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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os recentes acontecimentos políticos em Portugal geraram dois neologismos que têm ocupado as primeiras páginas da imprensa nacional: Galambagate e Costagate. Estes termos recentes estão relacionados com o escândalo político que envolve o ministro das Infraestruturas João Galamba e os acontecimentos que tiveram lugar a 26 de abril, nas instalações do seu Ministério, envolvendo vários membros da sua equipa e que vieram juntar-se ao escândalo político que envolve a TAP, a transportadora aérea portuguesa. Os factos que aí tiveram lugar, de contornos ainda pouco claros e com versões diferentes, encontram-se a ser averiguados por uma Comissão Parlamentar de Inquérito e fazem correr muito tinta, abalando as estruturas do governo português. As palavras Galambagate e Costagate resultam da junção dos apelidos dos políticos João Galamba e António Costa, primeiro-ministro português, ao sufixo inglês -gate, o qual refere uma situação que causa choque público ou reprovação social. A forma sufixal -gate é abstraída de Watergate, nome do conjunto de edifícios que se situa em Washington, nos Estados Unidos, e que esteve no centro do escândalo político ocorrido na década de 1970 que levou à renúncia do presidente Richard Nixon

2. Poderá o complemento indireto ser introduzido pela preposição para? Esta é uma questão que envolve alguma complexidade no plano da análise sintática e para a qual propomos uma interpretação numa de oito respostas que disponibilizamos na atualização do Consultório. Neste âmbito, poderão ainda ser consultadas as seguintes questões: ««Fora de» e «de fora de»», «O tipo de sintagma de lhe», «Qualquer associado à negação», «O verbo imprescindir», «Anosognosia e anosognose», «O nome pernoite» e «Antecedentes de anáfora nominal e de pronomes relativos».

3. A propósito de uma incorreção relacionada com uma possível etimologia das palavras chá e te, no decurso de um espetáculo, a colaboradora do Ciberdúvidas Sara Mourato vem esclarecer, num breve apontamento, que tea advém do português chá, que, por sua vez, tem origem no mandarim ch'a.

4. O professor universitário Marco Neves dedica um novo artigo à escrita e à sua evolução, que organiza em três fases: a invenção da escrita, a criação da imprensa e a generalização da aprendizagem da escrita a grande parte da população (divulgado no blogue do autor Certas Palavras e aqui transcrito com a devida vénia). 

5. O que se considera correto e incorreto no português do Brasil é, muito frequentemente, alvo de discussões que se processam em diferentes planos. Já em 2011, o escritor, analista e cronista José Horta Manzano discutia esta questão defendendo que os brasileiros deveriam aceitar que existem variantes no uso do português do Brasil. Esta é uma questão que mantém toda a sua atualidade (texto publicado originalmente no jornal brasileiro Correio Braziliense).

6. O ex-jornalista português João Querido Manha apresenta um breve texto no qual reflete sobre os seus apelidos, a sua origem e a forma como se foi relacionando com eles (texto apresentado no blogue do autor, aqui transcrito com a devida vénia). 

7. Nos três programas que a rádio pública em Portugal dedica à língua portuguesa, os temas centrais são:

– Os preconceitos dialetais numa conversa com a professora e investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Clara Keating, em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 26/05/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 09h00*);

– A conceção e a elaboração de manuais escolares numa entrevista com a professora e investigadora de CELGA/ILTEC da Universidade de Coimbra Carla Marques, no Páginas de Português, emitido na Antena 2, no domingo, 28/05/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, dia 3/06/2023, às 15h30*). Este programa conta ainda com a participação da linguista Sandra Duarte Tavares, que analisa gramaticalmente as frases «Obrigado por teres aceite o meu convite» e «Obrigado por teres aceitado o meu convite»;

– Que palavras ficaram no léxico do português após as invasões francesas é o mote da conversa com o historiador e romancista João Pedro Marques, no programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*).

 

*Hora oficial de Portugal continental

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Comemora-se neste dia o centenário do nascimento de Eduardo Lourenço. Nascido em S. Pedro de Rio Seco (distrito da Guarda), em 23 de maio de 1923, Eduardo Lourenço de Faria foi, desde meados do século XX, figura marcante da escrita ensaística portuguesa. Emblemático do ambiente vivido em Portugal logo após o 25 de Abril de 1974 e o processo de descolonização, salienta-se, entre os livros que publicou, O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português (1978), onde o autor, sondando os mitos do Império, defendia que tinha chegado «a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá-longe a solução que, como no apólogo célebre, está enterrada no nosso exíguo quintal.» Objeto da sua reflexão foi também, por diversas vezes, a língua portuguesa pós-imperial, discussão que tem registo na rubrica Antologia, com o artigo que Eduardo Lourenço escreveu em 1992 para o Atlas da Língua Portuguesa na História e no Mundo (coordenado por António Luís Ferronha). São desse texto as seguintes linhas: «O derramamento, a expansão, a crioulização da nossa língua foram como a das nossas “conquistas”, obra intermitente de obreiros de acaso e ganância (da terra e do céu) mais do que premeditada “lusitanização” como nós imaginamos – porventura enganados – que terá sido a romanização do mundo antigo ou a francização e anglicização dos impérios francês e britânico.» 

Fonte da imagem: Fundação Calouste Gulbenkian, 01/12/2020.

