As opiniões dividem-se quanto a aceitar ou não a construção «há... atrás». Em português, tem havido duas construções:
a) tempo transcorrido sobre um acontecimento: «nasceu há dois dias»;
b) duração de uma situação, do passado até ao presente: «vivo aqui há dois anos».
A construção a) pode ser substituída por outra em que se emprega atrás:
c) «nasceu dois dias atrás»
Esta construção não é compatível com o valor de há em b) e por isso não pode substituí-lo:
d) * «vivo aqui há dois dias atrás»
Dir-se-ia que «há... atrás» surge do fusão de a) e c):
e) «nasceu há dois dias atrás»
Muitos gramáticos consideram que a frase em e) é uma redundância e, por isso, deve ser rejeitada. Outros aceitam-na, argumentando tratar-se de um reforço. Quanto a mim, em registo cuidado, é preferível a tradição que dá «há...» e «... atrás» como construções temporais sinónimas, mas que não podem coocorrer. No entanto, aceito que coloquialmente a construção seja usada, até porque parece que caminhamos para o reforço da distinção entre a) e b). Note-se que noutras línguas há marcadores diferentes; por exempo, em francês e inglês:
(1) «Je l'ai vu il ya un mois.»/«I saw him a month ago.»
(2) «J'habite ici depuis un mois.»/«I've lived here for a month.»
A tendência em português coloquial aponta para empregar «há... atrás» como reforço de «... atrás» no caso de (1), enquanto «há...» se aplica em situações como as de (2):
(3) «Vi-o há um mês atrás.»
(4) «Vivo aqui há um mês.»