1. Foi em 13 de janeiro de 2020 que o primeiro caso de coronavírus foi identificado fora da China. Este acontecimento teve lugar na Tailândia e, desde esse momento, correu o planeta. Um ano depois, em Portugal, devido ao aumento do número de infeções e do número de mortos, e face à gradual incapacidade de resposta dos hospitais, equaciona-se a possibilidade, cada vez mais certa, de medidas restritivas mais apertadas. O objetivo mantém-se: baixar a curva, travando novas infeções. Para que tal aconteça, as medidas terão de passar por um recolher obrigatório III, que, na Ilha da Madeira já se encontra em vigor e que no continente se alargará a um confinamento geral, o que será anunciado ainda no decurso desta semana. Enquanto a situação não se altera, são as consequências da covid em vários domínios que continuam a ocupar o lugar central, antes de mais com o anúncio de um teste positivo seguido de dois negativos do Presidente da República português Marcelo Rebelo de Sousa, o que motivou o uso da expressão vírus infiltrado nas presidenciais em Portugal, dadas as consequências ainda não definidas desta situação. Por outro lado, equaciona-se a possibilidade de um voto eletrónico a distância e olha-se com consternação para o número de 20 mil mortos na Bélgica. Assistimos, ainda, ao ritmo lento da vacinação de toda a população e as opções tomadas vão colocando dilemas éticos relacionados com as prioridades definidas. As expressões assinaladas marcam a fase mais recente da pandemia e da vida em pandemia, o que lhes confere entrada para o glossário A covid-19 na língua. Embora não se relacione diretamente com a atual pandemia, é também tempo de recordar o final de outra pandemia: o ébola, cujo fim foi declarado há cinco anos (em 14 de janeiro) pela OMS.
2. Na rubrica Diversidades, o coordenador executivo do Ciberdúvidas Carlos Rocha subscreve um artigo sobre as relações entre a palavra descambiar, do espanhol, e destrocar, do português, que se aproximam por serem ambas palavras rejeitadas por autores normativos. No entanto, ambas parecem também ter conquistado o seu espaço devido ao seu uso cada vez mais generalizado. Mas, no plano do significado, serão palavras equivalentes ou apenas falsos amigos?
3. No Consultório apresentamos questões de âmbito diversificado. Uma dúvida relacionada com o uso da vírgulas em construções comparativas levanta ainda a questão da ambiguidade que se pode gerar. As construções clivadas são muito frequentes na oralidade ou na escrita informal. A sua intenção está associada apenas à colocação de foco num constituinte ou existem outros valores que se poderão assinalar? Ainda o significado da palavra teodidata, a grafia de torriense, a diferença entre os valores de probabilidade e possibilidade da modalidade epistémica e a colocação do pronome átono em construções com infinitivo.
4. A professora universitária e investigadora Margarita Correia dedica um artigo ao uso da linguagem figurada, defendendo que esta pode revelar-se perigosa quer para quem a usa quer para quem a recebe, pois os processos de compreensão do interlocutor poderão não permitir a identificação da real intenção do locutor (texto publicado originalmente no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia).
5. Uma viagem às línguas faladas nos Estados Unidos: esta é a proposta do professor e tradutor Marco Neves numa crónica em que se propõe contribuir para a mitigação da ideia de que os Estados Unidos são um país tendencialmente monolingue (crónica publicada no portal SAPO24 e aqui transcrita com a devida vénia).
6. O provedor do leitor do jornal Público José Manuel Barata-Feyo reflete sobre a generalização do uso do verbo revelar, modismo que tem relegado para segundo plano um conjunto de verbos dicendi, que vão ficando esquecidos na escrita jornalística. Um texto que se transcreve no Pelourinho, com a devida vénia.