Como se sublinha na apresentação (pp. 9/10), este é um livro que retoma o espírito comemorativo do número 55 da revista Confluência, de homenagem ao gramático brasileiro Evanildo Bechara (Recife, 1928) por ocasião do seu 90.º aniversário em 2018. A publicação de 2020 reúne não só alguns dos especialistas participantes no referido número especial da Confluência, mas também outros investigadores de relevo do Brasil e de Portugal. Comum a todos eles o denominador comum da convivência e da amizade com Evanildo Bechara.
Com organização de Denise Salim Santos, Flávio de Aguiar Barbosa e Sheila Hue, e a chancela da Editora Nau, do Rio de Janeiro, O Sentimento da Língua aparece em formato eletrónico, constituído por 17 estudos e quatro textos, estes de intenção mais testemunhal e afetiva, ao encontro dos temas e da trajetória intelectual do gramático brasileiro, também destacado membro (imortal) da Academia Brasileira de Letras.
Entre os trabalhos de cariz académico, refiram-se, por exemplo, "O texto de Os Lusíadas:a edição crítica e seus desafios" (pp. 25-40), de Arnaldo Espírito Santo; "Bechara e os estrangeirismos" (pp. 41-56), de Carlos Alberto Faraco, Carlos Alberto Faraco; "Preposições e prefixos na Língua Portuguesa: percursos e interações" (pp. 83-100), de Graça Rio-Torto; a "A obra póstuma de Leite de Vasconcelos" (pp. 101-116), de Ivo Castro; "A gramática no dicionário: indo pela produção de dicionários e gramáticas de usos" (pp. 157-176), de Maria Helena de Moura Neves; e "As tiragens das edições setecentistas da Arte da Grammatica da Lingua Portugueza de António José dos Reis Lobato (1770-1797)" (pp. 217-228), de Rolf Kemmler.
Destaque-se a participação de João Malaca Casteleiro – impulsionador do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 e falecido recentemente, em fevereiro de 2020 –, que em "O contributo exemplar do insigne gramático Evanildo Bechara para a valorização da unidade da língua portuguesa (um depoimento)" (pp. 117-122), traça o percurso científico do homenageado, para no final recordar com gratidão o apoio pessoal e institucional que nele também encontrou.
Comemorando, portanto, a longevidade e a produtividade desta figura marcante da fixação da norma culta no Brasil, trata-se de um volume a cuja publicação em 2020 também se associa um propósito de intervenção social e, portanto, política, como bem se sublinha no final da apresentação (p. 10):
«Chamado pela imprensa de o Sr. Norma Culta, o pernambucano que nos encanta a todos com sua sabedoria e simplicidade, sua disponibilidade e generosidade, é admirado por alunos de múltiplas gerações. Certa vez, quando discursava para uma turma de graduandos que paraninfava na Uerj, saudou a todos os que abraçam a carreira do magistério dizendo-lhes: “Bem-vindos à nau dos insensatos”. A metáfora do imortal provoca uma reflexão e aponta para o desafio de quem acredita que, apesar de tudo, a clássica alegoria precisa provocar a autocrítica dos que ingressam na profissão e alertar a população de que, sem educação, não há saída para o povo.»
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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