Cf. ‘Eduardo antes de ser Lourenço'

2. O que significa a palavra ? O mesmo que confiança? No Consultório, além da diferença entre e confiança, esclarecem-se cinco novos tópicos, a saber, o uso do nome próprio Suez, um caso de modalidade deôntica, a forma de tratamento mecê, a conversão de sentir em nome comum e a ambiguidade de um sujeito subentendido.

3. Na Guiné-Bissau, tem difusão nacional o criol ou kriol, língua crioula com estatuto de língua materna e segunda entre grande parte da população. Na Montra de Livros, apresenta-se a obra Kriol Ten, um dicionário do crioulo guineense.

4. Ainda a respeito de Eduardo Lourenço, lê-se no artigo acima mencionado, na Antologia: «Não se pode dizer de língua alguma que ela é uma invenção do povo que a fala. O contrário seria mais exacto. É ela que nos inventa.» Nas Controvérsias, à volta de como a língua condiciona (ou não) o pensamento e a visão do mundo, partilha-se, com a devida vénia, a crítica que o escritor, ensaísta e professor universitário Onésimo Teotónio Almeida dirige à chamada hipótese Sapir-Whorf, num dos capítulos de A Obsessão da Portugalidade (2017).

Cf. «E um verso em branco à espera de futuro»

5.  Ao encontro das críticas da escritora moçambicana Paulina Chiziane a certos dicionários (ler Notícias), a professora universitária e linguista Margarita Correia realça a capacidade que a lexicografia atual tem de se tornar isenta, evitando enviesamentos e preconceitos, em artigo de opinião publicado no Diário de Notícias em 22/05/2023 e transcrito em O Nosso idioma. Na mesma rubrica, inclui-se ainda um apontamento da professora Carla Marques sobre o que distingue a atividade de um gramático do trabalho de um linguista.

6. Retomando o grande tema da presente Abertura e em jeito de homenagem, fica, por último, a apresentação de um filme de 2018, homónimo da obra mais famosa do ensaísta português – O Labirinto da Saudade, obra de Miguel Gonçalves Mendes dedicada precisamente a Eduardo Lourenço e ao seu pensamento.

 

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Pode dizer-se que os destaques mediáticos do momento, em Portugal, são a continuação (rocambolesca) das audições da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a respeito da gestão da companhia aérea TAP, e, no plano internacional, a guerra na Ucrânia. Mas as notícias são múltiplas, heterogénas e nas línguas mais diversas, e daí assinalar-se o lançamento de uma plataforma, a Monitio, uma iniciativa internacional que permite monitorizar e até traduzir o muito que se publica nos media (ver Notícias). A disponibilização de conteúdos de informação convoca também questões sobre a imparcialidade e a isenção dos serviços públicos da área, como é o caso da Rádio e Televisão de Portugal, cujo contrato de concessão vai ser renovado e é objeto de estudo no Livro Branco do Serviço Público de Média, publicado em maio de 2023. No meio de todas estas preocupações, uma pergunta muito prosaica: como se deve escrever, afinal, media? Assim mesmo, em itálico? Ou também se pode grafar média, como se faz no referido Livro Branco? E que dizer de mídia, nome usado no singular («a mídia») e forma consagradamente brasileira? No Pelourinho, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, anota a «saltitante» variação deste termo por quem o escreve e lê nos meios de comunicação portugueses.

2. O superlativo absoluto sintético* forma-se geralmente com o sufixo -íssimo, e, portanto, lindolindíssimo. Contudo, no caso de difícil, a forma mais corrente é dificílimo, que foi transmitida ao português pelo latim, por via erudita. Mesmo assim, até que ponto se aceita a forma regular, "dificilíssimo"? A questão faz parte do total de nove que constituem a atualização do Consultório e englobam ainda os seguintes tópicos: as palavras "esmolecer" e "afeiurado"; o uso de «o que que...» em lugar de «o que é que...»; o valor do advérbio relativo onde; o pronome pessoal medieval elo; as orações subordinadas condicionais e as vírgulas; a grafia de coleóptilo; o significado de tanto associado a verbos; e as expressões «nós dois» e «nós os dois».

* Recorde-se uma outra construção, a do superlativo absoluto analítico, geralmente formado pelo advérbio muito e pelo grau normal de adjetivos e advérbios: muito lindo, muito longe.

3. Sobre a ocupação ilegal de casas, é recorrente o nome okupa, grafado com k. Não será melhor escrever ocupa? Em O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato dedica um apontamento a este fenómeno social e revela a motivação espanhola do termo. Na mesma rubrica, outra consultora, Inês Gama, retoma um tema cuja abordagem requer sempre esclarecimento: a diferença entre língua materna e língua não materna.

4. Em Portugal, em tempos idos, os morangos só apareciam sazonalmente e não eram fruta abundante em certas regiões, sobretudo nas do Sul. Em Diversidades, partilha-se um artigo do especialista em naturalogia Miguel Boieiro sobre a planta que dá os morangos, o morangueiro, de seu nome botânico Fragaria vesca.

