1. Nas notícias sobre os milhares de vítimas civis das operações de retaliação israelitas na Faixa de Gaza, depois dos massacres de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas, não parecem claros nem correntes os usos das designações dos naturais e habitantes da cidade de Gaza e do seu território. Um gentílico correto é gazense, mas este é homónimo de outro, o que denomina o natural ou residente na província moçambicana de Gaza. Há outras formas com mais tradição dicionarística, como gazeu, gazano, gazata e gazita (cf. Infopédia e dicionário Michaelis). Falando da Palestina, cabe igualmente referir o gentílico correspondente à região da Cisjordânia, nome geográfico derivado de Jordânia: em Portugal, diz-se e escreve-se cisjordano e jordano, mas no Brasil os termos empregados são é cisjordaniano e jordaniano. Nos países africanos de língua portuguesa, parecem legítimas as duas formas, pelo menos, no caso de Moçambique. Com efeito, no Vocabulário Ortográfico Moçambicano da Língua Portuguesa, registam-se, como gentílicos de Jordânia, jordano e jordaniano, dos quais se inferem cisjordano e cisjordaniano, formas, no entanto, sem entrada. Nesta discussão, justifica-se ainda incluir o gentílico de Israel: é verdade que no Brasil ocorre sobretudo israelense no sentido de «relativo ao Estado de Israel», mas em Portugal o uso consagra israelita. A propósito desta questão, em O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, o artigo que o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi dedicou à diferença entre israelense, israelita, judeu e hebreu na perspetiva do português do Brasil.
Na imagem, Pomba com flores (1957) de Picasso (1881-1973).
2. Perante a guerra Israel-Hamas, não faltam apelos à paz. Foi o caso do Conselho Europeu, onde, em 26/10/2023, os países-membros procuraram entender-se quanto a dar assistência à população civil de Gaza – isto é, um «cessar-fogo humanitário» ou «trégua humanitária». As expressões têm sentido e estão corretas: humanitário é congruente com cessar-fogo e com trégua, visto tratar-se de medidas que visa defender vidas humanas. Tal como em «pausa humanitária», ou «corredores humanitários» – conforme a resolução apelo dos líderes da União Europeia para a entrada de ajuda humanitária em socorro dos palestinianos sitiados.
3. Os ecos mediáticos das acusações trocadas entre os beligerantes ativam palavras como mortandade, morticínio e genocídio. O consultor Carlos Rocha faz breves comentários sobre os matizes que diferenciam estes vocábulos do mesmo campo lexical. Além dos conflitos que ameaçam alastrar, outra preocupação constante: a do ambiente e da sua visível degradação. Uma campanha levada a cabo em Portugal para evitar desperdícios consumistas, exibe a imagem de um recipiente para conservar comida, o qual aparece designado como taparuere. Sobre este aportuguesamento da marca comercial Tupperware, leia-se o apontamento que se disponibiliza também em O Nosso Idioma, da autoria da consultora Sara Mourato.
4. A respeito de importantes áreas da linguística teórica e experimental, inclui-se na rubrica Montra de Livros uma apresentação de Teoria e análise linguística (2022), primeiro volume da coleção Estudos da Linguagem.
5. No Consultório, sete questões e sete respostas: momento tem algum antónimo? O plural faturas tem significado diferente de fatura? Diz-se «afirmam serem professores» ou «ser professores»? Qual é o gentílico do estado brasileiro do Acre? O que é correto: «moro em Calvos» ou «nos Calvos»? Qual é a função de «para eles» em «muitas palavras latinas são conhecidas para ele»? Que função sintática tem «das consequências» na construção «decorrente das consequências»?
6. Quanto a três dos programas da rádio pública portuguesa em que o tema principal é a língua portuguesa:
– No Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 27/10/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, às 9h50*), conversa-se com a nova presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Camões, I. P.), Ana Paula Fernandes.
– Também em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 29/10/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 04/11/2023, às 15h30*), emite-se uma entrevista com a nova presidente do Camões, I. P. sobre a promoção do português no mundo, a cooperação com outros países da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) e a rede de Centros Culturais do Camões nas grandes cidades culturais do mundo.
– Refere-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
Hora oficial de Portugal continental.
7. Por último, registe-se *o lançamento do podcast Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. O primeiro episódio ficou disponível em 25/10/2023, no Spotify, e é dedicado aos regionalismos do Alentejo interior e do litoral centro de Portugal (ouvir aqui).