Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A língua é um instrumento de comunicação que se deixa impregnar pela natureza social, cultural e regional dos seus falantes. Esta versatilidade do sistema linguístico justifica as variedades que coexistem no mesmo tempo e espaço. Entre elas observa-se um fenómeno que tem uma enorme dinâmica: a gíria juvenil. É sabido que as inovações linguísticas têm frequentemente origem na linguagem juvenil. Não obstante, não deixa de ser verdade que nela encontramos palavras ou estruturas que têm um período de vigência que acaba por ser efémero. Não é fácil determinar o que justifica os dois fenómenos, mas ele é observável no contraste entre palavras como bué (termo que permaneceu e que se encontra dicionarizado) e "tótil" (palavra usada com significado equivalente ao da anterior, mas que quase desapareceu). Entre as palavras e estruturas com vitalidade na linguagem juvenil atual, para além do recurso frequente ao inglês, visível em usos como «bué da "nice"» ou "ganda fail", podemos sinalizar expressões como «"tasse" bem», «"tá" tudo bem», «isso (não) é a minha cena» ou «a todo o gás». Entre as palavras mais usadas, podemos apontar o recurso frequente a modismos como tipo ou imagina, que são mobilizados pelos jovens como bordões, que abrem, intercalam ou fecham o discurso, em enunciados como «Imagina, podíamos sair» ou «Tipo, ele chegou a casa eram tipo 8 horas». Este mesmo fenómeno foi observado pelo cronista e humorista Ricardo Araújo Pereira, que o analisa com tom humorístico na sua crónica intitulada «Tipo imagina», que aqui transcrevemos com a devida vénia. 

No Ciberdúvidas, podem ser consultados diversos textos relacionados com o tema dos modismos: «Modismos da língua portuguesa (descartar, imperdível, torcida)», «A era do "eu diria que..."», «Os modismos "dizer que", "observar que", "acrescentar que"», «Ainda o modismo "É suposto..."», «O modismo expectável».  

 2. A questão sobre quais as preposições que o verbo distinguir pode reger abre as atualizações do Consultório, onde se podem também consultar as respostas às seguintes questões: Existe licença poética fora da literatura? O nome metralhamento é aceitável? Qual a diferença entre as expressões modus operandi e modus faciendi? Quais as regras de colocação do clítico com o advérbio após? Qual a origem da expressão «à babuja»?

3. Os pronomes demonstrativos isto, isso, aquilo estabelecem com os pronomes átonos algum tipo de relação sintática que exige a colocação destas palavras em posição proclítica? No seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2, a professora Carla Marques analisa esta questão.

4. A expressão «bala de prata» apresentada como metáfora com valor de "solução quase mágica para resolver algum tipo de problema" tem sido usada no discurso mediático em diversas ocasiões, embora nem sempre com total adequação. Esta é a posição de Paulo J. S. Barata, consultor do Ciberdúvidas, desenvolvida no apontamento «A "bala de prata" que mata os "problemas da habitação"?!...».

5. O mirandês foi reconhecido como segunda língua oficial em Portugal há mais de 25 anos. Todavia, o povo de Miranda do Douro aguarda agora que a Assembleia da República ratifique a Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias do Conselho da Europa, um documento que permitirá a implementação de um conjunto de medidas para a proteção e ensino de uma língua que se encontra ameaçada de extinção. No jornal Público, foi feito o ponto da situação num artigo aqui partilhado com a devida vénia. 

6. Divulgamos, para finalizar, a crónica do contista Fernando Évora, onde este ficciona o momento da criação dos adjetivos por Adão e Eva (partilhada com a devida vénia). 

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1. A catástrofe que se abateu sobre a Líbia, incluindo a devastação da cidade de Derna, tem claro destaque nas notícias. Referir a cidadania da Líbia não oferece dificuldade especial, pois o gentílico respetivo dispensa a junção de sufixos derivacionais como -ês ou -ano, que estão entre os mais correntes (chinês, angolano). Na verdade, basta empregar as formas líbia e líbio, um par em que a forma do género feminino é homónima do nome do país, e a forma do masculino se obtém por simples substituição dos índices temáticos (-a por -o). Na Lista dos Estados, territórios e moedas do Código de Redação Interinstituicional para uso do português na União Europeia, pertencem a este tipo os gentílicos de vários outros países: Argentina, Arménia, Eritreia*, Estónia, IndonésiaMacedónia (do Norte), Síria e Suíça. Contam-se ainda os casos de Filipinas e Maldivas, cujos gentílicos perdem o -s final nas formas de singular – filipina/filipino e maldiva/maldivo, respetivamente –, bem como o da República Dominicana, cujo gentílico é igual ao constituinte adjetival do topónimo: dominicana/dominicano. Finalmente, mencione-se a Bósnia-Herzegovina, cujos cidadãos podem ser referidos pelo termo bósnia/bósnio. Muitos mais exemplos haverá a mencionar estendendo a pesquisa a regiões e estados antigos ou territórios sem autonomia política: ática, ático (Ática, Grécia), úmbria, úmbrio (Úmbria, Itália), abissínia/abissínio (Abissínia, atual Etiópia), trácia/trácia (Trácia, hoje dividida entre a Grécia, a Turquia e a Bulgária).

