Quem nunca trouxe um tupperware de casa dos pais com comida, e nunca o devolveu? Quantas vezes é solicitada a devolução do mesmo? Pode até dizer-se que é cultural a não devolução deste objeto, para grande lástima de quem os empresta. Cultural é, também, designarmos este «recipiente de plástico com tampa que fecha hermeticamente, utilizado para guardar alimentos» (Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário da Língua Portuguesa) como tupperware?
Ora, tupperware (nome masculino) é um exemplo de uso de uma marca registada que passou a designar o objeto, neste caso, a Tupperware, que surgiu em 1946 nos Estados Unidos da América. Com a expansão e normalização do uso deste tipo de caixas, que se deu por via das festas Tupperware, onde anfitriãs convidavam amigos e familiares para demonstrações de produtos da marca e vendas diretas, o nome comercial passou a designar os recipientes, e, por isso, dizermos que temos um tupperware é declaração amplamente compreendida e corrente.
Contudo, à semelhança de tantas outras marcas que deram origem ao nome de objetos – são casos a gilete, chiclete e quispo, nomes de objetos provenientes das marcas registadas Gillette, Chiclets e Kispo, respetivamente –, também se encontra dicionarizada a forma taparuere, aportuguesando-se, portanto, o nome dos recipientes de plástico, como, de resto, tão bem o Unidos contra o Desperdício o assinalou na sua campanha publicitária. De facto, taparuere é uma tentativa de reproduzir foneticamente a pronúncia da marca Tupperware em português europeu, o que comprova a facilidade que há em adaptar ou modificar palavras estrangeiras de acordo com a fonética e as convenções linguísticas locais, criando versões informais compreendidas em contextos específicos.
Este caso é um exemplo de derivação imprópria (como também o é o de gilete, chiclete e quispo) (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 10) ou de conversão ( Margarita Correia e Lúcia San Payo de Lemos, Inovação Lexical em Português, 2005, p. 36).Trata-se da mudança de categoria e de significado de uma palavra: um nome próprio passa a ser usado como nome comum e que, por isso, perde a maiúscula inicial característica dos nomes próprios, ao mesmo tempo que ganha feição vernácula.