1. Febrilmente acompanhadas pelos media, as vacinas e as campanhas de vacinação preenchem as notícias em tempo de Natal. Paralelamente, prevendo o abrandamento demorado da pandemia, fala-se de 2021 como um «ano zero», expressão que, no glossário A covid-19 na língua, se soma a outras, num conjunto de 14 novas entradas: «apoio musculado», «boia de salvação», «Choque e pavor», clima, «desafio logístico», Egito, priorização, «questão humanitária», «(Não) Relaxar», retrocesso, Sandra Lindsay, Sanofi-GSK e teste de saliva.
2. No discurso mediático, a chegada das vacinas contra a covid-19 torna recorrente a expressão «a luz ao fundo do túnel», metáfora que a professora Carla Marques comentou num apontamento para o programa Páginas de Português, (Antena 2, 13/12/2020), agora também disponível em O nosso idioma. Nesta mesma rubrica, transcrevem-se ainda várias considerações etimológicas curiosas do classicista Frederico Lourenço, em defesa da importância do latim nos currículos escolares, bem como uma lista de epónimos – nomes próprios convertidos em nomes comuns denotadores de coisas –, da autoria de João Nogueira da Costa.
3. Na rubrica Montra de Livros, apresentam-se duas obras publicadas em Portugal: rodeado de (alguma) polémica, O Cânone (2020), volume organizado por António M. Feijó, João R. Figueiredo e Miguel Tamen, com a chancela da Fundação Cupertino de Miranda e das Edições Tinta da China; e, do cientista italiano Lamberto Maffei, o Elogio da Palavra, traduzido em 2019 pelas Edições 70.
4. No Consultório, seis novos tópicos: a classificação de para e de a introduzirem orações; a locução «ser de opinião» seguida de oração; a grafia e a etimologia do topónimo sintrense Assafora; os significados de besnico e cotomiço.; e o uso das maiúsculas nas datas inscritas na toponímia urbana.
5. Na rubrica Diversidades, a linguista Margarita Correia traça um breve historial da Língua Gestual Portuguesa, referindo-se às dificuldades sentidas pelos cidadãos surdos,ao mesmo tempo que sublinha o interesse das línguas gestuais para os linguistas (artigo de opinião originalmente publicado no Diário de Notícias em 12 de dezembro de 2020).
6. A 17 de dezembro assinalam-se os 250 anos do nascimento – mais propriamente, do batizado – do genial compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827). Pese embora a pandemia de covid-19, a efeméride tem sido pretexto de vários eventos em tudo o mundo, da Alemanha a Portugal, para gáudio de todos os melómanos, mais concretamente, dos beethovenianos. Recorde-se, a propósito, que as combinações gráficas dos nomes estrangeiros se mantêm na grafia dos seus derivados – cf. Acordo Ortográfico, Base I, 3 e aqui. Daí que o adjetivo que significa «relativo ao que é de Beethoven» – beethoveniano – exiba a sequência "beethoven"-, estranha ao português, tal como ocorre com newtoniano (de Newton) ou beckettiano (de Beckett).
Sugestão: a audição de Beethoven O homem e o cidadão, programa de 1995 com que a Antena 2 evocou a personalidade do compositor e no qual o ator português Canto e Castro (1930-2005) deu voz à tradução dos escritos beethovenianos para português.
7. Dois outros registos de atualidade:
♦ A atribuição, pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, no dia 16/12, do doutoramento honoris causa a três figuras que se notabilizaram na vida pública portuguesa em diferentes áreas: o historiador e político José Pacheco Pereira; o ex-ministro da Saúde e ex-presidente do Conselho Económico e Social António Correia de Campos; e o arquiteto e urbanista Nuno Portas, também ele ex-governante e ex-autarca. A cerimónia conta com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
♦ A edição do Dia Nacional da Imprensa, neste ano em formato digital, sobre a "Luta contra Desinformação" – tão viral nestes tempos, por causa da pandemia e não só. A Associação Portuguesa de Imprensa, que celebra os seus 60 anos, assinala a data com um evento que conta com a presença de Věra Jourová, vice-presidente da Comissão Europeia para os Valores e Transparência.
À volta da questão da desinformação, (re)leiam-se "A expressão 'infodemia de desinformação'", "A locução «à tona de», o verbo discriminar e o termo infodemia – campo aberto para manifestações de sinofobia", "CovidCheck.pt contra o vírus da infodemia e da desinformação", "Populismo e fake news", "Palavras falseadas", "O euroléxico de A a Z" , "Um anglicismo mentiroso, zoónimos insultuosos, alguns nomes tabu e a falta de conhecimento da língua" e a respetiva enrtrada na letra D do glossário O léxico da covid-19.