* Neste caso, o feminino tem a mesma forma, mas o masculino eritreu parece fugir ao padrão de formação do masculino.

2. A propósito ainda do sismo ocorrido no sul de Marrocos em 8 de setembro p.p., lamenta-se que se ouçam ou leiam novamente frases como «[a prioridade é] a manutenção das vias de comunicação [...] para se poder transportar os bens essenciais e evacuar as populações» (cf. "Nenhum país está preparado a 100% para responder a uma catástrofe como a de Marrocos", Diário de Notícias, 13/09/2023; consultado em 15/09/2023). Como tem sido sublinhado nestas páginas, o verbo evacuar, na aceção de «esvaziar», só pode referir-se a espaços ou lugares. Diga-se e escreva-se, portanto, «... para evacuar aldeias/vilas/cidades/localidades».

3. Outra palavra da atualidade, recorrente na cobertura  noticiosa da guerra russo-ucraniana, é drone, cuja pronúncia é descrita no Consultório.  A atualização integra mais nove respostas a respeito de outros tantos tópicos: a regência de compulsão, uma oração relativa introduzida por quando, os usos de abada e de contracenante, os diminutivos de aventureiro, o nome Barba-Azul, a concordância com a expressão «número de...», o verbo estampar e a locução verbal «vai andando».

4. Num plano não menos conflituoso, fala-se do anglicismo woke, frequente nas colunas de opinião da comunicação social. Nas Controvérsias, um apontamento de Sara Mourato dá conta da dicionarização do estrangeirismo, a qual, até à data, parece limitada a um único dicionário em Portugal.

5. Acerca do ensino das literaturas de língua portuguesa, apresenta-se em Montra de Livros o número especial da revista PLCS 38/39 (Portuguese Literary & Cultural Studies, Tagus Press, Universidade de Massachusetts Dartmouth).

6. Em Portugal, a abertura do ano letivo nos ensinos básico e secundário traz novamente para a ribalta informativa ações e preocupações no setor da educação. Notícias e trabalhos jornalísticos assinalados nos Destaques dos últimos dias (ver mais abaixo): "Próximo ano letivo arranca com mais salas e onze novas escolas" (Jornal de Notícias – JN, 07/09); "Professores obrigados a viver em quartos alugados em condições indignas" (Diário de NotíciasDN, 10/09); "Fenprof diz que mais de 100 mil alunos estariam sem aulas se arrancassem hoje" (DN, 11/09); "Manuais do 3.º e 4.º anos deixam de ser reutilizados" (JN, 14/09). Problema generalizado mundialmente é o analisado em "Escola: a luta inglória contra o celular" (Outras Mídias, 14/09).

7. Dois registos que envolvem criadores de língua portuguesa:

–  O Guiões – Festival do Roteiro de Língua Portuguesa, dedicado à escrita de argumentos fílmicos em português, realiza-se em Lisboa até 17 de setembro;

– O músico e poeta Caetano Veloso foi condecorado em Lisboa com a Medalha de Mérito Cultural de Portugal. Pormenores sobre a cerimónia aqui.

8. Refiram-se ainda os temas principais de três dos programas dedicados ao português na rádio pública de Portugal:

– a expressão «bicos de rouxinóis», que figura no poema  "O Falso Mendigo", de Vinicius de Moraes, e a utilização da vírgula em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 15/09/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*);

– em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 17 de setembro, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 23 de setembro, às 15h30*), a futura formação de professores no domínio da escrita conforme foi discutida no 3.º Encontro Nacional sobre Discurso Académico, que decorreu em Lisboa em 7 e 8 de setembro;

– e a linguagem da alimentação e o seu cruzamento com o território, nas emissões de 18 a 22 de setembro do programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (de segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50).

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1. O grave sismo ocorrido em Marrocos traz para a atualidade todas as palavras envolvidas neste campo lexical, algumas das quais pedem esclarecimentos para que os seus usos sejam ajustados. Assim sismo, terramoto (forma preferida no português europeu) e terremoto (forma preferencial no português do Brasil e termo mais antigo do que o anterior) são palavras sinónimas que designam o movimento na superfície terrestre desencadeado por uma libertação súbita de energia. Este fenómeno convoca também a noção de quantidade de energia libertada, que é referida por meio do termo magnitude, usado para expressar a ideia da intensidade do sismo. O local onde a intensidade do abalo é máxima designa-se epicentro. Normalmente, um sismo é seguido de uma ou mais réplicas, termo que descreve a oscilação da crusta terrestre após o sismo inicial, fenómeno que tende a ser menos violento. Na avaliação do sucedido – assim como no que aconteceu posteriormente na parte oriental da Libia, com os efeitos devastadores do furacão Daniel –, voltámos a encontrar expressões como «crise humanitária» ou «catástrofe humanitária», que, como já foi sublinhado noutras ocasiões, deveriam ser substituídas por «crise humana» ou «catástrofe humana», que seriam mais coerentes, pois o adjetivo humanitário significa «em prol da humanidade». Ao contrário, as expressões «assistência humanitária» ou «ajuda humanitária» são aceitáveis neste contexto. 

