1. Na sequência da Abertura de 31/11/2023, faz-se referência neste dia à situação linguística do Estado da Palestina, onde o idioma maioritário e oficial é o árabe, que, como se sabe, é língua de grande diversidade interna. Além da modalidade do Alcorão e da literatura clássica, existe a variedade padrão moderna – a chamada Fuṣḥā al-ʻAṣr (فصحى العصر ) –, a qual permite aos palestinianos comunicar com os arabófonos de outros países, do Magrebe ao Maxerreque. Entre outras línguas faladas no país, contam-se, além do hebraico, o árabe beduíno (badawī, em árabe) e o aramaico. Contudo, coloquialmente, os palestinianos expressam-se em variedades do ramo dialetal levantino, nem sempre inteligíveis para falantes de outras regiões árabes. Acrescente-se que as notícias a respeito do quotidiano dramático do povo palestiniano têm popularizado o nome árabe Nakba (النكبة), «desastre, catástrofe», em contraponto à Shoa da memória judaica.
Para mais informação, consulte-se no Ciberdúvidas o trabalho intitulado "Um árabe para todos", do jornalista Akram Belkaïd, e assista-se ao vídeo "Existem várias línguas árabes?", do tradutor e divulgador Marco Neves. Para uma descrição da situação linguística do estado da Palestina, recomenda-se o Ethnologue (em inglês).
2. As declarações do secretário geral da ONU, António Guterres, em 24/10/2023 – donde se destaca a frase «é importante reconhecer que os ataques do Hamas não aconteceram num vácuo» – causaram grande crispação no meio diplomático de Israel. Em Controvérsias, a consultora Inês Gama propõe uma reflexão sobre a semântica da linguagem e do discurso político.
3. Em O Nosso Idioma, dois apontamentos: a respeito de um erro («"vão" haver novidades»), supostamente proferido na série televisiva portuguesa Morangos com Açúcar, um comentário da consultora Sara Mourato; e, novamente acerca de palavras quase só presentes em expressões idiomáticas, uma breve lista do linguista brasileiro Aldo Bizzocchi.
4. Que significado tem ao certo o verbo dever num texto jurídico? É esta uma das questões recebidas no Consultório, onde igualmente se abordam os seguintes tópicos: o topónimo belga Spa; os sinónimos viver e morar; a diferença entre aposto e predicativo do sujeito; os tritongos na fonética do português; e as vírgulas associadas à locução «ou antes».
5. Escrever à mão e ter a chamada «letra bonita» envolvem competências não despiciendas na aprendizagem da leitura e da escrita. Na rubrica Ensino, disponibiliza-se um artigo de opinião da pedagoga Inês Ferraz, que sublinha (Público, 06/10/2023): «Caligrafar não é apenas desenhar, já que existe uma intenção linguística, ou seja, pretende-se deixar uma mensagem no papel.»
No âmbito da psicologia e da pedagogia, escute-se o episódio de 02/11/2023 que o programa 90 Segundos de Ciência (Antena 1) dedicou ao desenvolvimento de um projeto da Universidade do Minho para perceber a evolução da linguagem das crianças durante a pandemia.
6. O que é um afropolitano? A palavra é decalque do inglês afropolitan, termo cunhado pela escritora afro-americana Taiye Selasi para designar o africano negro globalizado e cosmopolita. Em artigo incluído no jornal Público (01/11/2023) e transcrito com a devida vénia nas Diversidades, o ensaísta e programador cultural António Pinto Ribeiro menciona esta palavra numa reflexão sobre o significado de uma exposição de fotografia africana contemporânea que está patente na Tate Modern, em Londres, até 14/01/2023.
7. Registos diversos com interesse cultural e linguístico: até 12 de novembro, em Braga, o Festival Literário Utopia (mais informação aqui); o trabalho que o professor universitário e ensaísta Onésimo Teotónio de Almeida escreveu sobre o uso dos vocábulos descobrimento e achamento na historiografia da colonização portuguesa do Brasil (cf. Observatório da Língua Portuguesa); e um comentário do linguista Fernando Venâncio sobre a contaminação semântica do português eventualmente pelo inglês eventually (cf. ibidem).
Cf. «E um verso em branco à espera de futuro»
8. Entre os programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 03/10/202 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*) conclui-se a emissão da entrevista com Ana Paula Fernandes, presidente do Camões, I. P., sobre a cooperação entre Portugal e os países africanos de língua oficial portuguesa, bem como acerca da promoção e difusão do português nestes países.
– Os projetos da Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo, sediada na Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, são o tema da conversa com o seu diretor, Gilvan Müller de Oliveira, transmitida em Páginas do Português, na Antena 2, no domingo, 05/10/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 11/10/2023 às 15h30*).
– Em Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), o tema das emissões de 6 a 10/11/2023 é a comunicação com pessoas com deficiência, a propósito da publicação de Como (e quando) falar de deficiência? Um guia para profissionais de comunicação cultural e jornalistas pela associação cultural Acesso Cultura.
*Hora oficial de Portugal continental.
