1. O mundo editorial de língua inglesa tem vindo a ser alvo de uma nova ordem de pensamento, que se orienta no sentido de remover de obras literárias todas as referências que possam chocar alguma «sensibilidade contemporânea«, sejam estas ofensas ao perfil físico ou depreciações que têm como base a etnia. A nova moral que se procura impor justificou já que se amputassem nos seus passos considerados mais ofensivos obras de Roald Dahl ou de Agatha Christie e que se retirassem do acesso público as obras da escritora juvenil Enid Blyton. Há quem considere que este é o dealbar de um novo tipo de censura, há quem defenda que este é o primeiro passo para uma nova consciência ética mais desperta para quaisquer problemas fundados nalgum tipo de discriminação. Alinhado com esta visão da sociedade tem surgido o termo woke, palavra inglesa, derivado do vernáculo stay woke, que significa «continue acordado/desperto, em estado de alerta contra a injustiça social, racial e outras», e que ainda não tem equivalente estável em língua portuguesa, mas que se poderia traduzir como alerta ou desperto. Este termo tem sido usado para designar o movimento progressista que defende a vigência do politicamente correto e do virtuoso na sociedade. Será talvez nesta ordem de pensamentos que se enquadra a recente demissão de uma professora norte-americana, em virtude de ter mostrado aos seus alunos a estátua de David, de Miguel Ângelo, considerada pornográfica por alguns encarregados de educação. Muitos se têm erguido contra esta nova forma de pensar, que consideram um modo de censura e de puritanismo excessivo, por não aceitar a diferença nem a discussão de ideias. A todos estes movimentos não é alheia a luta por uma linguagem inclusiva que, no Brasil, desencadeou uma reação adversa com a apresentação de um projeto de lei que proíbe o uso de linguagem neutra nas escolas. Esta proposta é objeto de análise por parte do especialista brasileiro em direito David Nogueira Lopes (artigo que partilhamos com a devida vénia).
Primeira imagem: imagem da estátua de David, de Miguel Ângelo, que tem sido divulgada nas redes sociais como forma de protesto contra o facto de se ter considerado a estátua pornográfica.
2. A colocação do pronome clítico com locuções correlativas dá matéria a uma das respostas do Consultório. A ela vem juntar-se uma questão sobre a distinção entre pronomes adjuntos (determinantes) e adjetivos e uma outra relacionada com o uso do apóstrofo com a preposição de. Nesta atualização, podem ainda consultar-se os seguintes tópicos: «O uso e classificação de salvo», «A grafia de musculoinvasivo», «O nome mastragança» e a delimitação de apóstrofes n'Os Lusíadas.
3. O significado da expressão «Resvés Campo de Ourique» é explicado por Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas, num apontamento emitido no programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. A enfermeira Carmen Garcia, colunista do jornal Público, reflete no seu artigo sobre a importância do estudo das obras literárias na sua formação e crescimento, enquanto demonstra a importância fulcral da literatura e de alguns autores, que lhe ficaram na memória (partilhado com a devida vénia).
5. Entre os eventos de interesse, destacamos os seguintes:
– A Semana da Leitura é assinalada em Portugal de 27 a 31 de março, com inúmeras iniciativas que decorrem um pouco por todo o país, das escolas à comunidade alargada (mais informações).
– Estão abertas inscrições para o 15.º Encontro Nacional da Associação de Professores de Português, subordinado ao tema "Português em jogo e em projeto", que decorrerá nos dias 11 e 12 de abril, em Lisboa, na Fundação e Museu do Oriente, e a distância.
1. Dando conta da violência dos protestos em França contra o aumento da idade da reforma, a atualidade define também um horizonte político-militar tendente, ao que parece, a uma nova ordem mundial. Neste panorama, a covid-19 perde relevo, mas as notícias referem um estudo de virologistas internacionais, que, após análise de material genético recolhido no mercado chinês de Wuhan, avançam agora a hipótese de, na origem da pandemia, estar um animal muito procurado na China para o comércio das peles – o Nyctereutes procyonoides, nome científico de um mamífero também conhecido, segundo alguns dicionários, como cão-guaxinim, canídeo confundível com outra espécie, os guaxinins (Procyon lotor). É, portanto, a propósito deste tema que o termo guaxinim, provável empréstimo das línguas tupis (tupinismo), constitui a nova entrada da rubrica A covid-19 na língua.
Um tupinismo é uma «palavra, construção ou locução da língua tupi, tomada de empréstimo por outra língua» (Dicionário Houaiss). Os tupinismos são numerosos no português, não só no léxico comum (ex.: capim, jacarandá, mandioca, sabiá), mas muito em especial na abundante toponímia com essa origem dispersa por grande parte do Brasil (ex.: Guanabara, Ipanema, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Tijuca). Acrescente-se que os guaxinins são referidos por outros nomes vulgares, entre eles, racum, adaptação do inglês racoon, por sua vez empréstimo do algonquino raugroughcun ou arocoun (ibidem).
2. O sentido de «não quero que ninguém saiba» é diferente de «quero que ninguém saiba»? A pergunta diz respeito à concordância negativa em português e encontra-se no Consultório, onde, num total de oito respostas, se abordam ainda os seguintes tópicos: o topónimo brasileiro Maranduba; a etimologia de contrabando; as características dum texto expositivo; a sequência «e, além disso,...»; a frase «obrigada sou eu que lhe fico»; os aspetos imperfetivo, habitual e iterativo; e o termo lineatura.
