1. Em português, as locuções iniciadas por à são abundantes. Tome-se como exemplo «à pressa», «à medida que», «à vista». A natureza da palavra à é, todavia, geradora de discórdia. Há gramáticos que defendem que se trata de uma contração da preposição a com o artigo definido a, que é assinalada pelo acento grave. Porém, outros gramáticos há que sustentam uma interpretação distinta: o acento de à não sinaliza crase, mas apenas a abertura da vogal. A explicação desenvolvida destas posições pode ser acompanhada na resposta que se encontra na nova atualização do Consultório. No plano das classes de palavras, há situações em que o particípio verbal se converte em adjetivo. Este processo dificulta, em certos usos, a identificação da classe de pertença da palavra na frase. Nesta resposta, apontamos alguns critérios de classificação que poderão auxiliar na distinção. No plano da organização frásica, a construção de frases longas exige uma atenção particular ao plano da coesão, pois o nexo que os constituintes vão estabelecendo na sequência frásica poderá criar tensão entre o plano sintático e o plano semântico-pragmático, o que fica claro na análise desta questão. Por fim, as designações não científicas atribuídas às flores resultam, por vezes, de processo orais que são suscetíveis de operarem alterações às palavras. Será esse o caso de cravo-púnico e cravo-túnico?
2. A dinâmica linguística, consequência da situação pandémica, é um facto constatado em inúmeras línguas, que tem, inclusive, desencadeado o interesse do cidadão comum por questões de lexicografia. Renovam-se os processos de formação de palavras, acrescentam-se sentidos e formam-se novas locuções e expressões. No glossário A covid-19 na língua, acompanhamos, desde março, a evolução do fenómeno e vamos dando conta do que vai ocorrendo na língua portuguesa nas suas diferentes variantes. Do Brasil, chega-nos uma curiosidade: os termos "cloroquiners" e "quarenteners", que são formados através da junção ao radical do sufixo inglês -er, que significa "adepto" ou "apoiante". Para além destas inovações lexicais, o glossário passa a integrar palavras ou expressões como covidiota, desconfinamento assimétrico vs. desconfinamento contido, estado de alarme, pangolim, «(não) voltar à rua», entre outras. O processo de transformação da língua e a relação dos falantes com os novos termos e sentidos é também objeto de reflexão no Brasil, num artigo do jornalista Victor Stock, intitulado «Pandemia do coronavírus traz à tona novas palavras e termos» (artigo publicado no jornal brasileiro Diário da Região – de São José do Rio Preto, aqui reproduzido com a devida vénia).
3. A Associação Brasileira de Linguística (Abralin) tem vindo a promover o evento Abralin ao vivo: Linguists Online, que conta com uma agenda diária de conferências e mesas-redondas com importantes nomes do cenário nacional e internacional da Linguística, transmitido em linha numa plataforma aberta e interativa. Das comunicações já realizadas destacamos aqui a do linguística português Ivo Castro, intitulada «Portugal visto do céu — demografia, dialetologia e história da língua». Nele, o autor passa em revista aspetos da evolução do português, centrando-se em mapas dialetológicos elaborados por Leite de Vasconcelos, Paiva Boléo e Lindley Cintra e defendendo que os mapas necessitam de uma atualização, atendendo à influência da escola e dos meios que comunicação social, que apagaram diferenças no domínio escrito a suavizaram marcas regionais da pronúncia.
4. A questão da proximidade entre o galego e o português, que Ivo Castro também aborda na sua conferência, tem estado associada a avanços e recuos nas opções políticas espanholas relativamente ao galego. O que é certo é que o galego perde atualmente falantes face ao poder de hegemonia do castelhano, ao mesmo tempo que se desenvolvem iniciativas que visam cativar a atenção dos galegos para a língua e para o estreitamento de relações com a língua portuguesa, como nos dá conta o jornalista português Ruben Martins, num artigo divulgado o suplemento P2 do jornal Público, onde questiona «O galego vai salvar-se no português?». É também sobre o galego e sobre as ameaças de desaparecimento que a língua enfrenta que reflete o professor universitário Marco Neves num apontamento divulgado no seu blogue Certas Palavras.
5. O bilinguismo constitui a realidade dominante em muito países do mundo. A evolução histórica, a união de povos diferentes num mesmo país, a mobilidade de populações... inúmeros foram os fatores que contribuíram para diferentes situações de multilinguismo. O Brasil não é exceção a esta realidade. Embora, ao longo da sua história, tenha sido testemunha de tentativas de impor o português como língua única, o que é certo é que o país mantém o seu multilinguismo, que tem raízes profundas relacionadas com as populações indígenas do território. É o que explicam os linguistas brasileiros Paulo Henrique de Felipe e Wilmar da Rocha D'Angelis no artigo transcrito na rubrica Diversidades.
6. Reabrem nesta data os museus em Portugal. Cincidente com o Dia Internacional dos Museus, o combate ao surto pandémico impôs regras novas de higienização, na exigência de distanciamento físico e no uso de máscara.
Esta é uma oportunidade para recordar alguns textos relacionadas com a temática, disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas. Por exemplo: Museu de marinha vs. Museu da Marinha + O diminutivo de museu + «Museu Reina Sofia»... porquê? + São Paulo reconstrói o Museu da Língua Portuguesa
6. Este dia 18 de maio coincide, em Portugal, com a 2.ª fase do plano de desconfinamento, que prevê, entre outras medidas, o regresso às aulas presenciais dos alunos do 11.º e 12.º anos. Embora esteja circunscrito apenas às aulas das disciplinas sujeitas a exame nacional, mantendo-se o regime de ensino à distância às restantes disciplinas, este plano tem merecido muito críticas oriundas de diversos quadrantes, que consideram que se trata de uma decisão precipitada que pode pôr em causa a saúde pública e que está apenas subjugada ao peso que os exames nacionais assumem no país. É esta a posição que a professora Lúcia Vaz Pedro assume no artigo de opinião que divulga no jornal Público. O tema do regresso às aulas motivou também o programa A Cena do Ódio, de David Ferreira, na Antena 1, onde se recordou ainda a canção Cheiro dos Livros, dos Cabeças No Ar. Uma homenagem aos professores de Português, que se apresenta também aqui:
1. O português faz parte das línguas românicas, nas quais existe um contraste morfossintático importante, o de género. Acontece que, em referência à pandemia de covid-19, muitos falantes das línguas irmãs da portuguesa hesitam também quanto ao género a dar ao nome da doença (não é o vírus). Em França, a Académie Française recomenda «la covid-19», no feminino, porque se trata de uma maladie e esta palavra é do género feminino (leia-se em inglês a edição de The Guardian em 13/05/2020). No mundo de língua espanhola, é também «la covid-19», no feminino, porque se categoriza como enfermedad, cognato de enfermidade (ver Fundéu-BBVA). Em português, a mesma coisa: com covid-19, intuitivamente acessível é tratá-lo como nome feminino, visto o seu hiperónimo doença ter este género. Diga-se, portanto, «a covid-19» (e não «o covid-19»).
2. Em O nosso idioma, prossegue a atualização de "A covid-19 na língua", um já extenso reportório dos termos, expressões e fraseologias que se sucedem e coexistem no discurso da comunicação social em português. A presente fase de desconfinamento em Portugal justifica realçar, entre as novas entradas, a palavra reativação, que se distingue pela ambiguidade: por um lado, pode denotar a preocupante possibilidade de quem já esteve doente poder voltar a ficar infetado; por outro, marcando o alívio das medidas restritivas, alude à reanimação gradual de vários domínios da vida social e económica.