1. A comunicação social tem facultado aos falantes de língua portuguesa, no atual contexto do conflito israelo-palestino, um contacto frequente com as línguas faladas nessas latitudes, o que desencadeia a curiosidade relativamente aos idiomas e sistemas de escrita usados nas regiões em questão. Israel tem como língua oficial o hebraico moderno, uma língua semítica, pertencente à família das línguas afro-asiáticas, o chamado ivrit. Também já teve como língua oficial o árabe, falado por uma minoria árabe e por judeus oriundos de países arabófonos, mas retirou-lhe este estatuto em julho de 2018, com a lei do “Estado-nação judeu”, no âmbito da qual o árabe passou a ser considerado apenas uma língua com «estatuto especial». Atualmente, em Israel, encontramos ainda o iídiche, a língua tradicional dos judeus asquenazes, falada por israelitas com origens na Europa Oriental, e o ladino, a língua literária dos judeus sefarditas, originários de Portugal e de Espanha. Até à criação do Estado de Israel, o hebraico antigo não tinha expressão, sendo considerado uma língua litúrgica, usada apenas na escrita de textos académicos e lida nos textos da Torá. O hebraico moderno começou a ser desenhado entre os finais do século XIX e o início do século XX por mão do linguista Eliezer Ben-Yehuda e converteu-se numa língua atualmente falada por mais de 9 milhões de pessoas em todo o mundo. O hebraico moderno incorporou alguns elementos do árabe, do ladino, do iídiche, e de outras línguas presentes na Diáspora Judaica.
O alfabeto hebraico, conhecido como Alef-beit (nome das duas primeiras letras do alfabeto), é composto por 27 letras. O sistema de escrita hebraico é um abjad, ou consonantário, sistema comum a várias línguas do Médio Oriente, que se caracteriza pelo facto de praticamente todos os caracteres representarem consoantes. Na escrita, as vogais são representadas por sinais massoréticos, que são sinais diacríticos, denominados nekudot e que se colocam opcionalmente sobre, sob ou ao lado das consoantes. Estes diacríticos auxiliam a leitura, pois por vezes é difícil identificar a palavra representada se esta estiver grafada apenas com as consoantes. Não obstante, nos jornais e em livros, os diacríticos normalmente não são usados e tende-se a empregar certas letras com valor vocálico. Acrescente-se também que a escrita se orienta da direita para a esquerda.
Os idiomas da Palestina e suas características serão abordados na abertura da próxima sexta-feira, dia 3 de novembro.
2. As diferenças de significação do verbo premir entre o português europeu e o português do Brasil levam o consultor Paulo J. S. Barata a propor que os dicionários integrem este tipo de extensão dos significados nos verbetes correspondentes, de modo a permitir, por exemplo, aos falantes da variante europeia compreenderem a significação de uma sequência como «premido pelas circunstâncias».
3. A possibilidade de uso tanto da forma «qué-lo» como de «quere-o» é explicada detalhadamente pela colaboradora do Ciberdúvidas Inês Gama, no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2.
4. O uso do hífen em compostos é frequentemente matéria de hesitação. Nesta reposta, analisa-se o caso das formas afro-portenho e afro-montevideano. No Consultório, poderão ainda ser consultadas as seguintes respostas a dúvidas colocadas: «Escada e escadas», «Locuções adverbiais de meio e instrumento», ««Comprar coleção» e «comprar uma peça»», «A sintaxe do nome vizinho», «A regência de vontade», «Encrespado e encristado», «Redifusão e ressequenciador», «O uso de um como sujeito indeterminado».
5. A professora universitária Dora Gago relata a sua experiência no âmbito do ensino do português na China, uma situação que envolve também a imersão linguística e a mudança de nome próprio (artigo partilhado com a devida vénia).
6. O agrião, as suas características e propriedades medicinais são analisados no artigo de Miguel Boieiro, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Naturalogia (partilhado com a devida vénia).
7. Divulgamos o início da 3.ª edição do curso em linha de Português Académico para Estudantes de Língua Eslava, da responsabilidade da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, uma formação com a duração de 6 semanas.
1. Nas notícias sobre os milhares de vítimas civis das operações de retaliação israelitas na Faixa de Gaza, depois dos massacres de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas, não parecem claros nem correntes os usos das designações dos naturais e habitantes da cidade de Gaza e do seu território. Um gentílico correto é gazense, mas este é homónimo de outro, o que denomina o natural ou residente na província moçambicana de Gaza. Há outras formas com mais tradição dicionarística, como gazeu, gazano, gazata e gazita (cf. Infopédia e dicionário Michaelis). Falando da Palestina, cabe igualmente referir o gentílico correspondente à região da Cisjordânia, nome geográfico derivado de Jordânia: em Portugal, diz-se e escreve-se cisjordano e jordano, mas no Brasil os termos empregados são é cisjordaniano e jordaniano. Nos países africanos de língua portuguesa, parecem legítimas as duas formas, pelo menos, no caso de Moçambique. Com efeito, no Vocabulário Ortográfico Moçambicano da Língua Portuguesa, registam-se, como gentílicos de Jordânia, jordano e jordaniano, dos quais se inferem cisjordano e cisjordaniano, formas, no entanto, sem entrada. Nesta discussão, justifica-se ainda incluir o gentílico de Israel: é verdade que no Brasil ocorre sobretudo israelense no sentido de «relativo ao Estado de Israel», mas em Portugal o uso consagra israelita. A propósito desta questão, em O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, o artigo que o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi dedicou à diferença entre israelense, israelita, judeu e hebreu na perspetiva do português do Brasil.
Na imagem, Pomba com flores (1957) de Picasso (1881-1973).
2. Perante a guerra Israel-Hamas, não faltam apelos à paz. Foi o caso do Conselho Europeu, onde, em 26/10/2023, os países-membros procuraram entender-se quanto a dar assistência à população civil de Gaza – isto é, um «cessar-fogo humanitário» ou «trégua humanitária». As expressões têm sentido e estão corretas: humanitário é congruente com cessar-fogo e com trégua, visto tratar-se de medidas que visa defender vidas humanas. Tal como em «pausa humanitária», ou «corredores humanitários» – conforme a resolução apelo dos líderes da União Europeia para a entrada de ajuda humanitária em socorro dos palestinianos sitiados.