3. «Falsa promessa» é como apelidam Noam Chomsky e Ian Roberts o ChatGPT. Nas Controvérsias divulga-se em português o artigo que os famosos linguistas assinaram com outro investigador, Jeffrey Watumull, no jornal norte-americano New York Times (08/03/2023), tecendo duras críticas aos pressupostos teóricos e técnicos que estão por trás do funcionamento do ChatGPT. Na mesma rubrica, a propósito da expressão «abusos sexuais», transcreve-se com a devida vénia, do jornal Público (23/03/2023), um artigo de opinião da escritora Luísa Semedo, membro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), a qual defende a substituição do «termo pedofilia para passar a falar de pedocriminalidade e pedocriminosos».
4. A história da língua, que teve lugar proeminente nos estudos linguísticos do século XIX, continua a dar contributos científicos relevantes. É o que prova o extenso e sólido trabalho de Clarinda de Azevedo Maia, agora em grande parte reunido em Estudos Linguísticos, uma publicação da Imprensa da Universidade de Coimbra. Na Montra de Livros, apresentam-se os dois volumes que constituem esta obra.
5. Festeja-se em 27 de março o Dia Mundial do Teatro, sempre marcado com um grande leque de espetáculos, vários deles em estreia (ver aqui). Uma data que é também pretexto para (re)ver os seguintes conteúdos em arquivo: "Teatro", "Teatro português", "A origem da palavra coxia","Aderecista, caracterizador e maquilhador, profissionais da máscara (teatro)", "O significado de estásimo e de párodo (teatro)", "Fosso (de orquestra)", "Os conceitos de hiperonímia e de hiponímia em arte, cinema, teatro, pintura e escultura", "Forrobodó, farrobodó e farrabadó", "A Geringonça, mas a da 'Esopaida' de António José da Silva" , "Diga?".
Na imagem, O Monólogo do Vaqueiro, representado pelo próprio Gil Vicente, na visão do pintor Roque Gameiro (1864-1935).
6. Registe-se ainda o concurso 'Voz – O Poder da Palavra', cujas inscrições decorrem até 31 de março. Trata-se de um concurso nacional de performance, escrita discursiva e oratória destinado a todos os jovens entre os 15 e os 25 anos.
7. Quanto a três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 24/03/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), conversa-se com a linguista e professora universitária, Cristina Martins, sobre o ensino do Português como Língua Não Materna.
– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 26/03/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 1/04/2023), entrevista-se Pedro Sepúlveda (Universidade Nova de Lisboa), coordenador do colóquio «Eduardo Lourenço, uma vida escrita», a ter lugar na Fundação Calouste Gulbenkian em 28/03/2023, e fala-se com Margarida Calafate sobre a obra mais conhecida de Eduardo Lourenço, O Labirinto da Saudade. O programa inclui um apontamento de Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas, a respeito da expressão «revés Campo de Ourique».
– Assinale-se, por último, Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda à sexta-feira, às 09h50 e às 18h50*, na Antena 2. Para um depoimento sobre a experiência de ser poliglota, convida-se o cidadão britânico Rurik Ingram, residente em Portugal e falante de, pelo menos, seis línguas.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Assinala-se a 21 de março o Dia Mundial da Poesia, um género literário que tem acompanhado a humanidade e que será mesmo anterior à própria escrita. No século IV, Aristóteles explicava que a atividade humana se dividia em três grandes modalidades: a teoria, a práxis e a poiesis. Esta última era descrita como o impulso do ser humano para criar algo com base na imaginação e nos sentimentos. Por esta razão, para Aristóteles, a poesia era uma das vias que conduzia à plenitude humana. A poesia foi, ao longo dos séculos, conhecendo inúmeras formas, tratando inúmeros temas, sendo sempre um canal de expressão da alma humana e da sua forma de ver e compreender a existência. Em Portugal, neste dia, é possível celebrar a poesia por meio de inúmeros programas que têm lugar um pouco por todo o país (veja-se aqui e aqui). Também no Ciberdúvidas a poesia tem encontrada lugar, sendo matéria para identificação da diferença entre ela e a palavra poema, dando lugar à clarificação sobre a ortografia correta da palavra ou à identificação da sua etimologia, sem esquecer a sua pronúncia e a sua ligação à língua e à música.
Imagens: estandartes com frases de poetas portugueses, pertencentes a Poesia estendida, uma iniciativa da Casa Fernando Pessoa e da Junta de Freguesia de Campo de Ourique.
2. O topónimo Mealhada, embora pareça permitir uma identificação da sua origem com base no léxico comum, acaba por revelar ter uma origem obscura, tal como se explica nesta resposta do Consultório. Na atualização, será possível consultar ainda outras sete novas respostas de temas diversos: «A grafia de "bem comum"», «Modalidade epistémica e modalidade deôntica», «A pronúncia de colmatar», «Atos ilocutórios assertivos e expressivos», «O anglicismo team building», «Hipérbato vs. anástrofe» e «A origem de tetravô».