3. Qual é boa pronúncia da palavra circuito? É "circuíto"ou "circúito"? No Consultório, dá-se a resposta, com recomendações ortoépicas também para gratuito, fortuito e fluido. Aborda-se igualmente a classificação de para em construções como «uma boa ideia para viajar», analisa-se sintaticamente uma frase queirosiana e comenta-se a semântica dos plurais de imperador e príncipe.
4. Na rubrica Diversidades, fala-se da formação do plural, não em português, mas em ronga, changana e zulu, línguas bantas que se falam entre o sul de Moçambique e o sueste da África do Sul. Mais um apontamento do professor João Nogueira da Costa à volta das palavras e das suas histórias.
5. O tema da pandemia chama a atenção dos linguistas, que se organizam para monitorizar as inovações lexicais em diferentes línguas e em tempo real, graças à tecnologia. Voltando às línguas românicas, assinale-se, por exemplo, o seminário Le parole della crisi in tivù/Les mots de la crise à la télévision. Un dialogo italiano-francese ("As palavras da crise na tevê. Um diálogo ítalo-francês"), um encontro promovido pela rede Realiter via plataforma digital em 18 de maio p.f. Numa perspetiva multilingue mundial, conta-se o projeto Metaphors for Covid-19, um corpus de metáforas da covid-19, cujos promotores disponibilizaram para o efeito o acesso livre a uma tabela em linha para recolha de abonações, com a condição de estas constituírem alternativa à muito repetida e convencional metáfora da guerra (para participar na discussão seguir #ReframeCovid no Twitter; ver também The Linguist List).
6. A cultura procura a resposta possível às restrições impostas atualmente aos espetáculos presenciais. As condições existentes obrigam, portanto, à exploração de meios audiovisuais em suporte digital, como é o caso da mostra Europa Film Fest, que exibe gratuitamente filmes europeus entre 15 a 21 de maio, em resultado de uma parceria entre a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu em Portugal e a Filmin Portugal (mais informação aqui). Mas as medidas de distanciamento social conjugadas com o desconfinamento levam a recuperar o cinema em drive-in*, a exemplo da iniciativa da Câmara Municipal da Batalha (Leiria), que, de 15 a 17 de maio p. f., oferece sessões de cinema no parque de estacionamento do centro de exposições da referida vila portuguesa.
* Anglicismo referente ao serviço prestado a clientes que não saem do carro em que se fazem transportar. Não há ainda termo português equivalente e de uso estável. Os dicionários da Infopédia e da Priberam registam o anglicismo sem aportuguesamento.
7. O cinema é ainda tema do 25.º programa da 10.ª e última série do magazine televisivo Cuidado com a Língua! – que volta a passar na RTP 2, no domingo, dia 17/05, às 20h20*, tendo por cicerone o jornalista Mário Augusto.
8. Temas centrais dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 15 de maio, pelas 13h20*, algumas particularidades do português explicadas pela professora Sandra Tavares Duarte,; e, no Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 17 de maio, pelas 12h30*, o protocolo de cooperação entre a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e o Instituto Camões para reforçar o estudo, ensino e investigação da língua e cultura portuguesas nos Estados Unidos da América .
* O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 16 de maio, depois do noticiário das 09h00; o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 23 de maio, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. A inovação linguística continua a estar na ordem do dia. Cada nova vivência, cada nova realidade busca uma palavra ou expressão que a diga. Desta vitalidade vamos dando conta no A covid-19 na língua, que, nesta atualização, passou a integrar os termos inovar e robustez. Apesar de a língua ter maleabilidade suficiente para integrar novos lexemas e novos significados, há palavras que parecem estar a resistir a incorporar no seu campo semântico novas aceções, como mostra a estranheza que produzem afirmações como «Vou-me mascarar para ir ao supermercado» ou «Quando chegares a casa, desmascara-te», no contexto do atual uso obrigatório de máscara. É a tensão lexical que por vezes se cria entre as palavras e a realidade e entre os velhos e os novos usos que motiva o apontamento da consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques, intitulado «O novo normal vem mascarado».
2. Na nova atualização do Consultório, uma questão parece desvelar um fenómeno de hipercorreção: estará correto dizer «o texto fala de» ou «o livro fala sobre»? Há, por outro lado, questões que procuram a forma correta: deve dizer-se «há fadista» ou «ah, fadista»? E o adjetivo atento, usado em expressões como «atento o parecer», tem forma feminina se acompanhar um nome no feminino? Por fim, uma questão que pretende identificar a classe de então na expressão da lógica proposicional «Se P, então Q».
3. A língua portuguesa procura a sua afirmação no mundo. Neste âmbito, uma das perspetivas a adotar é a de que o português é pluricêntrico e não bicêntrico (ou seja, apenas centrado no português europeu e no português do Brasil). Defendendo esta visão do fenómeno, a professora e presidente do Conselho Científico do IILP Margarita Correia convida-nos a refletir sobre a importância da mudança de mentalidades para o fortalecimento desta nossa língua de oito países, na sua crónica semanal publicada no Diário de Notícias (aqui transcrevita com a devida vénia).
4. O contacto entre línguas desencadeou, ao longo dos séculos, fenómenos de interferência tanto na língua dominante como na(s) dominada(s). Incidindo sobre este fenómeno, o escritor angolano João Melo recorda, no artigo «A influência africana na língua portuguesa», vários casos de empréstimos lexicais ou de influência fonética que se manifestam sobretudo na variante do português do Brasil e que têm origem nas línguas bantas africanas (texto publicado originalmente no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia).
5. O mundo e a forma como está concebido têm um dos seus pilares estruturantes na comunicação escrita. Todavia, existe, ainda, uma camada da população que não sabe ler nem escrever. As pessoas que a integram são, não obstante, detentoras de outros saberes, por vezes seculares, que importa preservar e conhecer. É esta a missão do realizador e documentarista Tiago Pereira, fundador do projeto A música portuguesa a gostar dela própria, que, em contexto de isolamento social, decidiu filmar à janela algumas músicas portuguesas cantadas por pessoas que preservam este património popular (vídeos divulgados no P3, secção do jornal Público). Veja-se, por exemplo, o vídeo onde Maria da Alzira canta «Não cortes o teu cabelo».
6. A desejável manutenção do isolamento social continua a motivar propostas culturais que podem ser seguidas no conforto do lar. É o caso da minissérie Os Maias, exibida em 2001 pela Rede Globo, que pode ser recordada no Youtube (disponível aqui). No mesmo sentido vai a proposta da Companhia de Teatro de Almada, que divulga esta semana a peça de 2010, Tuning, de Rodrigo Francisco, encenada por Joaquim Benite.
7. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa teremos os seguintes temas: Língua de Todos contará com a presença da professora Sandra Tavares Duarte, que falará sobre particularidades do português (transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 15 de maio, pelas 13h20*, com repetição no sábado, dia 16 de maio, depois do noticiário das 09h00*) e o Páginas de Português, emitido pela Antena 2, entrevista Rita Faden, presidente da FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento), a propósito do protocolo de cooperação entre a FLAD e o Instituto Camões para reforçar o estudo, ensino e investigação da língua e cultura portuguesas nos Estados Unidos da América e aumentar o acesso à programação e avaliação curricular em Língua Portuguesa (no domingo, 17 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 23 de maio, às 15h30*).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Em Portugal, o Plano de Desconfinamento, aprovado pelo governo em 30/04/2020 para fazer frente à covid-19, leva a população a afazer-se a uma «nova normalidade», expressão motivada pelo inglês «new normal», para alguns interpretável como horizonte de novas oportunidades, sem deixar de ser eufemística, porque agora se trata da arriscada coexistência com a ameaça nos espaços públicos. De qualquer modo, o coronavírus instalou-se nas notícias em qualquer língua, e, em português, continuam a somar-se novos usos que marcam o evoluir da crise, como atestam as repetidas atualizações de "A covid-19 na língua", onde dão entrada nestes dias os seguintes termos e expressões: «Adote um hostel», BCG, «bicho mau», distância física, escola virtual, «fique alerta», hospedeiro, imunidade baixa, imunidade celular, imunidade cruzada, imunidade inata vs. adquirida (ou adaptativa), imunidade transitória, imunodeficiência, pegada da infeção, pré-sintomático, «tsunami de ódio e xenofobia», «Vamos ficar todos bem», vírus de constipação, vírus endémicos vs. pandémicos e «vírus relativamente bonzinho».
2. A propósito de hostel, palavra de origem inglesa, recorde-se que se tornou corrente no vocabulário hoteleiro (ler aqui e aqui) e até já está dicionarizada, embora como estrangeirismo (cf. Dicionário Infopédia e Dicionário Priberam). Como se faz o seu plural: "hosteis" ou "hosteles"? Em O nosso idioma, um apontamento dá conta de como é possível aportuguesar este vocábulo.
3. Sobre a expressão «nova normalidade», muito corrente nestes dia da «pandemia que abalou o Mundo»*, damos destaque ao que os escreveu o diretor-geral da Fundéu-BBVA , Javier Lascuráin, sobre a forma equivalente em espanhol: «nueva normalidad». O texto, que aborda vários aspetos de interesse para o uso de «nova normalidade» em português, encontra-se também traduzido na rubrica Diversidades.
* «A crise pandémica e económica que abalou o Mundo, abanou também o futebol», de Tomás Froes, Record, 8/05/2029
4. Para tempos sombrios, em vez de pessimismo paralisante ou otimismo impensado, talvez o remédio esteja na lucidez e na esperança. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia uma reflexão do escritor português Valter Hugo Mãe, publicada no Jornal de Noticias, no dia 10 de maio p.p. Comentando as repercussões da pandemia nas palavras e na expressão,Valter Hugo Mãe alerta para o perigo de, no futuro, «colaborarmos ingenuamente com quem dissemina já discursos de intolerância e ódio para ratificar a intolerância e o ódio».
5. Também a respeito do futuro, mas na perspetiva das escolas e da brusca transição das suas atividades para plataformas digitais, a rubrica Ensino disponibiliza um outro texto, intitulado "Que educação para a era pós-covid-19?", do professor catedrático aposentado António Dias de Figueiredo, da Universidade de Coimbra, que o publicou originalmente no seu próprio blogue.
6. No consultório, o tópico da coabitação, uma autêntica arte em tempos de distanciamento social, é aflorado numa dúvida sobre a boa formação do nome comum corresidência. Para evitar eventuais conflitos à escala hierárquica, uma resposta revela a etimologia do prefixo vice- e sugere que um vice-presidente não tem que se sentir inferiorizado em relação ao seu presidente. A construção das frases e os seus problemas, um tema constante para quem se preocupa com a clareza dos discurso, marcam também presença nesta atualização com uma pergunta sobre a concordância verbal numa oração de infinitivo introduzida por ao – «ao cortarem-lhe as tranças, deixaram a menina muito triste»ou «ao cortar-lhe as tranças, deixaram a menina muito triste»? –, e outra sobre a correlação dos tempos numa frase complexa como «duvido que o Zé fosse capaz disso».
7. Uma notícia triste: a morte de Sérgio Sant'Anna em 10 de maio de 2020, vítima da covid-19. O escritor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro em 1941, estreou-se em 1969 com o livro de contos O Sobrevivente, que de algum modo definiu o rumo que o seu percurso literário tomou como notável contista. Sobre este autor, ler as notícias publicadas por O Globo e a Folha de S. Paulo.
8. Uma pergunta radical na mudança de assunto e na sondagem às origens do português: que língua falava Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal? No blogue Certas Palavras, o tradutor e professor universitário Marco Neves, retomando um tópico explorado no seu recente livro Almanaque da Língua Portuguesa, surpreende ainda muitos quando revela a umbilical relação linguística do então pequeno território portucalense com a Galiza, para rematar: «[...] ainda hoje há uma surpreendente proximidade entre o que se fala dum lado e doutro da fronteira entre Portugal e a Galiza – e note-se que estamos a falar de uma das mais antigas fronteiras do mundo. Muitos galegos ainda falam galego e nós, claro está, falamos português. Todos nós, portugueses e galegos, falamos qualquer coisa que descende da língua que se ouvia em Guimarães – mas também em Tui – quando Afonso Henriques se tornou o primeiro rei de Portugal.»
9. Dois registos, ainda, sobre o Dia Mundial da Língua Portuguesa, assinalado pela primeira vez no passado dia 5:
♦ O lançamento do primeiro grande estudo que o Consello da Lingua Galega publica sobre o conhecimento do português entre a população galega. Com o título O valor do Portugués en Galicia, esta obra analisa o uso e o ensino da língua portuguesa, bem como as atitudes para com esta. Entre as conclusões, estima-se que 60% dos galegos têm competências em português, mas apenas 18% têm domínio elevado da língua; além disso, 73,2% acham que o português deveria ser estudado na Galiza, mas só 17% sabem dessa possibilidade no ensino secundário graças à Lei Paz Andrade (sobre esta disposição, ler abertura de 12/03/2014).
♦ O anúncio, nesse dia, em Angola, de várias iniciativas relacionadas com a lingua portuguesa no país. Notícia do Jornal de Angola.
10. Na RTP 1 e na RTP Internacional volta a passar o episódio 13 sobre a arte chocalheira, Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente, conforme o reconhecimento da UNESCO, em 2015. Decorre no Museu do Chocalho, em Alcáçovas. Passará na terça-feira, dia 12 de maio, às 14h45 *, no primeiro canal da televisão pública portuguesa e, depois, nos seus canais internacionais.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando este episódio disponível também na RTP Play, aqui.
1. Novas realidades convocam novas palavras. É assim que uberização, palavra recente, formada a partir de Uber (designação de um aplicativo móvel para prestação de serviços de transporte privado) começa a estender a sua significação à descrição de novas realidades laborais e, mais recentemente, devido à crise pandémica, ameaça referenciar um novo conceito de vida, mais generalizado do que se podia prever há bem pouco tempo, como explica a professora Carla Marques no seu apontamento intitulado «Estamos uberizados!» A uberização é também o tema central do artigo do jornalista João Almeida Moreira, que enquadra o conceito na questão da corrupção política no Brasil, que ocorre de forma rápida e eficaz como um transporte Uber.