Cf. textos divulgados sobre este assunto: «Humanitário?», «Errar é humanitário?», «Quando é que um drama pode ser humanitário?», «Humanitário e humano», ««Crise humanitária», expressão válida?», «Como é que uma tragédia pode ser humanitária?!», «Caos "humanitário"?!», «Ainda  propósito de humanitário». 

2. No regresso após as férias, abrimos o Consultório com uma dúvida relacionada com a procura de uma expressão correta para fechar um e-mail. Face à possiblidade de decalque da expressão inglesa "I hope to hear from you soon", propõe-se uma estrutura mais natural em língua portuguesa. A esta questão vêm juntar-se três de âmbito lexical («Geronto e idoso», «A origem do nome próprio Job (ou )» e «A palavra relho») e duas de natureza sintática («Colocação pronominal numa oração introduzida por como», «Para + infinitivo: «paramos para nos olharmos»»). Finaliza-se a atualização com uma questão relacionada com o uso de maiúsculas na publicidade

3. A professora Carla Marques retoma os seus apontamentos relacionados com dúvidas de natureza gramatical, apresentado no programa Páginas de Português, na Antena 2. Desta feita, trata uma dúvida relacionada com a classe da palavra de na frase «Está na hora de descansar», cuja explicação aqui se partilha. 

4. Na Montra de Livros apresenta-se a publicação de autoria de Analita Santos, intitulada Erros de Português nunca mais, com a chancela da Manuscrito, na qual a autora apresenta um conjunto de propostas para ultrapassar algumas dificuldades do português. 

5. O facto de Droupadi Murmu, presidente da Índia, ter assinado um convite como «presidente do Bharat» abriu uma polémica relacionada com as intenções políticas na base da seleção toponímica na Índia. Esta é uma situação que a professora universitária Margarita Correia analisa do ponto de vista linguístico no seu artigo publicado no Diário de Notíciasaqui partilhado com a devida vénia. 

6. A forma como os brasileiros assumem e desculpam os erros de uso do português leva o linguista Aldo Bizzocchi a adotar uma posição muito crítica relativamente ao que ele designa de «jeitinho brasileiro», um problema que, na sua ótica, precisa de ser encarado com toda a seriedade (texto divulgado em Diário de um linguista, blogue do autor, aqui transcrito com a devida vénia). 

7. Entre os acontecimentos de relevo, destacamos o centenário do nascimento de Natália Correia, celebrado em 13 de setembro. A poetisa açoriana, que nos deixou uma obra marcada pela criatividade, coragem e ousadia, descreveu desta forma o seu próprio nascimento:

 O NASCIMENTO DO POETA    
Ora foi num dia treze
que em seu bíblico lugar de dor
minha mãe deu por completas
as letras de meu teor
 
Porque para acabar o mundo
era precisa a minha mão
do azul calafetado
caí nas facas do chão
 
Machucada de nascida,
da minha sofrida região
pus-me a levantar o mapa
em ponto de exclamação
 
Assim na câmara escura
de cada privada saliência
meus olhos se revelaram
negativos da ausência
 
Soube que o tempo é uma luva
antissética que o infinito
calça para joeirar
sem contágio o nosso trigo
 
daí o amor ser o meio
do homem dividido em dois
e a pior metade é estarmos
à espera de sermos depois
 
Soube que quando a amargura
nos gasta a pintura aparece
a cor que teriam os olhos
de um deus apócrifo se viesse
 
não refulgente ou teologal
tampouco suspensa espada
mas ocasional como vestir
uma camisa lavada
 
porque a vida é a ocupação
do único espaço disponível
para o possível amanhã
da nossa véspera impossível
 
e o sidéreo, adeus mistério
é um queijo de paciência
para a gulodice da terra
(e não perdi a inocência)
 
Soube coisas que sabê-las
foi eu ir ficando nua
como no apocalipse uma última
pedra vestida de lua
 
como no fim do mundo um lírico
verme a recomeçá-lo
a beber estrelas e peixes
pelo seu estreito gargalo
 
Como eu em amorosa
posição de cana ereta
a pescar no indizível
o sinónimo de poeta
 
Natália Correia, A mosca iluminada, 1972
 

 

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Ciberdúvidas volta à plena atividade no próximo dia 12 de setembro, com atualizações regulares às terças e sextas, não só no Consultório, mas também nas demais rubricas do Ciberdúvidas (aquiaqui e aqui). Até lá, como sempre, ficam ao dispor, para consulta, todos os conteúdos em arquivo. Não obstante a pausa que chega agora ao fim, observe-se que, ao longo deste período, foram disponibilizados vários conteúdos, nas seguintes rubricas:

Acordo Ortográfico: "Acordo Ortográfico..." (28/07); "Voltámos à 'recepção'?..." (01/09).

Controvérsias: "Afinal o que é a linguagem inclusiva?" (03/07); "Como a linguagem neutra virou guerra cultural no Brasil" (08/07); "O português de Portugal está em risco?" (21/07);

Literatura: "Obscenidades e terapia em 'vidas cantadas'" (23/06); "Palavras nómadas" (30/06); "Os anjos não morrem..." (03/07).

Lusofonias: "Mambos da Nguimbi..." (18/06); "É inadiável um pacto de regime para a língua portuguesa em Timor-Leste" (30/06).