3. A identificação da classe a que pertence a palavra quem pode causar dúvidas, como acontece no caso da frase «Com quem queres tu falar?», com base na qual a professora Carla Marques esclarece alguns aspetos relacionados com a questão (apontamento emitido originalmente no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. O tradutor e professor universitário Marco Neves partilha com os seus leitores o prólogo da sua publicação Pontuação em Português, no qual reflete sobre a sua relação pessoal com o travessão e com a vírgula, um texto que, com a devida vénia, fica transcrito na rubrica O Nosso Idioma.
5. A professora universtária e linguista Margarita Correia reflete no seu artigo desta semana sobre a ação do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., questionando a sua ação em prol da língua portuguesa (publicado no jornal Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia).
6. Entre os eventos relacionados com a língua, divulgamos o 38.º Colóquio da Lusofonia, que terá lugar de 4 a 8 de outubro 2023, no Centro de Artes Contemporâneas Arquipélago, na Ribeira Grande, Açores, e que tem como convidados Teolinda Gersão, Nuno Costa Santos, Luís Filipe Borges, Alexandre Borges e Diogo Ourique.
7. No Dia Mundial da Poesia partilhamos com os nossos consulentes um poema de autoria de António Pedro Manuel, estudante de mestrado no ISCTE e oriundo de Benguela, Angola:
Música
Letras que não queriam ser apenas letrasmas sim um textoversos que não queriam ser apenas versosmas sim um poemamúsicasom que não queria ser apenas sommas uma melodianotas que não queriam ser apenas notasmas uma harmoniamúsicabatidas que não queriam ser apenas batidasmas um ritmovoz que não queria ser apenas vozmas um encantomúsicacompassos que não queriam ser apenas compassosmas uma fórmulafalares que não queriam ser apenas informaçãomas transmitir uma emoção
1. «Este livro, cujo êxito se me antolhava mau, quando eu o ia escrevendo, teve uma recepção de primazia sobre todos os seus irmãos. Movia‑me à desconfiança o ser ele triste, sem interpolação de risos, sombrio, e rematado por catástrofe de confrangir o ânimo dos leitores, que se interessam na boa sorte de uns, e no castigo doutros personagens» – confessava Camilo Castelo Branco (1825-1890) sobre Amor de Perdição (1862), escrito, segundo as próprias palavras do autor, na Cadeia da Relação do Porto, por causa do amor adúltero com Ana Plácido. Depositado desde 1943 no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, o manuscrito deste retumbante sucesso literário do Portugal oitocentista encontra-se em exposição, de 16 de março a 8 de novembro de 2023, na Livraria Lello, na Cidade Invicta. Um ótimo pretexto, portanto, para conhecer ou reencontrar o universo da escrita camiliana, a qual, frequentemente evocativa dos ambientes rurais e urbanos do norte de Portugal, se distingue pela mestria da linguagem narrativa e pela opulência lexical, de fonte vernácula, para sublinhar paroxismos ultrarromânticos ou comentários do mais cruel sarcasmo.
A propósito da língua literária de Camilo, leiam-se, na Antologia, os excertos "Obriga-se o cronista", em que o escritor critica os lugares-comuns do estilo literário do seu tempo, e "A linguagem de Vieira...", um elogio da prosa seiscentista do Padre António Vieira. Na imagem, capa de uma edição de 1943 de Amor de Perdição (Domingos Barreira, Editor, e Livraria Simões Lopes).
2. Natália Correia morreu há 30 anos, em 16 de março de 1993. Nascida em 13 de setembro de 1923 na ilha de São Miguel*, Natália Correia foi escritora e poetisa conceituada, de pendor oratório e de veia não raramente satírica. Antes do 25 de Abril de 1974, participou nos movimentos oposicionistas, para, depois, com a democratização de Portugal, se tornar deputada à Assembleia da República, de 1979 a 1991. É sua a letra do hino dos Açores. O seu ativo compromisso cidadão e intelectual passou por uma vida editorial intensa e pela defesa do património, dos direitos humanos, das mulheres e da cultura. Dela é um soneto dirigido à língua portuguesa e incluído na rubrica Antologia, do qual, em jeito de homenagem, se citam aqui a primeira quadra e o primeiro terceto: «Tu que foste do Lácio a flor do pinho/ dos trovadores a leda a bem-talhada/ de oito séculos a cal o pão e o vinho/ de Luís Vaz a chama joalhada/ [...] eis-te bobo da corja coribântica:/ a canalha apedreja-te a semântica/ e os teus verbos feridos vão de maca.»
* Celebrações do Centenário de Natália Correia + “O dever de deslumbrar”
3. Nos testes escolares, por exemplo, a perguntas como «qual é a importância desta novela?», muitos alunos começam por responder assim: «a importância é que...», «a importância é porque...». Estarão estas construções corretas? Gramaticalmente, aceitam-se, mas, quanto ao estilo, devem evitar-se, conforme se observa na atualização do Consultório, que acolhe um total de nove respostas. Além da referida questão, de natureza estilística, esclarecem-se os seguintes tópicos: a etimologia do nome e adjetivo docente; a associação do relativo o que ao verbo gostar («do que gosto é de futebol»); o eventual valor argumentativo das frases complexas; a origem do termo clítico; a interferência do inglês num uso do verbo lidar; a formação dos nomes ritmação e ritmização; a forma pronominal «consigo próprio»; e a concordância de um adjetivo com dois ou mais nomes coordenados.