5. Em 17 de maio, foi aqui assinalado o Dia das Letras Galegas. Na mesma data, também se festejou o Dia Internacional contra a Homofobia, a Bifobia e a Transfobia, o qual foi ocasião para várias manifestações culturais e políticas. Sobre o impacto da discussão em torno da identidade de género e da orientação sexual sobre os usos linguísticos, sugere-se a consulta dos seguintes textos em arquivo no Ciberdúvidas: "Linguagem neutra, estilo, morfologia", "A gramática e o género", "Mais categorias não nos excluem, aumentam-nos", "Anjos, arcanjos, querubins e serafins", "Ainda sobre o debate em torno da linguagem inclusiva" e "Um gay, uma lésbica, a linguagem e algum preconceito".

Cf. Bromance

6. A hegemonia e a pressão da língua inglesa causam preocupação e são motivo de contestação. No entanto, é sempre proveitoso saber mais sobre a história e as perspetivas deste idioma tão presente nos dias de hoje. Cabe registar, portanto, a conferência "O uso do inglês no século XXI", proferida por Lane Greene, colunista de temas linguísticos no jornal The Economist, em 18/05/2023, na Faculdade das Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. A sessão foi organizada pelo professor universitário Marco Neves, docente da FCSH, que a promoveu através de um interessante vídeo de introdução ao tema do papel do inglês no mundo contemporâneo – apontamento disponível aqui.

7. Entre os programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

– No Língua de Todos, difundido na RDP África, que, na sexta-feira, 19/05/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 09h00*), aborda-se o impacto do ChatGPT na língua portuguesa, com uma conversa com o presidente executivo da Inductiva Research Labs, Luís Sarmento

– No Páginas de Português,  transmitido na Antena 2, no domingo, 21/05/2023, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, dia 27/05/2023, às 15h30*), o tema em destaque são os preconceitos dialetais,  apontados  investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, Clara Keating,

– Finalmente, em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), o convidado é o administrador do Banco Santander João Pedro Tavares, para falar da linguagem usada nas empresas e no trabalho.

Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.Turquia vai avançar para a segunda volta das eleições presidenciais, a 28 de maio de 2023. O atual presidente, Recep Tayyip Erdoğan, parte com uma ligeira vantagem sobre o seu adversário, o candidato da oposição, Kemal Kiliçdaroğlu (49,5% para 45%, respetivamente). As eleições legislativas e presidenciais contaram com uma participação recorde de cerca de 89% da população, o que levou a longas filas nas assembleias de votos e a uma contagem das votações muito difícil. A atual situação política turca convoca, de forma expressiva, o substantivo eleição, o qual deriva da junção do prefixo e- ao verbo legere, ambos do latim. A palavra assim formada expressa a ideia de «arrancar» ou «colher». O verbo eligere descrevia, por exemplo, a ação de tirar uma maçã para fora da árvore. Daí evoluiu para o conceito de «escolher»; «selecionar» e, por extensão, para a noção de «escolha feliz». 

Enquanto se espera, com expectativa, pelos resultados destas novas eleições, é possível recordar alguns textos, disponíveis no Ciberdúvidas, relacionados com a Turquia («Políticas linguísticas e educativas na Turquia de Erdoğan», «O ensino de línguas na Turquia», «Do turco e das línguas túrquicas ou turcomanas», «Os gentílicos de Antioquia (Turquia)» e «O natural de Istambul (Turquia)») ou com a temática das eleições («Eleições», «Eleição e eleições», «"Eleições eleitorais"» e «O léxico da eleição»).  

2. No Consultório, no quadro da ortografia, procura-se uma explicação para a oscilação verificada na grafia dos elementos -géneo e -génio em palavras como halogéneo e calcogénio e reflete-se sobre a função do acento na relação entre as palavras demos e dêmos. No âmbito da semântica, estão as respostas "A palavra escalaridade", "Modo indicativo: pretérito mais-que-perfeito vs. pretérito perfeito", "O uso preposicional de via" e "Fechar vs. encerrar". Por fim, divulgamos também uma resposta de natureza sintática: "Modificador do nome: 'um doente de cardiologia'".

3. A formação do grau superlativo absoluto sintético do adjetivo simpático pode suscitar hesitação entre as formas simpatiquíssimo e simpaticíssimo. Neste apontamento, a professora Carla Marques esclarece a origem das duas formas e explica por que razão ambas são aceitáveis (colaboração com o programa Páginas de Português, na Antena 2). 

4. O professor universitário Marco Neves lançou o Atlas Histórico da Escrita (Edições Guerra e Paz), uma obra que apresenta vários sistemas de escrita, a evolução de alguns deles e a criação das letras, entre outros aspetos, agora apresentada na rubrica Montra de Livros. 

5. Na área das Notícias, destacamos o Dia das Letras Galegas, assinalado a 17 de maio, que este ano homenageia Francisco Fernández del Riego, intelectual galego e um dos criadores da Editorial Galaxia. Neste âmbito, partilhamos também, com a devida vénia, um artigo do professor e filólogo José-Martinho Montero Santalha, que aborda a questão das proximidades entre os dialetos galegos e algumas variantes do português.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, apertam as medidas restritivas sobre o tabaco, conforme determinam as alterações recomendadas pela União Europeia.  Segundo o ministro da Saúde português, Manuel Pizarro, o objetivo é «diminuir o estímulo ao consumo» e «começar hoje a proteger os jovens de amanhã». Enquanto os cigarros não ficam proscritos para sempre, recorde-se que, sobre a origem do nome tabaco, se dividem as opiniões: uns consideram-no empréstimo de uma língua pré-colombiana do Haiti, tendo entrado no português por via castelhana; para outros, o vocábulo é mais antigo e provém do castelhano atabaca ou do italiano tabacco, adaptações do árabe ṭabbāq ou ṭubbāq, denominação de uma planta de alguma forma parecida com a encontrada pelos conquistadores europeus do Haiti (ver nota etimológica de tabaco, no Dicionário Houaiss). Quanto a cigarro, igualmente incerta é a génese: provém do castelhano cigarro (cf. Dicionário Houaiss), que talvez venha do maia siyar (cf. cigarro no dicionário da Real Academia Espanhola).