3. Os ecos mediáticos das acusações trocadas entre os beligerantes ativam palavras como mortandade, morticínio e genocídio. O consultor Carlos Rocha faz breves comentários sobre os matizes que diferenciam estes vocábulos do mesmo campo lexical. Além dos conflitos que ameaçam alastrar, outra preocupação constante: a do ambiente e da sua visível degradação. Uma campanha levada a cabo em Portugal para evitar desperdícios consumistas, exibe a imagem de um recipiente para conservar comida, o qual aparece designado como taparuere. Sobre este aportuguesamento da marca comercial Tupperware, leia-se o apontamento que se disponibiliza também em O Nosso Idioma, da autoria da consultora Sara Mourato.
4. A respeito de importantes áreas da linguística teórica e experimental, inclui-se na rubrica Montra de Livros uma apresentação de Teoria e análise linguística (2022), primeiro volume da coleção Estudos da Linguagem.
5. No Consultório, sete questões e sete respostas: momento tem algum antónimo? O plural faturas tem significado diferente de fatura? Diz-se «afirmam serem professores» ou «ser professores»? Qual é o gentílico do estado brasileiro do Acre? O que é correto: «moro em Calvos» ou «nos Calvos»? Qual é a função de «para eles» em «muitas palavras latinas são conhecidas para ele»? Que função sintática tem «das consequências» na construção «decorrente das consequências»?
6. Quanto a três dos programas da rádio pública portuguesa em que o tema principal é a língua portuguesa:
– No Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 27/10/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, às 9h50*), conversa-se com a nova presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Camões, I. P.), Ana Paula Fernandes.
– Também em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 29/10/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 04/11/2023, às 15h30*), emite-se uma entrevista com a nova presidente do Camões, I. P. sobre a promoção do português no mundo, a cooperação com outros países da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) e a rede de Centros Culturais do Camões nas grandes cidades culturais do mundo.
– Refere-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.
Hora oficial de Portugal continental.
7. Por último, registe-se *o lançamento do podcast Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. O primeiro episódio ficou disponível em 25/10/2023, no Spotify, e é dedicado aos regionalismos do Alentejo interior e do litoral centro de Portugal (ouvir aqui).
1. As mudanças sociais, técnicas, científicas ou culturais são um fator que conduz muitas vezes ao aparecimento de novas palavras. A criação lexical é um processo que se insere na dinâmica própria das línguas, a qual encontra na renovação lexical um campo fértil para a sua ação. É neste quadro que vamos encontrar a neologia, um fenómeno fundamental que se caracteriza pela criação de palavras novas, pela atribuição de novos sentidos a palavras já existentes ou pela introdução na língua de empréstimos provenientes de línguas estrangeiras. A palavra nomofobia é um exemplo recente de um anglicismo que se acomodou à grafia da língua portuguesa. A sua formação constitui um exemplo de um processo inovador na criação de palavras, uma vez que esta resulta da junção de um segmento truncado da expressão «no mobile (phone)» (literalmente, «sem telemóvel») ao radical grego phobia. A significação de nomofobia e a explicação do seu percurso de formação são abordados neste apontamento da professora Carla Marques.
Recordamos aqui diversos textos relacionados com o tema da neologia disponíveis no Ciberdúvidas: «Sobre neologia e neonímia», «Quando uma palavra é considerada neologismo», «Neologismos / palavras compostas», «Neologismos e estrangeirismos», «Neologismos semânticos».
Primeira imagem: Bal du moulin de la Galette, de Pierre-Auguste Renoir, 1876
2. As línguas e as suas variantes encontram, não raro, soluções distintas para veicular uma mesma significação. Este fenómeno justifica o facto de uma expressão como «o que você é meu?», do português do Brasil, ser equivalente a «o que és a mim?», do português europeu, como se explica nesta resposta. Na atualização do Consultório podem ainda ser lidas sete novas respostas: «Aferir como sinónimo de avaliar», «Análise de «a isso se chama paralelismo sintático»», «Análise de «sabe-se muito pouco sobre Deus»», «Estrutura de superfície e estrutura profunda», «Locução prepositiva e conjuncional: «apesar de»», «O verbo bulir: «isto bole comigo»», «O topónimo Farminhão (Viseu)».
3. A publicação Gramática histórica do português europeu, com autoria de Esperança Cardeira (Editora Parábola), é a nova obra apresentada na Montra de Livros.
4. Partilhamos, com a devida vénia, os seguintes textos:
– Da autoria da professora universitária Isabelle Oliveira sobre a situação da língua portuguesa e do seu ensino em França;
– De Dora Gago, professora e escritora, em torno da forma como a língua portuguesa pode veicular sentimentos e ser colocada ao serviço do relato de experiências, em contexto de aprendizagem de língua estrangeira.
5. Entre os eventos de realce para a língua portuguesa e para a educação em geral, destacamos:
– A conferência DGAE subordinada ao título «A educação na era da IA: desafios éticos e de liderança», com lugar no dia 26 de outubro, no Iscte;
– O XXXIX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, que decorre na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, entre os dias 26 e 28 de outubro.