4. Quando se fala de línguas crioulas, vêm geralmente à mente a África ou as Américas. Contudo, a marca da colonização europeia, em especial a de origem portuguesa, é muito mais vasta. Na rubrica Diversidades, fica um apontamento da linguista Patrícia Costa dá conta da situação de uma língua crioula de base lexical portuguesa do Seri Lanca (ou Sri Lanka), país que ocupa a ilha de Ceilão, também mítica e camonianamente chamada Taprobana.
5. Se George Bernard Shaw (1856-1950) dizia que o Reino Unido e os Estados Unidos eram países divididos por uma língua comum – o inglês –, que pensar do português nas relações Portugal-Brasil? Sobre o tema e os preconceitos à sua volta, nas Controvérsias, recuperam-se e transcrevem-se, com a devida vénia, dois textos publicados em 2021 no jornal Público: "Xenofobia linguística" e "Os brasileiros têm 'meia língua portuguesa'?".
6. Uns toques... e bons! é o apontamento assinado no Pelourinho pelo jornalista José Mário Costa, a propósito do empenho do novo selecionador de futebol, de nacionalidade espanhola, em falar em português. E nas Notícias, assinala-se a tomada de posse do escritor, jornalista e biógrafo Ruy Castro como membro ("Imortal") da Academia Brasileira de Letras (ABL), que, assim, passou a ocupar a cadeira n.º 13, sucedendo ao falecido diplomata, filósofo, tradutor e ensaísta Sérgio Paulo Rouanet.
7. Outros registos:
– Avançam as obras do Museu da Língua Portuguesa em Bragança, o qual partiu de uma ideia do tradutor Chrys Chrystello, fundador e dinamizador dos Colóquios da Lusofonia.
– Concluiu-se a 1.ª série de Palavrões da Ciência, um programa realizado por Marco Neves e Cristina Soares.
– Integrado no projeto VAPA – Variedade do Português de Angola, prepara-se um volume intitulado "Português de Angola: fonologia, sintaxe e lexicografia", decorrendo o prazo para a apresentação de propostas de capítulos (mais informação aqui).
8. Relativamente a três programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública portuguesa:
– Língua de Todos, transmitido na RDP África, sexta-feira, 17/03/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, 18/03/2023, pouco depois do noticiário das 9h00*), discutem-se os desafios que o ChatGPT traz para o ensino e aprendizagem do português. Para abordar este assunto, conversa-se com a linguista e professora universitária, Margarita Correia.
– Em Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 29/03/2023, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 25/03/2023, às 15h30*), entrevista-se Abdeljelil Larbi, tradutor de Camões e de Saramago, sobre o novo Dicionário Português-Árabe (Edições Colibri), uma obra com mais de 16 600 entradas que acaba de ser publicada. Neste programa, inclui-se ainda o apontamento da professora Carla Marques acerca do emprego de quem como pronome relativo ou pronome interrogativo.
– Refira-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho, de segunda à sexta-feira, às 09h50 e 18h50*, na Antena 2.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Em Portugal, um pouco como tinha já acontecido noutras partes do mundo, a Igreja Católica enfrenta denúncias de abusos sexuais a menores por parte de alguns dos seus membros. Nas muitas páginas que se têm escrito a propósito do tema, aparece, com frequência, a palavra pedofilia, que refere «a atração sexual de um adulto por crianças» ou a «prática de atos sexuais com crianças ou com quem ainda não atingiu a puberdade». A palavra, formada pela composição de dois radicais gregos (ped(o)-, que significa «filho, criança», e -filia, elemento de formação pospositivo, de origem grega e carácter nominal, que exprime a ideia de «amizade, predileção»), poderia ter originado um termo conotado positivamente que designaria o ato de «ser amigo de crianças». Todavia, a palavra evoluiu no sentido de uma significação de carga negativa e, atualmente, refere uma doença de foro psiquiátrico, que se encontra classificada pela OMS como um transtorno de preferência sexual. Refira-se, ainda, que, em si, a pedofilia não é considerada crime. O crime está associado à prática de abuso de menores. Pertencente ao mesmo campo lexical de pedofilia, a palavra pederastia (do grego paiderastía: junção do radical ped(o)- e da forma -erastia (de erastḗs, com o significado de «amável, amoroso, aquele que padece de amor») refere a «prática sexual entre um homem e um rapaz mais jovem», no contexto da Grécia Clássica. Os termos pedofilia e pederastia poderão, no contexto da existência de prática sexual efetiva, ser usados como sinónimos. Note-se, porém, que a palavra pederastia parece ter sido votada a algum esquecimento no usos quotidianos do português. Acrescente-se ainda que, em Portugal, o crime relacionado com estas práticas é designado pela perífrase «abuso sexual de menores».
No Ciberdúvidas, encontram-se vários textos relacionados com as palavras destacadas. Por exemplo: «Pedofilia ou pedomania?» , «A pronúncia de pedofilia», «Pedófilo», «A diferença entre pedofilia e pederastia».
2. A identificação da origem etimológica do substantivo alojamento leva às palavras alojar e loja, numa viagem que passa por várias línguas e que recua, pelo menos, até à Idade Média. Esta é a primeira resposta que se disponibiliza no Consultório. Aqui ficam também disponíveis para consulta as seguintes respostas: «A origem do topónimo Sernadelo», «Psoriásico, psoriático, psórico e psoríaco», «Coesão: «Um..., o outro»», «O verbo desabafar», «Pronome demonstrativo seguido de pronome relativo: «Era isso o que...»», «A análise sintática de «Dona Carlota Joaquina»» e ««Ação de formação» e formação».