O Nosso Idioma: "Má sorte ter nascido em Portugal" (19/06); "A palavra mesmo" (20/06); "O sujeito da prosa poética" (27/06); "O forró..." (27/06); "A classe de palavras de insular" (04/07); "A pluralização dos nomes próprios" (06/07); "Estamos a dar mais erros de português?" (10/07); "O hipocorístico de Beatriz" (11/07); "'O meu computador está bugado'" (18/07); "Senha e signo" (18/06); "O português como língua de herança" (21/07); "Classe de palavras de 'cerca de'" (25/07); "Politicólogo e politólogo" (25/07); "Da alva ao camauro" (28/07); "Deixa de andar na Lua..." (28/08); "O fim da escrita manual" (31/7); "O grande carrossel da linguagem inclusiva" (21/08); "O choque de palavras na faculdade" (08/09); "Espera, expectativa e esperança" (08/09).

Pelourinho: "Um regalo para os olhos..." (01/08); "A continuada resistência ao género feminino" (29/08).

Diversidades: "Conhecimento de línguas..." (27/06); "As imagens e os fantasmas" (30/06/2023); "Unidas pela língua portuguesa" (14/08); "O ensino das línguas nacionais..." (21/08); "Filipinas..." (28/08); "O filipino..." (28/08).

Montra de LivrosRevista Entreletras (07/07); Teoria Discursiva em Diálogo (12/07); Aprender Português com Poesia (27/07).

A covid-19 na língua: "Arcturus XBB.1.16."; "Eris" ; "Nevoeiro cerebral".

Como é hábito, fez-se também registo nas Notícias de acontecimentos e iniciativas motivados pela língua portuguesa.

Na imagem, Paisagem com casario (1916), do pintor português José Malhoa (1855-1933).

2. Quanto a três dos programas que, na rádio pública de Portugal, são dedicados a temas do português, fica a informação sobre os respetivos dias e horas de emissão:

Língua de Todos, difundido na RDP África, às sextas-feiras,às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 09h00*);

Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, aos domingo, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, às 15h30*)

– e Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*).

Pormenores nas Notícias, sobre os conteúdos destes programas.

*Hora oficial de Portugal continental.

 3. E, enquanto se prepara o regresso, um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987):

Recomendação

Neste botânico setembro,
que pelo menos você plante
com eufórica
emoção ecológica
num pote de plástico
uma flor de retórica.

(in Discurso de Primavera e Algumas Sombras, 1977)

 

N. E. – O primeiro ponto desta Abertura foi atualizado em 08/09/2023, com a referência a dois conteúdos da rubrica O Nosso Idioma, adicionados na mesma data.

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1. Em Portugal, como noutros países do hemisfério norte, vem o verão e as atividades letivas chegam ao seu termo. Como é hábito, seguindo o calendário escolar, é tempo de balanços também neste espaço, o que justifica uma pausa (ver último ponto desta abertura), para avaliar o caminho aberto ao longo de mais duas décadas e o muito que há para fazer. Os dados apresentados a seguir são elucidativos:

Respostas publicadas no Consultório: 35 000

Respostas dadas em consultas privadas, desde 2007 (não publicadas*): 60 000

Total de visualizações, desde 10/06/2015**: 156 666 904

Total de utilizadores, desde 10/06/2015**: 91 204 548

Total de visualizações entre 14/05/2023 e 14/06/2023: 1 524 496

Total de utilizadores entre 14/05/2023 e 14/06/2023: 1 019 924

Origem dos utilizadores (de 10/06/2015 a 14/06/2023): 57 717 921 – Brasil (63,02%); 23 547 842 – Portugal (25,71%)

Textos divulgados na rubrica Na 1.ª Pessoa: 4000

Textos divulgados na Montra de Livros: 350

Os números falam por si, mas acrescente-se que refletem bem o trabalho exigente e a responsabilidade decorrentes da confiança que todos os que querem saber sempre mais acerca do idioma oficial dos oito países iusófonos depositam no projeto desenvolvido nestas páginas. Beneficiando de um serviço que, desde os seus 26 anos de existência, é de acesso universal e gratuito, são muitas as pessoas que o procuram diariamente para consultas ou para comentários suscitados pelos mais variados temas da língua que lhes é comum. Estes consulentes encontram-se maioritariamente no Brasil e em Portugal, mas também noutros países de língua  oficial portuguesa e até em regiões e Estados onde o português se transmite em comunidades mais restritas ou se estuda como língua estrangeira em qualquer recanto do mundo. Apesar dos muitos constrangimentos, principalmente logísticos, financeiros e técnicos, a experiência com os consulentes é sempre estimulante e reforçada por palavras calorosas de apreço e incentivo. Esta adesão é, pois, de molde a concluir que, sem dúvida nenhuma, vale a pena a intensa atividade aqui testemunhada pelos milhares de respostas e outros artigos disponíveis nas diferentes rubricas do Ciberdúvidas e pela totalidade de visitantes e de consultas, contabilizados na ordem dos milhões.

* São na sua maioria perguntas cujo conteúdo já tinha resposta anterior em arquivo.

** Os números apresentados dizem respeito apenas aos nove últimos anos de funcionamento do Ciberdúvidas, pois, na sequência de uma mudança de servidor, não é atualmente possível ter um registo completo relativo aos mais de 26 anos de atividade do portal.