1. A tragédia que se vive na Faixa de Gaza desencadeia operações de ajuda à população palestiniana em fuga, perante a ofensiva militar israelita. O adjetivo humanitário está, portanto, de regresso aos noticiários, com os problemas de sempre, herança do próprio anglicismo que decalca, humanitarian. No Ciberdúvidas, continua a recomendar-se a associação de humanitário a nomes que denotem ações para a proteção de pessoas: diz-se e escreve-se, portanto, «ajuda humanitária», «corredor humanitário», mas não «desastre humanitário». Entretanto, o uso pode ter caprichos, como revela a consultora Sara Mourato num levantamento de algumas solidariedades lexicais de humanitário nas notícias a circular em Portugal.
Na imagem, O Bom Samaritano (1849) de Eugène Delacroix (1798-1863). Créditos: The Good Samaritan (Delacroix 1849), Wikimedia Commons.
2. Em Portugal, «pipi e betinho» foi como Luís Montenegro, o líder do Partido Social-Democrata, se referiu ao Orçamento do Estado para 2024. A adjetivação inusitada, de tom jocoso e vulgar, contrastando com a seriedade do tema político, foi muito comentada pela opinião pública. Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama analisa os ditos e entreditos desta expressão equívoca.
3. As notícias têm dado projeção também à terrível situação dos reféns que o Hamas fez na sequência dos ataques de 7 de outubro. No Consultório, pergunta-se: qual a origem do nome refém? Outras questões: a locução adverbial «assim que» pode reduzir-se a assim? Que diferença há entre os nomes ciência, «área de estudos» e disciplina? E o que distingue o verbo tornar-se de ficar? O que significam exatamente as locuções adverbiais «em redor de» e «à volta de»? Que funções dêiticas tem uma frase como «entrei em casa há pouco»? A sequência adverbial «muito menos bem» está correta?
4. No Pelourinho, comparam-se duas atitudes linguísticas no futebol de Portugal: por um lado, a de Anatolyi Trubin, guarda-redes ucraniano recém-contratado pelo Benfica que se dispõe a aprender português; e, por outro a do treinador alemão Roger Schmidt, que só comunica em inglês. Um apontamento de José Mário Costa.
5. O Porto define grandemente a personalidade linguística do noroeste de Portugal. Em Montra de Livros, apresenta-se mais um livro a dar conta da originalidade tripeira: trata-se de Falar à Moda do Porto, um livro da autoria de João Carlos Brito e publicado pela Ideias de Ler (grupo Porto Editora). Na mesma rubrica, uma nota sobre um número especial da revista Linha d'Água, intitulado Estudos de Gramática, Discurso e Texto, uma seleção das comunicações feitas à na GRATO 2021 – 7.ª Conferência internacional em Gramática & Texto, realizada em 18 e 20/11/2021 pelo Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa.
6. O sul de Portugal oferece igualmente certo grau de diversidade linguística, de que a vila de Barrancos é bom exemplo. Em Diversidades, sobretudo à volta do barranquenho, divulga-se a tradução de um artigo do jornalista espanhol Daniel Borrego Alonso publicado no jornal digital Infobae.
7. O vento e a chuva (que escasseava) têm tido grande intensidade em Portugal. A propósito do tema, chama-se a atenção para "Porque se dá nome às tempestades e quem os atribui?", um trabalho que o jornalista Paulo Lourenço assinou no Jornal de Notícias em 19/10/2023.
8. Em contexto lusófono, predominantemente africano, mencionem-se:
– a notícia de 15/10/2020 da agência Lusa, segundo a qual os militares da Guiné-Bissau estão a aprender português em aulas dentro dos quartéis (mais informação no Observatório da Língua Portuguesa);
– a realização em 19 e 20/10/2023, na cidade da Praia, da XI edição dos Encontros de Escritores de Língua Portuguesa (EELP), que homenageia Amílcar Cabral (1924-1973);
– em 26/10/2023, a mesa-redonda "Contribuições para a nacionalização do português em Angola" (em modo híbrido), no âmbito do IV Fórum Internacional da Língua Portuguesa, promovido pela Universidade Católica de Angola;
– e, em 30/10/2023, a conferência "Os processos neológicos da língua portuguesa", evento que tem como oradora a professora universitária e linguista Margarita Correia, com o apoio da revista Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas Línguas Africanas e Brasileiras.
9. Quanto a três dos programas da rádio pública portuguesa em que o tema principal é a língua portuguesa:
♦ Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 20/10/2023, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), fala-se do estudo linguístico das regras da pontuação.
♦ No programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 22/10/2023, 12h30*; repetido em 28/10/2023, 15h30*), defende-se a existência explícita de uma «diplomacia linguística» e comenta-se a palavra nomofobia.
♦ De 23 a 27/2023, as emissões de Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, são dedicadas à linguagem corporal (segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*).
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O Manifesto de Óbidos pela Língua Portuguesa, lançado no festival literário Fólio, a decorrer na vila de Óbidos, tem como objetivo central a defesa do uso e da valorização do português como «língua de culturas e de pensamento e, sobretudo, como língua produtora de conhecimento». Trata-se de uma petição pública que decorreu de uma conversa, no Fólio de 2022, entre os investigadores e professores universitários Luísa Paolinelli, José Eduardo Franco e Regina Brito. A esta iniciativa juntaram-se este ano figuras de destaque no panorama universitário e cultural como Carlos Fiolhais, Moisés Martins, Paulo Santos e Roque Rodrigues. No texto propõem-se às entidades competentes um conjunto de linhas de ação que têm a língua portuguesa como preocupação central, num contexto onde se parece caminhar para uma subalternização de algumas línguas. Veja-se, por exemplo, como no campo científico o inglês tem vindo a exercer um domínio cada vez mais evidente ao ser escolhido para língua de redação de artigos científicos e até de dissertações de mestrado ou teses de doutoramento, uma opção justificada pelos seus autores como sendo feita a bem da internacionalização dos trabalhos. A proposta do Manifesto de Óbidos incita a uma reflexão onde se considere que a maturidade e a robustez de uma língua se afirmam também pela capacidade de dizer ciência e pela forma particular e sui generis de pensar a realidade.