3. Frases da natureza de «Aqui compram-se os melhores fatos» e «Aqui compra-se os melhores fatos» têm, não raro, desencadeado dúvidas relacionadas com a opção correta e com a interpretação da função dos seus constituintes. Retomando este assunto, a professora Carla Marques deixa algumas notas relacionadas com o assunto, neste apontamento emitido originalmente no programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. Na rubrica Montra de Livros, apresenta-se o número 2 (volume 26) da revista brasileira Veredas, da Universidade Federal de Juiz de Fora (estado de Minas Gerais), com diversos artigos de âmbito linguístico.
5. O professor universitário Marco Neves apresenta um texto dedicado aos processos linguísticos de formação de palavras, no qual passa em revista os processos de derivação, composição e alguns processos irregulares (transcrito com a devida vénia).
6. Numa entrevista ao jornal Diário de Notícias, conduzida pelo jornalista Leonídio Paulo Ferreira, o diretor-geral do Instituto Cervantes, Luis García Montero, defendeu a promoção conjunta do espanhol e do português como forma de ampliar o crescimento de ambas as línguas no mundo. Fica transcrita na íntegra, com a devida vénia, na rubrica Diversidades.
1. As notícias têm dado conta da ebulição social e política registada nos últimos dias em França, país donde chegam igualmente ecos muito diferentes, com interesse para uma reflexão sobre o futuro da língua portuguesa. Com efeito, no Baromètre des Langues (Barómetro das Línguas), cuja 4.ª edição foi lançada em dezembro de 2022, numa publicação do Ministério da Cultura francês, apresentam-se dados sobre a relevância dos idiomas da atualidade relativamente a um conjunto de vários fatores. Trata-se de uma lista ordenada de 634 línguas, em que o português aparece bem colocado, em 9.º lugar, o qual, no entanto, não será tão confortável como seria desejável. Um ponto forte é o número de falantes, mais de 221 milhões, mas o valor atingido quanto ao índice de desenvolvimento humano* (0,633) está abaixo do do turco e pouco acima do tagalo, nas Filipinas. É de concluir que a promoção do português passará também pela melhoria das condições de vida dos seus falantes.
* O índice de desenvolvimento humano (IDH) «é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde» (PNUD no Brasil). O objetivo da sua criação «foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento» (ibidem).
2. O Barómetro das Línguas menciona também a língua galega, que alcança um surpreendente 33.º lugar, à frente, por exemplo, do eusquera (ou basco) – cf. notícia em Nòs Diario , em 09/03/2023. A propósito da situação do galego, apresenta-se na Montra de Livros, o livro Pola Nosa Lingua (Pela Nossa Língua), do historiador e geógrafo Xosé María Lema, muito crítico a respeito da política linguística adotada pelo governo autonómico entre 2009 e 2019.
3. Entre as várias aceções do verbo antecipar, há uma que o faz sinónimo de antever ou prever. Será um uso correto? Esta é uma das seis novas perguntas feitas ao Consultório. Além do tópico referido, incluem-se, portanto, outros, como a sintaxe verbal – a do verbo combater e a de ir num verso camoniano –, a forma "num" (variante regional de não), o uso de noz como nome não contável («bolo de noz») e as diferenças de significado que a colocação dos advérbios também e só provoca numa frase.
4. Estudos feitos no domínio da neurociência revelam que a pronúncia regional e os sotaques podem ser fator de comportamentos de discriminação, em maior grau até do que a cor da pele. Na rubrica Diversidades, divulga-se o apontamento que o jornalista francês Michel Feltin-Palas dedicou a este tema, incluindo um relato bíblico, o do xibolete, termo hoje usado no sentido de «sinal de identificação, senha», mas que também ocorre para denotar «a característica que permite associar, frequentemente com intenção discriminatória, um indivíduo a determinado grupo».
5.Uma referência final sobre os novos temas dos programas à volta da língua portuguesa transmitidos pela rádio pública de Portugal:
– Em Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 10/03/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), conversa-se com António Branco, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor-geral de Portulan Clarin, sobre os avanços da tecnologia aplicada à língua portuguesa e os seus desafios nas políticas linguísticas;
– Em Páginas de Português, difundido na Antena 2, no domingo, 12/03/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 18/03/2023, às 15h30*), entrevista-se Cristina Martins, linguista e professora da Universidade de Coimbra, acerca do ensino de Português como Língua Não Materna. No programa, participa ainda a professora Carla Marques com um apontamento sobre as regras de concordância;
– O programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50* e 18h50*), tem, de 13 a 17/03/2023, como convidado Jorge Bacelar Gouveia, professor de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, para falar sobre a linguagem associada à área da sua especialidade.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. A língua mirandesa encontra-se em risco de se converter numa língua morta. A segunda língua oficial portuguesa, assim reconhecida desde 29 de janeiro de 1999, tem falantes nas regiões do concelho de Miranda do Douro e das freguesias de Angueira e Vilar Seco, pertencentes ao concelho de Vimioso. Esta língua, que integra a família do asturo-leonês, tem sido alvo de diferentes medidas que visam a sua defesa e difusão, como é o caso da criação de uma disciplina escolar, que pretende oferecer às camadas mais jovens um contexto de aprendizagem formal, ou a criação da Biquipédia (a Wikipédia em mirandês), entre outras. Não obstante, um estudo recente, desenvolvido pela Universidade de Vigo, veio mostrar que o mirandês não parece ter o seu futuro assegurado porque a percentagem de jovens que o usam quotidianamente corresponde apenas a cerca de 2% dos seus falantes. A importância que uma língua minoritária assume na identidade de um país é uma realidade a considerar no desenho de uma política de língua madura e responsável, pelo que os resultados do estudo ora divulgado deverão obrigar os responsáveis políticos a uma séria reflexão em torno desta questão, antes que se revele tarde demais para qualquer medida que possa efetivamente ter algum efeito positivo.