2. A situação desencadeada pelo aparecimento e propagação do novo coronavírus veio obrigar os humanos a uma adaptação em diferentes planos. Um deles relaciona-se com as novas formas de comunicação para grandes públicos. Esta necessidade veio estimular o uso de pataformas digitais e de vários modelos de divulgação, desde as comunicações síncronas às assíncronas. Uma destas possibilidades tem recebido a designação de webinar, um estrangeirismo que pode ser substituído pela forma webinário (formada pela junção de web a uma forma truncada de seminário) ou então pela expressão «seminário / conferência web». Este é um dos termos que passaram a integrar o A covid-19 na língua, um glossário desenvolvido pelo Ciberdúvidas, que continua a crescer ao ritmo da mobilização de novas palavras / expressões usadas para descrever o mundo dos nossos dias. Entre as novas entradas, destacamos beijinhos, abraços e passou-bem, confinamento específico, exaustão, deficientes, desinformação, fatores de risco, (Não) correr riscos (desnecessários), uberização, videochamada, videoaulas e violência.
3. A etimologia é uma questão que fascina os falantes. Descobrir o percurso da palavra, desde a sua origem, o caminho que tomou e as formas que assumiu são aspetos que, não raro, suscitam a curiosidade. A comprová-lo está o facto de a nova atualização do Consultório incluir duas perguntas relacionadas com etimologia: uma que procura a origem do advérbio mó, usado popularmente no português do Brasil, e outra que pretende conhecer a etimologia de cachaça. Outras duas questões visam os efeitos semântico-pragmáticos da seleção de tempos verbais nas orações condicionais e a relação entre as construções com o verbo auxiliar vir combinado com expressões adverbiais de tempo. Por fim, explica-se qual o gentílico de Pico da Pedra (freguesia de São Miguel, nos Açores).
4. O magazine televisivo Cuidado com a Língua! continua a ser reposto nos canais da RTP. O episódio da 10.ª série em torno do léxico relacionado com a costura (pesponto, ilhós, costureira, modista...) passará na RTP 2 (no sábado, dia 9 de maio, às 20h10 *). No dia seguinte, domingo, 10 de maio, às 20h25 *, terá lugar a reposição do episódio 24, entre campinos, touros e pastores da lezíria ribatejana. O episódio dedicado à arte chocalheira, Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente, passa na RTP 1 e na RTP Internacional (terça-feira, dia 12 de maio, às 14h45 *) (ver notícia).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando disponível também na RTP Play, aqui.
5. O professor João Nogueira Dias explora, num breve apontamento, alguns palíndromos presentes em determinados nomes próprios, avançando depois para a evolução da palavra cancro em português e noutras línguas. Uma viagem de mãos dadas com as palavras.
6. A origem das línguas é um tema muito debatido que pode inclusive ser associado a manifestações de nacionalismo, mas, como reflete Marco Neves, a evolução e divisão dos idiomas não se marca por datas ou por documentos escritos. A língua falada evolui livremente de boca em boca, por vezes até independemntemente de fronteiras e nacionalidades. «Todos falamos o que resultou da sucessão ininterrupta de gente a falar desde o princípio dos tempos – e assim continuaremos, de palavras na boca, a moldá-las sem fim, por muitos e bons séculos.», conclui o autor na crónica divulgada no seu blogue Certas Palavras.
7. Divulgamos a atividade da Academia das Ciências de Lisboa, que se encontra a desenvolver uma versão digital do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), que conta, neste momento, com mais de 215 000 entradas. Um documento a consultar.
8. Os programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa abordam os temas da política da língua portuguesa e sua projeção no mundo, tendo como convidado o professor universitário Carlos Reis*, e os problemas relacionados com o ensino à distância, com o testemunho das professoras Lúcia Vaz Pedro e Ana Josefa Cardoso**.
*Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 8 de maio, pelas 13h20, com repetição no sábado, dia 9 de maio, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português
** Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 10 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 16 de maio, às 15h30.
Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. O Dia Mundial da Língua Portuguesa, festejado pela primeira vez em 5 de maio de 2020, ficou marcado por numerosas manifestações culturais – por meios digitais – e várias intervenções nos diferentes países da CPLP. Em Portugal, do muito que se publicou, selecionam-se dois textos para a rubrica O nosso idioma: do jornal Público, transcreve-se a mensagem assinada conjuntamente por quatro ministros do governo português, com o título "O valor global da língua portuguesa"; e, do Diário de Notícias, um artigo da presidente do conselho científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Margarita Correia, que, entre outras considerações, propõe pensar a língua portuguesa à luz do conceito de língua global (ver uma versão maior aqui). São de registar outras duas intervenções: a do primeiro-ministro António Costa, a dar relevo à diversidade cultural e à mestiçagem que o português agrega e favorece; e outra, disponível em vídeo, do secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, que sublinhou a presença cada vez mais visível da língua na cena internacional.
2. Muitos outros contributos podem ainda referir-se; são exemplos:
– um vídeo em que se recita Camões numa produção sob os auspícios da mais antiga universidade dos países de língua portuguesa, a Universidade de Coimbra;
– a crónica do jornalista português Francisco Sena Santos, que parte da carta de Pero Vaz de Caminha para refletir sobre o estatuto internacional do português;
– um texto do diretor interino do Diário de Noticias, Leonídio Paulo Ferreira, a respeito de quantos promovem o português entre falantes de outras línguas, em diferentes países estrangeiros, nas mais diversas atividades;
– no mesmo jornal, e também sobre a língua portuguesa, escreveu o jornalista Ferreira Fernandes;
– os festejos organizados em Angola, como é o caso da Semana da Língua Portuguesa de 4 a 8 de maio, organizada pelos ministérios da Educação e das Relações Exteriores deste país;
– e, divulgado no Diário de Notícias, o poema "Crónica verdadeira da língua portuguesa", da autoria do jornalista e escritor angolano João Melo – do qual se se transcrevem a epígrafe e alguns versos* evocativos de como a língua também se expandiu com crueldade e sofrimento:
«A língua portuguesa é um troféu de guerra»
Luandino Vieira
(...)
A libertação da língua portuguesa
foi gerada nos porões
dos navios negreiros
pelos homens sofridos que,
estranhamente,
nunca deixaram de cantar,
em todas as línguas que conheciam
ou criaram
durante a tenebrosa travessia
do mar sem fim.
Desde o nosso encontro inicial,
essa língua, arrogante e
insensatamente,
foi usada contra nós:
mas nós derrotámo-la
e fizemos dela
um instrumento
para a nossa própria liberdade.
(...)
* Fica também disponível, na íntegra, rubrica Antologia, que acolhe um largo conjunto textos, em prosa e em poesia, de autores lusófonos de diferentes épocas, em louvor da língua portuguesa.
3. O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa também se integrou nas comemorações, graças ao generoso convite que lhe endereçaram as Bibliotecas Escolares do Agrupamento de Escolas de Condeixa-a-Nova, no sentido de dar a conhecer a atividade e o propósito destas páginas. No evento, que as circunstâncias da pandemia obrigaram a ter formato virtual (ler Notícias), o Ciberdúvidas fez-se representar pela sua consultora permanente, a linguista Carla Marques, cuja participação se guarda neste vídeo:
4. O cenário da data festiva tampouco fugiu ao cenário da pandemia de covid-19, que em Portugal entrou na chamada «fase de calamidade», que traz a atenuação das medidas de confinamento, embora se mantenham ou se adaptem restrições em certas áreas, como acontece no setor do ensino. É disto testemunho a análise crítica que o professor universitário Carlos Reis, antigo reitor da Universidade Aberta, dedica à questão do ensino à distância, a qual se transcreve com a devida vénia na rubrica Ensino (ver também ponto 9). Em tom e registo completamente diferentes, em O nosso idioma , disponibiliza-se uma crónica de Miguel Esteves Cardoso sobre esta nova fase que se vive, de progressivo desconfinamento, palavra que em poucos dias se tornou corrente* no dia a dia dos Portugueses. Finalmente, registo para a entrada de novos termos em "A covid-19 na língua": acrílico, circulação do vírus, dentistas, desinformação, FIFA bonds, janelas de confinamento, medidas extremas, marginalização (para como muitos destes termos se empregam, consultar também a página governamental Estamos On).