2. No Consultório, atualizado com seis perguntas, retoma-se o tema dos pleonasmos viciosos: será que a expressão «incidente imprevisto» é um caso desses? Incluem-se ainda esclarecimentos a respeito dos usos de «isso mesmo» e «de sempre», bem como acerca dos significados «de permeio» e «pôr sal na moleira». Regista-se igualmente uma curiosa expressão brejeira, «mandar o Bernardo às compras». Finalmente, analisa-se um pormenor na grafia do nome de um partido português: Partido Social-Democrata, que ora apresenta hífen, ora o omite.

3. Junho é, em Portugal e noutros países, um mês de festas populares, em que reina a música. A propósito de um instrumento bastante presente em bailes e canções populares, a consultora Sara Mourato tece algumas considerações sobre a origem e as variantes da palavra acordeão, em O Nosso Idioma. Nesta rubrica, espaço ainda para outro apontamento sobre a história de palavras, intitulado "A origem de livro" e da autoria do professor universitário e tradutor português Marco Neves.

4. Sendo o país com maior número de falantes de português, o Brasil afirmou desde cedo a sua personalidade linguística, pelo que importa considerar as múltiplas publicações sobre o desenvolvimento do português brasileiro. Na Montra de Livros, apresenta-se uma nova síntese não isenta de teses inovadoras: trata-se de Latim em Pó, um livro de 2023, do linguista e escritor brasileiro Caetano W. Galindo.

5. Serão o Brasil e Portugal dois países separados pela mesma língua? Nas Controvérsias, partilha-se com a devida vénia um artigo do jornalista português  Nuno Pacheco à volta dos equívocos da publicação de um livro infantil brasileiro em Portugal.

6. Temas principais de três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública portuguesa:

– As diferenças entre o discurso académico e discurso científico, em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 16/06/2023, 13h20*).

– O congresso internacional Ensino, Formação e Investigação, (Lisboa, de 19 a 21 de junho 2023), em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 17/06/12h30*.

– As novas palavras no mundo da energia, nas emissões de 19 a 23 de junho do programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50).

* Hora oficial de Portugal continental.

7. Como anunciado no primeiro ponto desta abertura, a partir de 16 de junho de 2023, faz-se uma pausa nas atualizações regulares do Ciberdúvidas, estando o regresso à atividade normal previsto para setembro. Entretanto, fica inativo o formulário para envio de perguntas ao Consultório, muito embora, nas demais rubricas, caso o interesse do tema ou a atualidade o justifiquem, poderão ser pontualmente colocados novos conteúdos, cuja publicação será assinalada nos Destaques e nas redes sociais. Como sempre, mantém-se a consulta livre de todo o vasto arquivo do Ciberdúvidas.

A todos os nossos consulentes, ótimas leituras!

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1. O substantivo próprio Peso da Régua deve ser usado acompanhado de artigo definido porque o nome da localidade coincide com o de um substantivo comum? No Consultório, analisa-se este caso numa resposta que integra, com outras cinco, a atualização: "O verbo relar", "O elemento judeo-", "Os temas do poema 'Se Helena apartar...' (Camões)", "Pronomes pessoais, demonstrativos e possessivos no 1.º ciclo" e "O destaque de um título de conferência". 

2. A expressão latina «quo vadis» sobreviveu até aos dias de hoje, continuando a ter vitalidade, o que motiva o apontamento da professora Carla Marques, no qual se explica o seu significado (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2). 

3. O Dia de Camões, que, em Portugal, se comemora a 10 de junho (a par do Dia de Portugal e das Comunidades), relembra a genialidade daquele que é considerado o príncipe dos poetas portugueses e cujos textos são de tantos tão bem conhecidos. Todavia, alerta o professor universitário e escritor Frederico Lourenço, que os textos de Camões poderão encerrar dimensões interpretativas pouco exploradas e que nos darão outra visão do poeta, ideia que desenvolve no texto "Luís de Camões e 'outra coisa'" (divulgado pelo autor no seu mural de Facebook e aqui transcrito com a devida vénia). 

4. Deixamos dois destaques:

– A abertura dos prémios Alberto Sampaio e Júlio Fogaça, da Academia das Ciência de Lisboa, para alunos do ensino superior e do ensino secundário, respetivamente (mais informações aqui);

O curso online assíncrono Um passo adiante. Para interações orais do dia a dia em português europeu, desenvolvido no âmbito âmbito das atividades do projeto internacional INCLUDEED (Social cohesion and INCLUsion: DEveloping the EDucational possibilities of the European Multilingual Heritage through Applied Linguistics) e no qual participa uma equipa da Universidade de Coimbra

 

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1. A atualidade internacional centra-se na destruição da barragem de Kakhovka, na Ucrânia, e nos enormes incêndios que lavram no Canadá, mas, em Portugal, também se dá destaque às eleições realizadas em 04/06/2023 na Guiné-Bissau, que deram a maioria absoluta à coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI)-Terra Ranka. Recorde-se que a Guiné-Bissau, membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), revela importante diversidade linguística, onde o português, apesar de língua oficial, continua pouco consolidado. Grande parte da população tem o crioulo nacional como língua materna, e, desde o berço, muitas pessoas falam igualmente as línguas históricas deste território, como sejam o balanta, o fula, o manjaco, entre outros idiomas pertencentes à grande família linguística Níger-Congo. Esta situação, associada a grande instabilidade política, torna de algum modo pouco expressivo o envolvimento deste país nas iniciativas de política linguística da CPLP.