A língua mirandesa tem, ao longo dos anos, merecido a atenção do Ciberdúvidas em textos de natureza variada, que aqui recordamos: «O Mirandês: dialecto ou língua?», «'Carreirones pa la nuossa lhéngua'», «Do solstício e da língua mirandesa», «'Buonos dies'. Aqui fala-se Mirandês, a língua dos avós e das crianças», «Dues Lhénguas», «L mirandés na blogosfera», «Estatuto e número de falantes do mirandês», «O porquê de o mirandês ter sido considerado língua», «Mirandês: letras de uma língua que se apaga», «É preciso proteger o mirandês»
Cf. Hoije ye l die de la fiesta de la Lhéngua Mirandesa + Mirandês assinala 26 anos como segunda língua oficial de Portugal + Mirandês: uma língua não morre enquanto andar no sentir e no falar
2. Qual o uso mais correto: «cedo demais» ou cedo de mais»? Com esta questão, que, não raro, se coloca em diferentes situações de escrita, se abre a atualização do Consultório. Nesta rubrica, ficam igualmente disponíveis respostas de âmbito ortográfico («Oríon, Orião e Orionte» e «Bovinicultura e bovinocultura»), semântico-lexical (««Cerca de» e «por volta de»» e ««De tarde», «à tarde»») e sintático («O pronome nos como constituinte sintático», «A sintaxe de «vir de carro» (transportes)» e «Oração subordinada substantiva completiva: «descobre como funciona a narrativa»»).
3. O uso de anglicismos para descrever situações continua a imperar na esfera pública, como o comprova a utilização de termos como chairman ou CEO, usados a propósito da exoneração dos dois principais administradores da TAP (companhia de aviação portuguesa), como assinala José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, neste seu apontamento para o Pelourinho.
4. A sigla LGBT, o seu significado e as suas variantes, constituem o foco do apontamento de Sara Mourato, colaboradora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
5. No seu apontamento difundido no programa Páginas de Português, na Antena 2, a professora Carla Marques recorda qual a designação a dar em português europeu ao número 1 000 000 000.
6. A relação entre os lapsos de linguagem e aspetos do processamento cognitivo da linguagem é sistematizada em alguns dos seus traços pela jornalista Clara Soares no seu artigo transcrito da revista Visão, com a devida vénia.
7. O problema do assédio sexual na Universidade de Lisboa assume-se como a matéria central do artigo da professora universitária Margarita Correia, que reflete sobre o encontro Assédio na ULisboa: conceitos, causas, intervenientes, organizado pelo Movimento U (publicado originalmente no Diário de Notícias e transcrito com a devida vénia).
8. Entre os acontecimento de relevo para a língua, recordamos que a 6 de março se assinalou o Dia Europeu da Terapia da Fala, o que deu matéria para algumas reflexões em torno da importância desta área da saúde.
1. Em março de 2020 as atenções centravam-se no novo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, agente de uma nova doença – a covid-19 –, que rapidamente alastrou a todo o planeta e levou a Organização Mundial de Saúde a declarar a situação de pandemia (ler "Covid-19 ou doença do coronavírus", em 11/03/2020). Três anos depois, estudos realizados em 14 países muito diferentes, como o Brasil, a Índia, o Irão ou o Canadá, revelam que as medidas de distanciamento físico abalaram a saúde psíquica de quantos perderam entes queridos. Fala-se, portanto, de «luto pandémico» como aquele que impede uma pessoa de recuperar de sentimentos de profunda perda, solidão e desamparo. Outra denominação para esta vivência é «luto suspenso», como se detalha na nova entrada da rubrica A covid-19 na língua.
2. No Consultório, as novas respostas são em número de dez e abordam os seguintes tópicos: a análise da concordância com os quantificadores «a maioria de» e «a metade de»; as orações substantivas relativas introduzidas por preposição; a locução «tal qual»; o significado do anglicismo bot; a expressão «atestado médico»; as orações adverbiais gerundivas; as noções de dêitico pessoal e dêitico temporal; o conceito de «modalidade avaliativa»; o uso nominal de não-sei-quantos; e aspetos da história de lusitano como sinónimo de português.
