Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber se noiva e nubente são completamente sinónimos.

Segundo o dicionário da Porto Editora, noiva significa «mulher que está para casar ou que está casada há pouco». Faz sentido, porque mesmo recém-casada, lhe costumamos chamar noiva.No entanto, a minha dúvida é se se pode também chamar nubente a uma mulher que acaba de se casar.

Podem elucidar-me, por favor? Consultei algumas fontes, mas não consegui encontrar uma explicação coerente.

Muito obrigada!

Resposta:

De acordo com vários dicionários da língua portuguesa, como, por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboanubente tem apenas como aceção «que está para casar ou que vai casar». Por conseguinte, nubente é sinónimo de noivo quando este último termo é utilizado com o sentido de «pessoa que está para casar». 

Não se pode, portanto, assumir que estes dois vocábulos sejam sinónimos quando se pretende referir uma pessoa que está casada recentemente. Neste caso, apenas noivo é o termo corretamente aplicado.

Note-se que, tal como defendem Ana Cristina Macário Lopes e Graça Rio-Torto, na obra Semântica (Editora Caminho), são raros os sinónimos absolutos, sendo difícil encontrar na língua «uma coincidência absoluta das propriedades intencionais de duas palavras, considera-se haver lugar a uma relação de sinonímia quando dois termos de significado idêntico ocorrem como equivalentes funcionais» (pág. 31). 

Em suma, considera-se que nubente e noivo são sinónimos quando o sentido de ambos é «pessoa que está para casar» (Infopédia).

Pergunta:

Por que razão a Wikipédia e Wikcionário insistem em colocar "português europeu" para poderem diferenciar do "português brasileiro"?

Vou explicar: o português não é idioma popular na Europa, assim como o espanhol não o é também!

Basta botarem "português lusitano", "português peninsular" ou "português ibérico", assim como "espanhol hispânico", "espanhol peninsular" ou "espanhol ibérico", para poderem diferenciar do "espanhol americano".

Ninguém fala: "inglês europeu" em contraste com "inglês americano", mas sim "inglês britânico"!

Estão ligados?

Ou, então, vamos trocar "português brasileiro", no caso, para "português sul-americano"! Podem crer aí?

E, aliás, já tem múltiplos usuários se queixando desse lance de usarem o termo de "português europeu" para além de mim mesmo! Que tal essa aí?

Muitíssimo obrigado e um grande abraço!

Resposta:

As designações «norma europeia», «português europeu» ou «variedade europeia» não pretendem constituir qualquer tipo de discriminação, pois correspondem a conceitos terminológicos utilizados nos estudos linguísticos e no ensino do português, nomeadamente no que diz respeito à variação geográfica. 

Esta terminologia é adotada por obras de referência dos estudos linguísticos e do ensino de língua portuguesa, como, por exemplo, a Nova Gramática do Português Contemporâneo (consultada a edição de 2015), de Celso Cunha (destacado linguista brasileiro) e Lindley Cintra (destacado linguista português), onde se distingue dentro das variedades do português, «dialetos do português europeu», a par dos «dialetos das ilhas atlânticas» e dos «dialetos brasileiros». Também na Gramática da Língua Portuguesa (2023), organizada por Maria Helena Mira Mateus e outros, Isabel Hub Faria assinala que «em línguas com larga história de expansão mundial e de mobilidade dos seus falantes nativos, observa-se a existência de variedades que se vão progressivamente fixando e autonomizando até ser possível caracterizá-las como variedades locais ou mesmo nacionais. É ne...

Pergunta:

Na frase «Acabou por ser degredado para a Índia», «para a Índia» desempenha que função sintática: c oblíquo ou c. do adjetivo. Percebi que o verbo degredar é transitivo, mas fico com dúvidas nesta formulação. Obrigada.

Resposta:

Na frase apresentada pela consulente, o constituinte «para a Índia» desempenha a função sintática de complemento oblíquo.

Na frase em questão, a oração que integra o constituinte em análise, «ser degredado para a Índia» é uma estrutura passiva e, por conseguinte, degredado é, neste caso, a forma do particípio passado do verbo degredar. Note-se que alguns verbos do português partilham, por razões históricas, a forma do particípio passado com a forma do adjetivo. Vários autores defendem que quando a forma do particípio é a mesma do adjetivo, mas está integrada num complexo verbal, como acontece em frases passivas, este tem sobretudo propriedades verbais, ou seja, deve ser tratado como um verbo.

Para perceber melhor a análise sintática da oração em estudo, o melhor será analisá-la na sua forma ativa, como exemplificado em (1). 

(1) «O juiz degredou o condenado para a Índia.»

Aplicando o teste da pergunta-resposta à frase para determinar se o constituinte «para a Índia» é um complemento ou um modificador, verificamos que este não pode ser afastado do verbo, uma vez que as frases geradas pelo seu afastamento são agramaticais.

i) Teste da pergunta-resposta

(2) «*O que fez o juiz ao condenado para a Índia?»

      «*Degredou.»

(3) «O que fez o juiz ao condenado?»

     «Degredou para a Índia.»

Aplicando mais um outro teste que procura separar o verbo do seu complemento, observamos pela agramaticalidade das frases que o constituinte em análise é de facto um complemento.

(4) «*O que fez o juiz para a Índia?»

     «Degredou o condenado.»

Resumind...

<i>Censura</i> e <i>confiança</i> nas luzes da ribalta
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Apontamento da consultora Inês Gama sobre o sentido da expressão «cair o Carmo e a Trindade». Incluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 9 de março de 2025.