Os verbos ficar e tornar-se, no seu uso copulativo, são semanticamente próximos, uma vez que partilham o sentido de mudança de estado. Observe-se, por exemplo, que a frase (1) descreve a mesma situação da frase (2), isto é, a situação de alguém que deixou de ter pouco dinheiro e passou a ter muito.
(1) Ele fez-se rico.
(2) Ele tornou-se rico.
Todavia, o verbo tornar-se introduz uma ideia de conversão ou de transformação que ficar não tem. Este verbo combina-se preferencialmente com predicados de natureza estável e não permanente, veiculando um valor de transformação. Por outro lado, ao contrário de ficar, o verbo tornar-se quando combinado com constituintes predicativos episódicos gera enunciados pouco aceitáveis. Note-se que, enquanto a frase (3) não apresenta qualquer problema de aceitabilidade, a frase (4) já é mais dúbia.
(3) Eles ficaram inquietos.
(4) ? Eles tornaram-se inquietos.
No que concerne ao verbo ficar, a sua semântica é um pouco mais complexa de perceber, na medida em que, no português europeu, de acordo com Rute Rebouças em «Sobre a semântica do verbo ficar em construções progressivas com adjetivos e particípio», este verbo é capaz de, por um lado, se comportar como um verbo principal1, assumindo o significado básico de permanecer num determinado lugar, como em (5); por outro lado, pode apresentar-se como um verbo copulativo, indicando o resultado de uma mudança de estado ou de evento, como em (6); ou como auxiliar passivo para indicar um estado resultativo ou consequente, como em (7).
(5) Ontem, a Joana ficou em casa.
(6) A Isabel ficou doente devido à chuva.
(7) A ponte ficou destruída durante a tempestade.
Portanto, quando se procura por equivalentes destes verbos nos dicionários, é preciso não só ter em atenção as diferentes caraterísticas semânticas de cada verbo, mas também entender que não existem equivalências semânticas absolutas, ou seja, alguns dos verbos apresentados como equivalentes de ficar, apenas o são em alguns contextos. Por exemplo, o verbo pôr, na sua forma pronominal pôr-se, é, em alguns contextos, equivalente semântico de ficar, no seu uso copulativo, uma vez que pode indicar uma mudança de estado, como se comprova pela equivalência das frases (8) e (9).
(8) Os cães puseram-se inquietos quando o dono chegou.
(9) Os cães ficaram inquietos quando o dono chegou.
Contudo, é preciso ter em atenção que o verbo pôr-se é, em português europeu, limitado na sua combinação com adjetivos que descrevem estados, sendo comummente usado na descrição de estados meteorológicos. Entenda-se que, ao contrário do verbo poner do espanhol, os verbos pôr e pôr-se não são considerados copulativos.
1. Segundo o Dicionário Terminológico, documento de referência no ensino não universitário em Portugal, nesta situação ficar é considerado um verbo copulativo.