Sugere-se ainda a leitura das seguintes respostas disponíveis no Ciberdúvidas: "O adjectivo tabaqueiro («Indústria tabaqueira»)", "Tabaquismo ou tabagismo?", "'Além disso', 'desabituação tabágica', 'métodos de aleatorização'", "Charuto: qual a origem?" , "Nite (calão de Portugal)".

2. Uma professora procura saber a razão por que se classificam os particípios passados como formas verbais não finitas. A explicação vem no Consultório, que recebe mais sete esclarecimentos sobre os seguintes tópicos: a possibilidade de quando ser seguido de verbo no presente do conjuntivo; os resultados do encontro da preposição de com o artigo definido; o antecedente do pronome relativo quem; as grafias do adjetivo sarcóptico e do nome Laissa; a origem do topónimo Milhão (Bragança); e o uso da locução «a modos que».

3. No Correio, um consulente contacta o Ciberdúvidas porque «só gostaria de agradecer brevemente pela existência deste site». Regista-se o apreço pelo trabalho aqui desenvolvido – e retribui-se o agradecimento, com satisfação.

4. É preciso extirpar dos dicionários as palavras de conteúdo racista? E caberá aos dicionários consignar todos os usos lexicais? Nas Controvérsias, apresentam-se dois problemas dos registos lexicográficos: num texto, o consultor Carlos Rocha comenta as observações que a vencedora do Prémio Camões 2021, a escritora moçambicana Paulina Chiziane, fez a respeito de certas definições dicionarísticas de teor racista; noutro texto, transcrito com a devida vénia do mural Língua e Tradição (Facebook, 29/04/2023), o investigador e divulgador de temas científicos Rafael Rigolon critica a forma como o dicionário Michaelis incluiu o nome próprio Pelé (ver Notícias). Na mesma rubrica, aborda-se ainda outra discussão, a do ensino do português em Angola, a qual motiva uma reflexão de Ezequiel Bernardo, professor do Instituto Superior de Ciências da Educação de Cabinda.

5. «A linguística e a gramática são atividades complementares» – defende o linguista Aldo Bizzocchi em artigo de opinião originalmente publicado na página Língua e Tradição (Facebook, 23/04/2023) e agora também disponível em O Nosso Idioma.

6. Relativamente a três dos programas dedicados ao português na rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 12 de maio, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), conversa-se com a professora Sandra Duarte Tavares sobre os erros de pronúncia mais comuns da língua portuguesa e algumas áreas críticas do português, como por exemplo, erros de concordância entre o sujeito e o verbo.

– No programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 14 de maio, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, dia 20 de maio, às 15h30*), entrevista-se o investigador e escritor Luís Sarmento, sobre o discurso gerado pela Inteligência Artificial e o desafio que a língua portuguesa enfrenta com a chegada do ChatGPT. Inclui-se ainda um apontamento linguístico da professora Carla Marques sobre o superlativo absoluto sintético do adjetivo simpático.

– Quanto a Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*), as palavras e as expressões utilizadas no contexto da aviação, como por exemplo «hospedeira de bordo» ou bagageiros, são o tema de uma conversa com José Correia Guedes, comandante da TAP reformado.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Dia da Europa  assinala-se a 9 de maio como forma de celebrar a paz e a unidade do continente europeu. A comemoração deste dia faz mais do que nunca todo o sentido se atendermos à escalada do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, no seio do qual não se têm vislumbrado soluções a curto prazo. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, assinala este dia com uma visita à Ucrânia, com o objetivo de preparar as negociações com vista à adesão deste país à União Europeia. Não obstante, embora as intenções sejam de paz, o termo guerra, que foi a palavra do ano de 2022, parece insistir em manter a mesma vitalidade do ano anterior. As palavras guerra e paz têm passado também frequentemente por diversos textos do Ciberdúvidas, cuja leitura mantém a sua atualidade no atual quadro geopolítico: "Qual é a origem da palavra guerra?"; "Guerra, palavra incómoda"; "Guerra"; "Guerra" e "Família de palavras de paz + pacífico".

2. A atualização do Consultório abre com a análise dos possíveis processos que estarão na base da formação da palavra casario e ainda com a análise da formação e possível uso do termo “enormeza”. A estas respostas juntam-se outras na área da sintaxe ("'De que' e cujo") e da semântica ("Servir de/como", "Desde vs. de: 'tirei as fotografias desde um autocarro'"; "O nome teca, 'porção'" e "Afetivo vs. Afetuoso"). 

3.  Na rubrica A covid-19 na língua, regista-se a entrada «Doses de sobra», que dá conta dos 3,5 milhões de doses de vacina que foram destruídos por terem ultrapassado os prazos de validade.

4. A questão da flexão no plural do adjetivo composto verde-musgo é abordada pela professora Carla Marques no âmbito da colaboração no programa Páginas de Português, na Antena 2.

