A classe dos advérbios é muito heterogénea e engloba termos com características e comportamentos muito diversos. Esse facto tem dado origem a propostas de organização das suas subclasses muito distintas.
Tal situação justifica o facto de a subclasse dos advérbios de meio ou de instrumento não constar de todas as propostas. Por exemplo, gramáticos como Cunha e Cintra1, Mário Perini2, Rocha Lima3 ou Domingos Cegalla4 não consideram este tipo de advérbios. A própria Nomenclatura Gramatical Brasileira não prevê esta classificação. Já Evanildo Bechara5 considera apenas a existência de advérbios que expressam uma circunstância de instrumento. Esta opção de não distinguir advérbios de meio e de instrumento estará relacionada com o facto de, neste quadro de classificação, o valor das locuções incluídas nesta significação não se distinguir. Assim, em exemplos como os seguintes não se destrinça semanticamente com clareza a ideia de meio usado para fazer algo da ideia de instrumento usado para fazer algo:
(1) «cortar à faca»
(2) «escrever à mão»
(3) «bater com uma flor»
(4) «viajar de avião»
(5) «andar a pé»
Deste modo, a considerarmos a existência de um grupo de locuções que detém comportamento adverbial e que veicula a ideia de instrumento ou meio, estas deverão integrar uma mesma subclasse.
Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as gentis palavras que nos endereça.
Disponha sempre!
1. Cunha e Cintra, Nova gramática do português moderno. Ed. Sá da Costa, 1988.
2. Mário A. Perini, Gramática descritiva do português. Ed. Ática, 2005.
3. Rocha Lima, Gramática normativa da língua portuguesa. José Olympio editora, 2001.
4. Domingos Cegalla, Novíssima gramática da língua portuguesa. Companhia Editora Nacional, 2020.
5. Evanildo Bechara, Moderna gramática portuguesa. Ed. Lucerna, 2019.