Todas as frases apresentadas pelo consulente estão corretas e são aceitáveis em português. Note-se que por frase agramatical entende-se uma estrutura que não respeita as regras da gramática, o que não é o verificado nos exemplos. As repetições de tais palavras nas construções ilustradas pelo consulente podem provocar uma certa estranheza mais pelo seu efeito estilístico, nomeadamente, prosódico e rítmico, e não tanto pela sua estrutura.
Do ponto de vista estilístico, a repetição de determinadas palavras é, por vezes, feita para provocar um determinado efeito no texto, como por exemplo, o recurso a figuras de estilo que visam a repetição propositada de vocábulos (p. e. anáfora). Segundo o E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia, a estilística «distingue-se habitualmente da gramática, porque não se ocupa das funções que desempenham na comunicação verbal», mas antes nos efeitos produzidos pela linguagem que se utiliza num dado contexto e com um determinado fim.
No caso da primeira frase, «Ele comprou um presente para levar para a festa surpresa», a repetição da preposição para é necessária, na medida em que a sua função é estabelecer uma relação entre a palavra que a antecede e aquela que a segue. Neste caso, a primeira preposição para é exigida pelo nome presente de modo a introduzir a finalidade dessa oferta, ao passo que o segundo para é regido pelo verbo levar de forma a indicar o destino do transporte do presente. Embora a repetição da preposição nesta frase possa em termos estilísticos não ser o pretendido, uma vez que causa um efeito prosódico pouco desejável, ela é necessária para o seu bom funcionamento sintático e semântico. Como a repetição da preposição nesta estrutura é, do ponto de vista da sonoridade, desagradável, pode-se sempre transformar a frase em duas orações coordenadas, como por exemplo: «Ele comprou um presente e levou-o para a festa surpresa».
Na segunda frase, «O aluno entregou o projeto e o professor se surpreendeu», o uso do determinante artigo definido com os nomes aluno, projeto e professor também não está errado. A sua utilização nesta estrutura serve, aliás, para especificar estes nomes, indicando que se trata de uma informação partilhada (ou já conhecida) pelos participantes no discurso, isto é, «o aluno», «o projeto» e «o professor» referidos na frase são facilmente associados a uma imagem concreta pelo seu recetor, em grande medida, porque já foram mencionados anteriormente no discurso. Neste caso, se os nomes em causa já foram previamente referenciados, podem ser facilmente substituídos ou por pronomes ou por determinantes demonstrativos. Suponha-se que «o aluno» e «o professor» já tinham sido referidos, poder-se-á, então, substituir num caso o artigo definido por um determinante demonstrativo e noutro o artigo e o nome por um pronome, tendo-se, por exemplo, a frase «Aquele aluno entregou o projeto e este se surpreendeu», evitando assim a repetição do artigo.
Por fim, na terceira frase, «Eu gosto de ler, e quando leio, eu aprendo algo novo», uma vez que o português é uma língua de sujeito nulo, isto é, permite a omissão do sujeito em determinados contextos, é possível ocultar os pronomes pessoais com a função de sujeito das orações, sem que a frase perca o seu sentido ou fique estruturalmente inadequada, obtendo-se, portanto, a construção seguinte: «Gosto de ler, e quando leio, aprendo algo novo». Todavia, caso o objetivo desta estrutura seja enfatizar quem foi o participante da situação, então a expressão do sujeito em várias orações da frase faz sentido, uma vez que, assim, se está a criar um efeito anafórico.