2. Os usos de haver como verbo impessoal são convocados neste apontamento da professora Carla Marques para o programa Páginas de Português, difundido na Antena 2.
3. O conflito no Médio Oriente traz ao Consultório dúvidas de natureza linguística. Entre elas pretende-se saber qual a forma correta: palestiniano ou palestino? * Poderão ainda ser consultadas respostas a questões de diferentes áreas: num contexto de atendimento ao público, a forma «Diga» será adequada para dar início a uma interação? É correto dizer «a modelo»? Qual a grafia de ataque-relâmpago? Quais as funções sintáticas presentes em sintagmas como «bolo de laranja» e «notícias dele»? Qual o valor de verdade e sua ligação a valores causais ou explicativos em duas frases? Deve dizer-se mordida ou mordedura? O que significa o anglicismo "o-ring" e qual a grafia correta?
* Do noticiário sobre a guerra Israel-Hamas emergiu igualmente o uso de israelita, no português de Portugal, vs. israelense, forma preferida no Brasil. Cf. Gentílicos com formas diferentes
4. Um caso de paraetimologia é comentado pelo consultor Paulo J. S. Barata, a partir da proposta de a palavra atuação ter origem em «a tua ação», um processo popular que encontra explicações fantasiosas para a formação de algumas palavras.
5. A situação da língua arménia dá matéria à cronica da linguista e professora universitária Margarita Correia, partilhado com a devida vénia do Diário de Notícias de 16 de outubro de 2023.
6. O atual estado da leitura e a importância excessiva dos ecrãs no quotidiano levam a escritora e professora Dora Gago a refletir sobre a era da pós-leitura (texto partilhado com a devida vénia, do blogue Algarve Informativo).
7. Divulgam-se os seguintes eventos de interesse para a língua:
– A linguista e professora universitária Margarita Correia apresentará uma comunicação intitulada «Os processos neológicos em língua portuguesa», no dia 30 de outubro, entre as 9h00 e as 11h00 (horário de Brasília), que poderá ser acompanhada pelo canal YouTube da Revista Njinga e Sepe (aqui);
– As investigadoras e professoras universitárias Mariana Oliveira Pinto e Inês Cardoso apresentarão uma comunicação intitulada «Sequência de ensino do género relatório de investigação: relato de uma experiência em contexto de ensino superior», no 15.º encontro mensal sobre discurso académico (EMDA), com lugar em 23 de outubro, entre as 18h00 e as 19h30 (a sessão poderá ser acompanhada por zoom (aqui) ou no canal YouTube (aqui).
1. A atualidade internacional é marcada pela escalada do conflito entre Israel e o Hamas, com notícias chocantes em que avulta a terrível palavra massacre. Em segundo plano, aparece a guerra russo-ucraniana, que nem por isso conhece tréguas, constantemente motivando a ativação dos vocábulos drone e míssil. Em Portugal, vive-se felizmente em paz, mas o léxico mediático denota o mal-estar social causado pela crise da habitação, palavra recorrente no Orçamento do Estado 2024 apresentado pelo governo português. Entretanto, quem esteja atento ao quotidiano urbano, por exemplo, em Lisboa, depara-se com o multilinguismo desordenado da comunicação pública escrita, que vai da utilização de estrangeirismos em simples inscrições em placas e painéis – concierge (porteiro/a), flat (apartamento) – aos textos promocionais que as empresas exibem nos seus edifícios. A presença da língua vernácula na capital portuguesa torna-se preocupantemente discreta – alerta Paulo J. S. Barata no apontamento que dedica ao tema no Pelourinho.
Na imagem, Lisboa vista do miradouro de São Pedro de Alcântara, de Carlos Botelho (1899-1982).
2. O gigantismo demográfico e o prestígio cultural do Brasil impõem rever a maneira como se concebe a língua portuguesa no presente e até mesmo no passado. Na Montra de Livros, apresenta-se Histórias do Português do Brasil (2022), uma publicação que reúne trabalhos acerca dos fenómenos linguísticos característicos do português brasileiro. E em Ensino, na sequência de uma resposta sobre a aceitação das variantes linguísticas do Brasil nas escolas e universidades de Portugal, inclui-se um comentário do gramático brasileiro Fernando Pestana, que defende que os «cursos de Letras (ou cursos de formação de professores já graduados e atuantes em salas de aula) devem ter em sua grade curricular uma disciplina que ensine sistematicamente as diferenças entre as duas normas/variedades».
3. Como identificar os pleonasmos viciosos? Há alguma lista? Esta é uma das sete questões da atualização do Consultório, as quais abrangem ainda os seguintes tópicos: o uso do topónimo Dubai; a subordinação na frase em «é imprescindível que tenhas lido o texto»; as palavras aposento e massoterapia; os valores aspetuais de «vinha a comer»; a sintaxe de mesmo.
4. Ainda a respeito da polémica que envolveu o livro No Meu Bairro, que põe em prática o sistema gramatical ELU, de finalidade inclusiva, uma reflexão da linguista e professora universitária Maria Antónia Coutinho (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa).