5.  No Correio apresentam-se algumas reflexões a propósito de uma questão relacionada com a produção de trabalhos académicos em Portugal escritos na variante de português do Brasil. Em complementaridade com este tema, fica disponível na rubrica Lusofoniasartigo da linguista e professora universitária Margarita Correia  publicado no Diário de Notícias de 8/05/2023 sobre a questão da planificação linguística. Área complementar à da política linguística,  são aí referidos os casos da Finlândia e de Espanha, em contraponto aos dos oito países lusófonos – onde tudo ainda está por fazer.

6. As questões lexicais na sua relação com vários contextos sociais ou culturais estão na base dos dois textos, que se transcrevem com a devida vénia: "Pacientar vs. 'amarrar capulana'", da ensaísta Sara Jona Laisse, e "Pepe, o monolítico", de autoria do jornalista João Querido Manha: o primeiro relacionado com a condição da mulher em Moçambique e o segundo com os significados de mono em português e em espanhol. Esta mesma realidade linguística explica, não raro, o dinamismo que as línguas adquirem e que, muitas vezes, justifica a entrada de novos termos no dicionário, tal como se explica no artigo de autoria da jornalista Filipa Lino, publicado no âmbito do Dia Mundial da Língua Portuguesa, no Jornal de Negócios (aqui partilhado com a devida vénia). Ainda no âmbito da evocação desta data, Fernando Tchakupomba, licenciado em ensino do português, publica um texto que passa em revista a evolução da língua portuguesa ao longo dos tempos (publicado no jornal angolano O País). 

7. Até ao dia 11 de maio decorre em Luanda a 4.ª edição da Semana da Língua Portuguesa, um encontro que visa estimular o intercâmbio entre especialistas da língua e também celebrar a própria língua.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Festejado em 5 de maio, desde a sua declaração pela Unesco em 2019, o Dia Mundial da Língua Portuguesa é assinalado por diversos programas de atividades. Em Portugal, vários artigos de opinião e mensagens de diferentes personalidades da vida política e cultural marcam também a data. São exemplos o artigo assinado por Francisco André, secretário de Estado português dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, no jornal Público; ou a conferência que o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, proferiu na Universidade de Varsóvia, onde, perante alunos e professores de Estudos Portugueses, declarou que «a língua portuguesa, como todas as línguas, é um instrumento da paz, da comunicação, da criação, da expressão e da interação entre as pessoas e os povos», sublinhando que é «muito importante que o Dia Mundial da Língua Portuguesa seja celebrado em todo o mundo e não apenas em Portugal» (cf. Diário de Notícias). Mas, falando da geografia do português, convém também lembrar a sua diversidade e os casos nacionais em que está longe de ser língua dominante, a ponto de pôr em causa, por exemplo, planos de cooperação universitária, conforme revela o professor universitário Miguel Chaves (ler "Queremos mesmo incluir os alunos da Guiné no ensino superior?", Público, 05/05/2023). A propósito das tendências centrífugas de evolução linguística no Brasil e em quatro países africanos – Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Angola –, refira-se o livro Novas Dinâmicas do Português: a África Atlântica e o Brasil, ao qual se dedica uma breve nota de apresentação na Montra de Livros.

2. Entretanto, igualmente em Portugal, a crise e a tensão políticas sobretudo decorrentes do caso da TAP ocasionam numerosos comentários na comunicação social. Num deles, o jornalista Eduardo Oliveira e Silva, procurando descrever a situação (Jornal I, 2/05/2023), desafiou o Ciberdúvidas a inscrever nos dicionários um neologismo: o verbo “sabordar”, aportuguesamento do francês saborder, «afundar de propósito o seu próprio navio» ou, figurativamente, «pôr fim voluntariamente a uma empresa». Em O Nosso Idioma, a professora Carla Marques dá o seu parecer sobre a viabilidade da adaptação de tal galicismo.

3. «Estar à espreita» significa o mesmo que «estar a espreitar»? A diferença não se afigura apreciável e encontra paralelo noutros casos em que o verbo estar pode ser seguido de verbo infinitivo (no Brasil, prefere-se o gerúndio) ou de uma locução formada por um derivado desse verbo: «estar a esperar/esperando» vs. «estar à espera», «estar a procurar/procurando» vs. «estar à procura). No Consultório, além deste caso de construções sinónimas (ou quase), comentam-se ainda outros sete tópicos: um topónimo do Havai, os nomes quinta e modo, o verbo proibir, a expressão «é de saudar», a diferença entre privativamente e «em privado», e, finalmente, o dito «má mãe, boa madrasta».

4. Na rubrica Diversidades, a tradução de um artigo de L'Express (24/04/2023) mostra como as línguas regionais estão muito longe da irrelevância, centrando-se num caso exemplar, o do bretão, a língua céltica da Bretanha (noroeste da França), idioma que está ser utilizado com sucesso nas superfícies comerciais, em convívio com o francês e o inglês.

