Um dia destes dei com um painel de campainhas ou botoneira de um prédio em Lisboa o qual, para além dos números e letras que identificam as frações, possui três palavras ou expressões: Portaria, tendo por baixo Concierge, e nas frações dos últimos pisos a expressão inglesa Sky Flat. O que achei curioso foi existirem apenas três palavras ou expressões e cada uma em sua língua, o que é bem ilustrativo do ambiente multilingue em que vivemos. Embora, analisando a um segundo olhar, o predomínio seja o do inglês, pois na verdade só o portaria, que afinal apenas respeita a língua do país onde o prédio está construído, foge a essa regra. Pois as restantes são sky flat, que se refere às frações de topo, muito envidraçadas e com vistas amplas sobre a cidade, de onde literalmente, e como induz a expressão, se vê o céu, e concierge, que mais não é do que a tradução "internacional" do termo portaria ou porteiro/a, o qual, apesar de ser uma palavra francesa, já foi apropriado por outras línguas. É, aliás, muito comum, por exemplo na hotelaria internacional, e também mais recentemente, como se comprova, nos condomínios de luxo, recuperando e qualificando afinal o quase extinto serviço de porteiro/a. Ainda me lembro, há algumas décadas, de ser comum nos átrios de alguns prédios de Lisboa a existência de uma secretária com um porteiro, que controlava as entradas e saídas de residentes e visitantes, e auxiliava os moradores ou resolvia pequenas tarefas geralmente de interesse comum. Acresce que a promoção do edifício em causa é feita em inglês, ou seja, percebe-se ser claramente dirigido para um público internacional, e que domina o inglês.
Mas se este exemplo, descartando o sky flat, que não é relevante para acesso ao prédio, ainda ostenta o Portaria, em destaque, tendo por baixo o concierge, servindo assim a quem domina e não domina o inglês, há, não muito longe dali, um outro caso, mais danoso, o da Fintech House, em cujas vidraças, bem no centro de Lisboa, se exibem textos de apresentação da empresa, e com alguma extensão, exclusivamente em inglês:
The Fintech House
The Fintech House is the must-go hub
for fintech, insurtech, regtech, cybersecurity
and defi startups in Europe. The place
for the entire ecosystem to come together
and make ideas grow.
auditorium,
event spaces,
private offices,
meeting rooms,
dedicated desks
and hot desks.
É em Lisboa mas parece ser em Londres ou noutra cidade qualquer de língua inglesa. Francamente, embora percebendo que o alvo desta empresa é um público internacional, e que comunica sobretudo em inglês, a atual língua franca do mundo, seria exigível, em minha opinião, quanto mais não fosse por respeito e integração no país de acolhimento, que ao menos os textos aparecessem também em vernáculo. Não existindo essa autorregulação, digamos, seria bom que, por norma ou lei nacional, se obrigasse a que todas as mensagens mais extensas fossem ao menos bilingues.