5. A comunicação social portuguesa deu grande projeção ao casamento da filha dos Duques de Bragança. Contestando a designação «casamento real», a jornalista Bárbara Reis observa sarcasticamente que «discutir hoje quem seria o legítimo herdeiro do trono de Portugal é como discutir "quem seria hoje o imperador romano"», em artigo de opinião incluído no Público e transcrito, com a devida vénia, em O Nosso Idioma.
6. Nas Diversidades, divulga-se o Manifesto de Liubliana sobre a importância das competências superiores de leitura, um documento subscrito pela Associação Internacional de Editores, entre outras entidades.
7. Acontecimentos que envolvam a língua portuguesa:
– A atribuição do Prémio Camões 2023 ao professor universitário, ensaísta e tradutor João Barrento (pormenores aqui);
– Na Galiza, a criação e regulação do Observatorio da Lusofonía Valentín Paz Andrade pelo Decreto 134/2023, de 28/09, da Junta de Galiza.
– A inauguração da Casa da Cidadania da Língua em 12/10/2023, em Coimbra (ler aqui).
8. A respeito de três dos programas que, na rádio pública portuguesa, são dedicados à língua:
– Para esclarecer como os alunos podem aperfeiçoar a sua competência linguística, entrevista-se a linguista Sandra Duarte Tavares, em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 13/10/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*).
– Em Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo, 15/10/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 21/10/2023, às 15h30*), a propósito do 6.º Congresso Internacional de Linguística Histórica, conversa-se com o linguista Francisco Calvo del Olmo sobre a importância da história dos contactos entre o galego-português e o espanhol para os vários tipos de portunhol. O programa inclui também o apontamento da professora Carla Marques sobre a conjugação do verbo haver.
– Em Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, o tema das emissões de 16 a 20 de outubro (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*) é o da comunicação das sondagens. O convidado é Luís Paixão Martins, autor do livro Como mentem as sondagens.
*Hora oficial de Portugal continental.
1. As relações entre as línguas podem estabelecer-se de inúmeras formas, mas neste processo há sempre espaço para algum tipo de tensão: em muitas situações, há línguas que ocupam espaços comuns e que tendem a competir entre si, o que pode levar a que uma dada língua ocupe gradualmente o espaço de outra, minimizando-a; há outras línguas que divergem entre si para sobreviver ou para consolidar a autonomização e afirmação de um dado território. São relações de poder, que nem sempre são conduzidas de forma consciente pelos falantes, mas que podem acarretar consequências de importância maior para as línguas.
♦ Encontramos tensões desta natureza na relação entre as duas línguas oficiais de Portugal: o português e o mirandês, que coexistem em Terras de Miranda. Trata-se de um processo no qual a segunda língua, minoritária e enfraquecida, precisa de que se envidem todos os esforços para evitar que simplesmente desapareça. Tal possibilidade vindoura fica a dever-se ao facto de as gerações mais novas estarem a deixar de usar a «lingoa do lar, do campo e do amor», como a descrevia Leite de Vasconcelos. Este é o panorama que encontra a jornalista Luísa Pinto na sua reportagem sobre o estado do mirandês* (que também poderá ler lida em língua mirandesa: «Ua lhéngua nun se morre anquanto andubir ne l sentir i ne l falar», exclusivo para assinantes do jornal Público).
♦ Aqui ao lado, na Galiza, o português encontra a sua língua irmã, o galego, também ela ameaçada na sua forma original pela pressão exercida pelo castelhano, que se tem vindo a introduzir no idioma galego de forma tão persistente e contínua que atualmente a maioria dos falantes faz uso de uma língua fortemente espanholizada. O português partilhou com o galego a sua génese, mas foi divergindo dele a partir do século XIV, devido sobretudo ao afastamento político entre regiões. No entanto, são ainda hoje inúmeras as afinidades que unem estas línguas, havendo quem defenda que o galego na sua forma mais pura teria a ganhar com uma aproximação ao português, uma relação que poderia inclusive ter implicações económicas muito positivas. Esta é uma posição sustentada pelo engenheiro galego José Ramóm Pichel, ao advogar a ideia da unidade das línguas em entrevista* ao Portal Galego da Língua.
♦ Noutras latitudes, observamos também outras tensões entre as línguas no interior de um mesmo país. Dessa relação nos fala Margarita Correia, professora universitária e linguista, ao analisar no seu artigo a situação do Mali, país onde a nova Constituição determina que o francês, antiga língua de estado, passe a conviver com as restantes treze línguas nacionais, o que acarreta também problemas para a organização do sistema de ensino, que, a partir do 4.º ano, era até agora exclusivamente francófono. O caso aqui relatado demonstra como a evolução política pode conduzir a uma rejeição da língua do colonizador. Nos países onde Portugal assumiu esse papel de colonizador, esta rejeição política não é tão evidente, mas encontramos alguns sinais que merecem reflexão: por exemplo, em Moçambique, a língua portuguesa é língua materna para pouco mais de 10% da população**, tendo uma importância relativa face aos bantos ou ao próprio inglês; já em Angola, o português é falado por cerca de 70% dos falantes, mas há setores que defendem a importância de salvaguardar a língua banta umbundo, a segunda língua mais falada, enquanto traço estruturante da cultura africana.
* textos partilhados com a devida vénia.
