1. A atualidade internacional é marcada pela escalada do conflito entre Israel e o Hamas, com notícias chocantes em que avulta a terrível palavra massacre. Em segundo plano, aparece a guerra russo-ucraniana, que nem por isso conhece tréguas, constantemente motivando a ativação dos vocábulos drone e míssil. Em Portugal, vive-se felizmente em paz, mas o léxico mediático denota o mal-estar social causado pela crise da habitação, palavra recorrente no Orçamento do Estado 2024 apresentado pelo governo português. Entretanto, quem esteja atento ao quotidiano urbano, por exemplo, em Lisboa, depara-se com o multilinguismo desordenado da comunicação pública escrita, que vai da utilização de estrangeirismos em simples inscrições em placas e painéis – concierge (porteiro/a), flat (apartamento) – aos textos promocionais que as empresas exibem nos seus edifícios. A presença da língua vernácula na capital portuguesa torna-se preocupantemente discreta – alerta Paulo J. S. Barata no apontamento que dedica ao tema no Pelourinho.
Na imagem, Lisboa vista do miradouro de São Pedro de Alcântara, de Carlos Botelho (1899-1982).
2. O gigantismo demográfico e o prestígio cultural do Brasil impõem rever a maneira como se concebe a língua portuguesa no presente e até mesmo no passado. Na Montra de Livros, apresenta-se Histórias do Português do Brasil (2022), uma publicação que reúne trabalhos acerca dos fenómenos linguísticos característicos do português brasileiro. E em Ensino, na sequência de uma resposta sobre a aceitação das variantes linguísticas do Brasil nas escolas e universidades de Portugal, inclui-se um comentário do gramático brasileiro Fernando Pestana, que defende que os «cursos de Letras (ou cursos de formação de professores já graduados e atuantes em salas de aula) devem ter em sua grade curricular uma disciplina que ensine sistematicamente as diferenças entre as duas normas/variedades».
3. Como identificar os pleonasmos viciosos? Há alguma lista? Esta é uma das sete questões da atualização do Consultório, as quais abrangem ainda os seguintes tópicos: o uso do topónimo Dubai; a subordinação na frase em «é imprescindível que tenhas lido o texto»; as palavras aposento e massoterapia; os valores aspetuais de «vinha a comer»; a sintaxe de mesmo.
4. Ainda a respeito da polémica que envolveu o livro No Meu Bairro, que põe em prática o sistema gramatical ELU, de finalidade inclusiva, uma reflexão da linguista e professora universitária Maria Antónia Coutinho (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa).
5. A comunicação social portuguesa deu grande projeção ao casamento da filha dos Duques de Bragança. Contestando a designação «casamento real», a jornalista Bárbara Reis observa sarcasticamente que «discutir hoje quem seria o legítimo herdeiro do trono de Portugal é como discutir "quem seria hoje o imperador romano"», em artigo de opinião incluído no Público e transcrito, com a devida vénia, em O Nosso Idioma.
6. Nas Diversidades, divulga-se o Manifesto de Liubliana sobre a importância das competências superiores de leitura, um documento subscrito pela Associação Internacional de Editores, entre outras entidades.
7. Acontecimentos que envolvam a língua portuguesa:
– A atribuição do Prémio Camões 2023 ao professor universitário, ensaísta e tradutor João Barrento (pormenores aqui);
– Na Galiza, a criação e regulação do Observatorio da Lusofonía Valentín Paz Andrade pelo Decreto 134/2023, de 28/09, da Junta de Galiza.
– A inauguração da Casa da Cidadania da Língua em 12/10/2023, em Coimbra (ler aqui).
8. A respeito de três dos programas que, na rádio pública portuguesa, são dedicados à língua:
– Para esclarecer como os alunos podem aperfeiçoar a sua competência linguística, entrevista-se a linguista Sandra Duarte Tavares, em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 13/10/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*).
– Em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 15/10/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 21/10/2023, às 15h30*), a propósito do 6.º Congresso Internacional de Linguística Histórica, conversa-se com o linguista Francisco Calvo del Olmo sobre a importância da história dos contactos entre o galego-português e o espanhol para os vários tipos de portunhol. O programa inclui também o apontamento da professora Carla Marques sobre a conjugação do verbo haver.
– Em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, o tema das emissões de 16 a 20 de outubro (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*) é o da comunicação das sondagens. O convidado é Luís Paixão Martins, autor do livro Como mentem as sondagens.
*Hora oficial de Portugal continental.