«Complemento determinativo» é uma designação que era usada na Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 para referir um tipo específico de complemento, cuja natureza se descreve da seguinte forma:
«O complemento determinativo é constituído por um nome ou equivalente, o qual se liga a outro nome ou a um adjetivo por meio da preposição de.
Este complemento pode estabelecer relações diversas com o nome determinado, particularizando a sua ideia.
Origem: um barulho de passos; o vinho do Porto
Qualidade: um homem de ação; um restaurante de renome
Fim: uma agulha de tricô; uma mesa de jogo
Posse: a caneta do pai
Tempo: a roupa de verão
Matéria: um anel de ouro
Parentesco: o tio do João»1
De acordo com esta perspetiva, os constituintes destacados a negrito em «bolo de laranja» e «notícias dele» desempenham a função sintática de complemento determinativo, indicando qualidade e posse, respetivamente.
No entanto, refira-se que a função sintática de complemento determinativo não é contemplada em documentos mais recentes, como o Dicionário Terminológico, que serve de referência para os termos gramaticais a usar no ensino não universitário. Gramáticas científicas mais recentes, como a Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus et al., ou a Gramática do Português, de Raposo et al., também não consideram esta função sintática. Nesta visão mais recente, os constituintes que se incluíam na função de complemento determinativo poderão desempenhar a função de complemento do nome, modificador do nome ou complemento do adjetivo.
De acordo com este último quadro, em «bolo de laranja», o constituinte destacado desempenha a função de modificador do nome restritivo1. A este propósito, esclareça-se que a designação aposto nos quadros mais recentes, atrás referidos, recebe o nome de modificador do nome apositivo, correspondendo a um constituinte que «não restringe a referência do nome que modifica»3. De acordo com este conceito, o constituinte «de laranja» não desempenha esta função, na medida em que ele restringe o sentido do nome bolo.
No sintagma «notícias dele», o constituinte dele desempenha a função de complemento do nome com valor semântico de posse4. Já o constituinte «notícias dele» desempenha a função de complemento direto (função que não é desempenhada pelo constituinte dele de forma isolada).
Disponha sempre!
1. Pinto, Parreira e Lopes, Gramática do Português Moderno. Plátano Editora, 1994, p. 168.
2. Esta interpretação poderá ser comum a todos os gramáticos, como se observa nesta resposta.
4. Para mais informações, cf. Brito e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 1049-1057.