** Diz-nos Alexandre António Timbane que «[h]oje, o número de falantes do português como língua segunda aumentou para pouco mais de 10,7%, mas as características se distanciam do português europeu. Por outro lado, as L[inguas]B[antas]continuam firmes dentro e fora das cidades e nenhuma delas está em vias de extinção.» (A variação linguística do português moçambicano: uma análise sociolinguística da variedade em uso. RILP - Revista Internacional em Língua Portuguesa - nº 32 - 2017, p. 25). Gregório Firmino, por sua vez, esclarece que, segundo os Censos de 2017, cerca de metade da população assume saber falar português (47,4%), mas destes só cerca de 16% tem a língua portuguesa como língua materna. O português de Moçambique, ao estar a ser falado por parte da população, está a sofrer um processo de nativização acentuado, que o afasta do padrão europeu e cuja aceitação ainda não está estabilizada. (Ascensão de uma norma endógena do português em Moçambique: desafios e perspectivas. Gragoatá, Niterói, v.26, n.54, 2021, p. 163-192.)
2. O verbo haver pode ser seguido da sequência «por + adjetivo»? A questão motiva uma resposta centrada na descrição de um dos possíveis comportamentos sintático-semânticos de um verbo que oferece muitas dificuldades aos falantes. A atualização do Consultório contempla ainda outros assuntos: a origem do substantivo pontífice; a diferença entre o conceito de vogal temática e o de índice temático; a pronúncia correta das palavras rogos, gozos e dileto; os efeitos de sentidos resultantes da construção do verbo acompanhar com as preposições a ou até; a grafia do termo martainha; o hiperónimo de navio e barco e os critérios a adotar na correção de documentos de avaliação em contexto de uso de diferentes variedades do português.
3. No Dia Mundial contra a Pena de Morte, a consultora do Ciberdúvidas Sara Mourato aprofunda a questão da origem das expressões «pena de morte» e «pena capital», traçando o caminho da evolução semântica dos termos que compõem as expressões.
4. A diferença entre as construções «tem-no» e tem-lo» é abordada por Inês Gama, colaboradora do Ciberdúvidas, num apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.
5. Destaque para as seguintes notícias:
– A professora Maria Regina Rocha, consultora do Ciberdúvidas durante mais de duas décadas, vai ser homenageada pelos 50 anos de docência (notícia);
– O Plano Nacional de Leitura lançou o guia Projeto de leitura – ensino básico e secundário;
– As escritoras Andreia C. Faria e Lídia Jorge venceram o prémio PEN Clube de 2023, na categoria poesia e narrativa, respetivamente (notícia);
– O livro Misericórdia, de Lídia Jorge, já muito premiado, encontra-se na corrida aos prémios franceses Médicis e FEMINA bem como ao Prémio Oceanos (anúncio da editora D. Quixote).
1. São tema recorrente em outubro e em 2023 voltam à atualidade – os Prémios Nobel. Além do relevo dado à atribuição do Nobel de Medicina a Katalin Karikó e Drew Weissman, cujas descobertas têm sido decisivas para o desenvolvimento de vacinas anti-covid-19, do de Física a Pierre Agostini, Ferenc Krausz e Anne L'Huillier e do de Química a Moungi Bawendi, Louis Brus e Alexei Akimov, as atenções centram-se também no Prémio Nobel da Literatura, ganho pelo norueguês Jon Fosse, e no da Paz, que foi para a ativista iraniana Narges Mohammadi. Acerca do nome Nobel, que pode usar-se também como nome comum e adjetivo (ver dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), o Ciberdúvidas tem recomendado a pronúncia "nobél" em respostas anteriores (elencadas aqui). Importa, no entanto, assinalar, que na dicionarística mais recente, a par da acentuação aguda, apresenta-se igualmente a articulação de Nobel como palavra grave, soando "nóbel". É um registo, para muitos discutível, que se encontra na Infopédia, induzindo uma situação a que se poderia chamar binormativa, ainda que em pequeníssima escala. Mas para falar de binormativismo em grande escala, transcreve-se com a devida vénia, na rubrica Diversidades, o curioso artigo que o professor universitário e tradutor Marco Neves dedicou à língua norueguesa e à sua dupla codificação, precisamente a propósito do vencedor do Nobel da Literatura de 2023.
2. Se digo «eu aborreço-me», porque não posso dizer «eu apetece-me»? O esclarecimento da questão faz parte do conjunto de sete novas respostas que atualizam o Consultório e nas quais se abordam ainda os seguintes tópicos: a frase feita «ganha mas não leva»; o topónimo Niágara; os conceitos de coesão e coerência; a enumeração como figura de estilo; a sintaxe de perguntar; e os sinónimos fim e final.
3. Nas escolas de Portugal, há cada vez mais crianças e adolescentes que mal dominam a língua portuguesa e que requerem um acompanhamento especial, nem sempre possível. Na rubrica Ensino, a consultora Inês Gama foca o caso dos alunos que falam nepali (ou nepalês, uma das línguas do Nepal), continuando a sua reflexão à volta das condições de funcionamento da disciplina de Português Língua Não Materna (PLNM).
4. Em O Nosso Idioma, divulga-se, devidamente atribuída, a crónica que o jornalista português José Júdice publicou no semanário Tal&Qual (4 a 10/10/2023) a respeito das conotações do advérbio jamais e de «novas ortodoxias» linguísticas como «cidadãos seniores», «Estado social», «alterações climáticas», «digitalização», «causas fraturantes» ou «direitos LGBT+». Na mesma rubrica, inclui-se ainda um texto do linguista brasileiro Aldo Bizzocchi (ver Diário de um Linguista, 02/10/2023), que respiga uma série de vocábulos que só ocorrem em expressões idiomáticas, várias a caminho do desuso: tona, toa, triz, entre outros.