*Desconfinar é verbo derivado por prefixação de confinar, ou seja, por adjunção do prefixo des- ao verbo confinar, à semelhança da formação regular de desfazer (des- + fazer) ou desmontar (des- + montar). Quanto a desconfinamento, deriva este nome por sufixação do tema de desconfinar – desconfina- + -mento –, tal como acontece com confinamento, derivado de confinar pelo mesmo processo: confina- + -mento. O prefixo des- é bastante produtivo no uso e, portanto, revela potencial para fazer derivar palavras que nem sempre têm registo dicionarístico. Tal é o caso de desconfinar e desconfinamento que só recentemente terão entrado nos dicionários: com efeito, não constam de dicionários relativamente recentes não constam de dicionários relativamente recentes como o Houaiss (2001), o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (2001) ou o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2004), também estão ausentes dos vocabulários ortográficos, atualizados ou não (por exemplo, não se encontram no Vocabulário da Língua Portuguesa, publicado por Rebelo Gonçalves em 1966). Estão consignados, porém, no Dicionário Infopédia e no Dicionário Priberam, mas os registos, embora não datados, não devem ser antigos: o Dicionário Infopédia recolheu-os há pouco tempo, conforme se afirma numa publicação de 10/04/2020 no blogue O Linguagista, de Helder Guégués; quanto ao Dicionário Priberam, não é possível apurar a data de entrada dos vocábulos, mas a ausência destes nos dicionários e vocabulários ortográficos referidos, em conjugação com o caso do Dicionário Infopédia, deixa supor que desconfinar e desconfinamento só há pouco tempo foram listados. Na imagem à direta, um cartune da série Bartoon, de Luís Afonso (Público, 18/03/2020), que também ilustrou a Abertura de 18/03/2020.
5. Na rubrica Pelourinho, dois apontamentos sobre maus usos na televisão: a falta do ponto abreviativo na representação numérica dos numerais ordinais; e a troca de mais bem por melhor.
6. No Consultório, explica-se como as variantes acartar e acarretar não têm o mesmo uso. Comenta-se o adjetivo elegível, que ultimamente alargou a sua significação para se tornar sinónimo de qualificado. Regressa a sintaxe com duas questões sobre um tópico comum, as orações subordinadas adjetivas relativas: fala-se de um problema de concordância e da seleção do tempo e modo verbais nestas construções.
7. Falar sobre a língua portuguesa e as opções para coordenar e promover a sua unidade na diversidade é também trazer à discussão a questão ortográfica. Na área das controvérsias da rubrica Acordo Ortográfico, reproduz-se um texto da helenista Maria Mafalda Viana (Público, 05/04/2020), que apela a tratar a língua escrita em Portugal como património, tecendo críticas ao tratamento de certos aspetos filológicos pela atual norma ortográfica.
8. O tempo é ainda da comemoração da nossa língua comum, e, portanto, sugere-se uma vista por enquanto virtual ao renovado Museu da Língua Portuguesa, que renasceu literalmente das cinzas depois do terrível incêndio que o destruiu em 2015.
*Hora oficial de Portugal continental, com os três episódios disponíveis depois também na RTP Play, aqui e aqui, respetivamente.
9. Temas centrais dos programas de rádio que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa:
– no Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 8 de maio, pelas 13h20*, a projeção da língua portuguesa no mundo, as políticas da língua, ou a ausência delas, e o ensino em África, numa entrevista ao professor universitário Carlos Reis;
– no Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 10 de maio, pelas 12h30*, as professoras Lúcia Vaz Pedro, do ensino secundário, e Ana Josefa Cardoso, do 1.º ciclo, falam das aulas à distância no contexto do combate ao coronavírus: quais as principais dificuldades para professores e alunos? E como desenvolver as competências de expressão oral e escrita através da Internet?
1. A relação entre a língua e a sua norma é um processo que vive de pontos de equilíbrio atingidos depois de momentos de tensão entre os limites impostos pelos gramáticos e as tentativas de libertação ditadas pelos usos. Neste quadro, é natural que o filólogo e gramático Napoleão Mendes de Almeida tenha condenado, no século passado, o uso de locuções como «face a» ou «frente a», que, atualmente, não são rejeitadas pela norma. Também algumas locuções com o verbo fazer, como «fazer dinheiro» ou «fazer música», que já foram consideradas galicismos, são hoje usadas como corretas, mas o mesmo já não se verifica com «fazer erros». Na atualização do Consultório, identificam-se ainda algumas palavras que contribuem para a polaridade negativa de uma frase e discute-se a aceitabilidade da frase «Ao cortarem-lhe as tranças, a menina ficou triste». Para terminar, analisa-se a função sintática do adjetivo inicial num verso da poetisa portuguesa Ana Luísa Amaral.
2. No Pelourinho, alerta-se para a confusão presente numa notícia da RTP, que se referiu à síndrome de Kawasaki, estudada como uma possível manifestação do novo coronavírus em crianças, como "síndrome de Nagasaki", trocando, deste modo, o nome da doença pelo de uma das cidades onde os Estados Unidos efetuaram bombardeamentos atómicos na II Guerra Mundial.
3. A crise sanitária evoluiu, em Portugal, para uma nova fase: o país encontra-se agora em estado de calamidade. Tendo assim terminado o estado de emergência, Portugal prepara-se para o desconfinamento e para a reabertura da economia e do ensino presencial. O avanço da situação traz consigo novas palavras que passam a integrar o glossário de A covid-19 na língua, tais como acrílico, afetos, alarmismo, app, a.C. e d.C., cadeia de transmissão, confeção, funerais, índice de transmissão, medo ou tempo (de pandemia), entre outros termos que poderão ser consultadas no documento sujeito a uma permanente atualização. Ainda relativamente às palavras que se usam mais frequentemente no contexto atual, sublinhemos a palavra hostel, um anglicismo que, entretanto, entrou na língua portuguesa, que se deve pronunciar "hostél", como hotel ou motel, e não "hóstel", como se ouve na comunicação social ou como é dito pelo próprio primeiro-ministro de Portugal, António Costa.
4. A RTP continua a repor o magazine Cuidado com a Língua! No dia 5 de maio, pelas 14h30, poderá ser acompanhado o episódio dedicado ao tema da enologia (ver notícia).
5. Celebra-se na terça-feira, 5 de maio, o primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa, proclamada em 2019 pela UNESCO. As comemorações decorrerão em linha numa colaboração entre o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), a representação portuguesa na UNESCO, a ONUNews e a RTP e contarão com a participação de duas dezenas de personalidades lusófonas da política, das letras, da música e do desporto. Em entrevista ao Jornal de Letras, “O reconhecimento do português como língua global” é destacado pelo embaixador de Portugal na UNESCO António Sampaio da Nóvoa, na qual aborda a questão da projeção internacional da língua portuguesa, que, a seu ver, deveria assentar nos pilares do ensino, cultura, criação e ciência (aqui).