A respeito da situação do português da Guiné-Bissau, sugere-se a leitura dos seguintes artigos:  "Um alerta guineense", "A língua e os nomes na Guiné-Bissau", "O ensino na Guiné-Bissau", "Jornalismo em crioulo de Cabo Verde e da Guiné-Bissau exercido pela primeira vez em Portugal" e "A Guiné-Bissau e a luta pelo futuro". Sobre outros aspetos linguísticos, ler também: "Os gentílicos da Guiné, da Guiné-Bissau e da Guiné Equatorial", "Os nomes pátrios da Guiné Equatorial e da Guiné-Bissau" e "'Fiz cinco anos no Brasil' (português da Guiné-Bissau)". Na imagem, "Boémio", do pintor guineense Lemos Djata (Bissau, 1981).

2. Se se diz «esse argumento pouco vale», por que razão se usa também «de pouco vale»? Não será a preposição de aqui supérflua? A resposta está no Consultório e faz parte do conjunto de oito esclarecimentos que constituem a atualização deste dia. Além da expressão «de pouco vale», comentam-se o uso de «a seu lado», a grafia de Porto Novo (capital do Benim), a etimologia de animação, a construção «pode ser que...», um caso de haplologia sintática, a análise de um complemento do adjetivo e a identificação de um caso de coesão lexical por substituição.

3. O que significa exatamente aprender uma língua? Será que aprender a língua materna na infância é cognitivamente o mesmo que aprender uma segunda língua já na idade adulta? Em O Nosso Idioma, um apontamento de  Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas, aborda a distinção entre dois conceitos nos estudos linguísticos mais recentes, o de aquisição e o de aprendizagem.

4. No final de 2022, as Edições Colibri (Lisboa) lançaram o Dicionário Português-Árabe, de Abdeljelil Larbi e Délio Próspero. Na Montra de Livros, dedica-se uma breve nota a este um trabalho pioneiro em Portugal.

5. Nas Controvérsias, a propósito do Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas, o qual se festeja em 10 de junho, transcreve-se um artigo de opinião (Público, 08/06/2023), da professora Maria do Carmo Vieira, muito crítica em relação ao ensino da língua materna no contexto do currículo dos ensinos básico e secundário de Portugal. Na mesma rubrica, partilha-se outro conteúdo sobre um tema também polémico, mas discutido em tom conciliador e reflexivo: trata-se do vídeo que o professor universitário e tradutor Marco Neves elaborou a respeito do impacto social e cognitivo das ferramentas que as tecnologias de Inteligência Artificial produzem (Youtube, 05/06/2023).

6. O Dicionário Priberam Online de Português apresentou-se em 06/06/2023 com aspeto renovado e funcionalidades melhoradas. Nas Notícias, dá-se conta da novidade.

7. Dos programas que, na rádio pública de Portugal, versam sobre língua portuguesa, salientam-se:

– O programa Língua de Todos, difundido na RDP África, cuja emissão de sexta-feira, 09/06/2023, 13h20* (repetido no dia seguinte, 09h05*), tem a participação da professora Sandra Duarte Tavares, para falar de renovação lexical e explicar com exemplos a diferença entre neologismos, estrangeirismos e empréstimos.

Páginas de Português (Antena 2), que, no domingo, 11/06/2023, às 12h30* (repetido em 17/06/2023, 15h30*), conta também com a intervenção de Sandra Duarte Tavares para analisar aspetos do funcionamento do português, por exemplo, o valor semântico do prefixo des nas palavras desleal e desmentir; ou, ainda, a confusão resultante da semelhança fonética e gráfica de alguns verbos (mungir e mugir, folhear e desfolhar, e descriminar e discriminar).

– No programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, o tema é o léxico do amor online, nas emissões de 12 a 16 de junho (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50). A convidada é Rita Sepúlveda, investigadora do Instituto da Comunicação da Universidade Nova e do ISCTE, que estuda há sete anos os relacionamentos românticos em plataformas de encontros.

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. O termo deepfake é usado para descrever a forma como a inteligência artificial ¹ tem sido colocada ao serviço da criação de vídeos extremamente realistas, que não são reais, com o objetivo de manipular as afirmações de alguém ou mesmo determinadas situações, o que contribui para um processo de desinformação, que pode servir propósitos ideológicos ou mesmo políticos. Esta palavra inglesa poderá ser substituída em português pelo termo ultrafalso, formado pelo prefixo ultra-, com o valor de «grau extremo ou excessivo», que se associa a falso, que refere algo «que foi falsificado». À partida, ultrafalso pertence à classes dos adjetivos, podendo ser mobilizado em expressões como «conteúdos ultrafalsos». Não obstante, também poderá surgir como substantivo, em construções como «o ultrafalso é o novo perigo».

