1. A palavra tona, vinda do fundo dos tempos – atribui-se a sua origem ao céltico *tunna, «pele, crosta» –, é hoje sobretudo usada em locuções como «vir à tona», no sentido de «vir à superfície», e «à tona de», como em «à tona de água» – ou será melhor «à tona da água», com o artigo definido a? A resposta integra a atualização do consultório, onde o mote céltico se prolonga noutra questão a respeito de nomes irlandeses começados pela partícula O' – caso de O'Connor ou, ainda, de O'Neill, que o poeta português Alexandre O'Neill (1924-1986) tornou conhecido em português. Além disso, reflete-se sobre a correção do termo «insuficiente renal », para referir os pacientes com insuficiência renal. Por último, regressa a análise sintática: como reconhecer o sujeito das chamadas frases copulativas identificadoras? E, em português, será que só a conjunção se pode marcar o valor condicional, ou existem outras construções?
2. Discriminar a descriminação é o resultado paradoxal a que chega quem confunde discriminar com descriminar. A esta troca incorreta mas recorrente na nossa língua, a professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, dedica um novo apontamento, em linha na rubrica O nosso idioma.
3. Na Montra de Livros, apresenta-se Novo Vocabulário Ortográfico – Com Prontuário Anexo, um novo livro de D´Silvas Filho, sob a chancela da editora Guerra & Paz. Ponto de partida desta obra, segundo o próprio autor: «aproveita[r] o que o AO 90 tem de positivo e mant[er] o que da equilibrada norma de 1945 pode ou deve conservar-se».
4. A saúde mundial continua na ordem do dia por causa do contágio do novo coronavírus, o nCoV-2019 (ver as Aberturas de 24/01/2020 e 03/01/2020). A China tem sido até agora a protagonista desta grave situação. Por toda a parte, os media têm dado cobertura da propagação da doença entre a população mundial, nem sempre da melhor forma, com notícias imprecisas ou falsas. Tanto mais grave quanto o alarmismo provocado e, pior, fomentador de reações de medo, descamba em formas inaceitáveis de sinofobia. Para denominar este vertiginoso fluxo informativo, em que é difícil distinguir fontes credíveis das que o não são, surge o novo termo infodemia, que começa a ter circulação, por exemplo, em italiano e facilmente se adapta ao português sem alteração gráfica – tal como para o espanhol. O termo faz parte do livro que o investigador Giancarlo Manfredi publicou em Itália em 2015, com o título original Infodemia. I meccanismi complessi della comunicazione nelle emergenze (literalmente, «os mecanismos complexos da comunicação nas emergências). Do ponto de vista da sua formação, diga-se que infodemia é composto de info-, um prefixo relativamente recente que resulta da truncação de informação, e do elemento -demia, que figura nas conhecidíssimas palavras epidemia e pandemia.
Cf. Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19 + La OMS entra en guerra contra la 'infodemia' + Coronavirus: ¿epidemia o "infodemia"? + "Infodemia", o termo que descreve a grave epidemia de informações falsas sobre o coronavírus + Infodemia Coronavirus: l'epidemia più pericolosa sono le fake news + Enquanto o coronavírus avança, a xenofobia alastra-se pelo mundo + As duas pestes de 2020: coronavírus e racismo
5. Nas Controvérsias, transcrevem-se dois textos publicados no jornal Público em 4 de fevereiro de 2020: um, da autoria da professora Maria do Carmo Vieira, que critica as mudanças curriculares em Portugal, levando ao escasso ou nulo tratamento dos temas da 2.ª Guerra Mundial e do Holocausto nas diferentes disciplinas; noutro, a secretária-geral do Sindicato dos Professores das Comunidades Lusíadas, Teresa Duarte Soares, tece também duras críticas à gestão da rede de Ensino do Português no Estrangeiro (EPE), desmentindo as afirmações que o deputado português Paulo Pisco, do Partido Socialista, produziu em artigo saído igualmente no jornal Público (também disponível na mesma rubrica).
6. Morreu George Steiner (1929-2020), um dos grandes ensaístas e historiadores da cultura das últimas décadas, e, com ele, parece também ir-se fechando um capítulo da memórias do Ocidente renascido das cinzas da 2.ª Guerra Mundial (ler aqui, aqui e aqui). Steiner não ficou alheio às literaturas de língua portuguesa, havendo testemunho deste seu interesse, como acontece com o vídeo a seguir, que regista o encontro que teve com o escritor António Lobo Antunes em outubro de 2011, graças à iniciativa do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) e da revista Ler.
7. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa, têm relevo os seguintes temas: no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 7 de fevereiro, pelas 13h20*, a africanização do português em Moçambique, a propósito do uso transitivo do verbo nascer, numa entrevista à professora Sandra Duarte Tavares; e, no programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 9 de fevereiro, pelas 12h30, convida -se o professor José Ferreira GomesN para falar do curso de Escrita Criativa sobre o conto, que este especialista orientou em janeiro de 2020 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 8 de fevereiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 15 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.