6. Na véspera, foi o Dia da Mãe, em Portugal. Uma data marcada, este ano, pela distância entre muitas famílias e pela procura de outras formas de transmitir afetos. O tradutor e professor universitário Marco Neves assinalou o dia com um apontamento que viaja até ao indo-europeu, em busca da origem dos lexemas utilizados para designar mãe em diferentes línguas europeias. Uma viagem pela língua para celebrar afetos.
7. Uma língua que une e que separa. Este poderia ser o subtítulo do artigo do jornalista português João Almeida Moreira, correspondente do Diário de Notícias em São Paulo. Um texto onde nos fala de diferenças fonéticas e lexicais entre o português europeu e o português do Brasil e parte em busca de uma tentativa de explicação para as dificuldades que um brasileiro sente em compreender um português (aqui transcrito com a devida vénia).
8. Como a distância continua a marcar o nosso quotidiano, deixamos como sugestão para atividades a realizar em confinamento o acompanhamento das M-Talks 4All, que são pequenas conversas diárias organizadas pelo Festival MENTAL, que contam com a participação de profissionais de várias áreas que ajudam a refletir sobre a situação que se vive atualmente, disponíveis no canal oficial do festival no Youtube.
1. Entre ritos muito antigos e ecos de lutas sociais, chega a celebração do 1.º de Maio, também ela marcada em Portugal, e um pouco pelo resto do mundo, pelo estado de emergência, embora com a perspetiva do seu levantamento muito em breve. Espera-se o alívio de várias restrições, mas, dado o surto pandémico não estar no fim, impõem-se precauções como o uso de máscara em transportes e espaços comerciais. Na rubrica O nosso idioma, mantém-se, portanto, a atualização do glossário "A covid-19 na língua" com palavras e expressões recorrentes no discurso mediático, como sejam plano de contingência, Serviço Nacional de Saúde, retoma ou restrições. Em referência aos testes feitos para deteção de infetados, salienta-se também a expressão «kit de diagnóstico»*, em que o anglicismo kit resiste teimosamente a tradução estável. Mesmo assim, apesar da polissemia do termo inglês e da extrema variabilidade da sua tradução, observa-se tal kit de diagnóstico, e descabido não será considerá-lo de modo mais vernáculo um «conjunto de diagnóstico» ou «material de diagnóstico» (esta última formulação encontra-se no sítio de tradução Linguee). Fica a sugestão.
Devido ao feriado do 1.º Maio, o CIberdúvidas regressa às atualizações na segunda-feira, 4 de maio p. f.
* Fonte da imagem: revista Sábado, 11/04/2020.
2 Do alívio progressivo das restrições à mobilidade e ao contacto social também se fala no Consultório, a propósito do regresso à normalidade, ao retomar do dia a dia, enfim, ao que se pode chamar quotidianidade, palavra cuja formação é esclarecida na presente atualização. Incluem-se ainda perguntas relativas à expressão «par de jarras», ao hífen em compostos como bem-ensinado, à coincidência de vírgula com sinalefa num verso e ao uso do verbo ajudar com o pronome isso.
3. Com o combate à pandemia do novo coronavírus, Portugal foi dos países que suspenderam as aulas presenciais — o que veio pôr à prova alunos, professores e encarregados de educação sob uma realidade nunca antes vivida. A dar conta desta experiência na 1.ª pessoa, transcreve-se com a devida vénia na rubrica Ensino, um artigo de opinião da professora Lúcia Vaz Pedro, saído no jornal Público em 29/04/2020 com o sugestivo título "Se fosse preciso, preparávamos aulas na Lua".
4. Ainda sobre o covid-19, corre a suposição de o coronavírus ter migrado de certas espécie de animais selvagens para os humanos. Mencionam-se, portanto, zoónimos, isto é, nomes designativos de animais, como pangolim e cão-mapache ou cão-guaxinim (ou, ainda, tanuki, como se lê aqui em espanhol). Mas, longe do tema inquietante dos vírus e das pandemias, anda a ave domesticada a que chamamos peru, cuja origem se encontra no nome do conhecido Estado andino. Porquê dar o nome de um país a uma ave? Em O nosso idioma, o professor João Nogueira da Costa dá uma explicação e mostra que o caso da língua portuguesa não é único quanto à fonte da denominação desta ave.
5. Em 5 de maio celebra-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa, que em 2020 é festejado pela primeira vez, só que igualmente pela Internet. Em declarações à agência Lusa, o presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Luís Faro Ramos, assinalou que esta é a primeira vez que se comemora este dia e que, muito embora estivesse planeado dar-lhe grande visibilidade, «as circunstâncias ditaram que tivéssemos de adaptar o que estávamos a pensar para um formato virtual». Para tanto, realiza-se um evento em linha, difundido através das redes sociais do Camões, que reúne individualidades da área político-institucional, bem como figuras do campo da cultura, dos espetáculos e do desporto. Recorde-se que foi em 25/11/2019 que a UNESCO ratificou a instituição desta comemoração, conforme se fez registo nas Notícias (ler também aqui).
Entre os convidados que prestam depoimentos contam-se o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro português, António Costa, do chefe de estado de Cabo Verde e presidente em exercício da CPLP, Jorge Carlos Fonseca, do secretário-executivo da CPLP, Francisco Ribeiro Telles, e do embaixador Sampaio da Nóvoa, representante de Portugal na UNESCO. Participam igualmente os escritores Mia Couto (Moçambique), Germano Almeida (Cabo Verde) e Manuel Alegre (Portugal); os cantores Adriana Calcanhoto (Brasil), Dino d'Santiago (Portugal/Cabo Verde) ou Carminho (Portugal); o futebolista Pedro Pauleta e o canoísta Fernando Pimenta (Portugal); o cineasta Flora Gomes (Guiné-Bissau), a cientista Maria Manuel Mota, o teólogo e cardeal José Tolentino de Mendonça (Portugal) e o político timorense José Ramos-Horta.
6. Um curso de pontuação – Curso de Pontuação em Português – é o desafio que propõe o professor universitário e tradutor Marco Neves a partir de 5 de maio, a coincidir, portanto, com o Dia Mundial da Língua Portuguesa. O curso é publicado em 10 secções que incluem vídeos e exercícios (inscrições e outra informação aqui).
7. Para se ler, ver e ouvir nestes últimos dias (espera-se) de confinamento:
– a livraria digital criada pela Fnac e a Kobo, que disponibilizam gratuitamente 260 mil livros áudio e livros eletrónicos de obras de autores de língua portuguesa e de títulos em inglês;
– na área do teatro, o grupo Os Instantâneos (Sintra) disponibilizam, em linha e gratuitamente, o projeto “Impro em Casa”, com alguns dos espetáculos que passaram recentemente pelo palco do Espontâneo – Festival Internacional de Teatro de Improviso;
– visitas virtuais a 25 museus da Grande Lisboa e de outros pontos em Portugal;
– os concertos, conferências, programas de entrevistas e atividades para os mais novos com livre acesso, duas vezes por semana, que o Centro Cultural de Belém reúne em #CCBCidadeDigital, bem como as histórias infantis que se contam na rede de Bibliotecas Municipais do Concelho de Vila Franca de Xira.
8. O uso excessivo dos estrangeirismos no espaço público em Portugal, uma visita guiada ao Palácio de Belém, a residência oficial do Presidente da República e a enologia são os temas de três episódios da 10.ª e última série do magazine televisivo Cuidado com a Língua! — em reposição, respetivamente, na RTP2 (no sábado e no domingo, dias 2 e 3 de maio, às 20h30* ), na RTP1 (na terça-feira, dia 5 de maio, às 14h30*, e no domingo, dia 10/05, às 06h15*) e na RTP Internacional (quarta-feira, 6 de maio, às 14h45*).
