Nos dicionários, guias de uso, corpora e reportórios de curiosidades linguísticas consultados1, não se encontraram nem registo, nem pista evidente, nem clara explicação da motivação da sequência «erro por simpatia».
No entanto, depreende-se que simpatia, em «erro de simpatia», se interprete como «afinidade que se supõe existir ou que se estabelece, por vezes insconcientemente, entre duas entidades (pessoas, coisas, situações, etc.)», de acordo com um uso mais antigo que o Dicionário Houaiss regista («correspondência que se julgava existir entre as qualidades de certos corpos»).
Uma definição enquadrável nesta linha de exploração é a que o escritor António Cabrita expôs no seu blogue Raposas a Sul em 11/12/2011: «[..] há os erros de simpatia, aqueles que reproduzimos porque a nossa vontade completou ou cegou-nos ao que está escrito.»
O mesmo autor ilustra depois assim a situação que se denomina «erro de simpatia»:
«Por exemplo, neste blogue cometi um erro no post mais lido (vá lá saber-se porquê) que o leitor ou nunca dá conta, ou nunca se manifesta – o que, para mim, em termos práticos dá no mesmo. Na publicação intitulada «Einstein e os meus alunos» conto um episódio verdadeiro em que ofereci quarenta livros digitais ao aluno que me quisesse vir ajudar numa mudança de casa; tendo-se os alunos abstido da possibilidade de adquirirem num só dia 40 livros novos. Ora, no texto, começo por dizer que eram 40 e acabo mudando o número para 50. Não sei porque o alterei, a verdade está no primeiro número. Mas o que é facto é que nenhum dos 875 leitores que leu esse post até agora teve a delicadeza ou o humor para me fazer o reparo. Se calhar nem deram conta: erro de simpatia.»
Um «erro de simpatia» é, portanto, um erro que foge a um ato deliberado e resulta de um automatismo inexplicável, talvez por uma obscura associação inconsciente.
Acrescente-se que simpatia é o aportuguesamento do latim sympathia, ae, «afinidade, relação, analogia», do grego sumpátheia, as «participação no sofrimento de outrem, compaixão, simpatia» e, por extensão, «comunhão de sentimentos ou de impressões» (Dicionário Houaiss). O nome grego é um derivado de sumpathês, ês, és, «que toma parte nos sentimentos de outrem» e «que tem os mesmos sentimentos», adjetivo formado por elementos também gregos: sún, «juntamente»; e páthos, eos-ous, «o que se experimenta (aplicado às paixões da alma ou às doenças)» (ibidem).
1 Foram consultados o Dicionário Infopédia; o Dicionário Priberam; o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa; o Corpus do Português, de Mark Davies; o Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, de Vasco Botelho de Amaral; e o Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves.