Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora
O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e a Geração Z
A propósito da celebração do seu 28.º aniversário

A propósito da celebração do 28.º aniversário do projeto Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, a consultora Inês Gama reflete sobre a utilidade deste serviço para os jovens adultos da Geração Z.

Pergunta:

Na frase «O livro convida à comparação entre os bons e os maus», qual a função sintática de «entre os bons e os maus»?

Complemento de nome ou complemento oblíquo?

Obrigada.

Resposta:

Na frase apresentada pela consulente, o constituinte «entre os bons e os maus» desempenha a função de complemento do nome.

Note-se, em primeiro lugar, que este constituinte nunca poderia ser um complemento oblíquo, na medida em que não está a ser selecionado pelo verbo da frase (convidar), já que na omissão do nome comparação obtém-se uma frase agramatical, como ilustrado no exemplo (1): 

(1) *«O livro convida a entre os bons e os maus.»

 Neste sentido, conclui-se que «entre os bons e os maus» configura um constituinte que é pedido pelo nome comparação. Este classifica-se como nome deverbal, ou seja, um nome que é derivado de um verbo. Neste caso, comparação deriva do verbo comparar. Por norma, os nomes deverbais herdam dos verbos correspondentes alguns dos seus argumentos, daí muitos destes nomes poderem selecionar um complemento do nome, como exemplificado em (2): 

(2) a. «Ele compara os bons com os maus.»

     b. «A comparação dos bons com os maus.»

     c. «A comparação entre os bons e os maus.»

No caso da passagem do verbo comparar para o nome comparação, este passou também a poder reger a preposição entre (como se assinala nesta resposta).

Em suma, «entre os bons e os maus» é um constituinte selecionado pelo nome comparação e que desempenha a função de complemento do nome, já que o nome que o seleciona é deverbal.  

A classe de palavras de  <i>direito</i>
Sobre o seu uso adverbial

A classe de palavras de direito é o tema do apontamento gramatical da consultora Inês Gama (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 12/01/2025).

Os usos da palavra <i>rei</i> na língua
Exemplos de algumas expressões relacionadas com este termo

Neste apontamento, a consultora Inês Gama explora algumas expressões que existem em português com a palavra rei, a propósito da celebração do Dia de Reis, em 6 de janeiro. 

Pergunta:

Na frase «Mensagem teve as suas provas revistas pelo próprio autor, mesmo após o livro ter sido posto à venda», o segmento «mesmo após ter sido posto à venda» pode considerar-se uma oração subordinada adverbial concessiva?

Resposta:

A oração «mesmo após ter sido posto à venda» deve ser classificada como uma oração subordinada adverbial temporal. Note-se que, neste caso, o que se tem em destaque nesta oração é o valor temporal por esta veiculado, sendo que a palavra mesmo que a introduz pode ser retirada sem que a sua gramaticalidade ou sentido sejam afetados: 

(1) «Mensagem teve as suas provas revistas pelo próprio autor, após o livro ter sido posto à venda.»

Segundo o Dicionário Terminológico (DT) este tipo de orações «estabelece a referência temporal em relação à qual a subordinante é interpretada», quer isto dizer que o termo após presente nesta oração faz com que esta seja situada temporalmente como uma situação que ocorreu anteriormente à situação descrita pela oração principal.

Por outro lado, também segundo o DT, uma oração subordinada concessiva «transmite uma ideia de contraste face a um pressuposto expresso ou implícito na subordinante», ou seja, a situação descrita pela oração concessiva leva, em circunstâncias normais, a inferir o contrário da situação descrita pela oração principal, na medida em que a oração principal contradiz as expectativas que resultariam normalmente da oração concessiva. Contudo, não se exclui a presença de um valor de contraste concessivo na oração apresentada pela consulente e que estará veiculado pelo advérbio mesmo, no entanto, tendo em conta que a sua presença na oração não é obrigatória ou até mesmo determinante, a classificação desta deve estar em consonância com o valor que esta destaca e que é o temporal.