*Hora oficial de Portugal continental, com os três episódios disponíveis depois também na RTP Play, aqui e aqui, respetivamente.
9. O Dia Internacional da Língua Portuguesa é o tema de ambos os programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa. No Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 1 de maio, pelas 13h20*, com uma conversa com o investigador angolano Jonuel Gonçalves; no Página de Português – emitido na Antena 2, no domingo, 3 de maio, pelas 12h30* – o convidado é o professor universitário Carlos Reis.
* O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 2 de maio, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 9 de maio, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. A crise sanitária mundial e a sua evolução têm levado a que muito se escreva e fale sobre a situação. Este fenómeno tem vindo a desencadear um considerável dinamismo no plano lexical, relacionado não só com a mobilização de léxico específico de determinadas áreas mas também com a necessidade de descrever a situação que se está a viver. É neste contexto que começaram a ser usadas expressões figuradas suscetíveis de traduzir a intensidade do que tem lugar, como calamidade ou hecatombe, ou que se recorre ao uso de metáforas do domínio bélico para descrever a forma como se pode enfrentar a ameaça da propagação das infeções. Um apontamento da professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, onde se reflete sobre as palavras e expressões usadas para descrever um «inimigo invisível».
Primeira imagem: "O pesadelo", de Henry Fuseli, 1781.
2. Da memória do léxico medieval, chega até nós o termo arrabiado, cujo significado é atualmente opaco para muito falantes, eventualmente por falta de contacto com a realidade que este designa. Uma das respostas da atualização do Consultório vai em busca da história da formação da palavra e dos seus significados. Palavra de uso atual é então, cuja versatilidade gera dificuldades no momento de distinguir quando é um advérbio ou quando funciona como um conector. Do grego, chega até nós a palavra zóster, que tanto significa «zona, faixa, cintura», como integra a expressão herpes-zóster, que designa uma afeção da pele. É este termo que causa dúvidas quanto à grafia correta da sua flexão no plural. Uma resposta ainda sobre a incompatibilidade temporal patente na frase «A história da dança tem sido escrita há séculos» e uma resposta que explica por que razão em «Olá a todos» não há lugar a vírgula.
3. O termo inglês lay-off, que significa «dispensa temporária de pessoal», continua a ter uma presença constante na comunicação social. Atendendo, porém, a que se verifica uma grande flutuação na sua grafia, recordamos que este deve ser escrito em itálico e com um hífen entre os dois termos. Esta palavra integra já A covid-19 na língua, glossário desenvolvido pelo Ciberdúvidas a que se juntam, nesta atualização, os termos acatamento, patógeno, R 0, terapêutico/potencial terapêutico e zoonose.
A palavra lay-off é nome (substantivo) que provém do inglês e se escreve com hífen (cf. Dicionário Infopédia e Dicionário Priberam). Na língua inglesa, pode escrever-se hifenizado – lay-off – ou como uma única sequência de letras – layoff –, assim se distinguindo do verbo correspondente, lay off (literalmente, «largar, deixar, abandonar»), que se grafa sem hífen [cf. Lexico.com, Cambridge Dictionary (em linha), dicionário Collins COBUILD (em linha) e dicionário Merriam-Webster (em linha)].
4. O dinamismo lexical associado à pandemia da covid-19, que temos assinalado para a língua portuguesa, tem também reflexos no galego, sendo marcado por palavras cujo uso tem vindo a ser incrementado e também por neologismos, como é o caso de "desescalada" (que, em português, corresponde ao termo desconfinamento), cujos usos e significados são analisados no artigo de Irene Pin, publicado originalmente no diário galego Nòs e que aqui transcrevemos com a devida vénia.
5. A Semana Mundial da Imunização é promovida pelas Nações Unidas entre 20 e 27 de abril. Todos os anos continua a registar-se a morte de 1,5 milhões de bebés por falta de vacinação, pelo que a UNICEF continua a desenvolver esforços para vacinar o maior número possível de crianças (ver notícias aqui e aqui). A questão da vacinação tem-se tornado mais premente devido à investigação que tem sido desenvolvida em vários laboratórios mundiais em busca de uma vacina contra o novo coronavírus – como se refere nesta notícia.
A propósito de imunidade e vacinação, recordamos algumas repostas no arquivo do Ciberdúvidas: «Antónimo de imunidade», «Imunitário / imunológico», ««Imunidade contra vírus...», ou «imunidade a vírus...»?», «Sistema imunitário», «O significado de alo-imune», «Infecções oportunísticas»,«Vacina», «Qual a pronúncia de bactéria?»
6. Em Portugal, os alunos do 11.º e 12.º ano poderão regressar às aulas presenciais no dia 18 de maio e as creches abrirão a 1 de junho. É esta a intenção do Governo, caso a situação continue a evoluir positivamente. A reunião com especialistas da Direção-Geral da Saúde, que terá lugar no dia 28 de abril, será fundamental para o desenvolvimento da estratégia de retoma faseada da normalidade.
1. Em Portugal, comemora-se o 25 de Abril, o dia em que há 46 anos se desencadeou a Revolução dos Cravos. Como todas as épocas de grande mudança, foi uma experiência coletiva intensa e até dolorosa, no propósito de instaurar um novo regime político que garantisse a liberdade de expressão, a participação cidadã e a justiça social. Compreende-se, pois, que a língua falada e escrita em Portugal guarde memória desses tempos, pela carga emocional ainda hoje associada a certas palavras, locuções e siglas como capitalismo, constituição, democracia, descolonização, greves, saneamentos, eleições, igualdade, manifestação, nacionalizações, parlamento, partido, povo, revolução, socialismo, sociedade sem classes, reação, reforma agrária, MFA, UCP, PREC, ELP ou PALOP.
Releia-se a Abertura de 25 de abril de 2014, que assinalou o 40.º aniversário do fim da ditadura do Estado Novo e da guerra colonial; e, na rubrica O Nosso Idioma, sugere-se a consulta de dois artigos à volta da história linguística do 25 de Abril: Palavras que nasceram com a década [1974-1984] (1984), de José Mário Costa, e O 25 de Abril no léxico português (2003), de Margarita Correia em 2003.
2. Em 2020, com a perspetiva da mudança de escala planetária prometida pela pandemia de covid-19, as comemorações do 25 de Abril relembram a necessidade de uma esperança. E, contornando os constrangimentos do estado de emergência, lança-se mão do avanço tecnológico e produzem-se conteúdos culturais comemorativos, para assim se organizarem festejos à distância, entre paredes confinantes, ou fazendo de cada varanda as praças públicas ainda vazias. Entre muitas iniciativas, mencionem-se, por exemplo:
– a realização do documentário Agora Que Não Podemos Estar Juntos, um desafio lançado pelo primeiro-ministro português, impossibilitado de acolher a celebração na sua residência oficial como costuma, aos diretores artísticos dos teatros nacionais de São Carlos, São João e D. Maria II, bem como da Companhia Nacional de Bailado. Vide aqui e aqui.
