Neste apontamento, a consultora Inês Gama explora algumas expressões que existem em português com a palavra rei, a propósito da celebração do Dia de Reis, em 6 de janeiro.
Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.
Neste apontamento, a consultora Inês Gama explora algumas expressões que existem em português com a palavra rei, a propósito da celebração do Dia de Reis, em 6 de janeiro.
Na frase «Mensagem teve as suas provas revistas pelo próprio autor, mesmo após o livro ter sido posto à venda», o segmento «mesmo após ter sido posto à venda» pode considerar-se uma oração subordinada adverbial concessiva?
A oração «mesmo após ter sido posto à venda» deve ser classificada como uma oração subordinada adverbial temporal. Note-se que, neste caso, o que se tem em destaque nesta oração é o valor temporal por esta veiculado, sendo que a palavra mesmo que a introduz pode ser retirada sem que a sua gramaticalidade ou sentido sejam afetados:
(1) «Mensagem teve as suas provas revistas pelo próprio autor, após o livro ter sido posto à venda.»
Segundo o Dicionário Terminológico (DT) este tipo de orações «estabelece a referência temporal em relação à qual a subordinante é interpretada», quer isto dizer que o termo após presente nesta oração faz com que esta seja situada temporalmente como uma situação que ocorreu anteriormente à situação descrita pela oração principal.
Por outro lado, também segundo o DT, uma oração subordinada concessiva «transmite uma ideia de contraste face a um pressuposto expresso ou implícito na subordinante», ou seja, a situação descrita pela oração concessiva leva, em circunstâncias normais, a inferir o contrário da situação descrita pela oração principal, na medida em que a oração principal contradiz as expectativas que resultariam normalmente da oração concessiva. Contudo, não se exclui a presença de um valor de contraste concessivo na oração apresentada pela consulente e que estará veiculado pelo advérbio mesmo, no entanto, tendo em conta que a sua presença na oração não é obrigatória ou até mesmo determinante, a classificação desta deve estar em consonância com o valor que esta destaca e que é o temporal.
Gostaria de saber se, referente aos bens pessoais, a palavra pertences está correta. Já ouvi pertences e pertenças. Qual deles está certo? no exemplo:
(1) «Relaxadamente, os estagiários recolheram os seus pertences e saíram da unidade de ginecologia.»
(2) «Relaxadamente, os estagiários recolheram as suas pertenças e saíram da unidade de ginecologia.»
Essa palavra pode ser alusiva a todos os bens em concreto, como roupas, bagagens, etc.?
Obrigada!
No caso de se estar a referir a objetos pessoais, a frase correta será «Relaxadamente, os estagiários recolheram os seus pertences e saíram da unidade de ginecologia».
O nome pertences tem, segundo a grande maioria dos dicionários de língua portuguesa como, por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), a aceção de «objetos pessoais», tendo como seu sinónimo o nome haveres. Neste sentido, pertences utiliza-se em situações que descrevem todos os bens materiais que pertencem a alguém, como roupas, sapatos, livros, e que serão sobretudo de uso pessoal.
Por outro lado, o nome pertença tem como sentidos possíveis «o que faz parte de algo; parte acessória de algo; propriedade, domínio», tendo como sinónimo o nome domínio e sendo utilizado em situações como: «Antigamente, em certas comunidades rurais, o forno, o poço, eram pertença de todos» (DLPACL). Isto indica que o nome pertença se usa em contextos em que se refere o património ou a riqueza de alguém, como, por exemplo, casas, quintas ou terrenos.
Portanto, pertences e pertenças não são palavras sinónimas, embora ambas derivem por regressividade ou derivação não afixal do verbo pertencer. Pertences deve-se usar para descrever objetos pessoais, ao passo que pertenças se usa para mencionar bens patrimoniais.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
Se pretende receber notificações de cada vez que um conteúdo do Ciberdúvidas é atualizado, subscreva as notificações clicando no botão Subscrever notificações