¹ Cf. Língua e inteligência artificial + O processo de reescrita de textos e a Inteligência Artifical + A falsa promessa do ChatGPT

2. Na atualização do Consultório, analisa-se um caso de dois complementos do nome, que funcionam como argumentos do nome duração. No mesmo domínio da sintaxe, são divulgadas respostas relacionadas com as funções sintáticas dos constituintes do sintagma «a igreja de Longhena, no Grande Canal» e com a natureza das orações em «algo para prevenir este crime» e em «Já havia quem lhe apontasse o defeito...». Ainda um caso de colocação do pronome clítico com o pronome todos, o uso do conjuntivo depois de expressões com valor de suposição, a verificação da correção da palavra "filmação" e o uso de demais

3.  Em O Nosso Idioma, Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas, propõe uma reflexão sobre as diferenças das construções «entre mim e ti» e «entre eu e tu» (divulgada no programa Páginas de Português, da Antena 2). 

4.  O conhecimento lexical tem muita importância no ato de escrita. A qualidade do texto pode, por exemplo, ser prejudicada pela má escolha de parónimos, tal como alerta na sua análise o professor brasileiro Chico Viana. Também do Brasil, da pena do escritor brasileiro Marcílio Godoi, chega-nos a descrição dos valores que um paulista atribui à palavra imagina (textos aqui partilhados com a devida vénia). 

5. A escritora moçambicana Paulina Chiziane, na cerimónia de entrega do Prémio Camões 2021, deixou uma intervenção com reflexões sobre a língua, sobre África e as suas raízes e ainda sobre os significados que alguns dicionários associam a algumas palavras, um discurso que aqui se partilha na sua forma escrita. 

6. O uso de você como forma de tratamento não é bem recebido em todas as camadas da sociedade portuguesa, chegando inclusive a provocar reações mais contundentes, como o demonstra Galopim de Carvalho, professor universitário jubilado, no apontamento intitulado Você (divulgado na sua página de Facebook e aqui partilhado com a devida vénia). 

7. Damos destaque ao congresso internacional Ensino, Formação e Investigação, que terá lugar entre os dias 19 e 21 de junho, assinalando os 20 anos que o Mestrado de Ensino de Português como Língua Segunda e Estrangeira da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova completou em 2022 (notícia aqui).

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1. Enquanto se intensificavam os ataques aéreos no conflito russo-ucraniano – com a própria capital russa a sentir efeitos –, no Castelo Mimi, em Bulboaca, na Moldávia*, realizava-se em 1 de junho de 2023 a segunda cimeira da Comunidade Política Europeia, que reuniu 47 líderes para discutirem questões de segurança, energia e cooperação. No outro lado do Atlântico, foi notícia a queda que deu o presidente dos EUA, Joe Biden (80 anos feitos em 20 de novembro de 2022) durante uma cerimónia da Academia da Força Aérea norte-americana. O acidente não é despiciendo, porque um estudo revelou que, entre os democratas, é opinião que Biden está demasiado velho e, portanto, frágil, para se manter na atividade política. Vem, assim, a propósito recordar a palavra ancião (feminino, anciã), que significa «que tem idade avançada» e terá origem no latim medieval *anteānus (forma hipotética), derivado de ante, «antes», pelo francês ancien (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). É curioso verificar que o plural deste vocábulo tem três formas corretas, no género masculino – anciões, anciães e anciãos –, mas uma única forma de plural no feminino, que é anciãs (ibidem). Recorde-se também que há outras palavras terminadas em -ão com duplo ou triplo plural correto: por exemplo, corrimãos e corrimões (corrimão) e aldeãos, aldeões ou aldeães (aldeão).

* Ou República da Moldova, para efeitos protocolares. Ver Código de Redação para o português usado na União Europeia.

2. O verbo coçar é motivo, no Consultório, para retomar as diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil. A este tópico somam-se cinco outros: a expressão «ser da Lourinhã», os atos ilocutórios assertivos, a associação de artigos definidos aos determinantes possessivos, os modificadores do nome restritivos e a didática das subclasses dos adjetivos.

3. Qual é a origem dos nomes dos dias da semana, que em português têm, na sua maioria, formas tão diferentes das que se encontram em línguas também românicas? Na Montra de Livros, regista-se o lançamento de Os Dias da Semana (Centro Atlântico, 2023), um livro destinado ao público infantil e que, de forma narrativa, com o seu quê de maravilhoso, explica a história dessa particularidade do português.

4. Nas Controvérsias, partilha-se, com a devida vénia, "As fake news na linguística", artigo do linguista Aldo Bizzocchi, que considera basearem-se em notícias falsas certas teses sobre o machismo subjacente à categoria de género em português. Na mesma rubrica, inclui-se uma crítica de Yann Sèvegrand, professor de Português no ensino básico e secundário, ao uso das formas de tratamento em Portugal.

5. Atualmente, psicologiza-se o discurso e torna-se corrente falar de narcisismo ou contar histórias de «famílias disfuncionais», conforme aponta a jornalista Karelia Vázquez, num trabalho originalmente publicado em espanhol (El País Semanal, 27/05/2023) e agora traduzido em Diversidades. Nesta rubrica, divulgam-se ainda outros dois textos: um de João André Costa, professor português que trabalha em Londres e se vale da sua competência bilingue para ajudar as comunidades de língua portuguesa (e outras) radicadas na capital britânica; e outro, do professor universitário e tradutor Marco Neves, sobre a história do hilariante English as She is Spoke, um manual de inglês elaborado por um português que não falava nem conhecia este idioma.