5. Sobre o que pode ser a experiência profissional académica da poesia em português, um vídeo que, com duas décadas, justifica registo: trata-se de uma entrevista com o professor universitário e ensaísta Fernando J. B. Martinho, galardoado no final de setembro com o Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho, da Associação Portuguesa dos Críticos Literários.
6. Eventos realizados ou a realizar que se relacionam com a língua e as suas literaturas:
– Na Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa, em 05/10/2023, foi apresentado o álbum Um Só Dia, homenagem à poesia cantada de Manuel Alegre.
– A 11.ª edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa decorre na cidade da Praia, de 19 a 22 de outubro. O tema é “Língua Portuguesa, Expressão de Liberdade, Democracia e Desenvolvimento Municipal”.
– O Festival Internacional Literário de Óbidos – o F(O)LIO – realiza-se de 12 a 22 de outubro. A figura homenageada é o livreiro e editor José Pinho, falecido em 30/05/2023 e fundador deste festival.
7. Quanto a programas sobre língua portuguesa na rádio pública de Portugal, salientam-se:
– Língua de Todos, na RDP África, que, na sexta-feira, 06/10/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), aborda o tema das aplicações da Inteligência Artificial na elaboração de textos académicos;
– Páginas de Português, na Antena 2, que, no domingo, 8 de outubro, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 14 de outubro às 15h30*), dá destaque ao 6.º Congresso Internacional de Linguística Histórica, a ter lugar de 9 a 11 de outubro de 2023, a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra., tendo como figura homenageada Clarinda de Azevedo Maia;
– Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (de segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50), cujas emissões de 9 a 13 de outubro são dedicadas à linguagem das vendas: como vender mais e melhor? A convidada é a treinadora de vendedores Mafalda Johannsen.
1. A cantora portuguesa A Garota Não recebeu a 1 de outubro o Globo de Ouro da SIC para a melhor intérprete. Agradeceu a distinção não com o habitual discurso, mas com um poema de sua autoria, que analisa de forma crítica alguns dos fatores que podem estar na base do sucesso, terminando com as seguintes palavras: «Há quem tenha muita sorte / A sorte, a mim, tem-me dado muito trabalho». Esta afirmação rapidamente se tornou viral nas redes sociais, chegando às páginas da comunicação social. Na sua aparente simplicidade, o enunciado faz assentar a sua intenção comunicativa na antítese entre dois conceitos: sorte vs. trabalho. O substantivo sorte (do latim sors, sortis) é equivalente a destino ou fado, referindo uma força superior que determina o rumo dos acontecimentos de forma inelutável; trabalho (de trabalhar, do latim tripaliare) designa uma tarefa que exige algum tipo de esforço. A oposição entre as palavras condensa duas formas de se atingir um dado objetivo: a via fácil, na qual tudo acontece naturalmente, sem esforço por parte da pessoa, e a via difícil, na qual o objetivo se atinge por meio de empenho contínuo e persistente e de sacrifício. Esta antítese junta ainda uma nota de ironia ao implicitar uma crítica a todos os que atingem o sucesso por um conjunto de fatores que não estão relacionados com a dedicação e a persistência, ou seja, que lá chegam pela via fácil e que, portanto, serão menos merecedores do triunfo. As inúmeras partilhas das palavras da cantautora mostram como muitas pessoas se identificaram com o que foi dito e, do ponto de vista linguístico, ilustram o caminho do que pode ser entendido como uma expressão idiomática, ou seja, uma expressão de uso comum cujo sentido ultrapassa o valor literal das palavras que a compõem. Neste caso, a afirmação condensaria uma significação equivalente a «o meu sucesso é fruto do meu empenho e não de um momento de fortuna ocasional».
As palavras sorte e trabalho estão na base de várias respostas disponíveis no Ciberdúvidas, que aqui recordamos: «Má sorte», «A expressão «toda a sorte de»», «O mérito, o brilho e... a sorte», «O trabalho e o ócio», ««Trabalho duro», «trabalho árduo»: solidariedades lexicais».
2. Qual a opção correta: pudico ou púdico? Esta é uma questão que se discute há mais de 100 anos e cujos contornos se analisam nesta resposta disponível no Consultório. Para além desta, ficam disponíveis na atualização outras seis novas respostas: «Arrogar e gostar + pronome se», «Os sufixos -ivo e -ório», «A pronúncia de saem e caem», «A métrica numa cantiga de D. Dinis», «Oração relativa e complemento oblíquo», «Os advérbios aqui, cá, lá e acolá». Por fim, regressamos ao tema da linguagem inclusiva, desta feita para responder a uma questão «Sobre as origens da linguagem inclusiva».
3. Serão os prefixos presentes nas palavras irracional e indispensável manifestações de um mesmo prefixo? Na sua rubrica semana, a professora Carla Marques analisa a variabilidade do prefixo in- na formação de palavras (rubrica divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. Em Portugal, o crescimento de locais de comércio geridos por estrangeiros tem levado ao aumento de letreiros / anúncios que exibem erros ortográficos e frases de sintaxe defeituosa ou, por vezes, quase impercetíveis. O consultor Paulo J. S. Barata apresenta, no Pelourinho, o caso do letreiro onde se pode ler «Este massa é tu gostas» (ver aqui).
5. Um registo final para os prémios atribuídos a autores portugueses:
– António Lobo Antunes foi o vencedor da 16.ª edição do Prémio Literário Fundação Inês de Castro pela obra O Tamanho do Mundo (notícia);
– Alice Vieira venceu o Prémio ibero-americano de literatura infantil e juvenil (notícia).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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