3. Sobre o eurocentrismo nos manuais escolares de História em Portugal – especificamente sobre as representações dos povos originários do Brasil ilustradas num deles –, escreveu no jornal Público de 2 de março de 2023 a professora e investigadora Cristina Roldão. O artigo fica disponivel, também, na rubrica Controvérsias. E em O Nosso Idioma, transcreveram-se dois outros textos, igualmente com a devida vénia aos autores e respetivas publicações:
– no mural Língua e Tradição (Facebook, 27/02/2023), transcreve-se as considerações da advogada e professora de Português Lara Brenner à volta das confusões que os chamados "falsos amigos" lexicais do inglês causam no uso de palavras como literalmente, aplicar e realizar;
– um apontamento do tradutor e professor universitário Marco Neves publicado no blogue Certas Palavras , no dia 28/02/2023, a respeito das origens da pontuação e da sua importância como conjunto de sinais auxiliares da escrita e da leitura.
4. Na informação mediática tem tido relevo a decisão tomada por certas editoras no sentido de expurgarem os livros dos escritores Roald Dahl (1916-1990) e de Ian Fleming (1908-1964) de palavras racistas e sexistas. A propósito deste tema, inclui-se nas Controvérsias o artigo de opinião que a economista Maria João Marques, assinou no jornal Público em 01/03/2023, considerando que esconder tais expressões é fazer com que os leitores «[fiquem] arredados do princípio fundamental da leitura: um texto é sempre construído, e só assim se percebe, dentro do seu contexto.»
5. Da Região Administrativa Especial de Macau, chega a notícia da intervenção que, na Assembleia Legislativa daquele território, fez o deputado José Chui Sai Peng, para defender medidas promotoras da tradução para português da produção académica e tecnocientífica da China (in Sapo, 27/02/2023). Salientando a importância do legado linguístico de Macau e o seu contributo para o projeto Grande Baía, lançado pelo governo de Pequim, Chui Sai PENG considerou que o facto de os recursos académicos, científicos e tecnológicos chineses estarem geralmente apenas em chinês e inglês «não favorece a entrada da sabedoria chinesa nos países de língua portuguesa». Pormenores nas Notícias.
Na imagem, "The grotto of Camoens, Macao" ("A gruta de Camões, Macau"), in Thomas Allom e George Newenham Wright, China, in a series of views, displaying the scenery, architecture, and social habits, of that ancient empire [em tradução livre, A China, num conjunto de visões da paisagem, da arquitetura e dos hábitos sociais desse império antigo], Fisher, Son Co., 1843.
6. Quanto aos temas de três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 03/03/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), a professora Sandra Duarte Tavares dá indicações sobre como aperfeiçoar as competências linguísticas e refere-se ao gentílico da cidade marroquina de Tânger. No programa participa ainda a linguista brasileira Edleise Mendes com uma crónica sobre o conceito de translinguagem.
– Em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 05/03/2023, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 11/03/2023, às 15h30*), analisa-se um texto sobre políticas da língua portuguesa elaborado pelo ChatGPT com a linguista e professora universitária Margarita Correia, que comenta igualmente o impacto da Inteligência Artificial (AI) na aprendizagem do português. Inclui-se também um apontamento da professora Carla Marques sobre a diferença entre bilião e «mil milhões».
– De segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*, na Antena 2, emite-se Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O mundo tomou conhecimento de mais uma história de horror vivida nas costas de Itália: uma embarcação de madeira que transportava cerca de 200 migrantes ilegais naufragou ao largo da costa da comuna italiana de Crotona. Mais de 60 pessoas morreram, incluindo crianças e um recém-nascido. A situação ocorrida, resultante de mais uma ação criminosa do tráfico ilegal de migrantes, voltou a ser descrita como uma «tragédia humanitária». Esta é, recordamos, uma construção não aceitável porque encerra uma contradição nos termos uma vez que o adjetivo humanitário descreve alguém «dotado de bons sentimentos» ou alguém que «procura o bem geral da humanidade». Nesta lógica, carece de sentido qualificar uma tragédia como humanitária, sendo aconselhável a opção por construções como «tragédia humana» ou «trágico acidente».
Este assunto foi já tratado no Ciberdúvidas em diversas ocasiões: «Como é que uma tragédia pode ser humanitária!?», «Porque é incorreta a expressão crise humanitária?» ou «A tragédia que voltou a ser "humanitária"...».
2. Em certas regiões de Portugal subsistem ainda as formas medievais dormide e fazede, pertencentes ao modo imperativo dos verbos dormir e fazer e que convivem com as formas do português moderno, tal como se explica nesta resposta. A atualização do Consultório inclui ainda questões lexicais ligadas à ortografia («O nome butelo») ou à neologia («O neologismo zerésimo») e trata aspetos de natureza sintática relacionados com a concordância («Quanta luz é o suficiente...») e com a classificação de orações subordinadas e das palavras que as introduzem («O advérbio interrogativo quando»). Por fim, uma proposta de tradução do anglicismo «save the date».
3. A identificação da classe de palavras a que pertence que na frase «Comprei uma maçã que estava podre» constitui-se como matéria para o apontamento de Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas (emitido no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. A questão da aprendizagem em diferentes fases da vida é objeto de análise no artigo intitulado «Será que burro velho não aprende línguas?», da autoria da professora universitária e linguista Margarita Correia (publicado no Diário de Notícias e aqui partilhado com a devida vénia).
