A palavra catarse, «purgação, evacuação» e, atualmente, «libertação de emoções reprimidas», pode pronunciar-se com o [s] surdo de persa ou entorse.
Observe-se que, até meados do século passado, os registos dicionarísticos de catarse, que é palavra do registo culto que só há poucas décadas ganhou maior circulação, não sugeriam que o grafema s correspondesse ao [z] que se ouve em casa. Contudo, atualmente, a verdade é que, em relação à pronúncia dos falantes de Portugal1, a transcrição fonética (ou indicação de pronúncia) da palavra apresenta um [z] – cf. o Dicionário Infopédia, o Dicionário Priberam e o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa.
Não temos explicação fundada, mas é possível que o [z] tenha surgido por influência de outras palavras de origem grega terminadas em -se, como análise ou ênfase (embora nestas o s se encontre entre vogais e, portanto, regularmente, se pronuncie [z]).
Em suma, ambas as pronúncias estão corretas. No entanto, a pronúncia presumivelmente mais antiga foi praticamente suplantada por outra mais moderna, parecendo esta mais enraizada entre quantos proferem a palavra.
1 Nos dicionários brasileiros consultados – Michaelis, Houaiss e UNESP – não se assinala esta pronúncia, o que leva a crer que o s soa [s], fazendo da palavra um homófono do verbo catar-se, usado reflexivamente. Contudo, uma consulta do Forvo – um repositório de acesso livre, mas que pode levantar quanto à fidedignidade dos registos – faculta cinco registos sonoros identificáveis com o conjunto das variedades brasileiras, detetando em dois deles a articulação de catarse com [z].