– o programa de atividades "dentro de portas" que, em Lisboa, até 30 de abril, propõe a empresa municipal de animação cultural – a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural;
– a disponibilização nas redes sociais, de 24 a 29 de abril, dos testemunhos completos dos presos políticos e dos académicos que participaram na curta-metragem documental Museu da Vergonha, de Luís Monteiro e José Machado de Castro;
– o programa virtual que promove a Câmara Municipal de Grândola, vila alentejana a que o cantautor José Afonso (1929-1987) rendeu homenagem com "Grândola, Vila Morena" (do álbum Cantigas do Maio, de 1971), a composição mais emblemática da Revolução;
– e, confirmando esse valor simbólico, a Associação 25 de Abril, lança no Facebook o apelo Solta a Grândola que há em ti, e chama os portugueses a cantarem, no sábado às 15h00, “às janelas ou às varandas”, a canção “Grândola Vila Morena” (mais informação aqui e áudio com letra completa aqui).
Justifica-se igualmente uma chamada de atenção para o vídeo do comentário de Penelope Curtis, diretora do Museu Calouste Gulbenkian (cf. página de Facebook, 21/04/2020), em Lisboa, a respeito de duas obras da coleção deste museu. Uma delas, contemporânea dos acontecimentos de há 46 anos, é o quadro «Encontro de Natália Correia com Fernanda Botelho e Maria João Pires» (na imagem à direita), do pintor português Nikias Skapinakis (1931), comentada em confronto com «Retrato de Mademoiselle Duplant», de François-André Vincent (1746-1716). São de algum modo tocantes as palavras de Curtis no final: «Podemos dizer que a pintura portuguesa está a olhar para o futuro que poderá vir depois de 1974. Este é um momento de mudança para elas [as pessoas retratadas], e todos nós sentimos que este [o que se vive em 2020] será um momento de mudança sem precedentes para nós também.»
3. Na rubrica O nosso idioma, o glossário "O léxico da covid-19" recebe novas entradas: crianças (o que fazer com a sua impaciência em confinamento?), humor (bem necessário para suportar a situação), poluição (cujo nível parece ter descido), tráfego aéreo (que diminuiu drasticamente), relaxamento (das medidas de emergência) e relevância (de várias classes profissionais no combate à propagação do vírus e à doença). A propósito da situação no Brasil e da atuação desconcertante do seu presidente, refiram-se ainda dois neologismos recolhidos das crónicas do jornalista João Almeida Moreira, que, no Brasil é correspondente do Diário Notícias (ler aqui e aqui): bolsonaristão, em referência (crítica) ao interior do estado de São Paulo, onde Bolsonaro encontra fortíssima base apoio eleitoral (ver também vídeo do canal Estúdio Fluxo do Youtube); e bolsonique, «apoiante radical de Bolsonaro» (cf. aqui), cuja formação ressoa a outros termos acabados em -ique, terminação de origem russa que se encontra em bolchevique e menchevique, palavras de tempos antigos e nem por isso menos favoráveis a sectarismos (cf. Dicionário Houaiss). Para mais registos destas e doutras palavras usadas em referência à presidência de Jair Bolsonaro, ouvir aqui, aqui e aqui.
4. Uma nota da atualidade igualmente com pertinência para "O léxico da covid-19": a deteção de mais de uma centena de pessoas infetadas num hostel lisboeta (cf. Expresso, 22/04/2020; ver também aqui). Recorde-se que, apesar de se tratar de um anglicismo, em princípio dispensável por a língua já disponibilizar termos como pensão, albergue ou hospedagem, a verdade que é que hostel – palavra aguda, com acento tónico na sílaba -tel – faz hoje parte da nomenclatura que em Portugal se emprega oficialmente para identificar certo tipo de alojamento hoteleiro, conforme já se explicou numa resposta anterior.
5. Ao Consultório regressa a análise das orações explicativas, a par de outros tópicos: que significa o galeguismo deda? a expressão «à prestação» usa-se em Portugal?»; no complexo verbal «está por vir» ocorre algum auxiliar? A expressão «de braço dado» tem plural?
6. Ainda na rubrica O nosso idioma, transcrevem-se com a devida vénia dois textos: à volta da morte e dos eufemismos que a denotam, um artigo da jornalista Rita Cipriano, que o assinou no jornal digital Observador (12/06/2016); e, sobre a etimologia do nome mundo, um apontamento do professor João Nogueira da Costa (Facebook, 19/11/2018).
7. Como se tem referido nestas páginas, entre as medidas de contenção do novo coronavírus em Portugal, conta-se a suspensão das atividades letivas do 1.º ao 9.º ano, com a consequência de as escolas funcionarem na modalidade de ensino à distância. Sobre o #EstudoEmCasa, o projeto televisivo que visa complementar tais atividades e suprir eventuais carências de equipamento e recursos informáticos, são de registar, no debate parlamentar de 22/04/2020, as intervenções do primeiro-ministro António Costa, que considerou essencial assegurar no próximo ano letivo a universalidade do acesso a plataformas digitais, de modo a evitar «que o próximo ano letivo seja a continuação do final do segundo e terceiro período deste ano letivo». Mais sublinhou que «[...] como vamos ter de conviver ao longo de todo o próximo ano letivo, com o vírus e provavelmente sem vacina e sem terapia, temos de estar preparados para não sermos outra vez surpreendidos pelo imprevisto que este ano existiu», acrescentando: «A escola nunca mais será aquilo que foi. Será certamente uma escola mais digital»
Assinale-se que, não obstante as universidades e instituos politécnicos terem também interrompido as aulas presenciais, foi publicado o calendário de acesso ao ensino superior, com arranque previsto para agosto do presente ano (ler notícia aqui).
8. Dois episódios da 10.ª e última série do magazine Cuidado com a Língua! – em reposição na televisão pública portuguesa – passam na RTP 2: no sábado, dia 25/04, às 20h25*, tudo decorre numa tipografia, à volta das muitas palavras e expressões alusivas à arte de imprimir livros, revistas ou folhetos. No dia seguinte, faz-se uma viagem pelos bastidores da escola de circo do Chapitô, em Lisboa. E, na RTP 1, o programa que passa no dia 28/04, às 14h30* – com repetição no dia 3 de maio, à 06h15*e depois na RTP Internacional – aborda o campo lexical das lareiras. Mais informação aqui.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando este o episódio disponível depois também na RTP Play, aqui.
9. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa são temas principais: no Língua de Todos, transmitido pela RTP África em 24 de abril, pelas 13h20* (programa repetido no sábado, dia 25 de abril, depois do noticiário das 09h00*), o léxico da covid-19, abordado numa entrevista à linguista e colaboradora do Ciberdúvidas Carla Marques ; e no Páginas de Português, emitido na Antena 2, em 26 de abril, pelas 12h30* (repetição no sábado, dia 2 de maio, às 15h30*), o escritor brasileiro Rubem Fonseca, recentemente falecido, e o projeto “Estudo em Casa".
* Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
10. Referência final para o início o Ramadão, o nono mês do calendário islâmico, no qual a maioria dos muçulmanos pratica jejum ritual. Este ano, porém, com algumas diferenças: não será possível ir a Meca, na Arábia Saudita, nem rezar na mesquita, nem fazer a reunião para quebra de jejum quando o sol se põe (cf.notícia).
A este propósito, recordamos alguns textos aqui publicados relacionadas com o tema: «Palavras referentes aos Islão», «Ainda o termo islamista»,«Islâmico vs. islamita», «A barafunda entre ilsmistas e islamitas», «Islão também com acepção étnica», «As datas históricas pós-acordo ortográfico», «Sobre o uso da maiúsculas e de minúsculas», «A origem do nome Aida».
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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