5. Os media fazem eco da coroação de Carlos III, no Reino Unido. Sobre este acontecimento, em 6 de maio de 2023, vale a pena ler as recomendações da Fundéu para a redação jornalística em língua espanhola, as quais, na sua maioria, se transpõem sem dificuldade para o português. Refiram-se cinco dessas indicações: o novo rei deve ser mencionado pelo nome português, e, portanto, trata-se de Carlos III, e não de "Charles III" (embora, em Portugal, os filhos sejam conhecidos como William e Harry); o rei é o monarca do Reino Unido, e não apenas da Inglaterra; Carlos III e Camila são reis, mas apenas o primeiro é monarca; a cerimónia da coroação é enquadrada por um dispositivo de segurança chamado Operação Orbe Dourado (e não "Operação Orbe Dourada"); e, quanto à lista de canções associadas à cerimónia, fale-se de uma «lista de reprodução», e não de uma playlist.

6. Outros registos:

– a cerimónia de entrega do Prémio Camões 2021 a Paulina Chiziane, a coincidir com o Dia Mundial da Língua Portuguesa;

– em Lisboa, por iniciativa da Rede de Bibliotecas de Lisboa/Câmara Municipal de Lisboa, o 5L, Festival Internacional de Língua e Literatura, de 4 a 7 de maio de 2023;

– lançado pela editora Guerra e Paz, o Atlas Histórico da Escrita da autoria do conhecido divulgador de temas linguísticos Marco Neves.

7. Uma referência final para três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 05/05/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), conversa-se com Zacarias Costa, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sobre a cooperação para a promoção do português no seio desta comunidade.

– Em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo dia 07/05/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 13/05/2023, às 15h30*), a propósito das comemorações do Dia Mundial da Língua Portuguesa, entrevista-se também o secretário executivo da CPLP. Inclui-se ainda o apontamento da professora Carla Marques.

– De 8 a 12 de maio, às 09h50 e às 18h50*, no programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, o tema é as línguas e a linguagem política na União Europeia, em alusão à celebração do Dia da Europa em 9 de maio.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No rescaldo das comemorações do 1.º de Maio, em Portugal, ficam as intenções e as palavras ditas. Entre aquelas que mais se destacaram por andarem tanto em discursos como nos cartazes das manifestações de rua, encontramos os lexemas trabalhador, trabalho, salárioprecariedade e crise. Trabalhador e trabalho são palavras da mesma família que têm origem etimológica na forma latina tripalium, que designava uma ferramenta com três pernas, que era usada para imobilizar bois e cavalos, mas a mesma palavra designava também um instrumento de tortura. Uma etimologia que associa sofrimento e sacrifício à significação das palavras. Já a história da palavra salário é sobejamente conhecida: os soldados romanos recebiam o seu soldo em sal, o que levou a que se associasse à palavra o valor de pagamento pelo trabalho efetuado. Precariedade (e não *precaridade) é formado com base em precário, palavra que no latim designava o que era «obtido por meio de prece; tomado como empréstimo; alheio, estranho; passageiro». Destes sentidos adveio a ideia de algo que não é estável, que é incerto. Por fim, a palavra crise advém do latim  crĭsis, is  e este do grego krísis,eōs, com o significado de «momento de decisão, mudança». Esta palavra está associada à história da medicina, pois designava  o momento decisivo, «para a cura ou para a morte». Todavia, o seu sentido mais ativo parece ser o de «conjuntura ou momento difícil». Emergem também neste 1.º de Maio expressões ainda pouco conhecidas, que tendem a impor-se: uma delas é «trabalho híbrido», que designa a nova modalidade de trabalho, que combina jornada em casa com jornada no escritório e que corresponde a uma modalidade adotada por muitas empresas desde o início do período pós-pandemia até ao presente. Numa época de profunda instabilidade social, política e económica, as palavras, com os seus percursos seculares, estão no centro dos acontecimentos descrevendo a realidade e servindo para dar voz a exigências, denúncias e novidades, como verdadeiras agentes da mudança. Uma nota final para recordar que as abreviaturas dos números ordinais se escreve com ponto após o número, seguido da letra colocada em expoente, tal como se explica aqui. «1.º de Maio» e não « de Maio», portanto.

No Ciberdúvidas, poderão reler-se vários esclarecimentos  relacionados com estes temas. Por exemplo «O trabalho e o ócio», «Salário = soldo para comprar sal», «Precariedade e não “precaridade”», «Precariedade, pagar e salário «A etimologia da palavra crise» e «Um 1.º [de Maio] não é propriamente um 1º [de Maio]»

2. Será correto recorrer ao termo ex-cunhado para designar o irmão da pessoa de quem nos divorciámos? Este é o assunto tratado numa das respostas do Consultório, à qual se juntam outras cinco: "O significado e a origem do nome alcar", "'Um tal de' e 'um tal'", "Sujeito nulo subentendido e anáfora", "O uso do adjetivo assertivo" e "'Não consegues passar comigo aqui'".  

3. Na Montra de Livros, divulgamos a recente publicação Discurso Académico: Conhecimento disciplinar e apropriação didática, uma publicação da Grácio Editor organizada por Paulo Nunes da SilvaAlexandra Guedes Pinto e Carla Marques, que reúne artigos relativos aos contributos apresentados no II Encontro Nacional de Discurso Académico, que teve lugar em 2021. 

4. Miguel Faria de Bastos, advogado e estudioso de interlinguística, retoma a questão de o inglês poder ser considerado língua internacional, abordando o tema no contexto das instituições que poderão atribuir estatutos oficiais desta natureza às línguas. 

5. A colocação do clítico quando é antecedido pelo pronome alguém motiva a revisão que retoma alguns dos atratores de próclise, apresentada pela professora Carla Marques (divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2).  