6. No final do mês de maio de 2023, faleceram em Lisboa a professora e escritora Eduarda Dionísio e o livreiro e dinamizador cultural José Pinho. Sobre o importante contributo destas duas figuras marcantes da vida intelectual portuguesa, leiam-se os dois registos que lhes são dedicados na rubrica Notíciasaqui e aqui.

7. Registo de três dos programas que abordam temas da língua portuguesa na rádio pública de Portugal:

Língua de Todos, transmitido na RDP África, (sexta-feira, 02/06/2023, 13h20*; repetição no dia seguinte, 09h05*), conversa-se com a professora e linguista Carla Marques, investigadora de CELGA/ILTEC da Universidade de Coimbra e consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, sobre a conceção e elaboração de manuais escolares.

– Em Páginas de Português, difundido pela Antena 2 (no domingo, 04/06/2023, 12h30*; repetição em 10/06/2023, 15h30*), entrevista-se a professora universitária e linguista Maria Aldina Marques, do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, para falar do tema "Discurso Académico e Discurso Científico: Aproximações, diferenças e ensino".

– Igualmente na Antena 2, o programa Palavras Cruzadas* tem como convidado o professor universitário João Carlos Espada, sobre o que torna diferente a política anglo-saxónica quando comparada com a política da Europa continental.

*  De 3 a 9 de junho, às 09h50 e 18h50 (hora de Portugal continental).

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1. Na sequência das eleições eleitorais na Turquia, a comunicação social considera que Erdoğan, o vencedor, é o «homem de ferro da Turquia». Por seu turno, este afirmou, no seu discurso de vitória, que «a Turquia é feita de aço inoxidável». Em ambos os casos, estamos perante um processo de criação metafórica. A metáfora é usada como forma de associar conceitos preexistentes, retirados de um determinado campo lexical, a novas realidades que se pretende descrever. Deste modo, ao associar-se Erdoğan ao Homem de Ferro, está-se a atribuir ao presidente turco a capacidade de resistir a todas as dificuldades. Quando o próprio presidente considera que o seu país é feito de aço inoxidável, pretende atribuir aos cidadãos o mesmo traço de resistência, de alguém que não é corroído nem pelas maiores adversidades. A metáfora surge, assim, como um processo muito rico e, simultaneamente, económico para caracterizar pessoas e situações por meio da sua identificação com aspetos de realidades previamente conhecidas.

A este propósito, recorde-se como a metáfora se revelou um processo muito importante em períodos como o da covid-19 ou em momentos políticos mais intensos, tal como o documentam os textos disponibilizados no Ciberdúvidas: «Metáforas, terreno fértil da política», «O túnel e a luz», «Das linhas de trincheira ao olho do furacão», «Bala de prata contra a imortalidade», «Dos caminhos da pandemia às doenças da sociedade» e «A nossa casa e as portas que se fecham e que se abrem». 

2. Integrará a expressão «meio ambiente» a lista de pleonasmos viciosos? Dever-se-á preferir a palavra ambiente a «meio ambiente», dado que são termos sinónimos? Estas são as dúvidas que marcam a controvérsia na qual se inclui o texto apresentado por Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas.

3. O Ciberdúvidas é, para milhares de leitores e consulentes, um espaço de referência e de qualidade no âmbito do esclarecimento de vários aspetos relacionados com a língua e da orientação para os usos corretos. Neste quadro, a professora Carla Marques apresenta uma breve nota que dá a conhecer as três respostas mais visitadas do Ciberdúvidas.

4. Será possível a utilização da expressão «círculo virtuoso» a par de «círculo vicioso»? Esta é a questão que abre a atualização do Consultório. A ela juntam-se as respostas às seguintes dúvidas: Como abordar as noções de sujeito e de predicado no primeiro ciclo? Qual a concordância do verbo com pronomes coordenados pela conjunção ou? Poderemos utilizar o verbo evoluir com um comportamento transitivo? Como identificar frases optativas e frases imperativas? É possível o neologismo credencialismoCotitularidade é sinónimo de contitularidade?

5. Na Montra de Livros apresenta-se a nova publicação da Porto Editora destinada a falantes de português como língua estrangeira: Português Já – Iniciação, que visa essencialmente a prática gramatical e o desenvolvimento lexical. 

6. Margarita Correia, professora universitária e linguista, no seu artigo intitulado «A descolonização da língua portuguesa» questiona as relações que Portugal mantém com os países de língua oficial portuguesa e a relação que estes, por seu turno, mantêm com a língua portuguesa. Um assunto que exige uma reflexão séria (partilhado com a devida vénia).

7. O professor universitário e tradutor Marco Neves analisa o provérbio «Quem não tem cão caça com gato» no sentido de determinar a sua correção (apontamento partilhado com a devida vénia).

8. Entre os acontecimentos de relevo relacionados com a língua, destaque para a aula aberta dinamizada pela professora Carla Marques a propósito da didática do oral, um evento com lugar na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria, com possibilidade de acompanhamento por zoom (https://videoconf-colibri.zoom.us/j/5718913258  / ID da Reunião – 571 891 3258) (notícia aqui).