna, como doomscrolling (obsessão por más notícias em linha, escolhida como Palavra Digital do Ano) e The Before Times (ou seja, «os tempos dantes», um termo para referir a era pré-pandemia, considerado o mais útil). Outras palavras importantes de 2020 incluem oysgezoomt, um termo iídiche que significa «fatigado pela sobrexposição ao Zoom», e Blursday [blur = «mancha, confusão»], para descrever a experiência de dias que parecem misturar-se durante o confinamento.
Mas, depois de muita discussão, o vencedor geral da Palavra do Ano foi uma palavra óbvia, que passámos a conhecer bem demais: Covid. É até difícil recuar ao começo de 2020 – também conhecido como «os tempos de antes» –, quando essas cinco letras não tinham significado. O mais próximo a que se conseguiu chegar foi corvid [«corvídeo»], conhecido pelos amantes de pássaros como um termo que abrange corvos, gaios, pegas e gralhas.
A situação mudou em 11 de fevereiro, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a doença causada pelo novo coronavírus passava a ser conhecida como Covid-19. «Vou soletrar» – explicou o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa conferência de imprensa transmitida em todo o mundo – «C-O-V-I-D, hífen, um nove – Covid-19.»
O nome formou-se como acrónimo de «doença do coronavírus 2019», mas poucas horas depois da notícia, as pessoas encurtaram-no ainda mais para simplesmente Covid. Neil Stone, consultor em doenças infecciosas do University College Hospital de Londres, tuitou naquele dia: «Os nomes são importantes. O latim #Coronavirus chama-se agora #Covid », já convertendo o nome abreviado numa etiqueta (hashtag).
O tweet de Stone agora está citado no Oxford English Dictionary (OED) – a primeira citação dada na entrada de Covid, que se acrescentou em julho à edição em linha. O OED observa que tanto Covid como Covid-19 rapidamente se espalharam semanticamente a partir da definição rigorosa dada pela OMS, que restringia o termo à doença, e não incluía o vírus associado. Na linguagem comum, usa-se Covid alternadamente com coronavirus («coronavírus») e versões truncadas como corona (ou mais coloquialmente, «the rona» – «o rona» –, que apelidámos de «Gíria/Palavra Informal do Ano»).
Covid tem-se combinado facilmente com outros termos para fazer novos compostos. As manchetes recentes do Wall Street Journal mencionaram «vacinas da Covid», «restrições da Covid» e «alívio da Covid». (As letras maiúsculas variam: o New York Times e a CNN escrevem com maiúscula apenas a primeira letra do acrónimo, enquanto outros põem toda a forma maiúsculas; o Washington Post grafa covid e covid-19, só com minúsculas.)
Tony Thorne, investigador em linguística do King’s College de Londres, tem compilado o seu próprio Covidictionary [= "Covidicionário"] durante a pandemia. Os registos incluem Covid waltz (ou "valsa covid", «manobra para evitar contacto próximo com os outros transeuntes»), Covidpreneurs (ou "coviempreendedores", «indivíduos ou empresas bem-sucedidos em prosperar e inovar num ambiente de pandemia») e, claro, covidiot (ou "covidiota", «uma pessoa que se comporta como um irresponsável perante a necessidade de contenção»).
Um dos "covidismos" mais criativos que vi entre as nomeações para a Palavra do Ano foi Brunch Covidians ["covidistas do brunch"] para designar os que desrespeitam as restrições da Covid para poderem ir ao brunch (aludindo o nome da seita Branch Davidian). Num ano ensombrado pelas notícias terríveis da pandemia, as pessoas não param de inventar novas expressões idiomáticas para a Covid – as "Covidiomáticas", digamos assim.
Tradução (com adaptações) de um artigo do autor publicado na edição de The Wall Street Journal de 24 de dezembro de 2020.