6. A questão do uso de linguagem neutra nas escolas brasileiras volta a desencadear uma tomada de posição, desta feita por parte do arquiteto e escritor Eduardo Affonso. No artigo que aqui partilhamos com a devida vénia, o autor manifesta-se contra a adoção do género neutro, defendendo que «Os falantes são os donos da língua».

7. A manutenção ou a alteração do sotaque ao longo da vida são as questões equacionadas pela professora inglesa Jane Setter, num artigo cuja tradução aqui partilhamos, com a devida vénia.

8. Entre as notícias mais recentes, destacamos:

– A versão atualizada da Bibliografia Geral da Açorianidade, disponível aqui

– A realização em Portugal das provas de aferição do 2.º ano, a partir de 2 de maio. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, a comunicação social deu relevo à cerimónia de entrega do Prémio Camões de 2019Chico Buarque de Holanda que decorreu em 24 de abril de 2023 no Palácio de Queluz, nos arredores de Lisboa. Foi um acontecimento que tardava e em que esteve também presente o presidente do Brasil, Lula da Silva, em visita oficial a Portugal, assim criando ocasião para (também) se falar da língua comum aos dois países (ler "Qual o legado da visita do presidente Lula a Portugal?", Brasil de Fato, 26/04/2023). Nas Notícias, transcreve-se o discurso de Chico Buarque, que relaciona a sua herança familiar com a diversidade étnica, cultural e linguística do Brasil. São disso exemplo as seguintes palavras: «Recuando no tempo em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por duodecavós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires e Orovida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de tantos cristãos-novos portugueses, sua prole exilou-se no Nordeste brasileiro do século XVI.»

Assinale-se a forma duodecavós, com a variante dodecavós e o significado de «décimos segundos avós» (ou «duodécimos avós»).  É vocábulo pertencente à série lexical dos graus de parentesco e resultante da associação de formas numerais de origem grega: pentavós, «quintos avós»;  hexavôs, «sextos avós»; heptavós..., «sétimos avós»... – cf. "Graus de Parentesco (Direito Civil)", portal JusBrasil). Esta é, no entanto, uma classificação longe de ter aceitação universal, porque também se usa e até se prefere, pelo menos, em Portugal, o sistema constituído pela associação de numerais ordinais aos nomes avô, avó, avós e avôs: «quintos avós», «sextos avós», «sétimos avós»... (cf. "Avô, bisavô, trisavô, tataravô e depois?", Geneall).

2. Ainda nas Notícias, dá-se conta da dicionarização do nome próprio Pelé, agora igualmente legitimado como nome comum, pelé, com o significado de «que ou aquele que é fora do comum». A iniciativa do registo é do Michaelis – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.

3. Morreu em 22/04/203 a professora Emília Amor, figura marcante nos estudos da didática da língua materna em Portugal. Na Montra de Livros, presta-se-lhe homenagem com a apresentação do que é o seu livro derradeiro: Didática do Português. Sinais de um Percurso de Vida.

4. Depois de porque, onde colocar um pronome átono como se – antes ou depois do verbo?  A resposta faz parte da atualização do Consultório, onde, num  total de sete respostas, são tópicos de análise e comentário: a expressão «logo que possível»; o adjetivo orientativo; a coordenação de orações selecionados por «certificar-se de»; o topónimo Escudial (Seia); o nome de rio (potamónimo) Simoente; e a leitura adverbial do adjetivo veloz.

5. A versão digital do atualizado Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa começa a suscitar a primeiras reações no universo mediático português. É o caso de Nuno Pacheco, jornalista que crítica as opções ortográficas do registo de certas entradas, num artigo do Público em 27/04/2023, que se transcreve com a devida vénia na rubrica Acordo Ortográfico.

6. Os meios de registo estão hoje informatizados, com tremendo impacto em vários âmbitos de atividade, em especial, nas escolas.  Na rubrica Ensino, disponibiliza-se, devidamente atribuído, um artigo de opinião do professor, escritor e crítico literário António Carlos Cortez, que alerta para os problemas da excessiva dependência digital da educação.

7. Outros conteúdos disponíveis:

— Em O Nosso idioma, um apontamento da consultora Inês Gama a respeito do provérbio «ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão»;

— Nas Diversidades, uma reflexão do professor universitário e tradutor Marco Neves acerca do bilinguismo na infância e um esclarecimento de Miguel Boieiro sobre a história e os benefícios da oliveira;

— E, dada a nova edição da considerada «maior Festa da Música Portuguesa» com nome em inglês, não podia estar mais atualizado o registo Play, Play... quantas vezes mais Play?, da autoria do jornalista José Mário Costa, na rubrica Pelourinho.

8. Temas dos três programas da rádio pública de Portugal, dedicados ao português:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 28/04/2023, às 13h20* (com repetição no dia seguinte, c. 09h00*), entrevista-se a professora universitária Margarita Correia (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) sobre a tese do sociólogo Abram de Swaan, que propõe o conceito de «sistema global da línguas», no qual o português é um dos 12 idiomas supercentrais do mundo;

– Também em Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, 30/04/2023, às 12h30* (repetido em 06/05/2023, às 15h30*), conversa-se com Margarita Correia, desta vez, a propósito da hipótese de o português ser língua oficial das Nações Unidas, tema trazido para a mesa por Lula da Silva, na visita de Estado que fez a Portugal entre 22 e 26 de abril de 2023. Ainda a crónica da linguista brasileira Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia) sobre a ideia de translinguagem em português e um apontamento gramatical da professora Carla Marques;

– Mencione-se ainda Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50 e às 18h50*.

