Do ponto de vista estilístico, o pleonasmo é uma figura de estilo que tem como «objectivo reforçar uma ideia, repetindo-a, causando um efeito de eco semântico»1. Trata-se, portanto, de uma figura que assenta na redundância, na repetição. Este processo pode ocorrer por processos gramaticais, como em (1) onde o pronome repete o nome ou, como é mais frequente, por processo lexicais, como em (2), onde o sintagma «para fora» retoma o valor semântico de sair:
(1) «O João, conheço-o bem.»
(2) «Ele acabou de sair para fora.»
Há, todavia, uma distinção entre os usos expressivos do pleonasmo e os usos ditos viciosos, que são, por essa razão, considerados erro. Como nos explica Bechara, «[o] grande juiz entre os pleonasmos de valor expressivo e os de valor negativo (por isso considerados erro de gramática) é o uso, e não a lógica. Se não dizemos, em geral, fora de situação especial de ênfase: Subir para cima ou Descer para baixo, não nos repugnam construções com O leite está saindo por fora ou Palavra de rei não volta atrás.»2
Por esta razão, não será possível elaborar uma lista exaustiva de pleonasmos viciosos, porque há sempre que considerar o contexto em que eles estão a ser usados e a intenção a que são associados. De qualquer forma, os usos que denotam uma falta de consciência da repetição presente nos termos mobilizados será, em muitas situações, um caso de pleonasmo vicioso. Bechara apresenta alguns exemplos de usos que se poderão integrar nesta classificação: «decapitar (por decepar, já que decapitar só pode referir-se à cabeça) a cabeça, exultar de alegria, panaceia universal, esquecimento involuntário, desde ab aeterno (ab aeterno é expressão latina que já indica desde a eternidade), desde ab initio, tornar a repetir, prever de antemão, antídoto contra e tantos outros. Alguns, usados pelos melhores escritores, já correm com alguma despreocupação diante da crítica mais severa, como é o caso de suicidar-se. Já está incorporada a repetição do prefixo e preposição de mesmo significado, como: incorporar em, coabitar com, coincidir com, conformar-se com, etc.»3
No Ciberdúvidas, pode encontrar vários textos (ver Textos relacionados) que se dedicam ao tema do pleonasmo vicioso. Alguns deles demonstram que as interpretações relacionadas com este assunto nem sempre são consensuais e exigem uma análise do contexto de uso e das intenções.
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1. E-dicionário de termos literários.
2. Bechara, Moderna Gramática Portuguesa. Ed. Lucerna, p. 814.
3. Idem, ibid., p. 815.