5. A polémica em torno da decisão de alterar a linguagem considerada ofensiva nos livros de Roald Dahl chega a uma nova fase, com a editora a anunciar que decidiu manter duas publicações: uma com o texto original e outra com adaptações linguísticas. Caberá, deste modo, aos leitores a decisão de ler uma ou outra obra (notícia aqui, partilhada com a devida vénia).
6. Destaque ainda para:
– A revista Filamentos, uma publicação bilingue (português e inglês) de artes e letras relacionadas com a diáspora açoriana, da responsabilidade da Universidade Estadual da Califórnia;
– A ação Políticas de língua para emigrantes-imigrantes – Situação da língua portuguesa no mundo e em Portugal, que conta com a participação das professoras Margarita Correia e Micaela Rámon, com lugar na Biblioteca Lúcia Craveiro da Silva (dia 28 de fevereiro de 2023, pelas 18h, com transmissão via zoom (https://us06web.zoom.us/j/86087927144).
1. Em 24 de fevereiro de 2022 desencadeava-se o conflito que hoje é tema permanente nas notícias: a guerra russo-ucraniana, cada vez mais ameaçadora para a paz no mundo. As opiniões veiculadas pelos media dividem-se quanto aos acontecimentos dos últimos doze meses na Ucrânia: na perspetiva ocidental, trata-se de uma invasão, mas, do prisma russo, é uma intervenção militar em defesa da Rússia. Em O Nosso Idioma, chama-se a atenção para a ambivalência e as subtilezas das palavras referentes a este cenário beligerante, numa reflexão da professora Carla Marques.
Na imagem, recriação do chamado «símbolo da paz», desenhado por Gerard Holtom (1914-1985) para a Campanha pelo Desarmamento Nuclear, movimento fundado em 1958 (fonte: Andri Tegar Mahardika, Pixabay).
2. Ainda em O Nosso Idioma, Carla Marques assina outro apontamento, acerca da recorrente forma incorreta «foi abusado/a», enquanto uma associação vocabular menos habitual («destilar ensinamentos») dá o mote a Sara Mourato para um conjunto de considerações sobre a semântica do verbo destilar. Transcrevem-se igualmente, com a devida vénia, um artigo do professor universitário Marco Neves, que evidencia a mistura linguística inerente à história do português – uma «língua bastarda» como as outras (Certas Palavras, 21/02/2023); e a crítica do advogado e académico Jorge Bacelar Gouveia à adoção da língua inglesa nos cursos de Direito existentes em Portugal (in Público, 16/02/2023).
3. Sucedâneo é sinónimo de substituto, mas, a respeito da substituição de pessoas em certas funções, pode falar-se de «funcionários sucedâneos»? A questão faz parte da atualização do Consultório, que inclui outras sete perguntas, num total de oito: uma laranja «corta-se em dois» ou «em duas»? A expressão «infantaria maquinizada» está correta? Diz-se «bebidas é connosco» ou «são connosco»? Como se identifica uma «oração de suplementação»? O que significa «ser ressolha»? Porque se escreve acidente, e não "accidente"? O verbo "proagir" existe?
4. A repressão política cala a palavra. Na Montra de Livros, apresenta-se o novo número da revista Veredas, publicação da Associação Internacional de Lusitanistas, no qual se apresenta o dossiê temático «Prisões e confinamentos: escrita do cárcere», em torno da produção literária em ambientes sem liberdade de expressão.
5. Também o masculino genérico, isto é, o emprego de formas do masculino plural para referir indivíduos de diferentes géneros, tem implicações repressivas e efeitos de exclusão – defende Clara Não, num artigo divulgado no jornal Expresso, em 20 de fevereiro de 2023, e agora acessível em Controvérsias.
6. As vantagens e os perigos do desenvolvimento dos chatbots ou «programas de conversa» em Inteligência Artificial continuam a suscitar enorme interesse. Nas Diversidades, via jornal Público (19/02/2023), disponibiliza-se um trabalho da jornalista Karla Pequenino, que compara o funcionamento do ChatGPT e da nova versão do motor de pesquisa Bing.
7. A divulgação científica em linguagem inteligível é necessidade urgente, e, portanto, merecem sempre registo as iniciativas com esse intuito. Um bom exemplo é o já aqui mencionado Palavrões da Ciência, um programa difundido pela Internet, em podcast, da autoria de Marco Neves e de Cristina Nobre Soares. O episódio 5 (21/02/2023) é dedicado à Botânica e tem como entrevistada Francisca Aguiar, professora no Instituto Superior de Agronomia, que começa por explicar o que significa o termo angiospérmica. Relativamente a este e outros episódios, ver aqui.
8. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, são convidados:
– O professor Sweder Souza, coautor do livro Português Língua Não Materna: Contextos, Estatutos e Práticas de Ensino numa Visão Crítica, (U. Porto Press), em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 24/02/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);
– António Horta Branco, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor-geral da Portulan Clarin, que explica os últimos avanços da tecnologia aplicada à língua, no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 26/02/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 4/03/2023, às 15h30*). Este programa inclui ainda um apontamento da consultora do Ciberdúvidas Inês Gama.
Entre outros programas dedicados a temas da língua portuguesa, registe-se, por último, Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50 e às 18h50*. De 27 de fevereiro a 3 de março, convida-se a economista e professora de Economia Mariana Mortágua para falar de dinheiro digital, das criptomoedas e da negociação em bolsa através de algoritmos.
* Hora oficial de Portugal continental.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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