9. Recorde-se, por último, a celebração de mais um 1.º de Maio, data de grande ressonância cultural e política. Acerca deste dia festivo, são várias as respostas e artigos em arquivo, por exemplo, "Maio – festivo e sindicalista", "Dia do Trabalhador", "Unicidades a menos e a mais de um 1.º de Maio" e "Um 1.º [de Maio] não é propriamente um 1º [de Maio]".

 

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Como descrever o atual estatuto da língua inglesa no mundo? É uma «língua franca»? Uma «língua mundial»? Uma «língua universal»? Nas Controvérsias, a propósito da posição do advogado e esperantólogo Miguel Faria de Bastos – contra a classificação do inglês como «língua universal» –, a consultora Inês Gama dá conta da realidade dos usos das referidas expressões quando aplicadas a este idioma, que, no contexto da Organização das Nações Unidas (ONU), tem o seu dia festejado em 23 de abril.

2. O adjetivo amistoso é sinónimo de amigável, mas tem a particularidade de constituir um castelhanismo há muito enraizado na língua (cf. Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa e Dicionário Houaiss). No Consultório, comenta-se este caso de sinonímia, a par de outros tópicos, a saber: a crase e a sinalefa na versificação; o termo «aves de capoeira»; os tipos de frase passiva e o agente da passiva; o emprego das preposições de e a com o nome greve; a expressão «produzir efeitos»; a colocação pronominal depois dos demonstrativos isto e isso.

3. Em Portugal, os estudos de análise do discurso e de linguística textual têm conhecido progressos significativos. Na Montra de Livros, apresenta-se Linguística do texto e do discurso, obra da linguista Antónia Coutinho (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) que «poderá vir a assumir-se como uma edição de referência para a reflexão na área da análise do discurso».

4.Na rubrica O Nosso Idioma, retoma-se a questão da junção ou da separação da preposição de antes de orações de infinitivo, numa reflexão intitulada "'A importância da liberdade perdurar', ou 'de a liberdade perdurar'?", do consultor Carlos Rocha. Na mesma rubrica, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do divulgador de temas científicos Rafael Rigolon a respeito de um fenómeno fonético recorrente na dialetologia e na história da língua, a troca do l pelo r (rotacismo), como é caso de "pranta" em lugar de planta, na pronúncia caipira e de outras regiões do Brasil.

5. Ainda na mesma rubrica, assinalando em Portugal o 49.º aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974, transcreve-se com a devida vénia a crónica que o jornalista Nuno Pacheco dedicou à efeméride em 20/04/2023, no jornal Público, baseando-se em 25 Abril 1974 Liberdade. É um livro que «retrata em pequenos textos e outros tantos retratos desenhados "80 figuras que marcaram os anos da revolução"». Nuno Pacheco percorre uma lista onomástica correspondente às figuras (muitas já falecidas) que marcaram a vida política, social e cultural portuguesa nestes quase 50 anos.

Acerca do 25 de Abril de 1974, data que também marca uma profunda alteração de usos linguísticos em Portugal, sugere-se a leitura dos seguintes conteúdos: "Abril, comemorações mil!", "48 expressões e palavras nos 48 anos do 25 de Abril", "47 palavras nos 47 anos do 25 de Abril", "47 modismos (erros alguns) recorrentes nos 47 anos do 25 de Abril", "O 25 de Abril de 1974 e as palavras cruzadas nos jornais", "Como medir a importância de um idioma a propósito do 25 de Abril", "O 25 de Abril no léxico português", "Palavras que nasceram com a década [1974-1984]". Na imagem, cartaz do Desfile Popular, do dia 25 de Abril de 2023, no Marquês de Pombal / Avenida da Liberdade, em Lisboa.

6. Retomando de algum modo o tópico do primeiro ponto da presente abertura, regista-se o curioso artigo de opinião que o cidadão note-americano Carl Eric Johnson assina no Público em 21/04/2023, para tecer considerações sobre a dificuldade de aprender português em Portugal. Por exemplo, esta, com certo acinte: «A dificuldade não resulta apenas da complexidade de uma gramática desconcertante e de uma fonética confusa. Acho que é o resultado da abundância de portugueses que falam bem inglês e da prevalência de informação apresentada em inglês.» Disponivel, também, aqui.

7. Relativamente aos programas da rádio pública de Portugal sobre temas da língua portuguesa, salientam-se:

– Em  Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 21/04/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, pouco depois do noticiário das 9h00*), convida-se Ana Salgado, presidente do Instituto de Lexicografia e Linguística da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, sobre o Dicionário da Língua Portuguesa, em formato digital, recentemente editado;

– Em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 23/04/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 20/04/2023, às 15h30*), entrevista-se o professor universitário e lexicógrafo Telmo Verdelho sobre o espólio significativo da dicionarística portuguesa, do mais antigo ao que se acumulou nos séculos XVIII e XIX. Este programa inclui ainda um apontamento da consultora do Ciberdúvidas Inês Gama;

– Finalmente, Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50 e às 18h50*.

8. Devido ao feriado do 25 de Abril, festejado em Portugal, a próxima atualização fica agendada para 28 de abril.